Sete Vezes Mulher / Woman Times Seven / Sette Volte Donna

1.0 out of 5.0 stars

Em 1967, pouco depois de ter emplacado três filmes entre os indicados ao Oscar e vencido duas vezes, o grande Vittorio De Sica dirigiu este Sete Vezes Mulher, uma co-produção Itália-França-Estados Unidos. São sete episódios, todos estrelados pela jovem, linda e fantástica Shirley MacLaine; espalhados pelas sete historietas estão diversos atores de primeira linha, de diferentes nacionalidades.

Lá estão, como coadjuvantes do show de Shirley MacLaine, os ingleses Michael Caine e Peter Sellers, os italianos Rossano Brazzi, Vittorio Gassman e Elsa Martinelli, a sueca Anita Ekberg, o francês Philippe Noiret, os americanos Alan Arkin e Lex Barker.

Todos os episódios se passam em Paris.


Para lembrar: Duas Mulheres/La Ciociara, de 1960, deu o Oscar de melhor atriz para Sophia Loren. Ontem, Hoje e Amanhã, de 1963, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. E Matrimônio à Italiana, de 1964, teve indicações para os Oscars de melhor filme estrangeiro e melhor atriz de novo para Sophia Loren.

O argumento e o roteiro são de um colega de De Sica dos tempos áureos do neo-realismo, o gigante Cesare Zavattini.

Pois muito bem. Nunca tinha visto este filme; na verdade, não sabia da existência de um filme de De Sica com Shirley MacLaine e mais esse elenco internacional; se algum dia já tinha ouvido falar de Sete Vezes Mulher, tinha me esquecido completamente.

Foi lançado há pouco em DVD por uma dessas empresas que põem no mercado filmes que por um motivo ou outro não têm hoje detentor de direitos autorais, caíram no limbo, e então podem ser vendidos sem que se pague nada a ninguém. É uma edição tão desleixada que a capinha do DVD e o próprio DVD dizem que o filme pode ser visto em versões em inglês ou em turco! E de fato há áudio em inglês e em turco! A tal da Paragon Multimedia pegou uma cópia turca do filme e mandou brasa!

Deixando de lado essa questão legal, dá perfeitamente para ver o filme; a qualidade da imagem e do som (com as vozes em inglês) é correta.

A única coisa boa é ver Shirley MacLaine fazendo sete papéis diferentes

A questão é que o filme em si é uma imensa bobagem.

Tanto nome importante, tanta gente talentosa – e Sete Vezes Mulher é uma imensa bobagem. Só vale pelo prazer de se ver Shirley MacLaine fazendo sete papéis diferentes.

Mas, em respeito a De Sica e a Shirley MacLaine, vou deixar minha opinião para depois. Primeiro, uma rápida sinopse dos sete segmentos, com os atores de cada um, alguns fatos e opiniões de outras pessoas.

1 – Funeral – Shirley MacLaine é Paulette, que acaba de ficar viúva. Durante a procissão rumo ao cemitério, enquanto Paulette chora copiosamente, um médico amigo do casal (interpretado por Peter Sellers) declara seu amor pela viúva.

2 – Noite de amadora – Shirley MacLaine é Maria Teresa, uma italiana que visita de surpresa o marido (Rossano Brazzi) em seu apartamento em Paris – e, claro, o flagra na cama com outra mulher.

3 – Dois contra uma – Shirley MacLaine é Linda, uma intérprete que fala diversas línguas, e, num congresso internacional, deixa malucos um italiano (Vittorio Gassman) e um escocês (Clinton Greyn);

4 – Super Simone – Shirley MacLaine é Edith, mulher um tanto tímida, casada com um escritor de sucesso, um babaca total (Lex Barker), que criou uma personagem super-heroína, Simone. Edith de repente tentará incorporar a personagem criada pelo marido.

5 – Na Ópera – Shirley MacLaine é Eve, uma milionária fútil, que descobre que uma outra milionária irá à ópera com um vestido idêntico ao que ela havia comprado por uma fortuna;

6 – Os Suicidas – Shirley MacLaine é Marie, uma moça à la o arquétipo das jovens existencialistas dos anos 50 e 60, que faz um pacto suicida com o amante (Alan Arkin);

7 – Neve – Shirley MacLaine é Jean, uma dondoca casada com um sujeito rico (Philippe Noiret). Uma tarde, ela passeia por Paris com uma amiga (Anita Ekberg), e as duas são seguidas por um homem (Michael Caine).

Eram muito comuns os filmes franceses e italianos em episódios, esquetes

É bom lembrar que os filmes de episódios, esquetes, eram extremamente comuns, no cinema italiano e no francês, entre os anos 1950 e 1970. Muito mais comuns do que recentemente. Havia os filmes em que cada diretor assinava um esquete – e que grandes nomes eram. É o caso, por exemplo, de Os Sete Pecados Capitais, de 1962 (Godard, Chabrol, de Broca, Demy, Molinaro, Vadim), O Amor aos Vinte Anos, de 1962 (Truffaut, Ishihara, Wajda), Histórias Extraordinárias, de 1968 (Fellini, Vadim, Malle), Boccaccio ’70, de 1962 (Visconti, Fellini, De Sica, Monicelli), As Bruxas, de 1967 (De Sica, Pasolini, Rossi, Visconti, Bolognini), As Bonecas, de 1965 (Risi, Comencini, Rossi, Bolognini).

E havia os filmes de esquetes assinados por um único diretor, como O Diabo e os Dez Mandamentos, de 1962, de Julien Duvivier.

De Sica fez episódios em filmes de vários diretores, como os citados logo aí acima, e fez sozinho filmes de episódios. Em Ontem, Hoje e Amanhã, filmou três histórias, com três casais absolutamente diferentes uns dos outros mas interpretados pelos mesmos atores, Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Neste Sete Vezes Mulher, manteve o esquema do filme anterior: a mesma atriz interpretando diferentes personagens.

