In a Lonely Place, no Brasil No Silêncio da Noite, de 1950, é um beleza, uma maravilha, um filmaço.
É um drama denso, sério, profundo, um estudo psicológico, uma análise do comportamento das pessoas diante de uma suspeita. É também uma história de amor, que começa alegre, rósea, primaveril, e vai se tingindo de negror, inverno, inferno.
Foi definido como noir – e de fato tem muitos elementos do noir. Há gente muito boa que o considera um dos melhores filmes que já foram feitos sobre Hollywood – e olha que estes são vários, e muito bons.
Concordo com essa opinião: sim, é um dos grandes filmes sobre Hollywood – embora não seja, a rigor, um filme basicamente sobre Hollywood.
Sim, passa-se em Los Angeles, em bairros próximos a Hollywood, onde mora gente do cinema. Os personagens principais são gente do cinema; o protagonista, Dixon Steele – o papel de Humphrey Bogart –, é um roteirista, famoso, respeitado, mas vivendo, na época da ação, um período de baixa.
Os pontos principais da trama, no entanto, não são diretamente ligados à indústria do cinema. São dois esses pontos: o fato de que, já avançado na meia-idade, extremamente solitário, Dixon Steele inicia um caso de amor com uma mulher bela, inteligente, que o ama, cuida dele como ninguém antes havia amado, cuidado.
A moça se chama Laurel Gray (o papel de Gloria Grahame, em momento de especial beleza), uma aspirante a atriz, que está, no momento em que fica conhecendo Dixon, saindo de um caso com sujeito riquíssimo.
O segundo ponto central da história é o fato de que o roteirista Dixon Steele se torna suspeito de um assassinato.
A vizinha do roteirista viu a moça sair da casa dele
A vítima do crime esteve na casa de Dixon poucas horas antes de ser morta.
Mildred Atkinson (o papel de Martha Stewart, nas foto acima e abaixo), moça bonita, simpática, mas simples, não muito letrada, trabalhava na recepção do Paul’s, o lugar preferido de Dixon, pertencente a um bom restauranteur, o Paul que dá o nome ao estabelecimento (Steven Geray). Por uma dessas coincidências de que a vida é cheia, ela estava terminando de ler o best-seller volumoso, Althea Bruce, que um diretor conhecido queria que Dixon roteirizasse.
Com preguiça de ler o cartapácio que intuía ser má literatura, o roteirista pede a Mildred que conte a história para ele – e a convida para ir até sua casa, depois do seu horário de trabalho no restaurante. Mildred diz que não pode, porque iria se encontrar com Henry, seu namorado. (Conheceremos Henry mais tarde, interpretado por Jack Reynolds.) Mas a moça fica curiosa e envaidecida por ser convidada para conhecer onde mora daquele roteirista famoso, e então eles vão juntos para a casa de Dixon.
É um condomínio de casas de dois andares, cujas entradas dão para um jardim interno, no meio do qual há uma fonte – algo que, parece, tem a ver com a arquitetura colonial espanhola, bastante comum no Sul da Califórnia, tão próximo do México.
No momento em que Dixon e Mildred estão passando perto da bela fonte no centro do pátio, cruza com o par uma vizinha dele, que também está chegando àquela hora em casa. A vizinha é Laurel Gray. Ela e Dixon jamais haviam trocado uma palavra, mas, naturalmente, já haviam se visto.
Das janelas da casa dele, dá para ver as janelas da casa dela. Enquanto recebe Mildred em sua casa, ele dá uma espiadas na vizinha bonita.
Ao contrário do que o espectador poderia esperar, o roteirista famoso, solitário, passado da meia-idade, não dá em cima da moça bonita que veio com ele do restaurante para contar a história do romance Althea Bruce. Não, nada disso. Ele ouve a história que Mildred conta enquanto toma um drinque. Havia oferecido uma bebida a ela, e ela havia aceitado apenas um refrigerante.
