Um Plano Brilhante / The Love Punch

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1.0 out of 5.0 stars

Dá para imaginar Emma Thompson e Timothy Spall, atores extraordinários, dos maiores que houve e que há, trabalhando mal, sendo caricatos, exagerados, canastrões?

Pois é: não daria jamais para imaginar tal coisa. Mas aconteceu. O autor do fenômeno se chama Joel Hopkins, o diretor (e autor) dessa fantástica porcaria chamada The Love Punch, no Brasil Um Plano Brilhante.

E no entanto – por mais que isso possa parecer incongruente –, ao fim e ao cabo, o filme é tão porcaria, bobo, bocó, troncho, sem sentido, improvável, implausível, que a gente acaba até dando uma ou outra risada.

zzlove4A trama toda é absolutamente idiota – mas, cacete, tem Emma Thompson, Pierce Brosnan (na pior interpretação de toda a sua carreira, mas sempre bonitão e simpático), Timothy Spall, Celia Imrie. Tem ainda – num papel ridículo, absurdo – a estonteante Louise Bourgoin (na foto), de A Garota de Mônaco  (2008) e As Múmias do Faraó (2010). Tem até mesmo Marisa Berenson, que a gente não via fazia muito, muito tempo, num papel pequeno, sem importância, a gerente de um pequeno hotel parisiense. E tem tomadas de tirar o fôlego de Paris e da região de Cannes.

É um filme horroroso, pateticamente ruim – mas quanto cenário bonito, e quanto talento desperdiçado!

Para não perder muito tempo com esta bobagem, transcrevo a sinopse do AllMovie. Vai sem aspas porque não fiz uma tradução ipsis literis, e com correções minhas em itálico.

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A sua aposentadoria tendo sido roubada por um financista francês (ahnnn… ele vive em Paris, mas nasceu na Europa Oriental), um casal divorciado recruta seus antigos vizinhos (ahnn.. eles continuam sendo amigos e vizinhos dela) para ajudá-los a roubar o diamante de 10 milhões que o escroque acabou de comprar para a sua noiva. Richard (Pierce Brosnan) e Kate (Emma Thompson) podem não estar mais casados, mas eles ainda brigam como um casal que passou a vida inteira juntos. Enquanto isso, seu futuro antes garantido desaba quando o executivo da França Vicent Kruger frauda a empresa de investimento de Richard, e rouba o dinheiro da aposentadoria dele e dos seus empregados. Indignado ao saber que Kruger acabou de comprar um diamante de 10 milhões para sua noiva, Kate propõe que eles roubem a pedra, alistando seus antigos vizinhos (Timothy Spall e Celia Imrie) – que gostariam de ver seu casal preferido reunido outra vez – para ajudá-los a executar seu complicado plano na maravilhosa Riviera Francesa.

Meu Deus! Que texto ruim, esse do AllMovie, um site que tem belíssimos textos. Acho que o filme é tão ruim que o autor da sinopse, Jason Buchanan, fez um texto à sua altura – ou, no caso, à sua baixaria.

Mais um filme que mostra um casal separado faz tempo reatando

Eu diria que este The Love Punch tenta pegar carona em dois filmes mais ou menos recentes que fizeram sucesso e até tiveram continuações: O Exótico Hotel Marigold (2011) e RED – Aposentados e Perigosos (2010). Do primeiro, tem a coisa de um grupo de ingleses já um tanto idosos fazendo turismo em país estrangeiro. Do segundo, tem um grupo de quase velhinhos em cenas de ação – perseguição de carros, mergulho, escalada de montanha, esse tipo de coisa. Aproveitando que Pierce Brosnan foi James Bond em alguns filmes, há diversas citações à série 007.

Só falta a ele o charme e a simpatia dos filmes que tenta copiar.

Para mim, o mais interessante é que este The Love Punch vem se somar a um grupo de filmes recentes em que os ex-esposos, separados após vários anos, descobrem que o grande amor de suas vidas era aquele mesmo, o velho amor!

