Uma maravilha, uma delícia, um encanto, este Corazón de León, que no Brasil teve acrescentada no título a obviedade de O Amor Não Tem Tamanho.
É uma das mais gostosas comédias românticas que vi nos últimos muitos anos – e olha que vi muitas, mas muitas, muitas. Sem parar para pensar muito, assim de bate-pronto, eu me lembraria de Medianeras (2001) e (500) Dias com Ela (2009) como algumas das comédias românticas mais ou menos recentes do mesmo nível deste Corazón de Léon.
O filme tem um intróito, uma introdução, antes dos créditos iniciais, que é um absoluto assombro.
Uma bela mulher chega em casa após um dia de trabalho. No quarto, liga a secretária eletrônica, e há três recados. Um é da mãe dela, marcando uma ida ao teatro. O segundo é de um homem, falando sobre problemas de trabalho. O terceiro é uma voz masculina que a mulher desconhece.
A tela se divide em duas partes (como se fazia em tantas comédias de antigamente, como se fez muito em Confidências à Meia-Noite/Pillow Talk, de 1959, com Rock Hudson e Doris Day). Numa vemos a bela mulher em close-up ouvindo a mensagem, na outra vemos, também em close-up, o homem que deixou o recado na secretária.
Ele diz que achou o celular dela. Na verdade, ele estava num bar diante da praça quando a viu falando ao celular, gesticulando muito e jogando o telefone no chão – e aí vemos a cena que o homem descreve, a bela mulher na praça gesticulando muito, com cara de brava, jogando o celular no chão e saindo dali.
Volta o split screen, vemos o homem e a mulher. Ele é bom de papo, brinca que o nome dela é Casa – porque encontrou no celular a palavra Casa e ligou para lá e caiu na secretária eletrônica.
Ela então liga para o número que ele deixou. “Olá, Casa!”, diz ele, muito à vontade, bem humorado, charmoso.
Conversam. Ele propõe um jantar no dia seguinte para que ele possa devolver o celular, ela diz que não é de marcar jantar com desconhecidos, ele propõe um almoço, um cafezinho. O papo dele de fato é gostoso, ela vai abrindo um sorriso cada vez maior ao telefone, marcam para o dia seguinte às 15h30 exatamente no bar diante da praça em que ela jogou o celular fora. Ela pergunta como eles vão se reconhecer, ele diz: “Mas, Casa, esqueceu que eu já vi você!”.
Desligam. Ela diz alto, para si mesma, sorrindo: “Me encantó!”
E então começam os créditos iniciais.
Julieta Díaz é um monumento por quem a câmara se apaixona
Vi o filme sozinho, numa madrugadona, Mary dormindo o sono dos muito justos. Quando Julieta Díaz diz, para si mesma, sorrindo, “Me encantó!”, só faltei ficar de pé e aplaudir como na ópera.
Corazón de León encanta o espectador já no prólogo, na abertura, no introito.
Fique estupefato, boquiaberto, de queixo caído com a beleza de Julieta Díaz. Não me lembrava de tê-la visto antes. É um mulherão, um monumento; faz lembrar um tanto a Juliana Paes, e não só porque os nomes têm semelhança e as duas são praticamente contemporâneas: a brasileira é de 1979, a argentina é de 1977.
Julieta Díaz é uma morena de cabelos longos, um rosto perfeito, maravilhoso, um sorriso que seduz à primeira vista o mais relutante frade de pedra. Um corpão de babar, de fechar o comércio – a câmara do diretor de fotografia Horacio Maira a mostra longilínea, curvilínea nos pontos exatos, nenhum centímetro a mais ou a menos.
Me ocorreu agora, enquanto faço esta anotação, que a presença de Julieta Díaz neste Corazón de León tem algo a ver com a de Leila Diniz em Todas as Mulheres do Mundo. Naquela sequência em que Paulo, o personagem de Paulo José, está dando a festa em seu apartamento, e está para lançar um dardo no alvo colocado na porta da frente, e a porta se abre e Domingos Oliveira faz a câmara dar um sutil slow motion para mostrar a irrupção de Maria Alice-Leila Diniz na história, na tela e em nossos corações para todo o sempre.
