É um filme muito bom e muito impressionante este Child 44, no Brasil Crimes Ocultos. Trata de um caso policial – e, no entanto, é basicamente político. É um dos filmes que mostram com mais virulência, mais detalhes, mais profundidade, como é insana, impossível, insuportável a vida sob uma ditadura sanguinária – no caso, a ditadura comunista na União Soviética de Josef Stálin.
E é fantástico ver que é uma co-produção de cinco países, três dos quais foram comunistas até que o Império Soviético desabou feito castelo de cartas, no inicinho dos anos 90. Child 44 é uma co-produção EUA-Inglaterra-República Checa-Romênia-Rússia.
Sou fascinado por essa capacidade do cinema de ser absolutamente global. A co-produção EUA-Inglaterra-República Checa-Romênia-Rússia é dirigida por Daniel Espinosa, um sueco filho de chileno e sueca, baseia-se em romance escrito por Tom Rob Smith, um inglês filho de inglês e sueca, foi filmada na República Checa, e tem no elenco atores da Inglaterra, Estados Unidos, Suécia, França, Polônia, Líbano.
A narrativa começa na Ucrânia, passa rapidamente pela Alemanha e, em sua imensa maior parte, se dá na principal das repúblicas socialistas soviéticas, a Rússia – primeiro na grande capital, Moscou, depois em cidades perdidas no interiorzão bravo do país-continente.
Meu Deus do céu e também da terra! Que coincidência serem ambos, o diretor Daniel Espinosa e o autor Tom Rob Smith, descendentes de mães suecas. E como são jovens os dois: Espinosa é de 1977, Smith, de 1979. O mais velho dos dois não tinha sequer 14 anos de idade quando o Império Soviético ruiu.
Child 44 foi publicada no início de 2008, quando, portanto, o autor não tinha completado sequer 30 anos de idade. Foi o primeiro de seus romances – ele já lançou mais três, em 2009, 2011 e 2014.
Se o roteirista Richard Price (este, enfim, um veterano, autor dos roteiros dos ótimos A Cor do Dinheiro e Vítimas de uma Paixão, entre muitos outros) tiver sido fiel ao livro de Tom Rob Smith, e não há motivo para achar que não foi, esse jovem autor tem que ser seguido de perto. A trama é não menos que brilhante – e demonstra incríveis habilidade e maturidade ao mesclar o caso policial com toda a questão política da União Soviética nos anos finais do stalinismo.
Vejo que o romance Child 44 foi inspirado por um caso policial ocorrido na União Soviética – o que torna o filme ainda mais fascinante. No filme, não há qualquer menção tipo “inspirado em uma história real”.
O livro de estréia de Tom Rob Smith foi, e parece que ainda está sendo, um sucesso fantástico. Rapidamente, foi traduzido em 36 línguas; no Brasil, foi publicado pela Editora Record, com o título Criança 44. Venceu diversos prêmios, inclusive o Punhal de Aço Ian Fleming, concedido pela Associação dos Autores de Livros sobre Crimes, da Inglaterra.
A produtora Scott Free, dos irmãos Tony e Riddley Scott (o primeiro falecido em 2012), adquiriu logo os direitos de filmagem; o diretor de Blade Runner é um dos produtores do filme.
Um órfão ucraniano ganha um novo nome e uma nova chance
Child 44 começa com uma frase – letras brancas sobre fundo preto – forte, estonteante: “Não há assassinato no paraíso”. There is no murder in Paradise.
E em seguida surgem letreiros para situar o espectador no contexto histórico em que se dará a trama. Transcrevo:
“Em 1933, no auge da fome imposta por Josef Stálin contra o povo ucraniano, 25 mil pessoas morriam de inanição a cada dia. O sistemático extermínio pela fome, conhecido como Holodomor, deixou milhões de crianças na orfandade.”
E situa-se o lugar com novo letreiro: “Ucrânia, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas”.
Um garotinho sai de um prédio decadente, praticamente em ruínas – provavelmente um orfanato. Por acaso, na sua fuga para lugar algum, vai cruzar seu destino com o de um oficial do Exército Vermelho, que simplesmente se afeiçoa pelo garoto. O oficial pergunta se os pais estão mortos – estão. Pergunta o nome dele, o garoto diz que não quer mais aquele nome, e o militar diz: “Vou dar a você um novo nome, então: Leo, de leão”.
