Astérix e Obélix A Serviço de Sua Majestade / Astérix et Obélix Au Service de Sa Majesté

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2.5 out of 5.0 stars

Astérix e Obélix A Serviço de Sua Majestade não é um grande filme, nem sequer um filme assim, a rigor, a rigor, muito bom. Não é memorável, inesquecível, de forma alguma. É apenas delicioso.

É divertidíssimo, hilariante. Pode não ficar para sempre na memória – mas, enquanto está vendo o filme, o feliz do espectador passa 110 minutos maravilhosamente gostosos.

Quer coisa melhor?

Constantes paralelos com fatos e personagens da nossa era

Os créditos finais especificam: o roteiro – assinado por Grégoire Vigneron, Declan May e Laurent Tirard, este último também o diretor – se inspira nas historinhas (o filme se refere a elas como álbuns) Astérix entre os Bretões e Astérix e os Normandos. Na verdade mesmo, a trama é uma história original criada pelos roteiristas, tendo como base os célebres personagens dos livros de René Goscinny e Albert Uderzo. A trama se inspira basicamente nas duas historias citadas, mas também usa elementos de diversas das demais escritas e desenhadas pela dupla lendária.

Muito mais do que os livros, no entanto, o filme faz constantes paralelos entre as situações vividas pelos personagens mais de 2.000 anos atrás e fatos dos dias de hoje, das últimas décadas. Já nos créditos iniciais – que exibe grafismos em torno das cores da bandeira da Inglaterra, azul e vermelho – a trilha sonora, assinada por Klaus Badelt, brinca com os acordes do tema dos filmes de James Bond, o agente 007, criada por John Barry.

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A “aldeia povoada por irredutíveis gauleses (que) ainda resiste ao invasor (romano)”, para citar a descrição que abre todos os livros criados por Goscinny & Uderzo, demora um tanto para aparecer no filme – e na verdade aparecerá bem pouco. A primeira seqüência mostra aquele nosso velho conhecido grupo de piratas. Tadinhos dos piratas: eles sempre se dão mal, e aqui não é diferente.

O líder dos piratas faz um discurso a seus comandados. Reconhece que tiveram momentos inglórios no passado, mas agora estão prontos para voltar a atacar os navios incautos que passarem à sua frente.

O líder pirata ainda está discursando quando o vigia, do alto do mastro principal, avista um navio ao longe, quase escondido sob o denso nevoeiro. Os piratas se entusiasmam: aí vem uma presa fácil, parecem estar pensando.

Só que o que vem em direção ao navio pirata é uma gigantesca frota de navios de guerra romanos, em perfeita formação triangular, o bico do triângulo que vai à frente sendo a galera de Júlio César (interpretado por um Patrice Luchini inteiramente à vontade no papel).

A armada romana está rumando para aquela ilha à esquerda do continente europeu, a maior delas. Júlio César, o grande conquistador, tem a certeza de que acrescentará a Bretanha a seu já imenso rol de países dominados. E seu navio parte ao meio a nave dos pobres piratas.

Em pouquíssimo tempo, a aldeia em que está a rainha da Bretanha (interpretada, com graça e imensa beleza, por Catherine Deneuve) estará cercada por tropas romanas, que lançam sobre ela uma saraivada de pedras.

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Um dos dedicados cavaleiros da nobreza inglesa, Jolitorax (Guillaume Gallienne) propõe à rainha que se peça a ajuda dos irredutíveis gauleses que ainda resistem ao domínio romano.

A rainha bretã não tem qualquer simpatia por seus vizinhos do outro lado do Canal da Mancha (a eterna rivalidade entre franceses e ingleses estará presente ao longo de toda a narrativa), mas, já que os romanos estão apertando o cerco, autoriza Jolitorax a partir para a Gália em busca de ajuda.

Naturalmente, Jolitorax é muito bem recebido por Abracurcix, o chefe da aldeia gaulesa.

Astérix (interpretado por Edouard Baer) e Obélix (Gérard Depardieu, imenso como o próprio personagem) fazem então a viagem da Gália à Bretanha juntamente com Jolitorax, levando com eles um tonel com a poção mágica criada pelo druída Panoramix. Levam também o jovem Goudrix (Vincent Lacoste), sobrinho de Abracurcix, filho de seu irmão que é chefe de uma aldeia da Lutécia (hoje Suíça); o rapaz estava sob a guarda e os cuidados da dupla, encarregada de educá-lo, transformá-lo em homem.