Há mulheres por quem as câmaras se apaixonam. É exatamente o caso aqui. Julieta Díaz tem uma presença poderosa e uma sensualidade clara, límpida, solar como a de Leila Diniz. A câmara se derrete diante dela.
Não me lembrava dela, do nome dela. Verifiquei depois que já a tinha visto em As Leis de Família/Derecho de Família, de Daniel Burman (2006); sim, depois de ver isso, me lembrei, ainda que vagamente dela – uma bela moça, como disse na rápida anotação que fiz na época.
Está, em outubro de 2014, com 40 títulos em sua filmografia, que incluem séries para a TV argentina. Em 2011, interpretou Evita Perón no filme Juan e Evita, uma História de Amor. Acho que, com este filme aqui, ela vira – se é que ainda não era – uma grande estrela do cinema argentino.
Guillermo Francella tem 46 filmes no currículo
O ator que faz o principal personagem masculino da história é Guillermo Francella. Também não o reconheci – embora uma busca no 50 Anos de Filmes, um site bonzinho que tem aí, nada enciclopédico, traga seu nome em dois filmes, dois grandes filmes 4 estrelas, o mexicano Rudo e Cursi (2008), de Carlos Cuarón, e o argentino O Segredo dos Seus Olhos (2009), de Juan José Campanella. Interessante: Rudo e Cursi traz os dois grandes atores mais jovens do cinema mexicano, Gael García Bernal e Diego Luna; e O Segredo é com Ricardo Darín, o ator que é a cara do cinema argentino das últimas décadas. E Guillermo Francella lembra um pouco o tipo de Darín. Está com uma barbicha curta, bem cuidada, como Darín ostenta em vários de seus filmes, também tem olhos claros e, de uma maneira geral, uma fina estampa.
Nascido em 1955, Francella é portanto 22 anos mais velho que Julieta Díaz. Ele tem 46 filmes no currículo. Interessante: vejo que ele fez um papel sem qualquer importância em Um Namorado para Minha Esposa, de 2008, quando já era um ator bem conhecido. Deve seguramente ser amigo do diretor daquela comedinha gostosa, Juan Taratuto.
“Só me faltam 40 centímetros. Nada grave. Sou só diferente.”
Julieta Díaz faz Ivana, Guillermo Francella faz León – León, o que dá o nome do filme, Corazón de León.
Veremos que Ivana é advogada. Divide o escritório com seu sócio Diego (Mauricio Dayub). A questão é que os dois foram casados; estão divorciados faz alguns anos, mas para Diego ainda não caiu direitinho a ficha de que hoje são apenas sócios, e não mais marido e mulher. E então Ivana se desentende diariamente com Diego por motivos profissionais – cada um tem sua visão das coisas do escritório –, e, além disso, ainda convive com o desconforto de ser sócia de ex-marido que ainda se julga um tanto marido.
E veremos que León é um arquiteto extremamente bem sucedido, famoso, respeitado, rico, bem de vida, de bem com a vida. Volta e meia está viajando – para Nova York, para o Rio de Janeiro, onde está projetando várias coisas para a Olimpíada que vem aí.
Terminados os créditos iniciais, Ivana e León vão se encontrar no bar, conforme combinado, para que ele devolva o celular que ela jogou fora durante uma discussão com o sócio-ex-marido.
Ivana é uma mulher alta, aí de 1 metro e 70 e tantos.
León tem 1 metro e 36.
Sentada, ela é mais alta que ele de pé.
O diálogo é uma maravilha:
Ele: – “Tranquila!”
Ela: – “Por quê?”
Ele: – “Você está perplexa!”
Ela (com a cara absolutamente perplexa): – “Não!”
Ele: – “Só me faltam 40 centímetros. Nada grave. Sou só diferente.”
“Não existe ‘estou me apaixonando’. Não há gerúndio para o amor.”