Depois de algum tempo, Mildred demonstra que quer ir para casa; Dixon pede desculpas por não levá-la de carro, já que está cansado e tem compromisso na manhã seguinte; diz que logo na esquina há um ponto de táxi, e dá a ela algumas notas – bem mais do que custaria uma corrida de táxi.
Quando se despede de Mildred, olha para o apartamento da vizinha cujo nome nem ele nem o espectador sabem ainda – e vemos que a moça está observando a cena, está vendo que a outra moça está saindo da casa do sujeito.
É dito, num dos diálogos, que aquilo se deu pouco depois da meia-noite.
O suspeito e a vizinha começam a ter um caso
Isso aí que relatei bem detalhadamente acontece logo no início dos 94 minutos de In a Lonely Place.
Ainda era de madrugada, umas 5 horas da manhã, quando Dixon é acordado pela campainha. Quem chega é um conhecido seu, Brub Nicolai (o papel de Frank Lovejoy). Haviam lutado juntos na guerra, Dixon havia sido o comandante da unidade em que Brub era soldado. Mas ele não chega como amigo, colega de armas, e sim como membro da LAPD, a polícia de Los Angeles.
Na delegacia, informado pelo capitão Lochner (Carl Benton Reid), de que Mildred Atkinson havia sido assassinada por asfixia e em seguida jogada de um carro em movimento, horas depois de ter se encontrado com ele, Dixon responde às perguntas com desdém, sarcasmo, frases irônicas. Não demonstra qualquer sinal de tristeza, compaixão.
Chamada também à delegacia de polícia para testemunhar, a vizinha Laurel Gray confirma o álibi dado por Dixon. Sim, ela havia visto Dixon entrar na casa dele com uma moça. E havia visto a moça sair sozinha da casa dele pouco depois da meia-noite.
O álibi é forte – mas é forte também a suspeita do capitão Lochner sobre a culpa daquele sujeito metido, emproado, que não demonstra qualquer sensibilidade.
Levanta-se a ficha de Dixon Steele – e, no passado, Dixon Steele havia se envolvido em vários casos de violência, agressão, brigas.
Nós mesmos, espectadores, já havíamos testemunhado como Dixon partiu para a agressão violenta no próprio restaurante de Paul contra um sujeito que por sua vez havia agredido Charlie Waterman (Robert Warwick), um velho ator decadente, uma das pouquíssimas pessoas por quem o roteirista demonstrava legítima afeição.
Charlie Waterman é o único amigo que aquele sujeito tem na vida, além de seu agente já de mais de 40 anos, Mel Lippman (Art Smith).
Vizinhos que nunca antes haviam trocado uma palavra, e que são apresentados formalmente apenas na delegacia, pelo capitão de polícia, Dixon e Laurel passam a se ver, a se falar.
Bem depressa estão apaixonados um pelo outro.
O relato foi longo – mas tudo o que foi relatado até aqui acontece nos primeiros 15, no máximo 20 minutos do filme.
Muita água vai rolar por baixo da ponte, como se diz. Muita água vai sair daquela fontezinha do pátio interno do pequeno condomínio onde moram o roteirista famoso e agora suspeito de assassinato e a bela aspirante a atriz.
O casamento do diretor e a estrela estava terminando
Como em geral acontece com os grandes filmes, as histórias em torno da produção de In a Lonely Place são tão fascinantes como a trama que ele apresenta.
Nicholas Ray, o diretor, havia estudado arquitetura, antes de se mudar para a área das artes dramáticas. Consta que foi aluno de Frank Lloyd Wright, o gigante da arquitetura norte-americana. Quando chegou a Los Angeles para trabalhar no cinema, morou num pequeno condomínio de casas/apartamentos que tinha uma pracinha central, com uma arquitetura à la colonial espanhol.
