As Cariocas

3.5 out of 5.0 stars

(Disponível no YouTube.)

As Cariocas, de 1966, é um filme absolutamente, absolutamente fascinante. Por carradas de razões, como diria Chico Buarque, esse carioca filho de paulista que passou anos da juventude em São Paulo.

Chico Buarque, que naquele ano de 1966 lançou seu primeiro álbum, não tem nada a ver diretamente com o filme. Falei dele só porque usa a expressão “carradas”, que eu adoro, em uma de suas letras maravilhosas, “Estação Derradeira”, aliás uma ode ao Rio de Janeiro.

O fato é que a coisa Rio-São Paulo, muitas vezes Rio x São Paulo, tem muito a ver com As Cariocas.

Um dos motivos pelos quais As Cariocas é absolutamente, absolutamente fascinante é que é um filme paulista. A produtora, Wallfilmes, é paulista, o produtor e diretor de um dos três episódios, Fernando de Barros, é um português que se radicou em São Paulo, e os outros dois episódios são dirigidos por paulistanos, Walter Hugo Khouri e Roberto Santos.

Um filme sobre As Cariocas produzido e dirigido por paulistas!

Ahá! Mas as histórias são de autoria de um carioca da gema. As histórias, o texto de abertura – sensacional, maravilhoso, extraordinário, genial – e até a voz que lê o texto são de Sérgio Porto, aliás Stanislaw Ponte Preta, aliás Sérgio Porto, “cronista, escritor, radialista, comentarista, teatrólogo, jornalista, humorista e compositor”, conforme enumera a Wikipedia. O sujeito que, em plena ditadura recém-instaurada, Quarta-Feira de Cinzas no País, criou o termo e a noção Febeapá – Festival de Besteiras Que Assola o País.

Só pela abertura, o intróito, o texto de Sérgio Porto lido por ele mesmo enquanto vemos imagens do Rio de Janeiro e das cariocas e dos cariocas nas ruas, nas praias, antes do início do primeiro dos três episódios, As Cariocas já seria um grande filme.

O fato de ser um filme em episódios – isso que os americanos chamam de anthology movies, e eu não consigo compreender o que antologia tem a ver com filme em episódio – é outro motivo, entre as carradas, pelos quais As Cariocas é um filme fascinante.

Os filmes em episódio eram moda, eram uma febre, no final dos anos 50 e ao longo dos 60, em especial na Itália e na França. Havia os de vários episódios dirigidos pelo mesmo diretor, como O Diabo e os Dez Mandamentos (1962), Sete Vezes Mulher (1967), Ontem, Hoje e Amanhã (1963). Mas mais comuns eram os de um diretor para cada episódio, como Os Sete Pecados Capitais (1962), As Bruxas (1967). Boccaccio ’70 (1962). Havia as produções multinacionais, que reuniam diretores e realizadores de vários países, como O Amor aos 20 Anos (1962) e Histórias Extraordinárias (1968).

Em geral, todos tinham uma perfeita unidade. Os mandamentos, os pecados capitais, as bruxas, as mulheres, o amor jovem demais.

Os três episódios de As Cariocas têm em comum o fato de que mostram cariocas, em histórias escritas por um carioca. Mas estes são os dois únicos pontos que os unem. Cada episódio é de um jeito, uma atmosfera, um clima. Tirando o fato de que se passam no Rio de Janeiro, e que suas histórias saíram de uma mesma fascinante cabeça, nenhum deles tem absolutamente qualquer coisa a ver com o outro.

O primeiro episódio, o de Fernando de Barros, é uma comédia escrachada, deliciosa, hilariante. O segundo, o de Walter Hugo Khouri, é um exame quase bergmaniano – desse que é o cineasta mais bergmaniano depois do próprio Ingmar Bergman, mais bergmaniano até mesmo que Woody Allen – de uma personalidade em conflito consigo própria. E o terceiro, o de Roberto Santos, é exemplo claro da possibilidade que o cinema tem de mergulhar fundo no exame sociológico das histórias das classes e grupos sociais e do comportamento das pessoas de cada um desses grupos ou classes.

As Cariocas é um belo, belo filme.

Uma abertura maravilhosa, um texto admirável

Cinema é movimento, segundo mostra a própria palavra que o designa, vinda do grego kinema. Moving pictures, imagens em movimento. Mas, diabo, é também palavra, como a literatura, o teatro, até porque veio depois deles e incorporou tudo o que as seis artes tinham do bom e do melhor – e então a abertura de As Cariocas é uma daquelas coisas que fazem a gente rir, gargalhar, mas também sentir prazer diante da pura beleza, se extasiar com a inteligência, a verve, o engenho, a arte.

