Confesso não ter entendido muito bem o que A Negociação, no original Arbitrage, quis dizer. Que o capitalismo é injusto? Que a polícia não consegue botar as mãos nos culpados quando eles são ricos? Que os ricaços do sistema financeiro, das empresas que usam capitais para investimento, são filhos da puta?
Se for a opção a, então é a chuva mais no molhado que possa existir. O capitalismo é injusto desde sempre, e não há ninguém que não saiba disso. Então, se todo mundo sabe disso, por que repetir, sem dar nada de novo?
Se for a opção b, então o filme se enganou a si mesmo, porque a polícia tem a obrigação óbvia de prender os culpados por crimes – mas o que o filme mostra não chega propriamente a ser um crime, e a polícia forja provas contra o suspeito. Forjar provas contra um suspeito, isso sim, é um crime ultrajante.
Se for a opção c, então o filme errou de novo, porque o herói/anti-herói, interpretado, com grande brilho, por Richard Gere, não é exatamente um filho da puta.
Então, o que é que assim mesmo este filme tem a nos dizer?
O maior crime do protagonista é ter prejudicado a vida da filha
Sim, Robert Miller (o personagem interpretado por Richard Gere) é mentiroso, enganador. Trai a mulher, Ellen (Susan Sarandon, belíssima, e absolutamente não mostrando a idade que tem), tem uma amante para quem paga tudo possível e imaginável, uma artista plástica francesa, Julie (interpretada por Laetitia Casta).
Tão falso na vida familiar quanto na vida empresarial, andou mexendo nos números de suas firmas, com o propósito de vendê-las a um grande banco.
Um trepador fora da cerca, um capitalista fraudulento. Se a gente se lembrar de Bertold Brecht, que dizia – não é transcrição literal – “qual é o crime de se assaltar um banco, comparado com a fundação de um banco?”, e der de barato que quase todo mundo, afinal, trepa fora da cerca, qual é o grande crime de Robert Miller?
Ah, fez fraudes contábeis, e por isso prejudicou a filha, Brooke (Brit Marling, na foto abaixo), a CEO oficial de sua holding.
Tá. Esse é um crime. Prejudicou a vida da filha. Crime grave, é verdade.
Mas… fora disso – o quê?
Torrou dinheiro público? Não, de forma alguma, nenhum centavo. Nenhum contribuinte perdeu sequer um dólar com os erros dele.
O filme levanta temas importantes, mas não sabe o que fazer com eles
Se era para mostrar como é podre todo o esquema das grandes corporações, não conseguiu – perdeu o foco, e se perdeu.
E não é preciso dizer que é podre todo o esquema das grandes corporações. Quem sabe somar 1 + 1 e b + a já sabe disso faz tempo.
Tudo o que este filme que aparentemente pretende denunciar a merda do capitalismo me conseguiu fazer foi ter simpatia grande pelos caras – como o personagem de Richard Gere – que acabam se envolvendo em acidentes.
Pensei em Ted Kennedy, e no acidente de Chappaquiddick.
Posso estar absolutamente errado, mas Ted era melhor que John e do que Bob.
Poderia ter sido uma maravilha de presidente dos Estados Unidos da América. Inteligente, jovem, progressista.
Se ferrou no incidente de Chappaquiddick. Depois disso, jamais poderia ser candidato a presidente – embora tenha sido reeleito várias vezes para o Senado.
Para mim, A Negociação ficou parecendo um filme que levanta temas importantes, mas não sabe o que fazer com qualquer um deles.
Promete muitíssimo mais do que entrega.
Anotação em março de 2013
A Negociação/Arbitrage
De Nicholas Jarecki, EUA, 2012
Com Richard Gere (Robert Miller), Susan Sarandon (Ellen Miller), Tim Roth (detetive Michael Bryer), Brit Marling (Brooke Miller), Laetitia Casta (Julie Côte), Nate Parker (Jimmy Grant), Stuart Margolin (Syd Felder), Graydon Carter (James Mayfield)
Argumento e roteiro Nicholas Jarecki
Fotografia Yorick Le Saux
Música Cliff Martinez
Montagem Douglas Crise
Produção Green Room Films, Treehouse Pictures, Parlay Films,
LB Productions, Alvernia Production.. DVD Swen Filmes.
Cor, 107 min
**
Já tem algum tempo que vi este filme.
Consta no meu arquivo de filmes já vistos que foi em 9 de fevereiro deste ano.
Ainda está bem vivo na lembrança.
