First Knight, produção de 1995 que no Brasil ganhou o acréscimo do nome do personagem central, Lancelot, o Primeiro Cavaleiro, é um filme absolutamente ruim.
A quem, exatamente, propriamente, ele se dirige? Ao público infanto-juvenil? Hum… Deve ser. Há muitas cenas de batalhas, de guerras, e o público adolescente talvez adore isso. Mas o cerne do filme é um romance que não poderia acontecer, um romance proibido, um amor absurdamente forte que não pode se concretizar. Estaria o público infanto-juvenil, adolescente, interessado em uma bela história de um amor que não poderia acontecer?
Tenho em mim uma parte de espectador de filmes infanto-juvenis, assim como tenho uma parte de espectador de filmes para pessoas mais do que maduras. Nenhuma das minhas partes ficou contente com este First Knight. Minha parte infanto-juvenil gosta de coisas belas, fofas – jamais de batalhas, espadas sendo enfadas na barriga dos outros. E minha parte madura gosta de gente como a gente, não de super-heróis, ou histórias da carochinha.
No entanto, no entanto… Meu Deus do céu e também da terra! Pouquíssimas vezes foi vista numa tela de cinema um rosto de mulher tão resplandescentemente belo quanto o de Julia Ormond como a princesa Guinevere nesta porcaria de filme.
Há pelo menos umas três dezenas de mulheres de beleza infinda que já povoaram as telas. E, claro, cada pessoa tem seu próprio gosto particular. Nem todos acham Brigitte a mais bela, nem a Deneuve, nem a Adjani. Nem a Loren, nem a Spaak, nem a Lollobrigida. Nem a Ullmann, ou a Garbo, ou a Andersson, para ficarmos nas nórdicas. Ou a Schneider, ou a Kinski, ou a Schell, para ficarmos nas de língua alemã.
Na minha opinião pessoal, a beleza de Julia Ormond no papel de Guinevere nesta bobagem de filme menor só tem comparação com Ingrid a Mulher Mais Bela do Universo Bergman.
“Saga de aventura bela, romântica, com momentos desajeitados”
É preciso dar alguma racionalidade a esta anotação. Vou procurar as opiniões dos outros, que tragam também uma sinopse.
Leonard Maltin dá 3 estrelas em 4: “Saga de aventura bela, romântica, que focaliza o triângulo amoroso envolvendo o Rei Arthur (Connery), Lady Guinevere (Ormond) e um espírito inquieto, aventureiro, que vive de espertezas, chamado Lancelot (Gere). A narrativa tem suas falhas, com momentos desajeitados e um ocasional gosto dos anos 1990 (para não falar da escolha de um americano que fala o linguajar de hoje como Lancelot), mas essas intromissões são compensadas pela inteligência geral do roteiro de William Nicholson, a direção de arte estupenda de John Box, a trilha sonora majestosa de Jerry Goldsmith, e esplêndidas atuações de Ormond e Connery. Camelot nunca pareceu tão mágica.”
Hum… “Awkward moments”. Maltin admite que há awkward moments. Awkward, palavrinha simpaticamente awkward, quer dizer desajeitado, desastrado, inábil, inoportuno, incômodo, embaraçoso, difícil.
Na minha opinião, o roteiro não demonstra inteligência geral – é todo cheio de momentos awkward. Mas o filme é salvo, repito, pela beleza estonteante de Julia Ormond.
Mas é para ter outras opiniões. Vamos à de Roger Ebert. Ela da 2 estrelas em 4: “First Knight teve o azar de estrear na mesma época de Rob Roy (no Brasil, Rob Roy – A Saga de Uma Paixão) e Braveheart (Coração Valente), dois melhores exemplos do gênero espada-e-sedução medieval. O filme entretém as platéias de uma certa forma, e Sean Connery faz um esplêndido Rei Arthur, mas comparado com os dois outros filmes este aqui parece leve e inconvincente. A história é mais uma vez o triângulo amoroso de Camelot. Centra-se em Guinevere (Julia Ormond), Lady de Leonesse, cujas terras estão sendo atacadas pelo malvado Malagant (Ben Cross). Ela aceita o pedido de casamento do Rei Arthur por duas razões: porque ela pode amá-lo, e porque ele pode proteger Leonesse. Mas ela conhece o jovem e sem amarras Lancelot (Richard Gere), que a salva de um selvagem ataque na floresta, e continua a salvá-la ao longo do filme, enquanto se apaixona por ela.”
Roger Ebert prossegue: “É um triângulo fascinante. Guinevere ama Arthur com sua mente, e Lancelot com seu coração. Os dois homens têm admiração um pelo outro. Se ela escolher Arthur, conseguirá progeger todos aqueles que vivem em suas terras. Se ela escolher Lancelot, o amor vencerá tudo. Esta é precisamente a mesma situação desenvolvida em Casablanca, e o paralelo fica ainda mais forte porque Julia Ormond, de uma certa forma, parece tanto com Ingrid Bergman, com as faces de maçã, os lábios cheios, a forma dos dentes, os olhos graves e a generosidade do corpo”.