São dezenas e dezenas e dezenas de tomadas – em geral curtas, rápidas – de cenários (umas poucas) e de pessoas (a imensa maioria) de São Sebastião do Rio de Janeiro. Tomadas de gente nas ruas, nas praias – como se fossem de um documentário. Nada de atores, de movimentos ensaiados. Tomadas de gente comum andando pela cidade, apressada, ou no dolce far niente do corpo ao sol – e é fascinante pensar que aquilo tem um tanto da receita básica do neo-realismo italiano, o movimento dos anos 40 e 50 que influenciou fortemente o que viria depois, a nouvelle vague francesa, o cinema dos angry young men da Inglaterra, o cinema independente dos Estados Unidos, o cinema novo brasileiro.

A receita básica do neo-realismo: nada de estúdio, tudo filmado em cenários naturais, exteriores, as ruas, ao ar livre, luz natural.

Enquanto vamos vendo as imagens que se sucedem rapidamente, ouvimos o texto de abertura escrito e lido por Sérgio Porto, esse brasileiro de inteligência faiscante que viveu apenas ridículos 45 anos. Nascido em 1923, morreu de enfarte em setembro de 1968, talvez porque seu coração não suportasse a possibilidade de ver o país assolado por tanta besteira viver a besteira maior que seria o AI-5 de 13 de dezembro.

“Aqui, cada moça que desfila é uma ovação.”

Peço perdão por ter tergiversado um pouquinho. Eis o texto de abertura de As Cariocas.

“No princípio, como dizia o Gênesis, era o caos. Depois veio Deus e fez o mundo. (Tomada do Cristo Redentor.) Mais tarde veio Estácio de Sá e fundou o Rio. O lugar não era bom para fundar uma cidade, apertada entre o mar e as montanhas. Mas Estácio de Sá era um homem muito teimoso. No primeiro dia, ele percebeu que não havia muito espaço – começaram os aterros. (Tomadas aéreas, vistas gerais do Pão de Açúcar, Copacabana.) Para aumentar o Rio, tiveram que diminuir o mar. Deu muito trabalho. Então foram todos para a praia, tomar sol. (Tomadas de praia lotada.) Depois, começaram a chegar mulheres para a fabricação das primeiras cariocas. Vocês sabiam que o Rio de Janeiro é a cidade do mundo onde mais se leva a sério um concurso de miss? (Tomadas de um desfile de miss.) Se o nobre fundador da cidade soubesse disso, teria feito primeiro as passarelas, depois as ruas. Aqui, cada moça que desfila é uma ovação. Bem, nas ruas não é muito diferente. Os homens dizem cada coisa no ouvido das mulheres que se elas fossem levar a sério a população já teria aumentado muito mais do que aumentou até aqui.

“Ah! O futebol. (Tomadas de um jogo no Maracanã.) Esta é uma das grandes paixões desta cidade. Para ver 22 homens de calcinhas curtas correndo atrás de uma bola, juntam-se milhares e milhares e milhares de cariocas. O ponta correu, o ponta centrou, Pelé pulou – é gol. Este é Garrincha. O outro eu não sei; deve se chamar João. Entre eles, aquilo que os locutores chamam de pelota, de balão, de esfera, de redonda, mas nunca, nunca chamam de bola.

“Outra grande instituição do Rio de Janeiro, o carnaval. (Tomadas de desfile de escolas de samba.) Claro, o carnaval não se fez em um dia. Geralmente faz-se em três. E há os exagerados, que ficam fazendo carnaval o ano inteiro. Um dos grandes problemas do Rio são as escolas. Elas são poucas, é difícil se arranjar uma vaga. Mas escolas de samba não há de faltar nunca.

“E é nesse ambiente (tomada de um casal na praia) que trabalham os cariocas.”

Começam os créditos iniciais, e entra a trilha sonora, composta por Damiano Cozzella e Rogério Duprat – ele mesmo, o Homem Do Plá, o músico genial que, no ano seguinte, seria o responsável pelos arranjos das canções com que Caetano Veloso e Gilberto Gil mexeriam com as estruturas da música brasileira com o tropicalismo.