Já que os bretões chamaram para ajudá-los aqueles malditos gauleses possuidores da poção mágica que os transformam em invencíveis, um jovem romano sugere a César que também peça uma ajuda externa – a dos bárbaros, briguentos, violentos normandos, aquele povo que não sabe o significado do termo medo. As cenas em que aparecem os normandos são hilariantes.

Na trilha sonora, canções feitas algum tempo após Júlio César, como “What a Wondeful World”

As referências a fatos e situações da nossa era são diversas. Por exemplo: fala-se de corrupção, de uso de recursos públicos para bens privados. Uma comissão do Senado romano quer explicações de César sobre o uso indevido de navio do Estado para uma viagem de Cleópatra a Roma.

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Uns 1.900 anos antes de Sigmund Freud nascer, Júlio César consulta um psicanalista.

Um passageiro clandestino, imigrante ilegal, o indiano Pindépis (Atmen Kelif), viaja no pequeno barco em que Astérix e seus amigos cruzam o Canal da Mancha rumo à Bretanha.

A cidade de Londinium, a capital bretã, às margens do Rio Tâmisa, naquele ano 50 Antes de Cristo, tem muita semelhança com a Swinging London dos anos 1960 e 1970. Nas ruas fervilhantes de gente, há punks, gatinhas e um grupo de rock formado por quatro garbosos rapazes.

O garotão Goudrix, que era metido a ser músico, e levou para a Bretanha sua lira, apaixona-se pela guitarra elétrica da banda.

Na trilha sonora, entram canções compostas algum tempo depois da era de Júlio César. “What a Wonderful World”, a canção tornada clássica por Louis Armstrong, aqui apresentada pelos Ramones, é perfeita para acompanhar a última sequência em que aparecem os normandos.

Goudrix, o jovem levado por Astérix e Obélix, uma hora lá canta alguns versos de “Ne me quitte pas”, o clássico de Jacques Brel.

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Em uma cena em que há uma cerimônia com a presença da rainha, ouvimos a marcha       “Pompa e Circunstância”, do inglês Edward Elgar.

“Pomp & Circunstamce” está também na trilha sonora de Laranja Mecânica/A Clockwork Orange, que Stanley Kubrick lançou em 1978. O filme de Kubrick tem uma de suas sequências copiada aqui: um dos guerreiros normandos é feito prisioneiro pelos bretões, e uma dupla de mulheres ministra a ele um torturante curso intensivo de bons modos. Para melhor mantê-lo atento às lições, colocam no rosto do pobre normando um instrumento que não permite que ele feche os olhos – exatamente como é feito na tentativa de reeducação forçada do protagonista adepto da ultraviolência do filme de Kubrick.

Valérie Lemercier rouba a cena no papel de Miss Macintosh

Essa dupla de mulheres bretãs é um dos bons achados do filme.

A mais jovem, Ophélia (interpretada por Charlotte Le Bon), uma nobre, é a noiva de Jolitorax. A mais velha é sua dama de companhia, Miss Macintosh – o papel da ótima Valérie Lemercier.

No meio de um elenco de grandes nomes do cinema francês (que inclui, por exemplo, o veteraníssimo Jean Rochefort numa participação especial como um senador romano), Valérie Lemercier, na minha opinião, rouba a cena.

zzasterix5O gigantão Obélix se perde de amores por ela – e o espectador se diverte à beça em todas as cenas em que Gérard Depardieu e Valérie Lemercier aparecem juntos.

Ao longo de toda a narrativa, há diversas menções à “quente água”, a bebida nacional dos bretões, que param tudo o que estão fazendo às 5 horas da tarde para sorvê-la. O imigrante ilegal Pindépis traz da Índia umas folhas de chá, que, a partir de então, seriam mescladas à quente água e formariam a bebida nacional.

Brinca-se também, o tempo todo, com o fato de que os bretões usam os adjetivos à frente dos substantivos, como em quente água, gentil cavalheiro, verde casa, e por aí vai. Exatamente como nas histórias em quadrinho dos heróis.

Mudam os diretores, os roteiristas, os demais atores – só Gérard Depardieu fica

Gérard Depardieu é, creio, um dos poucos pontos em comum dos vários filmes que foram feito a partir de 1999 com os personagens criados por Goscinny e Uderzo.

