1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Um western produção A, caro, com diretor e elenco respeitáveis, com os então grandes astros Gary Cooper e Burt Lancaster e os à época coadjuvantes Ernest Borgnine e Charles Bronson, milhares e milhares de figurantes, muitos planos gerais de belas paisagens mexicanas – o filme, de 1954, foi inteiramente rodado no México. Poderiam fazer um bom filme, né? Fizeram uma porcaria.
É difícil acreditar que este seja um filme de Robert Aldrich, um bom diretor de policiais e westerns, que, em 1961, faria o brilhante O Último Pôr-do-Sol.
A trama tem coisas boas. Um letreiro informa que a ação se passa em 1866; a Guerra Civil americana havia acabado, e muitos americanos estavam indo para o México lutar em outra guerra, a dos juaristas mexicanos contra o Imperador Maximiano. Entre esses muitos estão – veremos em seguida – nossos heróis, Benjamin Trane (o papel de Gary Cooper), um fazendeiro sulista que perdeu tudo na luta contra os ianques, elegante, cavalheiro, e Joe Erin (Burt Lancaster), um típico pistoleirão do Oeste, sempre de barba por fazer, rosto sujo, suado, roupa preta, revólver prateado.
Os dois vão se estranhar nas primeiras seqüências e depois ficar juntos, por respeito às habilidades do outro no manuseio das armas. Terão uma oportunidade de aderir aos revolucionários que lutam contra o regime, mas preferirão emprestar ao ridículo imperador seus serviços (e os da gangue chefiada por Joe, que inclui uns dez bandidões, inclusive os interpretados por Ernest Borgnine e Charles Bronson). O que pedem é um pagamento alto.
A missão que receberão do imperador será escoltar uma condessa francesa, Marie Duvarre (Denise Darcel), em uma viagem entre a Cidade do México e o porto de Vera Cruz. Junto com eles na missão de escolta irá um nobre mercenário, chefiando um grupo de lanceiros, e mais um braço direito do imperador, o Marquês de Labordere (Cesar Romero). A viagem até Vera Cruz (a cidade portuária mexicana na realidade chama-se Veracruz, uma palavra só) ocupará a maior parte do filme.
O interessante da trama é que, durante a viagem, todos os personagens principais farão planos que incluem trair os outros e ficar com uma grande fortuna só para si. Lá pelas tantas, Joe, o bandidão interpretado por Burt Lancaster, diz uma frase ótima a respeito de Ben, o personagem de Gary Cooper: “Não confio nele. Ele gosta das pessoas. Não dá para confiar em alguém assim.”
Mas a questão é que todo o tom do filme beira o ridículo, ou simplesmente é ridículo. A entrada de Ben, Joe e seu bando de pistoleiros mal encarados, mal vestidos, grosseirões, rufiões, dentro do rico palácio do Imperador Maximiano, onde está acontecendo um baile supostamente elegante, é do mais absoluto ridículo. Pensei seriamente em desistir de rever o filme aí, com uns 15 minutos de filme. Tinha visto quando garoto, e me lembrava de pouquíssima coisa. Mas acabei indo em frente.
Uma das coisas de que me lembrava era da presença da espanhola Sarita Montiel – que nos créditos iniciais aparece com um “introduzindo”, como se fosse a estréia dela no cinema. Era, na verdade, a estréia dela no cinema americano; nascida em 1928, começou a carreira de atriz em 1944, dez anos antes de Vera Cruz, e tinha feito mais de uma dezena de filmes na sua Espanha natal e no México. Foi, na verdade, uma de suas poucas experiências no cinema americano, embora tivesse se casado com o diretor Anthony Mann. Ela voltou para a Espanha então sob a ditadura fascista de Franco e fez mais um punhado de filmes – foram mais de 50, no total –, inclusive La Violetera, um dramalhão de 1958, que foi um tremendo sucesso, inclusive no Brasil. Em La Violetera, uniu suas duas carreiras, a de atriz e cantora – foi uma cantora extremamente popular na Espanha e em países latino-americanos.
Sara Montiel está belíssima neste filme aqui, como uma pequena ladra, uma batedora de carteiras, cujo destino se cruza com o de Ben Trane, o cavalheiro sulista. Não interpreta bem – mas é lindíssima.
Ninguém trabalha bem neste filme – o único que está melhorzinho é Gary Cooper, esse grande ícone que a rigor interpretou sempre a si mesmo. Burt Lancaster, um dos donos da empresa produtora do filme, abusa da canastrice, um absurdo chocante, uma caricatura.
Leonard Maltin, no entanto, deu ao filme três estrelas em quatro. Definiu-o como “lumbering yet exciting Western”, e pronto. Se é que já soube o que significa lumbering, tinha esquecido completamente. É, segundo o dicionário, algo que se move pesada e desajeitadamente.
O AllMovie comete alguns pecadilhos na sinopse – inclusive o pecado feio de dizer que a marquesa é interpretada por Danielle Darrieux – não é, não; é por Denise Darcel, uma atriz também francesa, mas que não tem um milésimo da importância de La Darrieux. Mas o bom site observa uma coisa interessante: diz que a melhor fala do filme é dita pelo tal nobre mercenário, quando o bando de pistoleiros americanos entra no palácio do imperador. Depois de pegar um pedação de carne na mão e sair comendo grandes bocados, o pistoleiro Joe bebe diretamente de uma garrafa de vinho, e uma cachoeira de vinho vai caindo pelo seu queixo. Aí o nobre diz: “Tome cuidado, senhor. Um pouquinho do vinho está entrando em sua boca”.