Corte no tempo, novo letreiro: “Reichstag, Berlim, 1945”. O nazismo acaba de ser derrotado, os soldados do Exército Vermelho estão tomando o prédio do Parlamento alemão. Alguns soldados sobem até a torre mais alta do prédio para pendurar lá no topo uma grande bandeira vermelha da União Soviética. Um deles usa no pulso diversos relógios, roubados de alemães mortos ou rendidos: chama-se Vassili (Joel Kinnaman), e veremos que, além de ladrão, é um absoluto crápula. Há também no grupo dois soldados muito amigos, Alexei (Fares Fares) e Leo (Tom Hardy).
Leo – o garotinho ucraniano. Não há explicação, e a narrativa, nesse início, é bem rápida, atravessando décadas em poucos minutos, mas o espectador haverá de inferir que aquele oficial russo, alma boa, adotou o garotinho órfão, que agora está lutando no Exército Vermelho, e a sorte colocou-o no alto da mais alta torre do prédio do Reichstag no momento simbólico em que os russos estão pondo ali a bandeira soviética, no momento exato em que alguém, um oficial, tira uma foto.
Coisas do destino. Na foto que será publicada com destaque no Pravda e divulgada massivamente daí a pouco, a foto símbolo da derrota final dos nazistas diante do Exército Vermelho da URSS, quem está mais alto segurando a bandeira soviética é o soldado Leo Demidov.
Assim como na vida real os soldados americanos fotografados alçando a bandeira dos Estados Unidos em Iwo Jima, no outro front da Segunda Guerra, o do Pacífico, ficaram famosos da noite para o dia, na história fictícia criada pelo garoto Tom Rob Smith o jovem Leo Demidov vira de repente herói da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por ter sido fotografado alçando a bandeira vermelha no Reichstag.
(Sobre Iwo Jima, vários filmes foram feitas; jamais me esqueci de um que vi quando era bem garoto, O Sexto Homem/The Outsider, de Delbert Mann, de 1961, com Tony Curtis interpretando o índio Ira Hayes, um dos seis soldados que aparecem na histórica fotografia que simboliza a tomada da ilha até então ocupada pelos japoneses. )
Após a guerra, Leo e Alexei se tornam oficiais da polícia política de Stálin
O filme ainda não tem 10 minutos, e há novo corte no tempo, e um letreiro avisa que estamos em “Moscou, 1953”.
Leo Demidov está num restaurante com um grupo de amigos – inclusive Alexei – e suas mulheres e namoradas. Os homens estão fardados, e a indicação clara é de que aqueles homens são agora oficiais, muito provavelmente tenentes. Leo está contando, aparentemente pela décima vez, como foi que conheceu Raisa. Quando ele a viu pela primeira vez, e ficou boquiaberto com sua beleza, ela mentiu que se chamava Lena, conta ele – e percebe-se que Raisa já está cansada de ouvir a história. Só quando ele a pediu em casamento – ele continua contando – foi que a bela Lena confessou que na verdade se chamava Raisa.
Raisa é interpretada por Noomi Rapace, a jovem atriz sueca que interpretou Lisbeth Salander na trilogia Millenium original, os três filmes suecos baseados nos livros de Stieg Larrson. Como Lisbeth Salander, nós a vimos de cabelos negros curtos, e cheia de piercings – a personagem fantástica fazia um esforço sobre-humano para ficar feia. Aqui, Noomi Rapace aparece de cabelos longos, castanhos claros. Há momentos de fato que ela aparece bela, muito bela, de uma beleza capaz, sim, de arrebatar o coração de um jovem oficial do Exército Vermelho destacado para trabalhar na polícia política.
Sim: veremos logo em seguida que tanto Leo quanto seu grande amigo Alexei quanto o crápula Vassili estão agora lotados na polícia política do camarada Stálin.
Bem mais tarde, quando o filme já vai pela metade, ou um pouco depois, haverá uma revelação estarrecedora, chocante, violentíssima, sobre aquela história contada com graça, como piada, por Leo a respeito de seus primeiros encontros com Raisa, que então dizia ser Lena. Quem viu o filme sabe qual é; revelar para um eventual leitor que ainda não viu seria um spoiler horroroso.
