É um grande filme, este O Vôo/Flight, que Robert Zemeckis lançou em 2012, com Denzel Washington no papel central. E é uma cara, requintada produção do cinemão comercial que rompe algumas regras, algumas convenções.
Ao contrário do que ditam as normas, segundo as quais o clímax, o auge, a grande explosão vêm ao final da narrativa, aqui vêm logo no início, nos primeiros 30 minutos, mais ou menos, dos fascinantes 138 de duração do filme.
O Vôo abre como um filme de ação, como um filme catástrofe – dos mais maravilhosamente realizados, artesanalmente impressionantes. Esses cerca de 30 minutos iniciais são de prender o fôlego do espectador, de assustar, de eletrizar. É adrenalina pura, é droga forte na veia. (Não tenho idéia do que seja isso, mas dizem que é um horror.)
Em seguida, nos 100 minutos restantes, o que era filme de ação, filme catástrofe, vira um sério, denso, pesado drama psicológico.
Primeiro ele nos tira o fôlego. Depois ele nos faz pensar – e nos assusta, assombra.
É preciso advertir: quem não viu ainda o filme não deveria continuar lendo
Ando cada vez mais avesso a spoilers, a revelar o que acontece nas tramas dos filmes a partir aí dos primeiros 15, 20 minutos. Outro dia mesmo, ao escrever sobre A Garota do Parque, um envolvente drama familiar, Mary me chamou à atenção, dizendo que revelar o que acontece após os oito minutos iniciais do filme seria spoiler. Dei razão a ela.
No caso de O Vôo, é muito difícil falar qualquer coisa do filme sem revelar o que acontece nessa primeira meia hora de narrativa. Por isso, vai aqui o aviso: se o eventual leitor ainda não viu o filme, e não leu nenhuma sinopse, o melhor é parar por aqui. Se gostar de cinema, que procure ver Flight, belo filme, duas indicações ao Oscar (ator para Denzel Washington, roteiro original para John Gatins), 11 prêmios e outras 31 indicações (inclusive o Globo de Ouro e o prêmio do SGA, o sindicato de atores, para Denzel).
A partir daqui, revelam-se acontecimentos fundamentais da trama.
De novo, a advertência: a partir daqui, spoilers
É um vôo entre Orlando, na Flórida, e Atlanta, a capital da vizinha Georgia. Não é um vôo longo, de forma alguma; coisa de 1h20 minutos, algo como uma viagem entre São Paulo e Florianópolis.
Era o vôo das 9 horas da manhã, e era uma manhã de muita chuva na Flórida, região volta e meia açoitada por tempestades, tornados, furacões. O avião ainda estava no início da subida para a altitude normal de cruzeiro quando enfrentou uma turbulência brava, bravíssima, apavorante. O comandante Whip Whitaker (o papel de Denzel Washington, esse Deus Apolo, esse ator mais ícone a cada filme que faz) localiza num dos instrumentos do grande jato uma zona acima da região da turbulência, e leva a aeronave para lá.
Os passageiros aplaudem a fim da turbulência.
Whip é um profissional experiente, tarimbado – e extraordinariamente competente. Conhece muito bem pelo menos duas das comissárias de bordo, Katerine Marquez, a Trina (Nadine Velazquez), e Margaret Thomason (o papel de Tamara Tunie, a bela atriz que interpreta a legista Melinda Warner na série Law & Order: Special Victims Unit). Mas é a primeira vez que voa com o co-piloto Ken Evans (Brian Geraghty), rapaz bem mais jovem que ele.
Depois de deixar a zona de turbulência, o comandante Whip deixa o avião nas mãos do co-piloto Ken, e vai até o lado de fora da cabine, para dirigir algumas palavras aos passageiros, dizer a eles que dentro de tantos minutos estarão chegando a Atlanta. Aproveita para fazer uma piada sobre a rivalidade entre os times de futebol americano de Flórida e Georgia. Os comandantes da aviação comercial são dados a falar gracinhas para os passageiros.
De repente, o avião começa a perder altura. Inclina-se para baixo violentamente, furiosamente. Fica bastante claro para o espectador que não houve barbeiragem alguma do co-piloto, que naquele momento tinha o controle do jato. Fica óbvio que houve uma falha mecânica.