Para fazer este In a Lonely Place, seu quarto filme como diretor (depois de Amarga Esperança, de 1948, A Vida Íntima de Uma Mulher e O Crime não Compensa, ambos de 1949), conseguiu que o estúdio criasse um condomínio parecido com aquele em que morou para servir de locação. Mais de meio século depois do lançamento do filme, em um pequeno documentário de 20 minutos, In a Lonely Place Revisited, o realizador Curtis Hanson, um admirador de Ray e sua obra, foi até o condomínio original em que o diretor morou nos anos 40. O lugar é extremamente semelhante ao que vemos no filme, conforme se pode ver nesse making of feito em 2002 para acompanhar o filme no DVD. É impressionante.
Na época das filmagens, Nicholas Ray e a atriz Gloria Grahame eram marido e mulher. Haviam se casado em meados de 1948 – e a união estava, naquele momento, indo por água abaixo.
Há informações conflitantes sobre isso. Segundo o IMDb, os dois “se separaram quietamente durante as filmagens, mantendo o fato em segredo com medo de que um dos dois fosse substituído” pelos produtores – esses poderiam temer que as divergências pessoais de diretor e atriz afetassem o trabalho no estúdio.
Mas, em outro item da página de Trivia sobre o filme, o IMDb informa que o produtor Robert Lord, preocupado com a separação do casal, fez a atriz assinar um documento em que ela se comprometia a – enquanto no estúdio – obedecer às ordens do marido. Há até mesmo a transcrição de parte do documento – algo que faria as feministas, mesmo as menos radicais, saírem às ruas para protestar: “Meu marido terá o direito de dirigir, controlar, aconselhar, instruir e mesmo comandar minhas ações entre as 9 e as 16h, todos os dias, com a exceção dos domingos. Eu reconheço que em qualquer situação sua vontade e julgamento serão considerados superiores aos meus, e prevalecerão”.
O IMDb seguramente não inventou isso. Apresento a história tal qual ela me foi apresentada, por mais absurda que seja.
O divórcio só sairia em agosto de 1952.
Em 1960, Gloria se casaria com Anthony Ray, nascido em 1937, filho da jornalista Jean Abrams e Nicholas Ray. Embora à época do casamento Anthony já tivesse 23 anos, fosse maior de idade e tudo, e embora já houvessem se passado oito anos desde que ela havia se divorciado do pai dele, a história foi um tremendo escândalo – que acabaria prejudicando a carreira da atriz. Ela passaria boa parte dos seus últimos anos de vida, nos anos 70, na Inglaterra, como mostra o belo e triste Estrelas de Cinema Nunca Morrem/Film Stars Don’t Die in Liverpool (2017), em que ela é interpretada por Annette Benning.
A trama do filme e a vida real têm um ponto em comum
Há um ponto fantástico, extraordinário, em In a Lonely Place. A história contada no filme e a história da realização do filme são um caso exemplar, sui generis, de metalinguagem, de como a arte imita a arte, que imita a vida, que imita a arte.
Na trama do filme, o roteirista Dixon Steele se põe a escrever o roteiro de um filme a partir do romance Althea Bruce. O diretor que encomenda o trabalho diz claramente, clarissimamente, que deseja ter um roteiro fiel ao romance, que foi, está sendo, um absoluto sucesso – prova disso é que mesmo uma moça simples como Mildred Atkinson leu o catatau e adorou.
Dixon demonstra achar que o romance é uma porcaria.
É só por estar se sentindo bem, feliz, com o amor de Laurel, com as atenções, os mimos dela, que ele enfim consegue se concentrar para trabalhar no roteiro.
No final do filme, ficaremos sabendo…
Atenção, aqui vão informações sobre algo que acontece bem perto do final do filme. Quem não viu o filme ainda deveria parar de ler por aqui.
O que vemos na tela é bem diferente do livro
No final do filme, ficaremos sabendo que Dixon desobedeceu às ordens do diretor. Remou totalmente contra o que o diretor havia recomendado, e escreveu um roteiro que se distanciava bastante do romance original.
Usou seu talento para melhorar a história criada pela autora do romance.