Na ditadura de Stálin, a morte era menos dolorosa que a prisão
Leo, Alexei e Vassili são destacados para prender um tal de Brodsky (Jason Clarke, ao centro na foto abaixo). Não se especifica que crime é atribuído a ele, nem é necessário. Alguém, algum vizinho, talvez algum rival, disse para uma outra pessoa qualquer que Brodsky era contra-revolucionário. Ou, talvez, que contou alguma piada sobre o camarada Stálin. Qualquer coisa. Nas ditaduras, não é preciso nada para alguém cair em desgraça e virar alvo da polícia política.
E então há a caçada a Brodsky, primeiro no prédio em que morava. Uma conversa com uma vizinha é o suficiente para que ela, por absoluto pavor de ser presa como colaborada de um traidor da pátria, revele o provável paradeiro do sujeito: ele estaria escondido na fazenda de um casal amigo.
A tropa vai até a fazenda.
Parte fica junto da casa da fazenda, interrogando o casal, diante das duas filhas garotinhas. Leo sai à caça de Brodsky nos arredores da fazenda, e acaba encontrando o fugitivo. O diálogo entre os dois é revelador. O oficial pergunta por que ele fugiu – se fugiu, é porque cometeu algum crime. O preso diz que sabe muito o que acontece com quem é preso – e suplica para que o oficial o mate. Na ditadura comunista de Josef Stálin, a morte – Brodsky demonstra saber, vários personagens demonstram saber, todo mundo demonstra saber – é muito menos dolorosa do que a prisão e a tortura que vem inexoravelmente em seguida.
Brodsky e Leo entram em luta corporal. Durante a luta, o preso tenta se matar com um golpe de faca; consegue se ferir, mas só isso.
Quando Leo chega perto da casa da fazenda, levando o preso, vê que Vassili acaba de matar a tiros o pai e a mãe das duas crianças. Leo dá nele uma bronca violentíssima, além de uns safanões: – “Mas são só crianças! O que você acha que estava fazendo?” Ao que Vassili tenta responder que estava tentando dar uma lição nos traidores. Leva mais safanões, mais insultos de Leo.
O olhar que Vassili lança ao colega que, pelo que se depreende, naquele momento é seu superior hierárquico, é daqueles que não deixam dúvida alguma: aquele crápula fará tudo o que for possível para se vingar de Leo. E, de fato, Vassili reaparecerá várias vezes na narrativa, sedento por vingança.
Nessa trama tão bem engendrada, bem amarrada, as duas meninas que se tornam órfãs por causa da crueldade absurda – inteiramente desnecessária, sem sentido – de Vassili também voltarão a surgir na narrativa, bem mais tarde.
Stálin quis convencer o povo de que assassinato é coisa do capitalismo decadente
Nessa altura, estamos aí com uns 20 minutos dos 137 que dura o filme. Dois fatos fundamentais ocorrerão logo em seguida.
Um dos filhos de Alexei, o maior amigo de Leo, aparece morto, perto de uma estação de trem. O corpo do garoto, de uns 10, 12 anos, chegou a ser visto sem roupa, mas a versão das autoridades é de que ele foi atingido, inteiramente vestido, é claro, por um trem.
Há diversos indícios suspeitíssimos: a autópsia mostra que o garoto tinha água nos pulmões, mas não havia rio ou lago nas proximidades onde ele pudesse ter se afogado. Há perfurações no corpo, um órgão foi retirado, no que parecia trabalho de um cirurgião.
Alexei e sua mulher andaram desfilando para as autoridades fatos que indicam que não foi, de forma alguma, um acidente com um trem, um atropelamento com um trem.
E então o superior de Alexei e de Leo, o major Kuzman (o papel de Vincent Cassel, à direita na foto acima), chama este último e o encarrega da missão de convencer o amigo de que o filho dele foi, sim, atropelado por um trem, e pronto. É preciso convencer Alexei, a mulher de Alexei, os vizinhos de Alexei de que a verdade oficial é que o garoto foi atropelado por um trem – e é extremamente aconselhável que todos se esqueçam, de uma vez por todas, dos indícios que poderiam levar a alguma outra conclusão.
Isso porque – e só aí o espectador compreende a frase inicial – o camarada Stálin quer convencer o povo soviético de que crimes, homicídios, assassinatos, isso é coisa dos países capitalistas decadentes. Na União Soviética tal coisa não existe. Não há assassinato no paraíso.
Leo não é um sádico, um matador sanguinário, um pulha, como Vassili. É um soldado do partido, literalmente, um homem que sabe que tem que fazer o que seus superiores mandam. Ele ao mesmo tempo obtém mais e mais indícios, provas mesmo, de que o filho do amigo foi assassinado, e convence Alexei do contrário.