Whip assume seu assento. Passa a dar ordens – seguras, firmes – tanto para o co-piloto quanto para a comissária Margaret, que ele chama para ajudá-los.
Fica claro, fica óbvio para o espectador que o comandante sabe o que está fazendo. Que está tentando domar a fera que teve alguma pane grave.
O comandante Whip parece um experimentado cowboy tentando parar um estouro de boiada.
Usando só os controles manuais, dando ordens ao co-piloto e à comissária, ele gira o grande jato para que ele fique de cabeça para baixo. De ponta cabeça, como dizem os paulistas em sua sintaxe estranha. Sim, como o transatlântico Poseidon, do filme catástrofe O Destino do Poseidon de 1972, refeito em 2006 como Poseidon.
De cabeça para baixo, o comandante Whip consegue fazer com que o jato interrompa sua queda e se estabilize na horizontal, até que passa as áreas densamente habitadas de Atlanta e, na área rural, se possa ver um campo.
Aí ele revira o jato para a posição normal – e o aparelho cai de uma altura não muito elevada.
A câmara passa a ser os olhos de Whip, e por alguns instantes o espectador não vê nada muito distintamente.
Algum tempo depois que o comandante Whip recobra a consciência, no hospital, ele recebe a notícia: das 106 pessoas a bordo, morreram seis – quatro passageiros e dois membros da tripulação; 100 sobreviveram, cerca de 30 com ferimentos.
A imprensa o trata como herói.
Estamos então com cerca de 30 minutos de filme.
O comandante fez o melhor possível, fez milagre – mas estava bêbado e chapado
O autor da trama e do roteiro do filme poderia ter contado a história assim como fiz nos parágrafos acima. Poderia, se quisesse, ter guardado algumas informações para dar depois que o grande acidente já havia acontecido. Mas não: ele preferiu – ainda bem – revelar desde bem o início informações que ainda não dei.
Ao sentar-se na cabine de comando, Whip Whitaker estava um tanto bêbado de álcool e um tanto doidão de maconha e cocaína.
Como tantos filmes do cinemão comercial das últimas décadas (e até mesmo de filmes independentes e autorais), O Vôo não tem créditos iniciais. Assim, Mary e eu vimos o filme sem saber quem era o diretor, cujo nome só aparece nos créditos finais.
Abre num hotel, em que Whip e a comissária Trina passaram a noite se entupindo de drogas – a permitida, o álcool, e as proibidas, maconha e cocaína – e também de sexo, que ninguém é de ferro.
Às 7 e pouquinho da manhã, Whip teve que atender, no celular, a uma ligação da ex-mulher, Deane (Garcelle Beauvais). A ex-mulher, é claro, pedia dinheiro – verdade que para a educação do único filho do casal, Will Junior (Justin Martin).
O vôo seria (e foi) às 9h. Whip não comeu um bom café da manhã – tomou um trago de um resto de cerveja quente, deu um tapinha no baseado de Trina e mandou ver uma carreirinha de coca.
Naquele momento em que foi falar com os passageiros, passada a zona de turbulência, aproveitou para surrupiar duas garrafinhas de vodca do estoque do avião e jogá-las num copo de suco de laranja, e dali para o estômago vazio.
Para tornar mais tensos ainda os minutos iniciais, há uma jovem enfiando droga na veia
Ao longo dos apavorantes, eletrizantes 30 primeiros minutos de narrativa, portanto, o espectador está plenamente consciente de que o cara está chapado.
Ao mesmo tempo, é óbvio que o comandante Whip fez tudo o possível e o impossível e conseguiu, no braço, no muque, no traquejo, na experiência, na competência, impedir a morte de 96 pessoas.
Como se fosse pouco ver sequências bem realizadíssimas, de um realismo cru, em que um avião enfrenta duríssima turbulência, e depois, por um problema mecânico, vai perdendo altitude, perdendo altitude, até cair no chão – e tendo no comando um piloto chapado –, o autor da história e do roteiro John Gatins ainda botou, nessa primeira meia hora de filme, cenas apavorantes de uma viciada em drogas pesadas.
