É incrível como filme ruim demora para acabar. Este At Middleton, no Brasil Um Novo Amor, tem apenas 99 minutos, nem 1h40. É do comprimento padrão da imensa maioria dos filmes. No entanto, parece ter umas três horas, tão ruim que é – ou pelo menos me pareceu.
Pareceu muito ruim a mim, a Mary – mas críticos americanos adoraram, como se verá mais abaixo neste texto.
O filme parte de uma idéia interessante, e tem dois atores competentes, bonitos, simpáticos – Andy Garcia e Vera Farmiga.
A idéia básica, a base da trama: um homem e uma mulher, cada um deles casado há quase 20 anos, se conhecem no dia em que levam os filhos para uma visita guiada pelo campus de uma universidade, a Middleton do título original. Passam o dia inteiro juntos – e se apaixonam.
Sim, é uma idéia interessante. Pessoas maduras, feitas na vida, de repente, sem ter procurado, sem ter ido atrás, se deparam com alguém interessante. É como o início de uma embriaguez, o início de uma chapada de fumo dos bons – você de repente se pega flutuando, a alguns centímetros do chão. Você dá o melhor de si, tenta ser simpático, gentil, inteligente, agradável – e a/o outra/o também faz exatamente a mesma coisa.
E de repente você percebe que em casa as coisas não são nada assim: a paixão acabou faz tempo, há uma boa amizade, uma convivência gostosa, confortável, mas a terra não treme, os sinos não tocam, não há cornetas no céu, o pôr do sol e a lua cheia já não têm mais o mesmo encanto de antes. Tudo muito diferente deste momento de agora, em que tudo brilha, os anjos cantam o quarto movimento da Nona de Beethoven – e como será quando chegar a hora do primeiro beijo, dos primeiros carinhos?
Andy Garcia e Vera Varmiga se esforçam – mas não tem jeito, o roteiro é fraco
Andy Garcia é um bom ator. E tem sorte, além de fina estampa, este cubano nascido em Havana em 1956, três anos antes da revolução de Fidel Castro e seus companheiros barbudos. Tinha apenas 31 anos de idade quando foi escolhido para um dos principais papéis em Os Intocáveis (1987) de Brian De Palma, ao lado de apenas Sean Connery, Robert De Niro e outro jovem que também estava com tudo e não estava nada prosa, Kevin Costner.
Competência é fundamental, mas sorte ajuda bastante, e nos anos seguintes Andy Garcia trabalhou sob a direção de Ridley Scott (Chuva Negra, 1989), Mike Figgis (Justiça Cega, 1990), Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão III, 1990), Kenneth Branagh (Voltar a Morrer, 1991), Stephen Frears (Herói por Acidente, 1992) e Sidney Lumet (Sombras da Lei, 1996).
Dá-se bem no drama pesado (Quando um Homem Ama uma Mulher, 1994), no thriller (Jennifer 8 – A Próxima Vítima, 1992), na comédia (Confusões em Família, 2009). Já experimentou dirigir, e não se deu mal: A Cidade Perdida (2005), em que exorciza seu ódio ao regime que acabou com a ditadura de Fulgêncio Batista mas impôs sobre o povo cubano outra ditadura, tem qualidades.
Aqui, interpreta George Hartman, um cirurgião cardíaco bem sucedido, com um jeitão meio careta, conservador, que está levando o filho único, Conrad (Spencer Lofranco), para conhecer a universidade que ele, o pai, escolheu.
Andy Garcia faz o que pode. Esforça-se. Como tem talento, trabalha bem. Mas…
Vera Farmiga é uma boa atriz. Bem mais jovem que Andy Garcia (nasceu em Nova Jersey, em 1973, de pais ucranianos e católicos), não teve tanta sorte quanto ele em filmes de grande sucesso comercial, mas teve sua cota de participação em obras de grandes diretores: trabalhou com Martin Scorcese (Os Infiltrados, 2006), Anthony Minghella (Invasão de Domicílio, 2006). E construiu uma carreira sólida, em muitas produções independentes e de qualidade; já amealhou 23 prêmios e, entre as 41 indicações, tem uma ao Oscar de atriz coadjuvante por Amor Sem Escalas/Up in the Air, beleza de filme do garoto prodígio Jason Reitman, em que ela contracena com George Clooney.