Essa preciosidade é obra de Marcos Carnevale. Esse sujeito, nascido em Córdoba em 1963, tinha apenas 42 anos quando fez na Espanha Elsa e Fred (2005), uma pequena pérola sobre o amor na velhice que teve nove prêmios e outras sete indicações, e foi refilmada agora em 2014 por Michael Radford, com Shirley MacLaine e Christopher Plummer nos papéis centrais.
Em 2011, Carnevale dirigiu Viúvas, um filme interessante, que parte de uma idéia ousada, ao mesmo tempo estapafúrdia e plausível: um homem morre deixando duas viúvas, a oficial e a amante, e um pedido: que a oficial cuide bem da outra.
Segundo os créditos, a idéia, a história básica deste Coração de Leão é de Carnevale e de Betiana Blum. O roteiro é só dele.
O camarada sabe dirigir atores magistralmente, sabe fazer a câmara se movimentar de forma elegante e suave, e sabe criar situações, ambientes, diálogos deliciosos, fascinantes, inteligentes.
Dois exemplos de situações e diálogos maravilhosos.
Ivana e Diego têm uma única secretária, em seu escritório de advogacia, Corina (Jorgelina Aruzzi), uma figuraça. Corina é daquele tipo que usa roupas provocantes, saias curtas, mas fica bem desajeitada com elas. Está sempre à procura de um príncipe encantado – ou, na falta dele, de um sapo qualquer. É uma grande fofoqueira, uma leva-e-traz entre os dois sócios e ex-cônjuges.
Um dos casos do escritório é um divórcio; Ivana diz a Diego, diante de Corina, que o marido é um sujeito rico, deveria aumentar a parte da mulher na separação.
Diego: – “De que lado ela está? O nosso cliente é ele, não ela. Dá para parar com suas idéias de justiça? Isto aqui é um escritório de advocacia, sabe? Não somos Robin Hood e Cia. Temos que faturar, querida!”
Ele sai da sala. Ivana, para Corina: – “Eu odeio quando ele me chama de querida”.
Parar com as idéias de justiça, porque afinal isso aqui é um escritório de advogacia é uma absoluta delícia.
Lá pelas tantas, Ivana se abre para Corina: – “Acho que estou me apaixonando”.
E Corina: – “Não existe isso de estou me apaixonando. Porque não há gerúndio para o amor. O amor invade ou não.”
Ah, que maravilha de frase…
Do nível daquele diálogo entre os personagens de Anthony Hopkins e Debra Winger ela poeta, ele professor e prosador, em Terra das Sombras/Shadowlands, de Richard Attenborough (1993):
Ele: – “I was thinking about you… and suddenly… there you were.”
Ela: – “No. Here I am. Present tense. Present and tense.”
O filme dosa o humor com o tema sério dos preconceitos
Engraçado a maior parte do tempo, com momentos absolutamente hilariantes, Corazón de León tem, é claro, um lado sério – a questão óbvia dos estereótipos que criamos, os preconceitos que descobrimos no fundo ter, mesmo nos achando tão genialmente de mente aberta, progressista, pra frente.
O autor e diretor Carnevale soube dosar com perfeição a graça, a leveza, e a abordagem do tema sério, pesado.
A Academia argentina indicou o filme em três categorias: Julieta Díaz como melhor atriz, Guillermo Francella como melhor ator e Jorgelina Aruzzi como melhor coadjuvante. A maravilhosa Julieta Díaz levou o prêmio.
Em uma demonstração cabal de como é magnífica essa idéia original de Marcos Carnevale e Betiana Blum, já houve pelo menos cinco refilmagens da história! Cinco, que eu saiba, até 2001! Eis os nomes e os países das produções:
Corazón de León, Colômbia, 2015;
Um Amor à Altura/Un Homme à la Hauter, França, 2016;
El Gran León, Peru, 2018;
Mi Pequeño Gran Hombre, México, 2018;
Amor Sob Medida, Brasil, 2021.
O filme brasileiro tem Juliana Paes e Leandro Hassum nos papéis principais, e foi dirigido por Ale McHaddo.