Os créditos, longos, detalhados, vão rolando sobre imagens de pessoas andando nas praias e nas ruas. Entre as tomadas rápidas, em montagem acelerada, há muitas, muitas de mulheres de biquini e de rostos mostrados em close-up – o povo da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

No primeiro episódio, todo mundo tem amante

Interessante: As Cariocas, o livro de Sérgio Porto, foi lançado em 1967, um ano depois do filme. O livro reúne seis contos, seis noveletas, que, creio, já haviam sido publicadas separadamente, em jornais ou revistas. Cada uma delas abordava uma carioca: a Grã-Fina de Copacabana, a Noiva do Catete, a Donzela da Televisão, a Currada de Madureira, a Desquitada da Tijuca e a Desinibida do Grajaú.

Interessante de novo: os três episódios do filme não têm nome. Poderiam perfeitamente ter – os títulos usados no livro são charmosos, chamativos. No entanto, no filme eles são apresentados apenas pelo nome de cada um de seus diretores.

O primeiro episódio, o de Fernando de Barros, é obviamente o sobre a Grã-Fina de Copacabana. O segundo é o da Noiva do Catete – embora seu endereço tenha sido mudado para Copacabana. O terceiro, o de Roberto Santos, é o da Desinibida do Grajaú.

A grã-fina de Copacabana é o papel de Norma Bengell – e, diabo, em 1966 não havia estrela de cinema maior no Brasil que Norma Bengell.

A trama envolvendo a grã-fina de Copacabana é ao mesmo tempo simples demais, quase boba – no fundo, tudo gira em torno da compra de um belo e caríssimo carro esporte – e deliciosa, hilariante, fantástica, incrível.

É uma espécie de quadrilha drummondiana, João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili – só que, a rigor, ninguém amava de fato ninguém. Seria mais ou menos assim:

Paula era casada com Edu e amante de Teo que era casado com Zizi que tinha um amante que não interessa para história. Zizi ganhou de Teo um carrão que deixou Paula com ciúme e Paula exigiu que Teo comprasse um carro igual para ela, fazendo o marido pagar uma parte e o amante uma outra parte. O carro igual ao de Zizi pertencia a Cid, irmão de Didi, grande amiga de Paula, e Paula foi tramar a compra do carro por seu amante e seu marido com Cid e é claro que Cid topou vender, mas só se Paula desse para ele, e aí então…

Paula, claro, era o papel de Norma Bengell. Achei, ao ver o filme agora, que Norma não estava tão absolutamente deslumbrante quanto em Noite Vazia, lançado dois anos antes, 1964, em que contracenava com outra estrela maior, Odette Lara, sob a direção de Walter Hugo Khouri do segmento seguinte. Achei também, mais uma vez, que naqueles meados dos anos 60 Norma era assim uma espécie de nossa Jeanne Moreau. Há tomadas em que ela de fato faz lembrar La Moreau de obras-primas como La Notte (1961), de Michelangelo Antonioni.

O dr. Teófilo, o amante de Paula, é o papel de Walter Forster, o ator que, naquela época, meados dos anos 60, tinha o physique du rôle perfeito para interpretar ricaços. O ator que fazia Cid, também era o mais indicado para o papel de um playboy paulista – John Herbert, que muita gente, eu inclusive, considerava um tanto canastrão com aquela faccia bonita à la Tony Curtis ou John Gavin. Ao ver o filme agora, achei que ele está muito bem.

Creio que não é spoiler dizer que esse primeiro episódio do filme termina com Paula-Norma Bengell e Cid-John Herbert dando sonoras gargalhadas. Dificilmente haverá espectador que não ria junto com eles.

No segundo episódio, uma mulher que mente

Já o segundo episódio, o de Walter Hugo Khouri, não tem um único segundo engraçado, nem alegre, nem leve.

Não há propriamente uma história. É um dia na vida de Júlia, uma moça que tem muitos homens na vida mas é o retrato da solidão das pessoas nessas capitais, para citar a canção de Belchior.

Júlia é o papel da belíssima Jacqueline Myrna, fulgurante perto dos 30 anos quando o filme foi feito. A câmara de Khouri e do diretor de fotografia Ricardo Aronovich faz um super big close-up do rosto da moça, ela ainda deitada na cama, acabando de acordar para mais um dia triste.

Júlia não estuda nem trabalha – e mente de uma forma que parece compulsiva. Ao noivo, José Luíz (Francisco Di Franco), que vive em uma pensão, mente que no apartamento que os dois compraram juntos uma tia está morando com ela. Para um cliente que recebe no apartamento (o papel de Mário Benvenutti, sempre presente nos filmes do diretor), mente que trabalha não guardei em quê. Para o amante paulista que paga suas contas e a visita sempre que pode viajar ao Rio (o papel de outro Khouriano de carteirinha, Sérgio Hingst), mente que estuda.