Experimentou a direção em um filme autoral, pessoal, fascinante, sobre um tema sério, difícil, polêmico e por isso mesmo pouco usual: fé, religião, religiosidade (Em Busca da Fé/Higher Ground, 2011).
Aqui, interpreta Edith Martin, uma dona de loja de material de decoração, com um jeitão um tanto hiperativo, contestador, irreverente, briguento, impaciente, que está levando a filha única, Audrey (Taissa Farmiga), para conhecer a universidade que ela, a filha, quer porque quer cursar.
(Um detalhe: Taíssa Farmiga é irmã de Vera. A família é imensa, são sete filhos, e Taissa é a caçula. Entre ela e a irmã Vera há uma diferença de 21 anos. Em Em Busca da Fé, Taissa faz o papel da personagem de Vera quando adolescente.)
Vera Farmiga faz o que pode. Esforça-se. Como tem talento, trabalha bem. Mas…
Situações bobas, ridículas, grotescas – ou que já vimos tantas outras vezes
O grande problema de At Middleton é a história. A trama. O roteiro. O roteiro é assinado por Glenn German e Adam Rodgers, este também o diretor do filme.
Na minha opinião, não tiveram talento para escrever a história deste filme aqui.
São bobas as situações que eles criaram para os dois pais que se encontram no campus, George e Edith. Algumas são forçadas, são esculpidas a fórceps, como, por exemplo, a aula de teatro de que acabam participando. Algumas são apenas bobas, estúpidas, como a subida até o alto da igreja – e George sente vertigem, a qual, mais tarde, será miraculosamente curada, extinta. Algumas são só repetições de tanta coisa que já vimos tantas vezes, como aquela sequência em que os dois ficam inventando as histórias de vida das pessoas que vêem passando pelo campus.
Os dois se esconderem no lugar em que um projetor operado por uma bela loura está passando Les Parapluies de Cherbourg. A citação do filme lindo parece forçação de barra, para tentar conquistar a simpatia dos cinemaníacos mais velhos (como eu), ou mais descolados. O que vem a seguir, o casal de adultos puxando um fumo no dormitório da loura, é de uma imbecilidade poucas vezes igualada.
Os roteiristas Glenn German e Adam Rodgers não conseguem definir as personalidades dos filhos, Conrad e Audrey. Simplesmente não conseguem. A sequência em que Audrey toma chá com seu ídolo, o linguista Roland Emerson (interpretado, numa participação especial, por Tom Skerritt), é uma das coisas mais ridículas, mais inexplicavelmente mal escritas, mal boladas, mal feitas que já vi, em agora mais de meio século de ver filmes.
Críticos americanos adoraram o filme. O NYT o compara a grandes clássicos
Como detesto descer a lenha em um filme e não mostrar ao menos outra opinião, fui dar uma pesquisadinha. E eis que o New York Times, nada menos que o New York Times, elogia muito o filme. Escreve o crítico Neil Genzlinger: “A publicidade inicial está descrevendo At Middleton como uma comédia romântica, mas esse é um rótulo simplista demais para este este filme delicado, contido. Sim, é cheio de humor, mas é também um retrato doçamargo de duas pessoas que, no processo de ajudar seus filhos a escolher uma universidade, se confrontam com o vazio de seus respectivos casamentos.”
E ainda: “Ms. Farmiga faz um maravilhoso trabalho como Edith, uma mulher que parece perpetuamente à beira de perder o controle de suas emoções, por motivos que ela esconde muito bem. Sua filha, Audrey, é interpretada por Taissa Farmiga, irmã de Ms. Farmiga, que faz um ótimo trabalho ao mostrar, de forma sutil, que ela também está duramente marcada. Mr. Garcia, como um cirurgião cardíaco nerdy, e Spencer Lofranco, como seu filho, também estão bem.”
Vixe!
