Anotação em 2011: Armageddon é um absurdo absoluto. É um filme que excede demais da conta. Não há muitos filmes parecidos com ele – e olha que há filmes demais da conta.
Armageddon é o resultado de um esforço enorme, gigantesco, incomensurável, biliardário, de um grande grupo de pessoas que trabalhou suadissimamente para fazer o filme mais ridículo do planeta, do universo.
O filme é tão ruim, mas tão grotescamente patético, que sequer isso ele conseguiu. Sempre há filmes mais baratos que conseguem ser um tiquitinho mais imbecil do que ele.
É tão ridiculamente patético, tão pateticamente absurdo, que me deixa sem palavras, sem superlativos. Não há superlativos mais lixentos, em qualquer língua humana, que consigan exprimir o tamanho do lixo que é Armageddon.
É uma gozação dos filmes-catástrofe que parece se levar a sério – parece se levar a sério como gozação e se leva a sério como filme-catástrofe. É uma catástrofe.
Bem, se é assim, por que foi que eu vi, ainda que não tenha tido paciência para ver inteiro?
Porque gosto de cinema, porque sou curioso, porque sou doido de pedra, porque está de novo na programação da TV a cabo, e adoro zapear. Mas isso não importa. O filme é danado de comprido – 150 minutos. Vi mais da metade, entre chocado (como é possível que possam usar tanto dinheiro para fazer uma porcaria tão porcaria? com o que gastaram para produzir isso poderiam ter dado bolsa de estudo para centenas e centenas de alunos carentes, não na África, mas no Harlem, em Los Angeles mesmo) e divertido (como não se divertir com esse bando imenso de atores bem pagos do cinemão americano fazendo papéis tão óbvios, tão grotescos, tão ridículos?)
A missão: perfurar um asteróide e botar lá dentro ogivas nucleares
Ah, sim, rapidinho, uma sinopse. Um asteróide do tamanho do Texas se aproxima da Terra. Nem os micróbios sobreviverão – não se diz isso, mas possivelmente até a Cher vai desaparecer. A Nasa, o governo americano, resolvem então salvar o mundo: vão mandar para o asteróide a melhor equipe de perfuração de petróleo do mundo, para perfurar o asteróide, botar lá dentro um monte de ogivas nucleares, e explodir o bicho antes que o bicho exploda a Terra.
Bruce Willis, Billy Bob Thornton, Ben Affleck, Liv Tyler, Steve Buscemi, Owen Wilson, Michael Clarke Duncan, Peter Stormare. Essa imensa quantidade de atores ganhou dinheiro para fazer aquilo.
Vou ao Box Office Mojo. O filme custou US$ 120 milhões – meu Deus do céu e também da Terra, daria no mínimo, no mínimo, no mínimo, para acabar com o analfabetismo na Grande Los Angeles! –, e rendeu US$ 201 milhões!
Meu Deus do céu e também da terra!
Vejo agora que o filme teve quatro indicações ao Oscar! Efeitos sonoros, efeitos especiais visuais, som e canção – “I don’t want to miss a thing”.
Leonard Maltin dá 2 estrelas em 4. Diz que começa com uma história interessante, embora improvável. “Depois de um tempo, fica tudo tão rotina, tão previsível e tão redundante que toda a graça vai embora pelo ralo.” Foi muito bonzinho, o Maltin.
Para quem adora porcaria, este aqui é um prato cheio.
Armageddon
De Michael Bay, EUA, 1998.
Com Bruce Willis (Harry), Billy Bob Thornton (Dan), Ben Affleck (A.J.), Liv Tyler (Grace), Will Patton (Chick), Steve Buscemi (Rockhound), William Fichtner (Willie Sharp), Owen Wilson (Oscar), Michael Clarke Duncan (Bear, Urso), Peter Stormare (Lev Andropov)
Roteiro Jonathan Hensleigh e J.J. Abrams, adaptação de Tony Gilroy e
Shane Salerno
Baseado em história de Robert Roy Pool e Jonathan Hensleigh
Fotografia John Schwartzman
Música Trevor Rabin
Produção Touchstone Pictures, Jerry Bruckheimer Films, Valhalla Motion Pictures
Cor, 150 min.
1/2
Eu também vi esse filme não sei porquê, não me lembro.
Sei que é péssimo, do pior que vi até hoje.
Sob o ponto de vista científico parece ser um desastre, erros e mais erros.
