(Disponível na Netflix em 6/2022.)
A forma com que a diretora e co-autora do roteiro original, Katarzyna Klimkiewicz, escolheu para contar parte da história da atriz e cantora Kalina Jedrusik (1931-1991) se torna muito mais importante do que a história em si.
Este é um fato. Não vai aí uma crítica nem um elogio. É apenas uma constatação. Neste Prazer, Kalinda, produção polonesa de 2021 apresentada em dois festivais de cinema na Polônia naquele mesmo ano e colocada à disposição do mundo inteiro na Netflix em março de 2022, o que fala mais alto, o que nos fustiga a vista, ao longo praticamente de cada um dos seus 105 minutos de duração, é a forma.
Costumo usar a expressão fogos de artifício para designar os formalismos, as exibições de efeitos, piruetas, trejeitos, frescuras, genialidades formais. Pois bem. Não é que Prazer, Kalinda seja um filme com momentos de fogos de artifício. Ele é uma exibição de fogos de artifício ininterrupta. 105 minutos de fogos de artifício.
Mas creio que, antes de mais nada, antes de tentar descrever o estilismo deste filme que privilegia o estilismo, é preciso dizer que Kalina Jedrusik teve uma história de vida interessantíssima, fascinante, por tudo o que o filme mostra e por tudo que a gente pode ver sobre ela com as bênçãos do Tio Google. Eu nunca tinha ouvido falar nela, e creio que a maioria dos cinéfilos não poloneses também não – o que torna ainda mais atraente um filme que nos conta sobre essa personagem ao mesmo tempo fascinante e não tão conhecida quanto deveria.
Cantora e atriz, figura famosa nos palcos, no cinema e na televisão, Kalina Jedrusik foi um símbolo sexual, um furacão de sensualidade à flor da pele numa Polônia – dos anos 1950, 1960 – mergulhada na ditadura comunista. E as ditaduras, sejam as comunistas, sejam as de direita, próximas ao fascismo (a gente está cansado de ver exemplos disso), são, quanto aos costumes, conservadoras, caretas.
A moça era adorada pelo povo – mas o governo dito popular não gostava nada daquilo que ela mostrava para o povo na TV.
”Nos anos 50 e 70, foi uma sex symbol polonesa”
Kalina Jędrusik entrou na adolescência com seu país invadido pelas tropas nazistas: estava com oito anos em 1939, quando a Polônia foi tomada pelos alemães, o que deu início à Segunda Guerra Mundial. Quatro anos após o final da guerra, em 1949, sua família se mudou de Gnaszyn, onde a garota havia nascido, para a Cracóvia, a segunda maior cidade do país, já então uma ditadura comunista da órbita da União Soviética. Na Cracóvia cursou a Academia Ludwik Solski de Artes Dramáticas, fez sua estréia no Teatro Wybrzeże, em Gdańsk, em 1953 – e a partir daí seria uma figura importante nas artes e na cultura da República Popular da Polônia.
Os lugares e as datas são interessantes: Cracóvia é a cidade natal de Karol Józef Wojtyła, que seria ali bispo auxiliar (1958–1964) e arcebispo, antes de ser eleito o primeiro papa não italiano em secula seculorum. Gdańsk é a cidade industrial e portuária onde nasceria o Solidariedade de Lech Walesa, o primeiro sindicato independente, não ligado ao partido único e oficial, de todos os países tornados comunistas à força após a passagem por eles do Exército Vermelho, que os liberou dos invasores nazistas. Filha de um membro do Senado da Polônia, Kalina só viveu seus primeiros oito anos em um regime livre, e morreu exatamente no ano em que seu país, assim como os vizinhos todos, se livraram do comunismo.
Perdão pela pequena digressão – mas a presença da ditadura comunista é importante na vida da artista, assim como no filme da diretora Katarzyna Klimkiewicz.