A crítica do The Hollywood Reporter diz que tem faltado, nos filmes americanos da atualidade, diálogos inteligentes, como os que havia em filmes como The Philadelphia Story (Núpcias de Escândalo, 1940) ou Adam’s Rib (A Costela de Adão, 1949). Pois este At Middleton, diz a crítica, tem essa característica que parecia extinta: diálogos inteligentes.
E, mais adiante, o texto (não consegui descobrir o nome do autor) pontifica: “Este filme vai agarrando você, gradualmente indo além da comédia para um sentido melancólico de possibilidades perdidas”.
Será que Mary e eu vimos outro filme?
É o tal negócio: como eu volta e meia digo aqui, às vezes a gente simplesmente não sintoniza com um filme. Nós não sintonizamos com este aqui. Pena.
Anotação em novembro de 2014
Um Novo Amor/At Middleton
De Adam Rodgers, EUA, 2013
Com Andy Garcia (George), Vera Farmiga (Edith),
e Taissa Farmiga (Audrey), Spencer Lofranco (Conrad), Peter Riegert (Boneyard Sims), Tom Skerritt (Dr. Ronald Emerson), Nicholas Braun (Justin), Mirjana Jokovic (Professora Riley), Stephen IV Borrello (Travis), Dominik Garcia-Lorido (Daphne)
Argumento e roteiro Glenn German e Adam Rodgers
Fotografia Fotografia Emmanuel Kadosh
Música Arturo Sandoval
Montagem Suzy Elmiger
Produção 8th Day Pictures, CineSon Entertainment, Look at the Moon Productions, North by Northwest Entertainment. DVD Focus Filmes.
Cor, 99 min.
*
concordo totalmente com você sem tirar uma vírgula. Nâo entendi a mensagem que o filme queria passar, entâo para mim, apenas um filme MUITO mal escrito.
Para mim, faltou timing. Não é um filme de história, mas de momentos recortados, cada um com seu contexto. Todavia, sem ritmo fica maçante mesmo. Não é uma comédia romântica mesmo. Alias é de um baixo astral que nem a Xuxa enfrentaria.
Eu sou apaixonada neste filme
Guardo ele em uma caixinha a bastante tempo e assisto sempre que bate a saudade.
Ele me transmite tantas coisas.
Eu acabei de assistir esse filme e estou simplesmente apaixonada! O filme me trouxa muitas mensagens importantes sobre as escolhas que fazemos em nossas vidas! Delicado! Inteligente! Sensivel! É necessário muita sensibilidade para compreender que se trata de uma obra prima injustiçada! Tantos outros filmes superficiais fazendo sucesso, que fico feliz em encontrar obras como essa!
Okay! A história dos jovens fica meio perdida em alguns momentos, mas se pode fazer uma conexão entre as certezas absolutas da juventude e a sensação de ter perdido a vista da paisagem quando se chega a maturidade. Se dar de presente um dia da vida que valeu a pena, mesmo para um casal improvável e maduro, é uma forma bonita de contar a beleza dos eternos “amores impossíveis e inesquecíveis”. Clássico. Gostei do filme.
Um filme que precisa de sensibilidade para entender. Tempo de um relacionamento sem grandes emoções que encontra outros motivos para sorrir. A maturidade repleta de responsabilidade quase desaparecem qdo um novo amor surge, mesmo que tão pouco tempo. O final do filme deixa claro o quão forte, lúdico, energizante, repleto de amor foi aquele dia.
Nossa… nao é porque você não gosta de uma receita, que joga se joga o livro inteiro de receita…impossível não gostar da cena do teatro, pra quem é casado sabe do que estou falando!
Já perdi de quantas vezes assistir esse filme.
Estamos fala do de Mrs García despensa comentários… acho quem fez a crítica é mal amado!
Um filme cuja história eu gostaria de ter vivido. Lindo!
o filme é lindo. estilo antes da meia noite. Vera e Andy exprimem perfeitamente em gestos e expressões suas tensões e o desejo por uma vida que tenha vida! foi uma grata surpresa esse filme. me arrancou risos e lágrimas sem esforço
Deviam ter feito a parte II