Muitos homens na vida daquela mulher linda – e, no entanto, ela é solitária. E infeliz,

Jacqueline Myrna… Não sabia quase nada sobre ela, a não ser que era muito famosa nos anos 60. Vejo agora que tem uma vida interessantíssima. Nasceu na Romênia (em 1944 ou 1949, dependendo da fonte), radicou-se no Brasil garota. Por causa do nome, e porque falava carregando os erres, muita gente imaginava que ela era francesa – e isso ajudou-a a ganhar o apelido de Brigitte Bardot brasileira. Fez poucos filmes – só 11, entre Amor na Selva (1961) e As Confissões de Frei Abóbora (1971), mas esteve sempre presente na televisão, em muitos programas humorísticos, e tornou conhecidíssimo o bordão “Os brasileirrrrrrrros são tão bonzinhos”. De repente, no início dos anos 70, sumiu – como se tivesse sido abduzida por alienígenas tarados.

O escritor e jornalista Inácio Loyola Brandão, natural de Arrrarraquarra – como ela dizia – escreveu uma deliciosíssima crônica sobre ela no Estadão, em 2015, que começa assim:

“Há décadas um mistério permaneceu: onde estará Jacqueline Myrna? As novas gerações não têm ideia de quem foi. Porém, a turma acima dos 60 lembra-se bem. Loira, sensual, pernas magníficas, um riso estonteante. Estou usando palavras e denominações da época. Durante anos, Jacqueline foi presença entre as Certinhas do Stanislaw Ponte Preta.”

O eventual leitor que chegou até deveria ler a crônica do Loyola. É de fato uma preciosidade.

Uma mulher que choca a Zona Norte

O terceiro episódio, o de Roberto Santos com Iris Bruzi, é sem dúvida alguma o mais denso, mais sério do filme.

Todo ele mostra um (fictício, é claro) programa “Rio Verdade”, da TV Globo – Canal 4, sobre Marlene Cardoso. modelo e atriz com pequenos papéis em cinema e televisão, que havia ganhado notoriedade “ao ser eleita Rainha da Praia e receber um automóvel Simca como prêmio. Ela e sua amiga Tânia (Esmeralda Barros) são vítimas de um tumulto quando lavavam o carro na Penha e Marlene é hostilizada por populares por usar roupas curtas em público. É presa pela polícia e seu carro é danificado. Os jornais abrem grandes manchetes dizendo que Marlene luta pelo ‘direito de usar pouca roupa’ e acaba sendo assunto até do Febeapá Festival de Besteiras que Assolam o País, coluna do jornalista Stanislaw Ponte Preta.”

O trecho entre aspas aí acima é da sinopse do Wikipedia sobre o episódio estrelado por Iris Bruzi.

O fictício programa “Rio Verdade” é daquele tipo popularesco, apelativo, beirando a baixaria – e a sátira que o episódio de Roberto Santos faz a esse tipo de coisa da TV brasileira é virulenta, pesada. O apresentador do programa (interpretado, creio, por Ivan de Souza), uma espécie assim de antecessor de José Luiz Datena, vai entrevistando Marlene e entremeando as perguntas com trechos de filmes e comerciais em que ela havia aparecido, e também reportagens sobre ela.

O roteiro tem aí um grande achado. Nos filmes em que Marlene Cardoso trabalhou, sempre em papéis pequenos, secundários, estavam também atores famosos, que fazem então participações especiais – Zezé Macedo como uma mulher ciumenta, José Lewgoy como um bicheiro perseguido por rivais, o comediante Ankito das chanchadas da Atlântida com um sujeito que paquera mulheres na praia.

O apresentador do programa baixaria da TV muitas vezes trata sua entrevistada como se estivessem em um tribunal do júri, ele fosse o promotor e ela, a ré. A acusação: usar pouca roupa. Ou seja: agredir os bons costumes, a moral, a família.

Sim, na Zona Sul as mulheres andam de biquíni – e não só na praia, mas também nas ruas, nas avenidas, no caminho entre a praia e suas casas. Mas isso na Zona Sul. Na Zona Norte isso não pode.

– “O que é arroz com feijão na Zona Sul é filé mignon na Zona Norte”, diz ele, numa das frases mais memoráveis do filme.

Iris Bruzi está excelente, maravilhosa como essa Marlene Cardoso. Uma figura, Iris Bruzi. Meu Deus, todas as três atrizes principais deste filme, Norma Bengell, Jacqueline Myrna e Iris Bruzi, são mulheres impressionantes.