Sim, porque isso fica bastante claro ao longo de todo o filme: Dixon é um sujeito dado a rompantes de violência, sim, sem dúvida alguma. É um sujeito que volta e meia perde a cabeça, e faz besteira. Passado algum tempo, ele cai em si, percebe que fez asneira, pede desculpas – mas a verdade é que uma personalidade conflituada, conflituosa. É um sujeito que batalha com seus próprios demônios interiores – e muitas vezes os seus demônios interiores levam a melhor.
Mas é um escritor de talento.
Entrou numa maré de azar. Como diz alguém uma hora lá, depois da guerra não teve sequer um grande sucesso. Mas é um escritor de talento.
Isso é o que está na história do filme.
Algo muito parecido aconteceu na realização do próprio filme.
O roteirista Andrew Solt mexeu bastante na história original da romancista Dorothy B. Hughes. Bastante.
Nos créditos iniciais, é dito que o roteiro é de Andrew Solt, com base no romance de Dorothy B. Hughes, com adaptação de Edmund H. North.
Não é algo comum no cinema americano, de forma alguma, dar o crédito de “adaptação”. Os franceses, diferentemente, costumam usar bastante esse crédito de adaptação; os franceses em geral dizem quem são os autores do roteiro, quem é o autor da história original, e quem realizou a adaptação e os diálogos. Os americanos, não. Os americanos dão em geral o nome do autor da história original – romance, conto, peça de teatro – e depois o nome do ou dos roteiristas. Entende-se portanto que os roteiristas fizeram as várias fases do processo: a adaptação, os diálogos e o roteiro em si,
Mas o fato é que, aqui, especificamente, no caso de In a Lonely Place, a história que é contada no filme é profundamente diferente daquela que está no romance.
Não que eu tenha lido o romance – mas está dito com todas as letras no IMDb, nos alfarrábios todos. É extensivamente dito no belo curta-metragem sobre o filme já citado aqui, In a Lonely Place Revisited, aquele que tem como apresentador o cineasta Curtis Hanson (1945-2016), o sujeito que nos brindou como as pérolas A Mão Que Balança o Berço (1992), Los Angeles: Cidade Proibida (1997), Garotos Incríveis (2000), entre outros belos filmes.
E foi Curtis Hanson quem, no pequeno documentário, apontou essa coisa fascinante de que a trama do filme é uma espécie de repetição da história da realização do filme: um trabalho de reescrever uma história, de aprimorar de uma história.
Não vou cometer aqui o absoluto spoiler de relatar os pontos fundamentais da história em que o filme se afastou do romance original, mas dá para dizer que o que vemos na tela é completa, completa, completamente diferente do que está no romance.
O realizador resolveu fazer outro final
E não foi apenas o roteiro que mudou pontos importantes da história. Não foram apenas os autores da adaptação e do roteiro, Edmundo H. North e Andrew Solt, respectivamente, que mexeram na trama. O diretor Nicholas Ray alterou o final que havia sido escrito no roteiro.
Meu, daria um belo filme a história da filmagem de In a Lonely Place. Como Clint Eastwood fez em Coração de Caçador / White Hunter Black Heart, de 1990, contando como John Huston filmou Uma Aventura na África/The African Queen, de 1951. Como E. Elias Merhige fez em A Sombra do Vampiro, reconstituindo como F.W. Murnau realizou seu Nosferatu, em 1922. Como Sacha Gervasi fez em 2012, contando em Hitchcock como Alfred Hitchcock fez Psicose, de 1960, ou como Julian Jerrold, também em 2012, contando em A Garota a história das filmagens de Os Pássaros, de 1963.
Ray filmou o final escrito pelo roteirista Andrew Solt, que era semelhante ao final do romance.
Mas não ficou contente, de forma alguma.
Consta que botou para fora do estúdio todas as pessoas que não eram fundamentais, e filmou um outro final – este totalmente distinto, diferente daquele do romance.
Esse novo final, escrito por ele mesmo, incluía uma tomada que chegou a constar do trailer do filme.
Nicholas Ray não ficou satisfeito com aquela tomada – e a retirou da versão final do filme. A tal tomada ainda pode ser vista no trailer – mas não está no filme.