Roger Ebert também se lembra de Ingrid Bergman por causa de Julia Ormond!
Eta nóis!
Juro de pé junto que comecei esta anotação antes de ler o que diziam Leonard Maltin e Roger Ebert. Sempre faço assim. Sempre boto primeiro minhas sensações, para depois ir aos alfarrábios e checar outras opiniões. Neste caso específico, como não gostei do filme, quis transcrever logo outras opiniões para me desobrigar de fazer um longo relato sobre a história.
Então, minha afirmação lá em cima, “a beleza de Julia Ormond no papel de Guinevere neste bobagem de filme menor só tem comparação com Ingrid a Mulher Mais Bela do Universo Bergman”, foi feita antes que eu lesse o texto de Ebert.
Na verdade, eu só vi o filme inteiro por curiosidade de saber como a história terminava – e para ter o prazer de ver a beleza de Julia Ormond. Até comecei uma anotação: “Estava zapeando num fim de madrugada sem álcool e parei no filme por curiosidade e por causa da apaixonante beleza de Julia Ormond, aos 30 aninhos de idade. Ela faz Guinevere, a princesa que está com casamento marcado com o Rei Arthur (Sean Connery).”
Aí fui atrás do filme na locadora. A 2001 da Sumaré fechou, mas felizmente há a Top Cine, e eles tinham o filme.
Vi inteiro no DVD, e comecei esta anotação aqui.
A comparação que fiz da beleza de Julia Ormond com Ingrid Bergman já havia sido feita anos antes por Ebert. Mas juro que só li depois!
A Camelot do filme tem tantas luzes brilhantes quanto Manhattan
Volto ao que escreveu Roger Ebert. Ele diz que, depois daqueles dois filmes, Rob Roy e Coração Valente, o visual deste First Knight desaponta, é bem menos convincente. E cita uma sequência absurda: “Em um certo ponto, Arthur, no alto de uma colina, mostra para Guinevere a cidade de Camelot à noite – com luzes brilhando em cada janela. Ou eles tinha MUITAS velas, ou os caras que construíram a miniatura viajaram.”
De fato: parece Manhattan ou Paris em dia de virada de ano!
Depois Ebert mostra como é absurda e mal resolvida no roteiro a descoberta, pelo Rei Arthur, da paixão de Guinevere por Lancelot. Ele detalha tudo – o que entendo ser um spoiler, e então não é o caso de transcrever.
No final, ele faz um elogio à participação de John Gielgud. O gigantesco ator faz um papel mínimo, como uma espécie de preceptor de Lady Guinevere. Aparece pouco, mas faz bem aos olhos dos cinéfilos mais velhinhos.
Julia Ormond tinha tudo para ser uma das maiores estrelas do mundo
Bem. Como a melhor coisa do filme, disparado, na minha opinião, é Julia Ormond, aí vai um pouco sobre ela. Inglesa do Surrey, nasceu em 1965; estudou belas artes e artes dramáticas. Antes de aparecer em três filmes importantes de Hollywood entre 1994 e 1995, construiu carreira sólida no teatro e na TV da Inglaterra. No teatro, trabalhou em montagens de clássicos – O Morro dos Ventos Uivantes, As Bruxas de Salém. Foi a mais bela Catarina, a Grande da história, na minissérie Young Catherine, da TNT, em 1991 – uma personagem que já havia sido interpretada por Marlene Dietrich no filme A Imperatriz Vermelha. Representou outra personagem importante da história russa – a mulher de Josef Stálin, no filme Stalin, da HBO, de 1992.
Foi nesse papel que ela chamou a atenção do diretor Edward Zwick, que a convidou para o principal papel feminino de Lendas da Paixão/Legends of a Fall (1995). No mesmo ano, ela fez este First Knight; quando o filme estreou, Julia Ormond tinha cortado seus longuíssimos cabelos para interpretar o papel central de Sabrina, de Sydney Pollack, a refilmagem, em 1995, do clássico de 1954 dirigido por Billy Wilder com Audrey Hepburn.
Sempre achei que a carreira de Julia Ormond nunca foi tão bem sucedida quando deveria ter sido por causa de Sabrina. O filme de 1995 não é ruim, de forma alguma – é bom, mas é desnecessário. E seria impossível que a atuação da atriz, por melhor que fosse, e foi, agradasse aos críticos e aos cinéfilos todos que têm paixão por Audrey Hepburn. E não existe crítico algum ou amante de filmes algum que não tenha paixão por Audrey Hepburn.
Tinha tudo para ser uma das maiores estrelas do cinema americano: talento, beleza, a chance de participar de três produções importantes no período de dois anos. Mas os críticos, a indústria, o público não a perdoaram pela audácia de refazer o papel que havia sido feito por Audrey.