O cinema anda nos dizendo que é hora do reamor. Relove is in the air, ladies and gentlemen. (Na foto abaixo, Pierce Brosnan e Emma Thompson fantasiados de texanos…)

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Tenho reparado isso há algum tempinho. Este aqui é pelo menos o quinto filme mais ou menos recente em que acontece essa coisa de o herói e a heroína voltarem a ficar juntos depois de um tempo separados. Se fosse um só, não seria nada. Quatro ou cincoo chegam a configurar quase um fenômeno.

Há um reatamento em O Casamento do Ano/The Big Wedding (2013), ótima comédia com Robert De Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon, Robin Williams e os jovens Katherine Heigl, Amanda Seyfried e Topher Grace.

Há um reatamento em Ligados pelo Amor/Stuck in Love, interessante comédia com Greg Kinnear e a lindérrima Jennifer Connelly (2012).

Em Simplesmente Complicado/It’s Complicated (2009), Meryl Streep e Alec Baldwin interpretam um casal que está divorciado faz tempo. Ele está casado com uma garota bem mais jovem, e ela está sendo cortejada por um sujeito interessante (interpretado por Steve Martin). Mas aí os dois se reúnem para a formatura do filho no colégio e… trepam! E tudo fica muito complicado.

Em Chef (2014), Carl e Inez, que haviam sido casados, e tiveram um filho, garoto legal, que está aí agora com uns 14 anos, ficam juntos de novo. Casam-se novamente, numa grande festa com música cubana – Inez é cubana.

Acho fascinante essa coisa de pelo menos cinco filmes trazerem o reatamento de casais separados.

Quando eu era jovem, e estava no segundo casamento, achava que era reacionário filme defender a volta de casais que haviam se separado. Como tinha abandonado o primeiro casamento, não queria que os filmes optassem pela solução de marido e mulher reatarem, voltarem a viver juntos.

Besteira. Bobagem de sujeito jovem que se culpava por ter abandonado o lar. A verdade é aquela que Pessoa, Caetano e Milton cantam – qualquer maneira de amor vale a pena, e tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

O jovem diretor e autor desta bobagem fez um bom filme, Tinha Que Ser Você

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Ah, Joel Hopkins, o autor e diretor que consegue a proeza de fazer alguns dos maiores atores da atualidade trabalharem mal. Garotão, nascido em Londres em 1970. Escreve e dirige – já escreveu e dirigiu um curta e três longas. Foi o autor e diretor de Tinha Que Ser Você/Last Chance Harvey (2008), um filme de que gostei muito, com belas interpretações de Dustin Hoffman e a mesma Emma Thompson, essa atriz maravilhosa, fantástica, especial, roteirista premiada, que já foi senhora Kenneth Branagh e musa dele, que já mereceu de Georges Moustaki uma canção-homenagem.

Por que Emma Thompson, uma das maiores atrizes de sua geração, fez dois filmes com esse garotão?

Me ocorreu um pensamento maldoso, horroroso, horrível: estariam Emma Thompson e o garotão…

Contei pra Mary minha dúvida e ela riu de mim fazendo tsc, tsc, tsc.

É claro que o rapaz não está tendo um caso com Emma Thompson, que vive feliz em seu segundo casamento – e a verdade é que seu filme de 2013 é duzentas vezes pior que o de 2008. Isso não é um bom sinal, de forma alguma.

Anotação em maio de 2015

Um Plano Brilhante/The Love Punch

De Joel Hopkins, França-Inglaterra, 2013

Com Emma Thompson (Kate Jones), Pierce Brosnan (Richard),

e Celia Imrie (Pen), Timothy Spall (Jerry), Louise Bourgoin (Manon Fontaine), Laurent Lafitte (Vincent Kruger), Marisa Berenson (Clothilde, a gerente do hotel parisiense), Olivier Chantreau (Jean-Baptiste Durain), Ellen Thomas (Doreen), Tuppence Middleton (Sophie), Jack Wilkinson (Matt)

Argumento e roteiro Joel Hopkins

Com a colaboração de Tess Morris

Fotografia Jérôme Alméras

Música Jean-Michel Bernard

Montagem susan Littenberg

Produção Process Media, Love Punch, Radar Films, SND.

Cor, 94 min

*

3 Comentários para “Um Plano Brilhante / The Love Punch”

  1. Com Pierce, Timothy e tocando Status Quo no começo, qualquer filme para mim se torna maravilhoso – mesmo que seja um abacaxi.

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