Alguns detalhinhos:
Em dois momentos importantes da história, uma voz extremamente parecida com a de Elvis canta “Always on my mind”, aquela canção que fica na tênue fronteira que às vezes separa o sublime do brega, e que, estranhamente, Elvis não botou entre os mais vendidos. (A canção chegaria ao 5º lugar da Billboard em 1982 na gravação de Willie Nelson.)
São muito belas, as duas sequências em que a gente ouve a voz idêntica à de Elvis cantando “Always on my mind”. Mas, nos créditos finais, se diz que quem canta é John McInerny. Aprendo agora que essa pessoa é um ator-cantor de voz fascinantemente parecida com a de Elvis. Provavelmente o uso da gravação dele, em vez da original, se deve ao custo de uma e de outra.
Quem interpreta Toto, o filho de León, é Nicolás Francella, filho de Guillermo Francella. Pai e filho no filme, pai e filho na vida real.
Corazón de León teve uma participação de empresa brasileira – é, a rigor, uma co-produção Argentina-Brasil. Todo mundo sai ganhando com isso, porque, para agradar aos sócios, Carnevale botou na história sequências passadas no Rio de Janeiro, e o Rio de Janeiro continua lindo em janeiro, fevereiro e março e sempre. São maravilhosas. A sequência bem ao final da narrativa, com tomadas aéreas do Rio de Janeiro, é de uma beleza visual absurda.
Atenção, atenção: o que vem a seguir é spoiler. Spoiler!
E, finalmente, uma informação que pode funcionar como um spoiler. Eu vi o filme já sabendo disso, porque a moça simpaticíssima da locadora me contou, mas não sei, talvez preferisse não saber.
Só deve ler o que vem abaixo quem já viu o filme – ou quem não gosta de ser surpreendido ao ver um filme.
Julieta Díaz, esse monumento, essa maravilha da natureza, tem 1 metro e 68. Guillermo Francella tem 1 metro e 72.
Não me perguntem como conseguiram fazer León parecer aquele anãozinho ao lado da graaaande Ivana. Não me interesso em saber como são feitos os efeitos especiais. Só posso garantir é que eles foram feitos com imenso engenho: o espectador tem a mais absoluta certeza de que Ivana é alta e León, um anãozinho.
Anotação em outubro de 2014
Coração de Leão – O Amor Não Tem Tamanho/Corazón de León
De Marcos Carnevale, Argentina-Brasil, 2013
Com Guillermo Francella (León), Julieta Díaz (Ivana),
e Mauricio Dayub (Diego), Jorgelina Aruzzi (Corina), Nora Cárpena (Adriana, a mãe de Ivana), Nicolás Francella (Toto, o filho de León), María Nela Sinisterra (Glenda), Claudia Fontán (Sabrina, a mãe de Toto)
Roteiro Marcos Carnevale
Baseado em história de Marcos Carnevale e Betiana Blum
Fotografia Horacio Maira
Música Emilio Kauderer
Montagem Ariel Frajnd
Produção Aleph Media, Argentina Sono Film S.A.C.I., Claudio Corbelli Producciones, Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA).
Cor, 94 min
***1/2
Boa resenha, mas você critica os estereótipos e depois usa o termo “anãozinho”?
Finalmente assisti a este “Corazón de León”. Desde que li sobre ele aqui fiquei com vontade de ver, e depois de uma semana estranha e meio down, pensei que ele poderia levantar meu astral; foi uma decisão acertada.
Gostei bastante, me diverti. Fiquei o tempo todo tentando me colocar no lugar da Ivana, tentando ver as qualidades do León, inclusive físicas (dentes bonitos, por exemplo; detesto dentes mal cuidados, e uma pinta de Ricardo Darín), além do caráter, claro, mas isso só foi mostrado depois; mas não é fácil se despir de preconceitos.
Achei o filho parecidíssimo com ele, e pensei que haviam escolhido super bem o ator. Só agora relendo seu texto, relembrei que são pai e filho na vida real. O moço é gatinho, com uma cara típica de argentino (eles são bonitos, é preciso admitir; os uruguaios também são, e ainda não decidi qual dos dois países leva, no quesito beleza. he); pai e filho têm um super sotaque de Bue.