Ela continuou trabalhando, é claro. Estava impressionamente bela e talentosa em Mistério na Neve/Smilla’s Sense of Snow (1997), um thriller do dinamarquês Billie August. Em Paixão de Alto Risco/Captives (1994), se expôs em cenas de sexo extremamente ousadas. Sob Controle/Surveillance (2008), de Jennifer Lynch, é uma história de horror, brutalidade, nojo e muita, muita loucura. Estava difícil de ser reconhecida, por causa da maquiagem, em O Curioso Caso de Benjamin Button. Em Temple Grandin, faz a mãe da personagem central, interpretada por Claire Danes, e, na série Mad Man, faz a mãe canadense de Megan (Jessica Paré), a segundo mulher de Don Drapper. Raios: uma atriz desse porte, desse talento, que está hoje com menos de 50 anos, já fazendo papéis de mães, apenas…
Teve recentemente uma oportunidade um pouco melhor em A Música Nunca Parou (2011), como uma terapeuta que ajuda o personagem central. E, no mesmo ano, teve um pequeno papel interpretando outra inglesa linda, Vivien Leigh, em Sete Dias com Marilyn/My Week with Marilyn.
Este Lancelot, o Primeiro Cavaleiro, é um filme ruim, repito. Mas vale a pena vê-lo, valeu a pena ele ter sido feito, por causa da beleza de Julia Ormond. É muito, muito, muito especial.
Anotação em setembro de 2014
Lancelot, o Primeiro Cavaleiro/First Knight
De Jerry Zucker, EUA, 1995
Com Richard Gere (Lancelot), Sean Connery (Arthur), Julia Ormond (Guinevere)
e Ben Cross (Malagant), Liam Cunningham (Sir Agravaine), Christopher Villiers (Sir Kay), Valentine Pelka (Sir Patrise), Colin McCormack (Sir Mador), John Gielgud (Oswald)
Roteiro William Nicholson
Baseado em história de Lorne Cameron & David Hoselton e William Nicholson
Fotografia Adam Greenberg
Música Jerry Goldsmith
Montagem Walter Murch
Casting Mary Selway
Produção Columbia Pictures.
Cor, 134 min
*
Lembro muito dela em Lendas da Paixão, com um Brad Pitt ainda não tão famoso (ou já? Não sei, nunca fui ligada nele), e também em Sabrina. Faz tempo não assisto a filmes com ela, já baixei o “Sete Dias com Marilyn”, mas ainda não vi. Dei uma busca rápida e parece que ela fez algum procedimento errado no rosto, pois está bastante enrugada, mas ao mesmo tempo com a pele esticada. Veesh! Pra quem teve a beleza comparada à de Ingrid Bergman, envelheceu mal.
Acho injusto mulheres na idade dela ganharem apenas papéis de mãe, alguma atriz já reclamou sobre isso, não lembro qual; mas mãe de alguém da idade da Claire Daines? MelDels! Isso é muita crueldade.
Não entendo por que sua carreira não decolou, pois como você disse ela “tinha tudo para ser uma das maiores estrelas do cinema americano.” Talvez tenha feito escolhas erradas? Ela é muito melhor atriz e foi muito mais bonita que muitas famosinhas por aí; pra citar apenas uma: Jennifer Aniston.
E pode ter sido, como você também falou, por ter refeito um papel que foi de Audrey Hepburn. No texto sobre o filme Paixão de Alto Risco, você diz que ele também pode ter atrapalhado a carreira dela: “E neste Captives ela ousa fazer um papel forte demais para os padrões sempre conservadores do establishment.” O que volta à questão que levantei de ter feito escolhas erradas. Talvez tenha faltado um bom agente, e/ou fazer um filmão comercial ou uma comédia romântica de muito sucesso, o que não parece ser o estilo dela.
A indignação dos fãs eu consigo entender, pois eu não aceitaria que alguém fizesse um papel que já foi de Gene Kelly, por exemplo, principalmente se o louco aceitasse dançar. Aliás, até hoje não vi O Artista, pois falaram que tem muito de Singin’ in the Rain; desde o plot até a caracterização do personagem principal, que dizem ter ficado muito parecido com Gene. Por falar nisso, em breve vai estrear An American in Paris nos palcos da Broadway: Why God Why?
É um direito dos fãs espernear, mas no fim das contas quem manda mesmo é a indústria, não? Eu vi uma reportagem sobre a carreira do Tobey Maguire e foi por pouco que ele não caiu no ostracismo; para decolar acabou tendo um empurrão do sogro, que se não me engano é alguém envolvido com cinema.
adoro filme e virei seu haterrrrrrrrrrr
Ruim aonde ? O filme é sensacional, mas, é como diz o famoso ” Gosto não se disctue”, porém , apesar de eu não concoradr com a sua opinião , eu respeito!