Iris é carioca da classe de 1935 – a mesma de Norma Bengell, e também de Woody Allen, Alain Delon, Julie Andrews – e, assim como sua personagem Marlene Cardoso, ficou famosa por usar pouca roupa e mostrar o corpo belíssimo. Foi vedete nos shows de Carlos Machado e, como Jacqueline Myrna, foi uma das Certinhas do Lalau – as mulheres de corpo perfeito escolhidas exatamente por Stanislaw Ponte Preta, o alter-ego, mais que pseudônimo, de Sérgio Porto. Trabalhou em novelas da Globo e da Record, fez teatro e, no cinema, esteve em 22 filmes, entre 1958 e 1988.

Um ano especialmente rico para o cinema brasileiro

A adaptação de Roberto Santos da história “A Desinibida do Grajaú” de Sérgio Porto “surpreendeu a todos, a começar pelo roteiro que desenvolve a mais rigorosa crítica feita até então ao papel da TV como manipuladora da opinião pública”, diz, no verbete sobre o diretor paulista, a extraordinária Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda. “O episódio confirmou definitivamente o talento de Roberto Santos na direção de atores. Iris Bruzi, vedete do teatro de revista, fez o papel dramático que emocionou as platéias, e o episódio foi o único incluído nas antologias do cinema nacional.”

É fundamental registrar que 1966 – o segundo ano após o do golpe de estado e do início da ditadura militar – foi riquíssimo para o cinema brasileiro. É óbvio que eu não me lembrava que foram tantos os filmes importantes lançados naquele ano – mas me assustei ao consultar a História Ilustrada dos Filmes Brasileiros – 1929-1988, de Salvyano Cavalcanti de Paiva.

Chegaram aos cinemas, naquele ano, São Paulo Sociedade Anônima de Luiz Sérgio Person, Terra em Transe de Gláuber Rocha, A Hora e a Vez de Augusto Matraga de Roberto Santos, A Grande Cidade de Carlos Diegues, O Caso dos Irmãos Naves também de Person, Corpo Ardente de Walter Hugo Khouri e – remando contra a maré de tanto filme sério, pesado, denso, com forte carga social e política, os leves, gostosos e carioquíssimos Toda Donzela tem um Pai Que é Uma Fera de Roberto Farias e Todas as Mulheres do Mundo de Domingos Oliveira, aquela obra-prima esplendorosa.

E ainda, além deles, este As Cariocas, essa coisa híbrida, mezzo paulista mezzo carioca, mezzo comédia escrachada mezzo cinema seriíssimo, moderno pero non exatamente cinema novo.

Uma beleza de filme.

Anotação em setembro de 2024

As Cariocas

De Fernando de Barros, Walter Hugo Khouri, Roberto Santos, Brasil, 1966.

Segmento de Fernando de Barros:

Norma Bengell (Paula Ribeiro de Castro),

Walter Forster (dr. Teodoro, Teo, o amante de Paula), John Herbert (Cid, o playboy paulista), Célia Biar (Didi Carvalho, a amiga de Paula, irmã de Cid),       Newton Prado (Edu Ribeiro de Castro, o marido Paula), Lilian Lemmertz, Giedre Valeika, Guy Ditrigier, Célia Watanabe, Miguel di Pietro, Beth Barcellos, Francisco Sena, E. Hermany, Joel Ferreira (Joel)

Segmento de Walter Hugo Khouri:

Jacqueline Myrna (Júlia),

Sérgio Hingst (o amante), Mário Benvenutti (o cliente), Francisco Di Franco (José Luiz, o noivo), Vera Barreto Leite, Ramires Orlando, José Amaral, José P. Moreira

Segmento de Roberto Santos

Íris Bruzzi (Marlene Cardoso),

Ivan De Souza (o entrevistador), Esmeralda Barros (Tânia), Celso Guedes de Carvalho, Ruth de Souza, e, em participações especiais, Zezé Macedo (mulher ciumenta), José Lewgoy (bicheiro). Carlos Heitor Cony, Amilton Fernandes (capitão Maurício), Ankito (paquera)

Roteiro Fernando de Barros, Walter Hugo Khouri, Roberto Santos e Sérgio Porto

Baseado em contos de Sérgio Porto

Fotografia Ricardo Aranovich

Música Damiano Cozzella, Rogério Duprat

Montagem Maximo Barro (primeiro segmento), Maria Guadalupe (segundo), Silvio Renoldi (terceiro)

Direção de arte Romeu Camargo, Fernando De Barros

Figurinos Isabel Amaral

Produção Fernando de Barros, A.A.S. Filmes, Wallfilmes.

P&B, 110min (1h50)

***1/2

 

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