Já na pequena crítica do filme, assinada por Lucia Bozzola, o AllMovie leva o filme a sério: “Um antecedente vital dos spaghetti westerns comicamente cínicos de Sergio Leone, Vera Cruz dispensa a distinção preta e branca entre o bom e o mau e foca no humor, transformando-se em um cômico mas violento épico sobre o mau comportamento americano durante a Revolução Mexicana.”
É uma ótima observação, essa que a moça faz sobre Sergio Leone; eu não tinha reparado isso, mas ela tem toda razão. Há no filme muito do que Sergio Leone faria depois – uma coisa estilizada, exagerada, puxada para o grotesco, pouco a ver com a realidade. Mas Leone fez tudo muito melhor, até porque é escancarado mesmo, ele define um tom e vai nele. Aqui, a impressão que se tem é que Robert Aldrich procurou um tom diferente do western tradicional, mas fez um melê, uma salada amarga. Mirou o humor, mas só atingiu o ridículo.
Verifico também que o filme sequer merece menção no livro Great Hollywood Westerns. Está certo o autor, Ted Sennett. Não merece mesmo.
Vera Cruz
De Robert Aldrich, EUA, 1954.
Com Gary Cooper (Benjamin Trane), Burt Lancaster (Joe Erin), Denise Darcel (Condessa Marie Duvarre), Cesar Romero (Marquês de Labordere), Sarita Montiel (Nina), Ernest Borgnine, Charles Bronson
Roteiro Roland Kibbee e James R. Webb
Baseado em história de Borden Chase
Música Hugo Friedhofer
Fotografia Ernest Laszlo
Produção Hecht-Lancaster, United Artists
Cor, 94 min
R, *
É a primeira vez que entro no site e estou gostando muito dos textos. Mas não aguentei quando li vocês falarem mal de Vera Cruz. Pelo amor de Deus ! é um dos maiores westerns da história ! Cínico até a medula, uma baita crítica ao intervencionismo americano. Um filme atemporal, pois mostra o mundo como ele foi e sempre será: todo mundo querendo f…todo mundo, só pensando em si mesmo. A cena do baile é um primor de encenação. Gosto de O último por do sol, mas nem se compara a Vera Cruz.
Respeito a opinião de vcs, mas não podia deixar passar falarem mal de Vera Cruz, um dos melhores filmes de um dos maiores cineastas americanos de todos os tempos, o grande Robert Aldrich.
Até mais
Repito as palavras de Mauro. VERA CRUZ é um ótimo filme. Embora respeite sua opinião, não entendo muito seu critério. Descamba obras de valor de Aldrich, Delmer Daves (obras antigas e já muito vistas, tradicionais, fáceis de serem analisadas, o que torna todas as resenhas criticas inevitavelmente parecidas)e elogia mediocridades como O XANGÔ DE BAKER STREET. Parecem opiniões de pessoas diferentes. Será Sérgio possuidor de várias personalidades antagônicas?
Concordo plenamente com o Mauro e o Fernando. Vera Cruz representa um verdadeiro clássico dos saudosos westerns dos anos 50. Gary Cooper e Burt Lancaster dão um show de interpretação, especialmente na cena final, do duelo. E a música é simplesmente divina.
Ledo Engano … do comentarista americano!!! e |Seu Também… Respeitamos a sua posição. Mas, mas quando passou aqui no Brasil , ( Não sou dessa época foi um dos grandes westerns mais assistidos( Os 5 Melhores) Meus tios,meus pais e outros assistiram e acharam ótiomo! Quando surgiu o videocassete foi o Westerns mais retirado das locadoras havia fila para alugar! O Mesmo para o DVD mais Tarde… tanto para locação quanto para a venda posteriormente também foi um dos mais vendidos da categoria. E, ainda foi um dos filmes de westerns que deu ideias para os italianos Sergio Leone, Sergio Corbucci, Mário Brava .e outros!!!!
Só concordo, em parte, a crítica a atuação de Burt Lancaster, mas a composição estioriotipada eu acho que é de propósito, uma vez que a proposta do filme é um tanto caricato quanto aos personagens Norte americanos. Lancaster, Bonnie, Bronson e Elan estão todos iguais, verdadeiras caricaturas de bandidos, Cooper se salva um pouco para dar uma certa honradez ao Personagem. O mesmo para o exército do imperador. Mas os ruralista já é outra história, são nobres e dramáticos.
A prova maior que Lancaster está de brincadeira são os dentes postiços que exibe o tempo todo. É para assistir com os mesmos olhos que assistimos os filmes de Sérgio Leone. E fica sensacional deste jeito.
Verdadeiramente inspirou Peckimpack em The Wild Bunch. O Pike representado por W. Holden está totalmente inspirado no personagem de Gary Cooper (homens que jâ não encontram ânimo para continuar vivendo). Acho, com todo respeito à crítica, que vocês esqueceram que a arte cinematográfica é feita para divertir e não para ser eterna como um quadro num museu. E o diretor Aldrich, incorporou em Vera Cruz, tudo que apareceu de bom nos westerns posteriores sem a possibilidade dos recursos de hoje, na época. Vera Cruz é um filme grandioso para 1954 onde foi sucesso inigualável para os cinéfilos da época. Em tempo: ridícula as participações dadas a Borgnine, Bronson e Elan. Romero magnífico.