Entre uma seqüência e outra do avião que está para cair, vemos uma jovem e bela mulher, Nicole (o papel da inglesa Kelly Reilly), procurando desesperadamente uma dose de heroína com um amigo, envolvido na produção de filmes pornô em Atlanta. Nicole diz a ele com todas as letras que está profundamente necessitada de ficar doidona. O amigo fornece um pacotinho, mas insiste: aquela droga é forte demais. Nicole não poderá, de forma alguma, metê-la nos canos; é para aspirar, o que já terá um efeito violentíssimo.
Nicole vai para o pequeno apartamento do qual ela não paga aluguel faz um ou dois meses. Primeiro tem uma discussão com o zelador, que exige o pagamento dos aluguéis atrasados ou em dinheiro ou em serviços sexuais. Nicole consegue expulsar o cara do apartamento – e injeta a droga violenta na veia.
É apavorante.
Voltamos para as sequências do avião. Quando o avião, de cabeça para baixo, está passando sobre Atlanta, rumo a uma área desabitada em que o comandante Whip possa tentar fazer um pouso forçado, vemos uma rápida tomada em que paramédicos estão levando Nicole numa maca para uma ambulância. Nessa altura, o espectador ainda não sabe se a overdose de Nicole foi fatal ou não.
Como acontece com milhões de drogados, Whip percebe que manter a sobriedade é duríssimo
É muita droga, nesses primeiros 30 minutos de filme. É droga demais.
Chega a ser nauseante, vomitativa, a quantidade de droga nesse início de filme. Cazuza, que gostava das drogas, as lícitas e as não, dizia que é bom “algum veneno contra a monotonia”. Mas, meu Deus do céu e também da terra – poderá pensar o espectador de O Vôo neste início de narrativa -, precisa ser tanta droga, e droga tão pesada?
Não entendo coisa alguma das drogas ilícitas, assim, por conhecimento próprio, mas dá para saber, é claro, que sair da dependência é uma das coisas mais difíceis que há. Sei bastante sobre o álcool, e sei bem que sair da dependência do álcool é um desafio dificílimo. É preciso doses maciças, mastodônticas de força de vontade, determinação, culhão – e em geral nem mesmo elas são o suficiente.
Quando sai do hospital – depois de, na escadaria, onde foi fumar um cigarro desses que ainda são vendidos legalmente, ter conhecido Nicole, a drogada que havia sobrevivido à overdose –, Whip foge do assédio dos repórteres que estão de tocaia diante de sua casa e se refugia na fazenda que havia sido de seu avô e seu pai. Joga fora toda a imensa quantidade de bebida que há lá. Já havia recusado a provisão de vodca que havia sido levada para o hospital por seu grande amigo e fornecedor de todos os tipos de drogas, Harling Mays, um tipo que seria terrivelmente engraçado se não fosse trágico (uma interpretação notável do gordão John Goodman).
Mas logo em seguida, ao ser apresentado por outro velho conhecido, membro do sindicato dos pilotos, Charlie (Bruce Greenwood), a um advogado de renome trazido de Chicago para defendê-lo, chamado Hugh Lang (o papel de Don Cheadle), cai a ficha: a imprensa toda o trata como herói, 96 pessoas sobreviveram por causa da sua competência, mas seis pessoas morreram, haverá processos por indenização na Justiça, haverá severa, cuidadosa investigação pela agência que regula a aviação comercial. Enquanto estava no hospital, haviam colhido amostra de seu sangue.
Como acontece na vida de tantos milhões e milhões de drogados, também para Whip a determinação de permanecer sóbrio dura bem pouco.
Nesse momento, estamos aí com uns 40 minutos de filme. Haverá muito mais drama a partir daí.
É maravilhoso como o filme usa bem as músicas incidentais
Além de ter tido aquele bom número de prêmios e indicações citados lá em cima, O Vôo parece ter tido razoável sucesso de público. Feito com um orçamento estimado em US$ 31 milhões, faturou três vezes isso, US$ 93 milhões, só nos Estados Unidos, e mais US$ 68 milhões fora.