Quando li que Guillermo Francella havia feito “Rudo e Cursi” e “O Segredos dos Seus Olhos”, fiquei tentando puxar pela memória, pois não me lembrava de nenhum anão nesses filmes… Não lembro dele em “O Segredo….”, mas em “Rudo e Cursi” acho que ele era o cara argentino, que foi agente dos rapazes no começo, não?
Gostei de quase todos os personagens, o ex-marido da Ivana é o único mala, mas pelo menos os atores estão bem, no geral, e os principais estão ótimos. Interessante ela usar salto alto o tempo todo, talvez uma sacada do diretor para deixar mais evidente a diferença de altura, ou para mostrar que mesmo se relacionando com um anão, ela não deixaria de usar salto.
Enquanto assistia, lembrei de um fato que ocorreu comigo ano passado: fui a um jantar, fazer companhia a uma amiga que queria conhecer pessoalmente um cara que ela havia conhecido por um aplicativo de encontros pelo celular (mereço isso?). Não era um encontro amoroso, do contrário eu não teria ido, óbvio, ela avisou o cara que eu ia junto etc, e acho que quis companhia apenas por precaução. Mas ela dava claros sinais de que estava a fim dele, sinais precipitados, na minha opinião de pessoa pé no chão; ela dizia que eles haviam conversado por chat, e tinha sido a melhor conversa da vida dela (oi?).
Buenas, nós chegamos poucos minutos antes do horário marcado, e logo que ele entrou, a primeira coisa que eu falei foi: “Ele é baixo, né?”. Ela não notou na hora, mas ele era claramente muito baixo, muito mais baixo que eu, que não me considero alta (1,68m não é ser alta, embora eu seja acima da média das mulheres que conheço). Mas não era eu quem estava a fim dele, então whatever. Eu achei tudo muito chato, o cara era um folgado que enfiou a mão no meu prato sem nem me conhecer (detesto dividir comida – “Joey doesn’t share food!”), e no fim o achei um babaca, embora tenha uns pontos positivos (talvez ele fale babaquices pra se auto-afirmar, sabe Deus). Eles saíram outra vez sozinhos, mas ela acabou desistindo. Enfim, me lembrei disso por causa da questão da altura. Nunca me senti atraída por homens baixos (e aqui estou falando de baixos “normais”); talvez por meu pai ser alto (Freud explica). Claro que não vou deixar de gostar de um cara por ele ser baixo, mas é algo que faz pensar e rever nossos conceitos e preconceitos.
Só acho que pra encarar uma relação como a do filme é necessário que a outra pessoa tenha a auto-estima muito boa e elevada, e que seja resolvida, pois ela também passará por situações onde vai ter que lutar ou confrontar-se com outros (como Ivana no restaurante), e sinceramente, do fundo do meu coraçãozinho, não sei se é algo que eu conseguiria fazer, embora eu deteste injustiça e preconceito. Quando eu via cenas dos dois juntos, ela sentada aparentando ser mais alta que ele em pé, como você falou, ou os dois em pé (e aí ela parecia a mãe dele, parecia que estava com uma criança) era desconcertante. Não vou mentir e falar que dever ser fácil, porque acho que não é. Mas pode ser como o León falou uma hora, que só era possível entender com o coração (e o meu anda peludo ultimamente), e apontando para a própria cabeça, completou: “Aqui está toda a porcaria que enfiaram na sua cabeça desde criança, Ivana”. Pode ser. E como você bem disse: ” ‘Corazón de León’ tem, é claro, um lado sério – a questão óbvia dos estereótipos que criamos, os preconceitos que descobrimos no fundo ter, mesmo nos achando tão genialmente de mente aberta, progressista, pra frente.” É sério, é triste, e não deixa de ser um tapa na cara.
Sobre “Always on my mind”, não lembrava que não é o Elvis quem a canta no filme. Essa música me transporta para o final dos anos 1980, quando ela foi regravada pela dupla britânica Pet Shop Boys, em ritmo dance/eletrônico (corram para as colinas), em voga na época. Acho que pelo sucesso que fez, a original voltou a ser tocada também, embora eu não tenha certeza disso, mas a original (ou o cover, que acho que foi o que John McInerny fez) mexe comigo igualmente, ou até mais. Era a época dos bailinhos nas casas dos amigos, de dançar juntinho, então pode ser que ela tenha voltado cantada pelo Elvis mesmo.