E aí sobrevém o outro fato fundamental, quase concomitantemente com a morte do garoto: o major Kuzman chama Leo, e diz a ele que o preso Brodsky confessou. Forneceu sete nomes – e um deles é o de Raisa. O major encarrega Leo de investigar e interrogar a sua própria mulher.
Estamos, nessa altura, com uns 30 minutos do filme, mais ou menos. Ainda haverá pela frente mais 100 minutos de narrativa – densa, pesada, quase asfixiante.
Poucos filmes mostraram tanto o clima de pavor das pessoas numa ditadura
O clima de medo, de pavor, que há entre a população, mostrado pelo filme, é algo extremamente impressionante.
Todo mundo teme expressar o que pensa, a respeito de qualquer coisa, porque em cada esquina pode haver um informante da polícia política, e a polícia política não precisa de tipo algum de formalidade – ordem de juiz, essas bobagens – para invadir o trabalho ou a casa de qualquer pessoa, levá-la presa e torturá-la até que ela confesse o que os interrogadores queiram que ela confesse.
O medo é viscoso, pegajoso, espesso. Podemos ver o medo pairando no ar, muito mais pesado do que um nevoeiro.
Não me lembro de muitos outros filmes que tenham mostrado de maneira tão forte, tão virulenta, essa sensação de pavor que acompanha todas as pessoas sob uma ditadura violenta. Dois são alemães, e se passam na antiga República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental, comunista: A Vida dos Outros (2006) e Barbara (2012). Outro filme assim, Leste–Oeste (1999), é francês, e se passa na Ucrânia, também sob a ditadura stalinista. Outro francês é A Guerra Acabou (1966), sobre a ditadura de Francisco Franco na Espanha.
A Casa da Rússia (1990) tem um pouco desse clima, mas a ação se passa no finalzinho do Império Soviético, quando já se falava em glasnost, e então as pessoas já acreditavam que o pior havia ficado para trás.
São, todos eles, filmes belos, importantes. Este Child 44 vem se juntar a eles, e ocupa um lugar especial. É fantástico como o filme consegue passar para o espectador todo esse clima de pavor de se viver sob uma ditadura.
A primeira montagem do filme tinha 5 horas e meia de duração
Mary e eu tivemos a sensação de que talvez o filme pudesse ter sido um pouquinho encurtado, que alguma coisa pudesse ter sido cortada.
Mas falar do lado de fora é fácil. A trama é intrincada, há muitos detalhes que são importantes – na investigação sobre o assassinato das crianças, que é o cerne da parte policial do filme, por exemplo.
Vejo agora no IMDb que a primeira montagem do filme tinha nada menos de 5 horas e meia! Quase um Berlin Alexanderpratz de Rainer Werner Fassbinder, que tem 910 minutos… Tiveram que cortar mais da metade do que foi filmado!
Outras informações interessantes da página de Trivia do IMDb:
* O filme foi proibido na Rússia. Estranho – ou talvez não. Vladimir Putin, ex-KGB, tem um viés autoritário que lembra os czares russos anteriores, sejam os imperiais, sejam os comunistas – a distância entre um Nicolau e um Josef é muitíssimo menor do que poderia imaginar qualquer vã filosofia.
* Houve, de fato, na União Soviética, um assassino de crianças. Este é o fato real em que Tom Rob Smith se inspirou para escrever o romance Child 44. O assassino se chamava Andrei Chikatilo.
* O relativamente novato Tom Hardy – eu confesso que não o conhecia – e o grande veterano Gary Oldman trabalharam juntos neste filme pela quarta vez. Já haviam contracenado antes em O Espião que Sabia Demais (2011), Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) e Os Infratores (2012).
Gary Oldman tem, como não poderia deixar de ser, um desempenho magnífico, como o general Mikhail Nesterov, o sujeito todo-poderoso da isolada, distante cidade de Volsk, para onde Leo e Raisa são enviados quando ele cai em desgraça na polícia política.
* Philip Seymour Hoffman estava em conversações para fazer o papel do superior hierárquico do protagonista Leo, o major Kuzman. Foi substituído pelo francês Vincent Cassel. Consta também que o papel de Leo foi oferecido a Christian Bale, mas ele recusou.
* Outra de algumas coincidências: Tom Hardy e Noomi Rapace, que interpretam os principais papéis, os de Leo e sua mulher Raisa, já haviam trabalho juntos em A Entrega (2014).