O verbete da Wikipedia em inglês sobre Kalina não se estende sobre a fase da vida da artista que é a mostrada no filme – o início dos anos 60, época em que sua fama, parece, estava no auge. Diz a enciclopédia, depois de falar do trabalho da atriz em diversas companhias teatrais polonesas: “In the 1960s and the 1970s Kalina Jędrusik was a Polish sex symbol.” E logo em seguida, após informar que em 1976 ela se apresentou nos Estados Unidos, a Wikipedia nos conta que, em 1996 – cinco anos, portanto, após sua morte – ela ficou em terceiro lugar numa votação para a escolha das maiores atrizes polonesas, organizada pela revista Film como parte das comemorações dos cem anos do cinema.
Diacho, mas só isso? ”Nos anos 50 e 70, foi uma sex symbol polonesa” – e só? Sem detalhes? (Bem… A Wikipedia remete o leitor interessado em detalhes para um endereço em que há um grande, bem ilustrado texto sobre a atriz… escrito em polski. Quem quiser se aventurar… https://culture.pl/pl/tworca/kalina-jedrusik)
Uma forma que é o oposto do realismo socialista
O filme de Katarzyna Klimkiewicz, com roteiro dela e de Patrycja Nowak, é todo construído como um exercício de estilo, como algo que foge do realismo ainda mais que o diabo foge da cruz. Todo o visual, e também quase absolutamente toda a forma da narrativa, tudo é uma gigantesca brincadeira, um passeio em cima do artificial, do encenado. A direção de arte é toda feita para realçar que não se está reconstituindo uma realidade, e sim uma fantasia.
Sim, de uma certa maneira é um exercício de metalinguagem. É a representação quase (ou abertamente) farsesca de como devem talvez ter sido alguns momentos da história de Kalina Jędrusik, se eles fossem contados não com a estética daquela época, o horrendo realismo socialista, e sim de forma mezzo paródia dos musicais de Hollywood dos anos 50, mezzo paródia dos filmes “vanguardistas” europeus ocidentais dos anos 50. Com uma pitada de algo mais mais recente, a coisa do flashmob.
Há uma sequência em que Kalina (interpretada por Maria Dębska), o marido, o escritor Stanislaw Dygat (Leszek Lichota) e alguns amigos estão em um ambiente assim sisudo, sério, bem comunista, e de repente começam a cantar e dançar, e a coisa vai se espalhando, e todos entram na dança, como nos flasmobs que viraram mania a partir de… Diacho, sei lá quando, mas certamente muito tempo depois da morte de Kalina em 1991.
Isso de a ação estar rolando e, de repente, todo mundo começar a cantar e dançar, isso é puro musical comedies made in Broadway e in Hollywood, como diria o escritor-diretor-coreógrafo Joe Gideon do All That Jazz (1979) de Bob Fosse. Coisa já bem conhecida. Mas aqui isso vem acompanhado de tantos outros tipos de coisas esquisitas que fariam os diretores de arte, os cenógrafos, os figurinistas, os continuístas, todas as pessoas das equipes técnicas do realismo socialista do stalinismo morrer de choque anafilático.
Em cada sequência, praticamente em cada tomada, o filme insiste em ser não uma narrativa de eventos, mas uma encenação da encenação da encenação de uma encenação de eventos.
A vida da personagem fica em quinto plano
As ruas, por exemplo. As ruas da Varsóvia do filme são limpíssimas, imaculadas. Não há uma bituca de cigarro no chão, o que é louco, porque todos, todos, todos os personagens fumam demais, louca, alucinadamente. Não há poeira nas ruas. As imagens mais oniricamente belas das ruas de Manhattan nos filmes de Woody Allen são fichinha perto da perfeição que são as paisagens da Varsóvia da diretora de fotografia Weronika Bilska.
Vou tentar explicar melhor o que estou querendo dizer usando como exemplo as tomadas internas no apartamento de Kalina, o lugar onde ela mora com seu maridão escritor renomado.