Ainda estou a rir pelo teu comentário. Mas afinal o “prato cheio” ainda teve direito a meia estrelinha. Pela confecção?
O Rato Cinéfilo
Hêhê… A meia estrela é uma questão técnica. Não seria possível, tecnicamente, haver filmes sem estrela alguma, me explicou o Carlos Bêla, que criou o site pra mim… E então os piores filmes aparecem com meia estrela…
Um abraço.
Sérgio
Seu texto ficou mesmo engraçado.
Escapei de ver essa bomba com uns amigos, no cinema, pq o horário não dava pra mim (e verdade seja dita, eu sabia que era uma porcaria). Uma das amigas tava a fim de um cara bem infantil, na época, e foi ele quem escolheu o filme, no auge da sua imaturidade e babaquice.
Como não tinha muitas opções, acabei vendo Máquina Mortífera 4. Não é nenhuma obra-prima, mas pelo menos o roteiro era razoável; lembro que passei o filme inteiro rindo.
É um filme… meia boca. Tenho uma curiosidade. I don’t want to miss a thing foi a primeira música da banda Aerosmith a entrar no 1º lugar da Billboard. Isso já com 30 anos de carreira. Pelo menos pra isso o filme serviu. Pra isso e pra Liv Tyler, filha de Steven Tyler, o vocalista da banda, fazer mais um filme meia boca.
“(…) O que você acha de eu botar sua mensagem como se fosse um comentário a respeito do Armageddon? (…)” (Sérgio, o dono, na resposta).
Deu trela, agora tem que me aturar…
A form has been submitted on 26 maio 2011, via: https://50anosdefilmes.com.br/de-sua-opiniao/.
Meu bom Sérgio,
Cá estou eu novamente para digredir.
Em uma semana na qual tivemos que aturar duas vergonhas inacreditáveis, tive um momento de alegria tremendo, porém tragicômico, a partir de uma peça sociológica chamada “Velozes e Furiosos 5”.
Meu objetivo hoje é incentivá-lo a assistir aquela coisa (não encontro outro adjetivo tão adequado, tanto para o bem quanto para o mal) intitulada “Velozes e Furiosos 5”. Só para você ter uma idéia, custou o mesmo que o “Armageddom” (e já faturou meio bilhão de dólares), e é na mesma linha, com a diferença de que, depois de inicialmente tentar se levar a sério, paulatinamente transforma-se em uma tremenda gozação.
No site “Contracampo” (http://www.contracampo.com.br/index.htm), de um pessoal que estudou cinema, e que usa todos aqueles termos ininteligíveis, Calac Nogueira escreveu um artigo que procura entender o porquê do sucesso de Tropa de Elite (http://www.contracampo.com.br/96/arttropacalac.htm). Segundo ele, o êxito comercial do filme se deveu ao fato de ter chegado à população carente, que tem que sobreviver em meio ao ambiente retratado na obra. Disse ainda que essa trama “vulgar” (no sentido de popular) feriu a sensibilidade almofadinha da classe-média, que prefere um realismo mais “ameno”.
Algo semelhante ao que você falou na crítica de “A caçada humana”: um retrato demasiado próximo da realidade aterradora perturba a tranqüilidade tanto dos “alienados” como dos “engajados”.
O Brasil de “Velozes e Furiosos 5”é o mesmo do “007 contra o foguete da morte”. É possível escrever um artigo apenas sobre o complexo de vira-latas e o tratamento subserviente dado ao estrangeiro que vem ao Brasil.
Tem de tudo: perseguição no centro do Rio; caveirão do FBI; traficantes dublados no estilo novela mexicana e capitaneados pelo super “drug lord “ (como diz o IMDb) Joaquim de Almeida (que ainda guardará todo seu dinheiro no moderníssimo cofre instalado no QG da PMERJ, visto que nenhum banco teria a audácia de resguardar as finanças do maior criminoso da cidade); ex-lutador de telequete (é o The Rock) como chefe da missão do FBI num país estrageiro; cena de faroeste num mítico deserto nos arredores do Rio.
Recentemente, aprendi uma frase plenamente aplicável aqui: o filme é tão ruim que dá a volta e fica bom (créditos ao Sr. K do Nerdcast, comentando outra pérola, “Os sete gatinhos”). Chega um momento que tudo está tão absurdo que os atores passam a deliberadamente esculhambar o negócio. A cara de gozação dos atores é espetacular.
Em suma: se você puder assistir esse trem, não titubeie. É uma experiência sociológica das melhores.
Abraço.
André