4.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Juno é um fenômeno. Foi um dos filmes mais rentáveis produzidos nos Estados Unidos nos últimos anos – vou falar bastante de números, neste comentário, coisa que não costumo fazer, mas é importante, no caso deste filme sensação. Porque é muito raro um filme independente, barato, ter um sucesso de bilheteria assim. Mais ainda quando é um grande filme.
Juntar qualidade e quantidade, na indústria de cinema, ainda mais no maior mercado consumidor do mundo, é jóia rara. Os filmes de grande bilheteria nos Estados Unidos em 99% dos casos são os do cinemão padrão de Hollywood, as grandes produções de mais de US$ 100 milhões, feitas e testadas nos laboratórios, nas pesquisas dos estúdios, precedidas de imensas e milionárias campanhas de marketing – e nos últimos tempos, em geral com muita ação, violência, sangue, perseguições de carro, efeitos especiais, aquelas bobagens todas.
Juno conseguiu o fenômeno absolutamente raro de agradar a adultos e adolescentes. São poucos fenômenos assim.
Custou US$ 7,5 milhões – uma mixaria, em termos de filme americano; isso é menos do que, nos anos 90, se pagava de salário por um único filme para um grande astro tipo Tom Cruise. O filme estreou lá no dia 5 de dezembro de 2007; um mês depois, no dia 8 de janeiro de 2008, o site do Entertainment Weekly, ew.com, dava a seguinte notícia:
“O filme independente Juno, que continua a agradar as audiências com seu charme sardônico e a impressionar os observadores da indústria pelos seus bons resultados financeiros, alcançou o número 1 nas bilheterias. Sua renda de US$ 1,4 milhão veio de apenas 1.925 salas de cinema, batendo os totais diários dos blockbusters National Treasure: Book of Secrets (US$ 1,3 milhão) e I Am Legend (US$ 1.1 milhão) – os dois sendo apresentados em quase o dobro do número de salas.”
Comparando: Eu Sou a Lenda/I Am Legend custou US$ 150 milhões. Juno, repito, custou US$ 7,5 milhões.
Custou US$ 7,5 milhões e rendeu, só no mercado americano, US$ 143,49 milhões; no total, com as bilheterias internacionais, faturou US$ 231,41 milhões. Faturou mais de 30 vezes o que custou.
Chega de falar de dólar? Legal. Prêmios, agora. Juno ganhou 49 prêmios pelo mundo, e teve outras 35 indicações. Levou o Oscar de roteiro original para Diablo Cody, e teve indicações também para o melhor filme, melhor diretor para Jason Reitman, melhor atriz para Ellen Page. Ellen Page foi indicada ao Bafta e Diablo Cody levou o prêmio britânico pelo roteiro.
Talento, talento, muito talento
O único problema de Juno é que se falou demais sobre ele. Minha amiga Jussara Ormond, a mais assídua comentaristas destas minhas anotações aqui, dizia que não queria ver Juno porque não gosta de filmes que são muito falados: “Como já sei tudo que vai acontecer, não me despertou interesse”, disse ela. E talvez muita gente pense da mesma forma. Às vezes eu penso assim em relação a determinados filmes.
Bobagem. Todas as pessoas que gostam de cinema deveriam ver Juno. É uma pequena, preciosa pérola, um daqueles filmes em que tudo dá absolutamente certo, tudo se encaixa de maneira perfeita.
Boa parte do crédito, sem dúvida, se deve ao roteiro escrito por Diablo Cody, uma jovem nascida em 1978 em Chicago que virou stripper por muito tempo e relatou suas experiências em um livro, Candy Girl: A Year in the Life of an Unlikely Stripper. A história que ela criou sobre Juno, uma garota de 16 anos que engravida depois da primeira e única trepada com o bom amigo da classe, Paulie Bleeker (Michael Cera, ótimo com sua carinha de adolescente sonso) é ao mesmo tempo séria, dramática, e extremamente divertida, bem humorada. Os diálogos são rápidos, profusos, e não menos que brilhantes; os personagens todos são muito bem construídos. Em muitas coisas Juno é uma adolescente como qualquer outra – adora rock e filmes de terror sanguinolento, os slasher movies, mas é inteligente, sensível, esperta, mais culta do que o normal; e suas falas são ótimas, recheadas de referências a filmes, músicas, acontecimentos históricos, informações sobre cultural geral. “Eu estava lidando com coisas que estão muito além do meu nível de maturidade”, diz ela a certa altura.