As tomadas dos interiores do apartamento de Kalina e Stanislaw mostram não algo parecido com a realidade, mas com a imagem mais admiravelmente perfeita do que poderia ser um apartamento. É tudo absolutamente limpo, imaculado. A pintura acabou de ser refeita. Não há nada, nada, fora do lugar. Muitíssimo ao contrário. É tudo perfeito. ´D tudo cenário.
Sim, é tudo cenário de um filme hollywoodiano ou novela global (ruim), em que não há uma sujeirinha, uma mancha.
Me ocorreu agora, enquanto escrevo, que é tudo a perfeição de um quadro de Norman Rockwell.
Um visual artificial. Nada realista. Obviamente, claramente, explicitamente artificial. Plástico. Fórmica.
Me lembrei de cara, no meio do filme, de O Fundo do Coração/One From the Heart (1982), de Francis Ford Coppola – aquela maravilha que era exatamente assim, muito mais forma que propriamente história, conteúdo, e aquele visual único, sui generis, de um mundo de plástico e neon. Algo a ver também, é claro, com a visão transatlântico que chega perto dos personagens em E la Nava Va (1983), de Federico Fellini.
Eu seria capaz de jurar que Katarzyna Klimkiewicz viu O Fundo do Coração várias vezes – e pensou nele, quando resolveu fazer este filme sobre aqueles anos em que Kalina Jędrusik agradava ao povo mas desagradava à nomenclatura do Partido.
A questão – me pareceu, e também à Mary – é que, ao dar tanta importância à forma, ao visual, a realizadora deixou em quinto ou décimo lugar a história da moça propriamente dita.
Os embates com o regime foram simplificados
Há coisas que ficam difíceis de o espectador compreender – em especial, é claro, os não poloneses, os que não conhecem a conjuntura ali daqueles anos 50.
Por exemplo: o que é, afinal, aquele apartamento em que ela vive?
Por que mora no mesmo lugar que ela e o marido Stanislaw o compositor Lucek (Krzysztof Zalewski), que compõe músicas para Kalina cantar e é também seu amante? Moram juntos, num ménage-à-trois bem mais tranquilo do que o de Jules et Jim do romance de Henri-Pierre Roché e do filme de François Truffaut? Ou a proximidade de outras pessoas, vizinhos, é um indicativo de que aquele prédio de apartamentos é uma moradia coletiva, como era comum em Moscou e nas outras grandes cidades da União Soviética nos primeiros anos após a Revolução Comunista?
E aquele estilo de vida de Kalina e Stanislaw, sempre entrando ou saindo de bares, nightclubs, como se estivessem não na Polônia comunista dos anos 1960, e sim nas comédias escapistas de Hollywood dos anos 1930? Que eterna festa é aquela? Como aquele pessoal conseguia ter uma vida boêmia idêntica a de artistas de Montmartre ou do Greenwhich Village?
Aquilo que o filme mostra é uma liberdade poética – ou vai aí também, além do estilismo feérico, uma indicação de que no paraíso socialista havia classes privilegiadas?
Bem, isso a diretora Katarzyna Klimkiewicz faz questão de mostrar, em passant, em sequências em que aparecem pessoas de profissões mais duras, mais humildes, como lixeiros, por exemplo.
Mas ficam dúvidas na cabeça do espectador, exatamente devido ao fato de que as atenções todas dos realizadores estão voltadas para a forma.
E me parece que há uma questão séria, importante, no roteiro de Katarzyna Klimkiewicz e Patrycja Nowak, na forma com que elas optaram por contar a história. Tudo indica que houve de fato muitos embates entre Kalina Jedrusik e o sistema, o regime, a nomenklatura comunista. No filme, porém, fica parecendo que todo o problema da carreira da cantora e atriz se resume à relação entre ela e Ryszard (Bartlomiej Kotschedoff), o sujeito que as autoridades botaram no início dos anos 60 para ser o diretor da emissora estatal de TV, que tinha Kalina – e todos os demais atores e cantores poloneses – sob contrato.
