Coisas Que Perdemos Pelo Caminho / Things We Lost in the Fire


3.0 out of 5.0 stars

Anotação em 2008: Só com um quarto de filme já visto parei e fui olhar quem dirigia o filme. Tem todo sentido ser a dinamarquesa Susanne Bier, que dirigiu Depois do Casamento, que vi recentemente e achei extraordinário. São basicamente os mesmos temas – família, morte, perda -, abordados de forma séria, profunda, adulta.

Três coisas relacionadas à forma me impressionaram muito – e não lembrava delas em Depois do Casamento. Primeiro, o excesso de câmara na mão; segundo, o excesso de super big close-ups; e terceiro, uma desnecessária quantidade de flashbacks no início do filme.

No making of mostrado no DVD, a diretora fala dessa coisa dos close-ups, e, influenciado pela leitura recente das matérias que fiz em 2000 e 2001 para a coluna de DVD do portal do Estadão, quando fazia muita pesquisa e anotava coisas importantes ditas pelos diretores, resolvi copiar a frase dela:

“Sempre fui obcecada com primeiríssimos planos (ela fala extreme close-ups). Para mim, são como planos gerais, são quase como uma paisagem. Uma parte do rosto do personagem quase vira uma abstração. Gosto disso porque significa que você se atém apenas à emoção. Você não fica necessariamente com a parte física de um rosto, mas com os sentimentos, e eu acho isso uma ferramenta de extrema importância em termos de descrever o estado mental de alguém.”

Depois ela fala também uma outra coisa muito interessante: “Para mim, como diretora, a esperança é a coisa mais importante. Seria muito difícil fazer um filme sem esperança. Não que eu não saiba que o mundo pode ser cruel, mas não vejo por que jogar isso na cara da platéia.”

zzthings1O filme conta a história do encontro de duas pessoas que estão vivendo momentos terrivelmente angustiantes, tristes, difíceis: ela, Audrey (Halle Berry), acaba de perder o marido, assassinado com um tiro quando tentava impedir que um homem continuasse batendo na própria mulher, na rua, em Seattle; ele, Jerry (Benicio Del Toro), está tentando deixar o vício de heroína; era o melhor amigo do marido de Audrey, Brian (David Duchovny), mas ela nunca gostou dele. Após a morte de Brian, no entanto, ela o convida para morar num anexo da casa dela. Ele trata bem os dois filhos do casal, uma menina de dez e um garoto de seis anos (Alexis Llewellyn e Micah Berry).

Susanne Bier diz que não poderia fazer filme sem esperança, mas os dois personagens centrais comem o pão que o diabo amassou. O filme é doloroso, pesado – assim como foi Depois do Casamento.

Halle Berry está belíssima, e sua atuação é muito competente. Benicio Del Toro me pareceu exagerado demais, fazendo caretas o tempo todo, mas talvez a diretora tenha querido assim, por causa do momento que o personagem está vivendo, na luta para deixar o vício. A menina Alison Lohman, que me deixou absolutamente encantado em dois filmes, Deixe-me Viver/White Oleander, de 2002, e Verdade Nua/Where the Truth Lies, de 2007, está bem diferente, com o cabelo preto; tem um papel pequeno mas importante, como uma companheira de Jerry nas sessões dos NA, o AA dos viciados em drogas. Eu nem a reconheci, o que é um absurdo.

Um detalhe que é interessante e bem-vindo é o fato de que o casal central, Audrey e o marido que ela perde, é um casal misto, ela negra, ele branco – aleluia! O filme não dá qualquer importância a esse fato, ninguém fala disso em momento algum – e isso é ótimo. Ou seja: o casamento misto é considerado uma coisa absolutamente normal. Isso é uma grande evolução no caminho contra o racismo, se se lembrar que os casamentos mistos eram tabu até bem recentemente, nos Estados Unidos, tanto que Stanley Kramer foi considerado ousado por fazer Adivinhe Quem Vem Para Jantar, em 1967, em que a filha do casal Spencer Tracy-Katharine Hepburn fica noiva de um negro, Sidney Poitier.

zzthings2Miscigeneção, essa coisa maravilhosa, é um dos melhores antídotos contra os racismos. Essa coisa maravilhosa de que o Brasil, talvez o lugar mais miscigenado do mundo, ao lado do Havaí, deveria se orgulhar – e contra a qual as políticas racialistas caolhas, ou simplesmente calhordas, aprovadas pelo governo Lula, estão lutando. E, infelizmente, cada vez mais conseguindo vitórias.

Coisas Que Perdemos Pelo Caminho/Things We Lost in the Fire

De Susanne Bier, EUA-Inglaterra, 2007.

Com Halle Berry, Benicio Del Toro, David Duchovny, Alexis Llewellyn, Micah Berry, John Carroll Lynch, Alison Lohman

Argumento e roteiro Allan Loeb

Produção Sam Mendes

Produção DreamWorks. Estreou em São Paulo 4/1/2008.

Cor, 118 min.

***

10 Comentários para “Coisas Que Perdemos Pelo Caminho / Things We Lost in the Fire”

  1. Aproveitei que tinha visto Depois do Casamento, para finalmente ver este aqui da mesma diretora (não sei pq adiei tanto, talvez pelo fato de falar sobre drogas, o que geralmente deixa o filme pesado).
    Comparado a Depois do Casamento achei até tranquilos o uso da câmera na mão (bem menos que no outro) e dos big close-ups. Dos flashbacks eu gostei, pois deu pra ter uma ideia de como era o Brian.
    Não achei o filme super pesado, se comparado a outros filmes sobre drogas, talvez pela presença das crianças (ambas lindas e fofas). Halle Berry com o cabelo natural me surpreendeu, mas o papel deve ter pedido.
    Também achei o Benicio Del Toro um pouco careteiro (e muito, muito bonito, apesar do personagem apresentar-se quase sempre num estado ruim).
    A diretora conseguiu passar a esperança que queria, e eu nem achei o filme super puxado.
    Também acho legal quando há casais mistos nos enredos, sem que se dê importância a isso.

  2. Eu amei esse filme o ator Benicio ele toro enterpretou muito bem. Quantas vezes passa eu assisto.

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