Eis aí algumas informações sobre o filme e sua produção, muitas delas tirada do IMDb:
* O autor e roteirista John Gatins usou alguns elementos de um acidente real, acontecido com um avião da empresa Alaska Airlines em 2000. Aquele avião teve um problema gravíssimo com o estabilizador horizontal, que o fez perder altitude com o nariz para baixo a uma velocidade de 13.300 pés por minuto. Na tentativa de estabilizar o aparelho, os pilotos chegaram a colocá-lo na posição invertida, de cabeça para baixo. Apesar de todo o esforço dos pilotos, no entanto, ao contrário do que acontece no filme, não houve sobreviventes.
* Foi a sexta indicação de Denzel Washington ao Oscar. Ele ganhou o prêmio de coadjuvante por Tempo de Glória (1989) e o de melhor ator por Dia de Treinamento (2001). As outras indicações foram por Um Grito de Liberdade (1987), Malcom X (1992) e The Hurricane (1999).
* Foi o segundo filme dirigido por Robert Zemeckis que mostra um acidente aéreo, depois de Náufrago (2000), aquele em o personagem interpretado por Tom Hanks se salva quando o avião em que viajava cai no mar, e sobrevive durante longos meses em uma ilhota perdida no meio do Pacífico, como uma espécie de Robinson Crusoe moderno.
* Foi também o segundo filme dirigido por Zemeckis que mereceu a classificação R, de “restricted”, algo semelhante ao nosso proibido para menores de 16 anos – por causa do uso de drogas e cenas de sexo. Anteriormente, apenas seu filme de 1980, Carros Usados, tinha tido essa classificação rigorosa. Zemeckis fez vários filmes para toda a família, ou que agradam às plateias juvenis, como a trilogia De Volta para o Futuro, Uma Cilada para Roger Rabbit, O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf.
* Numa entrevista, os produtores Steve Starkey e Jack Rapke explicaram que o jato mostrado no filme não é idêntico a qualquer tipo de aeronave comercial existente – usa elementos de diversos tipos de avião. A companhia aérea a que pertence o avião é fictícia. Na entrevista, eles também fizeram questão de afirmar que não houve acordo comercial algum com qualquer um dos fabricantes das diversas marcas de bebidas mostradas no filme.
* É forte e impressionante o uso da canção “Sympathy for the Devil”, de Mick Jagger-Keith Richards, na trilha sonora. A música toca alto quando vemos pela primeira vez o personagem interpretado por John Goodman, o doidão que fornece todo tipo de droga ao amigo Whip Whitaker. O traficante Harling Mays está chegando ao hospital para visitar Whip, logo após o acidente, levando com ele um monte de revistas de sacanagem, um pacote de cigarros (esses da indústria) e uma grande quantidade de vodca (que Whip recusará) – e está ouvindo Stones em altíssimo volume. Por coincidência, ou não, “Sympathy for the Devil também apareceu em outro filme com John Goodman e Denzel Washington, Os Possuídos (1998).
* O uso de canções como música incidental no filme é excelente. Há um momento em que Nicole joga sua bolsa numa mesa, e vemos material usado por drogados. Nesse momento, toca a música “Under the Bridge”, do Red Hot Chili Peppers, que tem a ver com uma experiência do vocalista do grupo injetando heroína na veia sob uma ponte no centro de Los Angeles.
* Na primeira seqüência em que aparece a personagem Nicole, num estúdio de filmes pornô, alguém diz a ela que deveria fazer o papel de Desdêmona numa versão sacana de Othelo. A atriz que faz Nicole, a inglesa Kelly Reilly, já interpretou Desdêmona no West End de Londres, ao lado de Chiwetel Ejiofor no papel de Othello e Ewan McGregor no de Iago.
* Já tinha havido um filme em que o piloto bebe demais e comanda um avião numa ressaca infernal, e, além disso, ainda põe o avião de cabeça para baixo. Chama-se Na Rota do Oriente (1093), e o piloto era interpretado por Tom Selleck.
Quanto mais dramas sérios sobre dependência de drogas, melhor
O respeitabilíssimo site AllMovie deu apenas 3 estrelas em 5 ao filme. Em sua crítica, Perry Seibert escreve que a sequência inicial, a que mostra o trágico vôo, é uma peça inigualável de cinema, uma evocação implacável e perturbadora de uma experiência de se chegar bem perto da morte. “Infelizmente, o resto de Flight é um drama antiquado sobre o vício.”