Gostei, mas também não daria mais de duas estrelas.
Concordo que o filme não disse, não deu nada de novo, apenas, mostrou mais uma vez o que acontece nesse mundo dos ricaços, da alta sociedade, dos magnatas, da corrupção, onde se passa por cima de tudo , ética , respeito honestidade, para chegar onde se quer.
O Robert era um lobo em pele de cordeiro.
Era mentiroso,enganador,traía a mulher,falso na vida familiar e empresarial, fraudador, prejudicou amargamente a vida de sua própria filha e, manipulava as pessôas.
Discordo de voce(com o respeito de sempre)se isso não fôsse o bastante para ele ser um FDP
era no mínimo um tremendo mau carater.
A policia quis sim, puxar o tapete dele mas é o tal negócio, ele estava na chuva , de alguma forma, por um outro lado,fazia parte do jogo sujo que ele praticava.
Com a própria amante ele não agiu correto.
Gostei muito da Brit Marling. O Gere, eu já disse certa vez , que quando faz personagens sérios, fica muito melhor.
Susan Sarandon, atriz maravilhosa de sempre e, meu Deus, não cansa de ser linda.
Um abraço !!
Achei o filme fraco e chato de doer. Como você falou, ele não disse a que veio. A melhor coisa foi aquela francesa não menos chata que o filme ter morrido antes da primeira parte. Então pensei que a história fosse ficar um pouco melhor a partir dali, com a investigação, mas nem isso. Torci para o personagem do Gere ser pego, mas doce ilusão. Torci pro tal Jimmy entregá-lo, também em vão.
A história tem umas mentiras difíceis de serem engolidas, como o fato de ele ter ficado não sei quantos dias sentindo dores por causa da batida e não ter ido ao hospital, e como a da cena em que ele foi ao banheiro de um posto de gasolina, e milagre dos milagres, tinha um sabonete em barra na pia! Tinha até papel toalha com dupla camada.
Concordo com o que você disse sobre traição e capitalismo, então para mim o grande crime dele foi ter matado a chatonilda, mesmo que “sem querer”, afinal, encher a cara de uísque e dirigir é um crime por si só. E em nenhum momento mostrou remorso nem sofrimento. Também não demonstrou nenhum pesar por ter prejudicado a filha.
Gosto muito da Susan Sarandon, pena que ela faz um papel bem pequeno. Primeira vez que a vejo com os cabelos lisos e super escovados.
O Richard Gere tem feito uns filmes bem fraquinhos ultimamente. Eu acho ele meio careteiro, não chega a ser ruim, mas às vezes não me convence.
Olá Jussara !!
Boa noite, amiga.
Concordo contigo com relação as mentiras e, apesar de eu ter dito que ainda está bem vivo na minha lembrança, eu não me lembrava da cena do banheiro no posto.
É como eu disse e mantenho. Para mim ele era um tremendo mau caráter.
” As Duas Faces de um Crime ” – ” Atraídos pelo Crime ” e ” Justiça Vermelha “, são alguns filmes que me lembro com o Gere, em papéis mais sérios que gosto muito.
Mas, respeito muito tua opinião.
Saúde e um grande abraço, Jussara.
Para ti também, Sergio.
Olá, Ivan,
Eu até gosto do Richard Gere, mas como ele ficou mais conhecido como galã, às vezes parece que ele faz os mesmos personagens. Gostei dele em “As Duas Faces…”, mas não lembro dos outros. Ele não é um ator ruim, mas também não o considero um graande ator.
Eu também achei que o personagem era um mau caráter, nem pela filha teve compaixão. Mas deixei a traição e a corrupção por menos, pois como o Sérgio bem disse, a grande maioria dos homens trai, e esperar que um milionário poderoso seja fiel é pedir muito, assim como achar que um cara desses não vá fraudar é acreditar em papai Noel. Mas isso não quer dizer que eu aplauda o comportamento dele.
Abraços.
Fiz dois comentários aqui, mas esqueci de dizer o principal: o melhor desse filme é a cena onde o personagem do Gere chega ao apartamento da francesa chata, e durante a cena se ouve uma música cantada pelo João Gilberto. Fico sempre alegre quando ouço música brasileira em filmes ou séries estrangeiras (em Dexter, na sétima e oitava temporadas, também há duas cenas com fundo musical de João Gilberto).
Nossa música é a melhor do mundo, não tem pra ninguém! Pelo menos nisso somos (fomos?) bons.