No primeiro e no segundo deles, Astérix e Obélix contra César (1999) e Astérix e Obélix: Missão Cleópatra (2002), o herói baixinho é interpretado por Christian Clavier. No terceiro, Astérix nos Jogos Olímpicos (2008), por Clovis Cornillac. E, neste aqui, por Edouard Baer.

No primeiro da série, Júlio César é interpretado pelo alemão Gottfried John. No segundo, por Alain Chabat. No terceiro, por Alain Delon. Neste aqui, como já foi dito, César vem na pele de Patrice Luchini.

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O próprio Chabat dirigiu o segundo filme. O primeiro da série foi realizado por Claude Zidi, o terceiro pela dupla Thomas Langmann e Frédéric Forestier, e este aqui, por Laurent Tirard, que em 2007 fez As Aventuras de Molière e, em 2009, O Pequeno Nicolau, outra adaptação de história em quadrinhos – por coincidência, ou não, também criada por René Goscinny.

Mudam os diretores, os roteiristas, os demais atores – só Gérard Depardieu permanece.

Depois que Depardieu encarnou o gordão Obélix no filme de 1999, simplesmente não dá para imaginar qualquer outro ator fazendo o papel.

E o ator grandalhão, maior a cada filme, que já trabalhou com alguns dos mais importantes cineastas do mundo, parece inteiramente à vontade no papel do gaulês que caiu no pote da poção mágica quando era bebê.

Foram todos grandes sucessos de público. Este aqui revê 3,7 milhõe de espectadores

Os quatro filmes que Depardieu já fez no papel de Obélix (quem sabe quantos outros ainda virão?) têm mais alguns pontos em comum. São, todos eles, co-produções, reunindo dinheiro de vários países. Este A Serviço de Sua Majestade é uma co-produção França-Itália-Espanha-Hungria. Os créditos finais mostram que o filme reuniu equipes que trabalharam na Bélgica, Irlanda, Hungria e Canadá, além da França.

São, todos os quatro, produções caras, com centenas e centenas de figurantes – e com a excelente qualidade em todos os quesitos técnicos que o dinheiro pode garantir.

Este aqui custou 60 milhões de euros.

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E, at last but not at least, foram, todos eles, grandes sucessos de público. Segundo o site AlloCine, este filme aqui teve mais de 3,7 milhões de espectadores só na França.

As aventuras de Astérix fazem milhões de pessoas felizes.

E parecem confirmar o grande temor que Júlio César/Patrice Luchini expressa ao final da narrativa: hoje em dia, o imperador romano é um coadjuvante na História. Os protagonistas são Astérix e Obélix.

Anotação em dezembro de 2013

Astérix e Obélix A Serviço de Sua Majestade/Astérix et Obélix Au Service de Sa Majesté

De Laurent Tirard, França-Itália-Espanha-Hungria, 2012

Com Gérard Depardieu (Obélix), Edouard Baer (Astérix),

e Guillaume Gallienne (Jolitorax), Vincent Lacoste (Goudurix), Valérie Lemercier (Miss Macintosh), Fabrice Luchini (Júlio César), Catherine Deneuve (a rainha), Charlotte Le Bon (Ophélia), Bouli Lanners (Grossebaf), Dany Boon (Têtedepiaf), Atmen Kelif (Pindépis), Jean Rochefort (Lucius Fouinus)

Roteiro Grégoire Vigneron, Laurent Tirard e Declan May

Baseado nos personagens criados por René Goscinny e Albert Uderzo

Inspirado nos livros Astérix entre os Bretões e Astérix e os Normandos

Fotografia Catherine Pujol e Denis Rouden

Música Klaus Badelt

Montagem Valérie Deseine

Produção Fidélité Films, Wild Bunch, Cinetotal, Lucky Red, Morena Films. DVD Paris Filmes.

Cor, 110 min

**1/2

6 Comentários para “Astérix e Obélix A Serviço de Sua Majestade / Astérix et Obélix Au Service de Sa Majesté”

  1. Filmes com actores de carne e osso adaptados de banda desenhada não são do meu agrado. Ainda há pouco vi “The Adventures of Tintin” de Steven Spielberg e não gostei nada. Embora neste último os actores surjam trabalhados digitalmente.

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