Não acho absolutamente antiquado fazer dramas sérios sobre alcoolismo e dependência de drogas. Na verdade, não há tantos assim. E quantos mais houver, melhor.
Cada um tem o direito de ter sua opinião, é claro. A minha é de que O Vôo é um grande filme.
Anotação em abril de 2014
O Vôo/Flight
De Robert Zemeckis, EUA, 2012
Com Denzel Washington (Whip Whitaker)
e Don Cheadle (Hugh Lang), Kelly Reilly (Nicole), John Goodman (Harling Mays), Bruce Greenwood (Charlie Anderson), Tamara Tunie (Margaret Thomason), Brian Geraghty (Ken Evans), Nadine Velazquez (Katerina Marquez), Melissa Leo (Ellen Block), Justin Martin (Will Whitaker Jr.), Garcelle Beauvais (Deana), Peter Gerety (Avington Carr), Boni Yanagisawa (Camelia Satou)
Argumento e roteiro John Gatins
Fotografia Don Burgess
Música Alan Silvestri
Montagem Jeremiah O’Driscoll
Na TV a cabo (gravado do Telecine Premium). Produção Paramount Pictures, ImageMovers, Parkes/MacDonald.
Cor, 138 min.
***1/2
Concordo que é um grande filme, e que quanto mais filmes sobre dependência de álcool/ drogas melhor. Uma amiga falou dele para mim, e eu resolvi ver (queria saber se daria pra indicá-lo a uma prima, cujo marido é alcoólatra) achando que seria chato, pois geralmente é o que ocorre com filmes sobre esses temas, mas acabei gostando. Tem as partes mais arrastadas, outras pesadas (quem é que gosta de ver os outros se drogando?) mas o filme é mesmo bom.
Eu não tenho paciência com viciados de maneira geral, para colocar de forma leve, não sinto empatia. E o que vejo geralmente em filmes assim é uma certa condescendência dos familiares, o que não ocorre aqui, e eu achei ótimo.
Em certos momentos dá uma certa pena do Whip, afinal, ele é um excelente profissional e não é má pessoa; e como lá as leis funcionam, enquanto assiste a gente vê que o futuro pode não ser muito bom pra ele, mas ao mesmo tempo as consequências não deixam de ser por causa de suas ações.
Sobre a parte do filme que é pura adrenalina, pelo que andei lendo não é possível que um avião daquele tipo voe de dorso por mais que alguns segundos, por causa do combustível (de todo modo, aquela sequência é tipo UAU). E algumas manobras que o Whip e o co-piloto fazem parece que também não são possíveis naquela situação, mas é tudo eletrizante mesmo assim.
No mais, Denzel está maravilhoso, como sempre, esplêndido em seus 58 anos. Eu dava no máximo 50 pra ele, e quase caí da cadeira quando vi que ele está com quase 60 (adorei o “deus Apolo” – ele é um deus Apolo e muito mais).
É um filme que recomendo, e sobre o tema acho que foi um dos melhores que já vi, mesmo com as partes puxadas (mas como fazer um filme sobre vício em alcoolismo/drogas sem mostrar um pouco como é que funciona? Ao menos o diretor não foi apelativo).
Expressei mal meu comentário anterior quando disse que o Whip era um excelente profissional. Eu quis dizer que ele era excelente naquilo que fazia: pilotar aviões. Mas encher a cara de bebida e drogas e ir trabalhar colocando as vidas dos outros em risco não faz de ninguém um bom profissional, pelo contrário. Eu não lembro se ele fazia isso sempre, já faz um tempo que assisti, mas provavelmente sim. Lembro que uma das comissárias amiga dele, na hora em que a coisa começou a ficar feia, disse algo como “eu te avisei”, no sentido de “eu disse pra você parar”, assim como a ex também deve ter falado até cansar, não aguentar mais e se separar.
Gostei principalmente da primeira parte que está de facto electrizante; a continuação embora com qualidade perde um tanto em comparação. Gostei de voltar a ver o Denzel Washington numa boa interpretação depois de ter andado perdido em filmes de baixa qualidade.