O filme mostra a chegada desse Ryszard à emissora, já nomeado diretor. Ele havia sido um ator – um mau ator, é que o fica claro –, e, anos e anos antes, havia trabalhado ao lado de Kalina em uma peça. Fica absolutamente claro que ele tinha admiração grande por ela e, mais ainda, esperava que agora, ele diretor, a moça topasse alguma coisa com ele. Por que não? Afinal, ela tinha fama de muito dadivosa…
Mas acontece que Kalina, por mais dadivosa que fosse, assim como a Geni do Zeppelin não queria saber desse homem tão cheirando a brilho e a cobre.
Este é, provavelmente, o pior defeito deste filme de visual tão caprichado. Simplificou demais. Tornou a história dos embates da atriz com o regime comunista uma coisa boba, menor.
(As duas fotos abaixo, em preto-e-branco, são de filmes de Kalina Jedrusik.)
No filme, poses idênticas às de Kalina na vida real
Prazer, Kalinda abre e fecha com frases muito interessantes que aparecem como legendas na tela. Bem no início, logo após os créditos iniciais (criativos, inteligentes, bem bolados) aparece o letreiro que diz, em vez daquele tradicional “Baseado em uma história real”:
“Os eventos mostrados neste filme não aconteceram necessariamente.”
Achei isso uma delícia. Os eventos não necessariamente aconteceram da forma com que são mostrados. Uma bela forma de dizer que a história que virá a seguir se inspira em eventos reais, mas não pretende se ater à realidade dos fatos – muito antes ao contrário.
Ao final da narrativa, junto com os créditos finais, um letreiro informa: “Agradecemos à família de Kalina Jedrusik por sua confiança e apoio”. Boa, importante informação.
Kalina Jedrusik fez 40 filmes, entre 1957 e 1991, ano de sua morte. A maior parte deles não chegou a ser lançada comercialmente no Brasil. Mas ela teve um papel em uma obra do grande mestre Andrzej Wajda, Terra Prometida, de 1975, e o penúltimo filme em que apareceu foi A Dupla Vida de Véronique, de 1991, de outro dos grandes cineastas poloneses, Krzysztof Kieslowski.
Graças aos milagres que são a internet e especificamente o YouTube, podemos ver várias apresentações de Kalina como cantora. É uma mulher daquele tipo que tem muitas caras diferentes – camaleônica, como devem mesmo ser os atores. Há alguns momentos que é uma mulher muito bela – e outros em que não está propriamente bonita. Tem, inegavelmente, magnetismo, charme, e um jeito sem dúvida sensual.
O que dá para perceber claramente é que o filme se esforçou para recriar, da maneira mais literal possível, algumas poses da artista durante apresentações na TV – poses, trejeitos, caras e bocas. Esforçou-se para recriar – e conseguiu. A última sequência do filme deixa isso muito claro: vemos a atriz Maria Dębska em uma apresentação diante das câmaras da TV polonesa; ao final da canção, ela se vira de costas para a câmara, e revela, pela primeira vez, o gigantesco decote que exibe todas as suas costas, e até mesmo o início do sulco entre as nádegas.
Corta, e vemos uma foto da Kalina Jedrusik da vida real exatamente naquela posição, com um vestido idêntico, com o início do sulco entre as nádegas à vista – algo que deve ter deixado chocados muitos dos figurões do Partido dos Trabalhadores Poloneses, o nome do partido comunista local a partir dos anos 1940.
Uma excelente atriz – e nas canções é dela mesma a voz
Maria Dębska. Foi uma grande sorte os realizadores poderem contar com essa atriz para interpretar Kalina Jedrusik. Há semelhança física entre as duas – e com a ajuda das equipes de maquiagem e cabeleireiros a semelhança se tornou muito, mas muito grande. Mary acha que a moça na verdade é mais bela do que a artista que ela interpreta. Pode ser, mas isso não é tão importante.