O filme pinta a mulher como leviana, boba, fingida, carente, frívola…

O IMDb diz os produtores pensaram em Natalie Wood para o papel central, mas ela recusou. Natalie Wood foi uma das maiores paixões da minha juventude; é belíssima, e era uma boa atriz, mas é inegável que Shirley MacLaine é muito mais apropriada para fazer esses sete papéis cômicos.

Leonard Maltin deu 3 estrelas em 4: “Um filme de sete episódios com MacLaine mostrando sete tipos de mulheres; alguns momentos engraçados, alguns comentários perspicazes, mas com esse elenco e diretor, deveria ter sido muito melhor”.

O Guide des Films de Jean Tulard diz: “As histórias são irregulares e Shirley MacLaine faz muito”.

O guia de Steven H. Scheuer (gosto dele) dá 2.5 estrelas em 4 e diz: “Shirley MacLaine realiza o sonho de qualquer atriz neste filme irregular – ela interpreta sete papéis diferentes com sete atores no mesmo número de episódios”.

Tulard usa inégal, Scheuer usa uneven: irregular, desigual. Não é possível discordar dos dois. Os episódios são de fatos irregulares, desiguais. Na minha opinião, o primeiro, o do funeral, por exemplo, é interessante; é bastante curtinho, feito de uma piada só. O segundo tem momentos agradáveis, quando a personagem de Shirley MacLaine, a italiana que flagra o marido na cama com outra e promete dar para o primeiro homem que aparecer na rua, acaba por se encontrar com um grupo grande de profissionais no Bois de Boulogne. E o sétimo mostra sensibilidade – me pareceu o melhor de todos.

Os outros quatro são simplesmente bobos demais.

Fiquei pensando, algum tempo depois de ter visto o filme, e de já ter feito esta anotação: afinal de contas, qual é o retrato da mulher que o filme mostra?

Episódio por episódio, eis como a mulher é mostrada: 1) leviana; 2) boba; 3) fingida; 4) carente; 5) frívola, vaidosa; 6) fingida; 7) carente.

Não é questão de ser politicamente correto, de ser contra piada – mas também não dá para exagerar tanto na caricatura, certo?

Sete Vezes Mulher só vale, de fato, pelo show de versatilidade, graça, charme, de Shirley MacLaine – e um pouquinho por revermos tantos grandes atores todos tão jovens: Vittorio Gassman e Philippe Noiret jovenzinhos, Michael Caine com cara de bebê…

É um filme indigno de mestres como Zarattini e De Sica.

Anotação em setembro de 2012

Sete Vezes Mulher/Woman Times Seven/Sette Volte Donna

De Vittorio De Sica, Itália-França-EUA, 1967

Com Shirley MacLaine (Paulette, Maria Teresa, Linda, Edith, Eve, Marie, Jean),

Peter Sellers (Jean), Rossano Brazzi (Giorgio), Vittorio Gassman (Cenci), Clinton Greyn (MacCormick), Lex Barker (Rik), Elsa Martinelli (mulher no Mercado), Robert Morley (Dr. Xavier), Patrick Wymark (Henri Minou), Adrienne Corri (Mlle. Lisiere), Alan Arkin (Fred), Michael Caine (homem na rua), Anita Ekberg (Claudie), Philippe Noiret (Victor)

Argumento e roteiro Cesare Zavattini

Fotografia Christian Matras

Música Riz Ortolani

Produção Joseph E. Levine Productions e Embassy Pictures Corporation. DVD Paragon Multimedia.

Cor, 100 min

*

 

12 Comentários para “Sete Vezes Mulher / Woman Times Seven / Sette Volte Donna”

  1. Mas esse filme merece todas as estrelas, mesmo que seja só por causa do Vittorio Gassman, a maior e mais bela atração turística da Itália!!!

  2. seu site é tão maravilhoso
    não entendi o mau humor com esta fita fantástica.
    qual o mal em ser leve.
    este é um dos filmes mais sacanas que vi quando criança.
    ela de avenntalzinho era de enlouquecer qq cidadão. paris shirley vittorio de sica… e historinhas desencanadas pra quem não precisa assistir um libelo por dia.

    veja de novo , seu mau humorado

  3. Olá, Beto!
    Obrigado pelo delicioso comentário.
    Desculpe pela demora na resposta. Ando sempre enrolado, atrasado com as coisas.
    É o tal negócio que volta e meia eu falo: às vezes a gente não entra em sintonia com um determinado filme.
    É como com as pessoas: às vezes nosso santo não bate com o santo de uma pessoa que ficamos conhecendo. A gente não vai com a cara. Às vezes acontece de, depois de algum tempo, aquela primeira impressão se desfazer totalmente.
    Depende do dia, do humor, da hora. Ou depende de muita coisa ao mesmo tempo, sei lá.
    Aconteceu isso comigo com relação ao “Sete Vezes Mulher”.
    Hoje acabei de postar um comentário sobre um filme em que o De Sica trabalha como ator, “Começou em Nápoles”, aquela comedinha romântica com Clark Gable e Sophia Loren. Pois é: gostei de ver o filme, gostei do filme. Os santos combinaram. Entrei em sintonia.
    Às vezes a sintonia funciona. Às vezes não.
    Um dia revejo “Sete Vezes Mulher”….
    Um abraço.
    Sérgio

  4. Boa noite, Sérgio. Você sabe se é mesmo a Shirley que aparece nua? Ou uma atriz parecidíssima com ela? Um abraço.

  5. Assisti esse filme, mas não me lembro quase nada. Tive que ver o trailer no youtube. Gosto muito de Shirley Maclaine.

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