PS: tenho um amigo que se chama León, e ele disse que detestava o nome, que demorou a se acostumar. Não esqueço dele me dizendo: “León, como el animal”. Para mim é indiferente, já que espanhol não é minha língua-mãe; além do mais, adoro leões.
Meu comentário ficou gigante, mas lembrei de uma coisa: uma vez li em um site o comentário de uma mulher americana que encontrou o ator Michael J. Fox numa cafeteria. Ela disse que eles acabaram conversando por um tempo, e que ele foi educado e gentil (não foi uma paquera, foi apenas bate-papo). E que foi a primeira vez que um homem baixo (ou mais baixo que ela, se não me engano ela é alta) foi educado, pois os outros caras baixos que ela havia conhecido tinham sido rudes ou agressivos, dando a entender que muitas vezes (não sempre, não quero generalizar) homens baixos são grosseiros com as mulheres para se “defender” ou auto-afirmar. Não era o caso do León do filme, mas em parte foi o caso do cara do encontro da minha amiga. Food for thought. Michael J Fox é bem baixo, não lembro quanto, pela tela a gente percebe, mas existe um site americano só com a altura dos atores (sim, já andei fuçando a altura de alguns, e foi lá que li sobre isso).
Coisa boa neste meu site são os seus comentários, Jussara querida.
Abração.
Sérgio
Sobre a pergunta feita por Adriel Amaral, a respeito de estereótipos e palavras como “anãozinho”, respondi no 50 Anos de Textos: http://50anosdetextos.com.br/2015/perdao-mas-afrodescendente-e-a-puta-que-pariu/
Sérgio
Achei seu site no Google porque queria saber mais sobre o filme Corazon de Leon.
Vim aqui só pra dizer que “estoy encantada” com o filme, já vi várias vezes e não canso. É um filme gostoso de assistir, que nos faz rir, pensar e chorar de emoção.
Enfim, adorei tudo nesse filme.
Filme e legal
Ameeeei esse filme ❤ estava procurando uma critica que demonstrasse tudo isso que senti ao assisti-lo e finalmente encontrei a sua página. Que obra de arte! Que maravilhoso! As expressões do León são as melhores, nao tem como não se encantar por ele. Acredito que abordou de uma maneira bem simples e sem frescuras o preconceito que ainda paira na sociedade com relação à pessoas de baixa estatura, principalmente se for homem. Amei de verdade e não me canso de assistir!
Estou encantada com os comentários do filme. Eu também me apaixonei por Coração de Leão! Acho que assisti umas trinta vezes!!!! Delicado, sem apelação, inclusive na cena de amor de Leon e Ivana. E trata de um assunto serio porém com muita delicadeza. A partir desse filme procurei outros trabalhos de Guillermo Francella. Estou “apaixonada”por ele! Lindo, elegante, sensivel, delicado!!!!
Você descreveu o filme exatamente como eu vejo!!
Pô, Cláudia… Será que você imagina como faz bem para um pobre escriba receber uma mensagem assim, tão gentil, tão generosa?
Muitíssimo obrigado! Mesmo!
Sim, delicadeza… Estamos tão necessitados disso, especialmente nos dias de hoje, neste país…
Um grande abraço, Cláudia!
Sérgio
Que bacana você responder e tão rápido, não esperava, de verdade. Fico feliz que uma pessoa com tanto conhecimento em filmes tenha descrito com tamanha precisão, exatamente o que senti em Coração de Leão. Guillermo Francella é um excelente ator. tenho visto algumas coisas dele. E Julieta Diaz, sim, é uma mulher linda e com muito talento.
E falando mais sobre Guillermo Francella (Leon Godoy em Coração de Leão), outro filme que assisti com ele e que é extraordinário é Minha Obra Prima. Um filme sobre amizade verdadeira. Maravilhoso.