O final que Nicholas Ray escreveu, criou, ali, no estúdio, é um brilho, uma maravilha. Duzentos milhões de vezes melhor do que o desfecho do romance, pelo que dá para saber pelas fontes todas.
Uma época de vários filmes sobre Hollywood
Falei no começo deste texto que são vários, e muito bons, os filmes feitos sobre Hollywood, sobre a indústria do cinema. Acho necessário citar alguns deles, ao menos – até porque é impressionante como foram feitos vários e muitos bons filmes sobre Hollywood exatamente na época deste In a Lonely Place, final dos anos 40, início dos 50.
Naquele mesmo ano de 1950, Billy Wilder lançou Crepúsculo dos Deuses/Sunset Boulevard, com William Holden, Gloria Swanson e Erich von Stroheim. O filme ganhou três Oscars.
Em 1952, Vincente Minnelli fez Assim Estava Escrito/The Bad and the Beautiful, com Kirk Douglas, Lana Turner, Dick Powell e a própria Gloria Grahame, que levou o Oscar de atriz coadjuvante. Foi um dos cinco Oscars que o filme ganhou.
A Academia costuma gostar de filmes que falam sobre Hollywood.
Em 1954, Joseph L. Manckiewicz – o diretor-roteirista de texto brilhante que já havia feito uma obra-prima sobre o mundo do teatro, da Broadway, A Malvada/All About Eve, de 1950 – fez A Condessa Descalça, em que o grande Humphrey Bogart interpreta um diretor-roteirista, que fala algumas das frases mais brilhantes de todos os filmes feitos em Hollywood.
A Condessa Descalça só ganhou um Oscar.
É bom lembrar que Cantando na Chuva, de 1952, é um filme sobre o mundo do cinema – especificamente sobre a passagem do cinema mudo para o falado, em 1927.
Hollywood jamais deixou de fazer filmes sobre si mesma – e o próprio Curtis Hanson, o admirador deste In a Lonely Place, faz, em Los Angeles: Cidade Proibida (1997), um número imenso de referências à indústria do cinema, das prostitutas que imitavam as grandes atrizes (como Veronica Lake) às atrizes de verdade – um personagem confunde a verdadeira Lana Turner com uma prostituta que imitava a atriz.
Mas é impressionante como naquele início dos anos 50 foram feitos grandes filmes sobre o lugar em que se fazem grandes filmes.
Só Pauline Kael, a chata, fala mal do filme
Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4 ao filme: “Drama maduro, poderoso, sobre um roteirista mal-humorado, autodestrutivo (Bogart) que tem um caso com a starlet Grahame enquanto tenta se livrar de uma acusação de assassinato. Atuações excelentes nesse estudo de dois caracteres turbulentos colocados à frente de um pano de fundo realista e cínico sobre Hollywood. Escrito por Andrew Solt.”
Pauline Kael abre seu verbete sobre o filme com “Humphrey Bogart, como um roteirista de Hollywood cínico, cansado, chamado Dixon Steele, num atmosférico mas desapontadoramente raso melodrama dirigido por Nicholas Ray” – e aí eu me recuso a continuar lendo a chatice da prima donna da crítica americana. Vai dar, Pauline Kael.
Vamos a um crítico sério.
O Guide des Films de Jean Tulard dá 3 estrelas em 4 para Le Violent, que é o como o filme chamou na França:
“Um testemunho duplo: sobre a violência de uma parte (como explicar o que acontece com Steele?) e sobre Hollywood (o mundo do cinema visto através de um roteirista. O fim foi modificado: inicialmente, … (E aqui o guia do mestre Tulard conta em uma frase o que seria o final do filme, frase que eu me recuso a reproduzir.) Extraordinária composição de Bogart – e aqui o mito se faz mais cheio de nuances. Gloria Grahame é admirável como de costume.”
O livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer começa o verbete assim: “No Silêncio da Noite pode ser chamado de obra-prima sob vários aspectos: como o melhor filme do diretor cult Nicholas Ray; como um drama noir singularmente romântico e infeliz; como vitrine para as melhores atuações das carreiras de Humphrey Bogart e Gloria Grahame; e como um dos mais perspicazes filmes sobre Hollywood já produzidos.”
Mais adiante, o texto do ótimo livro editado por Steven Jay Schneider revela qual é o fim do romance e qual é o fim do filme. Fiquei bastante em dúvida se eu deveria fazer isso – depois, é claro, de dar o aviso de que a seguir viria o spoiler dos spoilers.
Decidi – depois de ouvir a opinião da Mary – que não é o caso de dar o spoiler, não. Por mais que fosse avisado.
O que importa é que é uma beleza de filme.
Anotação em agosto de 2020
No Silêncio da Noite/In a Lonely Place
De Nicholas Ray, EUA, 1950.
Com Humphrey Bogart (Dixon Steele), Gloria Grahame (Laurel Gray)
e Frank Lovejoy (Brub Nicolai, o policial), Carl Benton Reid (capitão de polícia Lochner), Art Smith (Mel Lippman, o agente de Dixon), Jeff Donnell (Sylvia Nicolai, a mulher de Brub), Martha Stewart (Mildred Atkinson, a vítima), Robert Warwick (Charlie Waterman, o ator veterano),
Morris Ankrum (Lloyd Barnes), William Ching (Ted Barton), Steven Geray (Paul, o dono do restaurante), Hadda Brooks (a cantora), Alice Talton (Frances Randolph), Jack Reynolds (Henry Kesler, o namorado de Mildred), Ruth Warren (Effie, a diarista), Ruth Gillette (Martha, a massagista)
Roteiro Andrew Solt
Baseado em romance de Dorothy B. Hughes
Adaptação Edmund H. North,
Fotografia Burnett Guffey
Música George Antheil
Montagem Viola Lawrence
Figurinos Jean Louis
P&B, 93 min
Produção Robert Lord, Henry S. Kesler, Santana Pictures, Columbia Pictures. DVD Columbia Tristar.
P&B, 94 min (1h34)
Disponível em DVD
R, ****
Título na França: Le Violent. Em Portugal: Matar ou Não Matar.
Pura coincidência! Acabei hoje por ver o filme pela segunda vez (não vi com total atenção) e pensei se o Sérgio já não teria falado nele. Venho aqui ao site e deparo me com a resenha sobre o filme. Belo texto. Só uma coisa, eu estou quase certo que em LA confidencial a prostituta confundida com a atriz é a Lana Turner. Abraço
Caríssimo Miguel,
De fato é uma imensa coincidência o amigo ler este texto no dia exato em que ele foi postado, colocado no site!
E acho que o Miguel tem toda razão: é a Lana Turner, e não a Ava Gardner, a atriz que é confundida com uma prostituta. Muito obrigado! Vou corrigir imediatamente o texto!
Um grande abraço!
Sérgio
Se fosse viva, minha mãe teria amado esse texto; era um dos seus filmes preferidos de Humphrey Bogart, que era o seu ator favorito. Nunca consegui ver o filme – não ainda, ao menos – mas conheço praticamente toda a trama, até com detalhes, porque minha mãe o contou para mim. E ela sabia fazer isso. Li esta matéria com um sorriso de saudade no rosto, me lembrando dela.
Se não me engano, Curtis Hanson foi o diretor de um filme homenagem a Hitchcock, “Uma Janela Suspeita” que não preciso dizer a qual filme hitchcokiano faz referência.
Que delícia de comentário, caríssima Carla Amante de Livros! Que bom ter de novo comentário seu aqui.
Sua mãe tinha bom gosto!
E, sim, é de Curtis Hanson “Uma Janela Suspeita!”. Ele está aqui no 50 Anos de Textos, numa anotação feita antes de eu criar o site… https://50anosdefilmes.com.br/2000/uma-janela-suspeita-the-bedroom-window/
Um abraço, e obrigado, Carla.
Sérgio