A segunda grande qualidade do filme, depois do roteiro inteligente, é a direção do jovem (tem muito jovem neste filme) Jason Reitman, filho do diretor Ivan Reitman, de Ghost Busters, os Caça-Fantasmas/Ghost Busters, de 1984, e Seis Dias e Sete Noites/Six Days Seven Nights, de 1998. Nascido em Montreal, Canadá, em 1977, Jason Reitman é um garoto prodígio; seu primeiro longa-metragem, Obrigado por Fumar/Thank You For Smoking, de 2005, é uma sátira hilariante, deliciosa, espertíssima, sobre o politicamente incorretíssimo lobby da indústria de tabaco.
Em Juno, o talento do rapaz excede. O ritmo é rápido, gostoso; há brincadeiras e invencionices a cada momento – bem sacadas, mas na dose certa, sem abuso –, como, por exemplo, a transformação do filme em animação quando começam os créditos iniciais, ou o truque de fazer como se a montagem estivesse gaga na seqüência em que Juno e seu pai, Mac (o sempre ótimo J.K.Simmons, que esteve em Obrigado por Fumar, trabalhou com os irmãos Coen mais de uma vez), de classe média bem média, se aventuram pela primeira vez pelo subúrbio dos muitos ricos.
Jason Reitman já demonstrou que é um grande diretor de atores, e reúne bons elencos. Todos os atores que fazem os personagens principais de Juno são bons e estão muito bem – além dos dois já citados, há Jennifer Garner e Jason Bateman como o casal rico que procura um filho para adotar, Allison Janney como a madrasta de Juno, uma bela figura, e a garota Olivia Thirlby, como Leah, a maior amiga de Juno, bonita, cheerleader, chegada a um flerte com professores, mas também esperta e articulada.
Ellen Page é demais
E aí, at last but not at least, temos Ellen Page como Juno.
Ellen Page é demais. Ellen Page é um fenômeno – assim como este filme, com o qual teve a primeira do que certamente serão suas diversas indicações ao Oscar. Em 11 anos de carreira, já ganhou 24 prêmios e teve outras 18 indicações. Tinha 21 anos quando fez o papel de Juno; nisso ela é ajudada por seu físico – ela é mignon e preserva uma carinha de bebê.
Essa menina me deixou tonto, zonzo, com a interpretação da garotinha que tortura um pedófilo em menina.má.com/Hard Candy, de 2005 – tinha apenas 18 anos, e interpretava uma garota de uns 15. Depois deu um absoluto show como uma garota brutalmente torturada e barbarizada por uma família cristã de Indianapolis, em Um Crime Americano/An American Crime. Ellen Page é de se tirar o chapéu, de se aplaudir de pé como na ópera.
Juno
De Jason Reitman, EUA-Canadá, 2007
Com Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, J.K.Simmons, Allison Janney, Olivia Thirlby
Roteiro Diablo Cody
Música Matt Messina
Canções originais Kimya Dawson
Produção Fox Searchlight. Estreou em São Paulo 22/2/2008, em Portugal 21/2/2008
Cor, 96 min
****
Vi este filme ontém a noite. E,tbm assisti
“menina má.com” e “um crime americano”. A Ellen de fato dá show nos dois. Eu gostei deste “Juno”. O Michael, é bom ator tbm, conseguiu fazer do Paulie,eu diría, não só sonso mas tbm um panacao.
Como eu já disse (modestamente) que as vezes não é preciso gastar muito prá se fazer um bom filme, aqui outra vez é o caso.
Como voce disse,sobretudo, o sucesso comercial que foi este filme. Estranho, não gostei da mensagem, se é que teve. Jurei que ao final ela ficaría com seu filho. Ou ao menos, os avós, assumiriam. Mas, em nenhum mo
mento do filme vi algum interesse deles, nisso. Foi super normal dar a criança, não gostei disso, sei lá …
Nao assistir um filme por causa do estardalhaco e escolher logo Juno pra isso e um crime pra quem gosta de cinema. Ainda mais quando a popularizacao da obra se vem atraves de simples mortais que a veem e a disfribuem gratuitamente no boca a boca. Assista Juno, Jussara, por favor, por mim. Quer um conselho? Veja o filme Garota Infernal e veja que a roteirista com o melhor nome de Hollywood (Diablo Cody) nem e tao excepcional assim e que Juno pode seguir o mesmo caminho. Falando do filme, e um dos mais divertidos que assisti. Sem idade e flui constantemente ate acabar e percebermos que nao mais saberemos o que aco tecera com a protagonistamais cheia de humanidade ( defeitos, qualidades, humor, desejo, nojo, indecisao) que eu ja vi num filme. E daqueles que mudaram meu jeito de olhar a vida e, tambem, a aprender a lidar com serenidade e sem muita culpa com as pedras pedras que insistem em aparecer pelo caminho. Adoro essas pedras.