O fato é que, além da semelhança física, que importa, é claro, essa moça tem grande talento – e canta! É a própria atriz que canta nas várias sequências em que vemos Kalina cantando.
Maria Dębska é muito, mas muito jovem: nasceu em Varsóvia em 1991. Por coincidência, exatamente no ano em que Kalina morreu.
Gostaria ainda de fazer dois registros.
O título original do filme é Bo we mnie jest seks. Segundo o tradutor do Google, isso é “porque há sexo em mim” – porque junto, afirmativo, e não por qual motivo, interrogativo.
Nos Estados Unidos, virou Autumn Girl, algo que eu não consigo entender de jeito nenhum. Por que garota do outono? Outono de quê?
Difícil de entender é também a letra “d” acrescentada ao nome de Kalina no título brasileiro, Prazer, Kalinda. A idéia do jogo de palavras, da coisa dupla aí no Prazer, Kalinda, é uma ótima sacada, mas… por que Kalinda, e não Kalina? Suponho que os exibidores brasileiros tenham visto essa forma porque as palavras polonesas, inclusive os nomes próprios, têm declinações… Kalinda pode talvez ser a forma para designar “de Kalina”. Sei lá eu.
Mas isso é detalhinho. (Eu adoro detalhinhos sobre os títulos dos filmes…) Importante mesmo é o segundo registro que quero fazer.
Este Prazer, Kalinda aqui é o segundo filme polonês mais ou menos recente que resgata a história de uma mulher que teve importância no país durante o regime comunista. Em A Arte de Amar, de 2017, a diretora Maria Sadowska conta a história da médica e sexóloga Michalina Wislocka (1921-2005) e sua dura e longa luta contra a nomenklatura comunista para poder publicar sua obra, um manual para ajudar as pessoas, as mulheres, em especial, a desfrutarem do sexo com maior prazer.
Que maravilha, que delícia que o cinema polonês esteja resgatando a memória dessas mulheres – em filmes dirigidos por mulheres. Beleza!
Anotação em junho de 2023
Prazer, Kalinda/Bo we mnie jest seks
De Katarzyna Klimkiewicz, Polônia, 2021
Com Maria Dębska (Kalina Jedrusik)
e Leszek Lichota (Stanislaw Dygat, o marido), Krzysztof Zalewski (Lucek, o compositor, amante de Kalina), Bartlomiej Kotschedoff (Ryszard, ex-ator, novo diretor da emissora de TV), Katarzyna Obidzinska (Xymena, a grande amiga de Kalina), Katia Paliwoda (Basia), Rafal Rutkowski (Jeremi Przybora, o ator veterano, respeitado), Dariusz Basinski (Jerzy Wasowski), Pawel Tomaszewski (Tadeusz Konwicki), Borys Szyc (Kazimierz Kutz), Piotr Kazmierczak (Mikosz), Iwo Rajski (Krzys), Paulina Walendziak (Maja Bzowska), Ksawery Szlenkier (Adam), Wiktoria Filus (Nina), Ewelina Starejki (Klimczakowa), Juliusz Romanowski (Heniek)
Argumento e roteiro Katarzyna Klimkiewicz, Patrycja Nowak
Fotografia Weronika Bilska
Música Radoslaw Luka
Canções Jerzy Wasowski-Jeremi Przybora
Montagem Ireneusz Grzyb
Casting Marta Kownacka
Desenho de produção Wojciech Zogala
Decoração de interiores Anna Bieniek
Figurinos Anna Imiela
Produção Renata Czarnkowska-Listos, Maria Golos, RE Studio, Telewizja Polska (TVP), Next Film, Maziowiecki Fundusz Filmowy, Chimney Poland, DI Factory, Studio Spot,
Polski Instytut Sztuki Filmowej.
Cor, 105 min (1h45)
**1/2