* Não é coincidência, é claro, o fato de que Noomi Rapace, o libanês de nascimento Fares Fares e Jowel Kinnaman são todos atores do cinema sueco. Afinal, o diretor Daniel Espinosa é sueco.
Os russos do filme falam entre si em inglês… fingindo um sotaque russo!
Child 44 tem um pequeno defeitinho, à semelhança de dezenas e dezenas e dezenas de filmes falados em inglês, que, na minha opinião, é de uma imbecilidade sem limite: os personagens falam não na sua língua mãe, na sua língua pátria, mas em inglês… com um sotaquezinho para fazer lembrar a língua pátria deles!
Essa é uma das coisas mais idiotas, e mais absolutamente desprovidas de lógica, do cinemão comercial.
Diabo: os russos deveriam falar em russo, os alemães deveriam falar em alemão, os gregos deveriam falar em grego – e, se algum dia filmassem um filme passado na inexistente Bessarábia, os bessarabianos deveriam fazer em bessarabiano!
Isso é a coisa mais óbvia que há no mundo.
Mas Hollywood inventou (não tenho prova provada de foi Hollywood que inventou, mas aposto todas as minhas fichas nisso) essa coisa grotesca, ilógica, irracional, absurda, idiota, de que, nos filmes americanos, os chineses falam entre si em inglês fingindo sotaque chinês, os japoneses idem, os alemães idem, os russos idem, os franceses idem, os bessarabianos idem.
Essa estultice antiga, que data dos anos 30, logo após o cinema aprender a falar, parecia estar um tanto relegada ao lixo da História. Boas produções recentes têm russos falando em russo, alemães falando em alemão, etc, etc, etc. Child 44, produção cara de 2015, voltou atrás, para os tempos de O Expresso de Xanghai, aquela bobagem de 1932.
Esse defeitinho (que me irrita muito, é verdade) fica, no entanto, parecendo a poeira d cocô do cavalo do bandido diante das muitas qualidades deste filme.
Os débeis mentais que têm saído às ruas no Brasil pedindo intervenção militar, atrapalhando os que apenas pedem, dentro das normas constitucionais, a saída da presidente que cometeu crimes, deveriam ver este filme, e mais aqueles outros que citei, que mostram o que é a vida sob uma ditadura, seja ela de que lado for.
Mas esse meu desejo é bobo como botar russo falando em inglês com falso sotaque russo: os débeis mentais que defendem intervenção militar não entenderiam coisa alguma ao ver este filme, ou qualquer outro.
Afe.
Anotação em dezembro de 2015
Crimes Ocultos/Child 44
De Daniel Espinosa, EUA-Inglaterra-República Checa-Romênia-Rússia, 2015.
Com Tom Hardy (Leo Demidov), Noomi Rapace (Raisa),
e Gary Oldman (General Mikhail Nesterov), Fares Fares (Alexei Andreyev), Joel Kinnaman (Vasili), Vincent Cassel (Major Kuzman), Paddy Considine (Vladimir Malevich), Agnieszka Grochowska (Nina Andreyeva), Jason Clarke (Anatoly Tarasovich Brodsky), Charles Dance (Major Grachev)
Roteiro Richard Price
Baseado no romance Child 44, de Tom Rob Smith
Fotografia Oliver Wood
Música Jon Ekstrand
Montagem Pietro Scalia e Dylan Tichenor
No DVD. Produção Worldview Entertainment, Scott Free Productions, Etalon Film. DVD Paris Filmes.
Cor, 137 min
***
Não vi o filme, mas li o livro. Criança 44. Fiquei impressionada. O único senão sério do livro – para mim – é Raissa ser uma personagem fraca. Depois li a sequência, O Discurso Secreto, e cheguei a conclusão que Tom Rob Smith não sabe criar personagens femininas. Não seria o primeiro. Mas fora isso, gostei muito mesmo. Na escrita, mesmo em tradução, percebe-se trechos que Smith parece estar imitando/ aludindo ao estilo de Soljetnítsin, o autor russo que foi posto para fora da antiga URSS pelo próprios soviéticos e depois publicou Arquipélago Gulag – outro livro impressionante, todo calcado em documentos e recordações de Soljenítsin.
Eu vi o filme meio q interrompido..
E não entendi pq Vassili salva Raysa..
Não entendi pq Vassili depois mata o médico assassino..
Poderia me explicar, por favor?
Obrigada,
Angélica