Como Você Sabe/How Do You Know é uma comedinha romântica assim-assim. Nada importante, nada memorável, mas boazinha, gostosinha.
James L. Brooks é um bom diretor. Consegue ser quase sempre o próprio autor das histórias que filma, algo nada comum no cinemão comercial de Hollywood. O livro 500 Movie Directors o define como “prolífico escritor, produtor e diretor de comédias de costume e dramas para a tela pequena e a tela grande”, que consegue “boas caracterizações dentro de elencos de vários personagens”, e lembra que ele já ganhou 19 prêmios Emmy, o Oscar da TV americana, e, no cinema, é um dos cinco únicos diretores que já ganharam os Oscars de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro para o mesmo filme.
Seu primeiro – e extraordinário sucesso – foi o dramalhão Laços de Ternura/Terms of Endearment, de 1983, que levou as estatuetas da Academia de melhor filme, melhor direção, melhor atriz para Shirley MacLaine, melhor ator coadjuvante para Jack Nicholson, e melhor roteiro – de autoria do próprio diretor. Em 1987, Nos Bastidores da Notícia/Broadcast News teve sete indicações ao Oscar.
Melhor é Impossível/As Good as it Gets, de 1997, deu a Jack Nicholson o Oscar de melhor ator e a Helen Hunt o de melhor atriz.
Neste Como Você Sabe, de 2001, Brooks volta a dirigir Jack Nicholson, mas o grande ator faz apenas, assim como em Laços de Ternura, um papel secundário. É um papel importante, o quarto mais importante da trama, mas é secundário. E Jack Nicholson exagera na persona de Jack Nicholson. Está quase tão grande, imenso, quanto Gérard Depardieu, e em algumas cenas, infelizmente, seu rosto faz lembrar o de Paulo Salim Maluf. Tadinho de Jack Nicholson.
Perder lugar na seleção de softball, para Lisa, é perder a razão de viver
A personagem central da história é Lisa (o papel de Reese Witherspoon). O filme começa com um pequeno intróito: um garotinho tenta lançar, com um bastão, uma bolinha de beisebol colocada em cima de uma pequena torre. É ruim, o garoto, quase tão ruim quanto eu era nas peladas no meu tempo de menino na Serra, em Belo Horizonte, e seu bastão atinge não a bola, mas a torre. Tenta de novo – novo fracasso. Aí uma garotinha que o observava pega o bastão e – tcham! – acerta de primeira. Se estivesse numa partida, faria um home run, embora eu não saiba bem o que seja um home run.
A garotinha, claro, é Lisa, que reaparece já adulta como a grande jogadora da seleção americana de softball, ídolo da torcida, a que leva a seleção a vitórias na Olimpíada.
Péra lá – mas é beisebol ou softball?
Pois é. Na minha santa ignorância, passei o filme todo achando que Lisa fosse uma jogadora de beisebol. No IMDb, vejo que é jogadora de softball – que, segundo a Wikipedia, é uma variação do beisebol, jogada com uma bola mais larga num campo menor.
O técnico da seleção está para anunciar o nome das jogadoras convocadas para os jogos seguintes, e, numa reunião com suas auxiliares, dá a entender que Lisa, apesar de o número 1 da equipe, o Pelé, o Neimar, não estará entre as convocadas, por causa da idade – está com 31 anos, e o técnico parece ser daquele tipo que gosta de reinventar a roda.
Será, evidentemente, um baque, uma tragédia: Lisa viveu a vida inteira para o softball. Tirá-la da seleção é tirar sua razão de viver.
Os primeiros contatos entre Lisa e George são fracassos abissais
Para simplificar a apresentação da trama, digo curto e grosso que Lisa se verá de repente sem sua razão de viver mas envolvida em um triângulo amoroso. Será disputada por dois homens, dois sujeitos que não poderiam ser mais díspares, antíteses um do outro. De um lado, Matty (Owen Wilson, com aquela cara de pateta dele que serve perfeitamente para compor o personagem), um dos maiores astros do beisebol profissional americano, e portanto um dos atletas mais bem pagos do país. Mora num edifício de milionários em Manhattan, e é um narcisista comedor inveterado. Traça todo rabo de saia que lhe aparece à frente. Nunca tinha, em sua gloriosa vida de cabeça de vento, se envolvido a sério com ninguém – mas não é que com Lisa ele descobre que existe um troço chamado paixão?
Do outro lado do triângulo há George (Paul Rudd), presidente de uma grande empresa criada por seu pai, Charles (o papel de Jack Nicholson). A grande empresa é gerida e controlada por Charles; George é apenas um bem intencionado, trabalhador, honesto e inocente testa de ferro do pai.
O pai aprontou uma manobra ilegal – e a procuradoria dos United States of America abre um processo contra o presidente nominal da empresa, o pobre George.
Acusado de um crime financeiro que não cometeu, do qual não sabia nada, nosso herói é aconselhado pelo pai e pelos advogados da empresa a renunciar ao cargo. Como terá ele mesmo que pagar a sua própria defesa, de repente tem que vender o belo apartamento em que vive para pagar os honorários milionários dos advogados. Perde o emprego e a casa, e, por consequência, também a namorada.
Os primeiros contatos entre George e Lisa são fracassos abissais, memoráveis. George fica fascinado por ela, mas Lisa o considera um completo idiota, um sujeito inteiramente desajeitado.
Paralelamente, o que era para ser um encontro com trepadas ocasionais entre a desportista amadora agora sem time e o desportista profissional bilionário começa a ficar mais sério.
Brooks sabe jogar muito bem com essas imagens arquetipais do atleta tosco, machista, que até se esforça para ser menos tosco e machista, e do homem desajeitado, à primeira vista desagradável, mas que tem coração enorme e sabe ouvir as mulheres.
Como Você Sabe tem ótimas piadas, situações engraçadas, diálogos afiados, faz uma gostosa referência a Kramer x Kramer, e há boas interpretações, especialmente de Reese Witherspoon e Paul Rudd.
É isso aí. Não é dos melhores filmes de James L. Brooks, mas tem mais qualidades que muita comedinha romântica que Hollywood produz.
Anotação em dezembro de 2012
Como Você Sabe/How Do You Know
De James L. Brooks, EUA, 2010.
Com Reese Witherspoon (Lisa), Paul Rudd (George), Owen Wilson (Matty), Jack Nicholson (Charles),
e Kathryn Hahn (Annie), Mark Linn-Baker (Ron), Lenny Venito (Al), Molly Price (técnica Sally), Ron McLarty (o advogado de George)
Argumento e roteiro James L. Brooks
Fotografia Janusz Kaminski
Música Hans Zimmer
Montagem Richard Marks e Tracey Wadmore-Smith
Produção Columbia Pictures, Gracie Films, Road Rebel. DVD Sony Pictures.
Cor, 121 min
**1/2
Realmente, não há muito para se falar deste filme. Voce já disse tudo e, um pouco mais ainda. Caramba, também não consigo gostar desse Owen Wilson. Já da Reese… ela é que dá razão à este filme (ao menos para mim).
Gosto muito dessa Atriz, aliás, muito bôa atriz.
Dois ótimos desempenhos dela que me vêm logo à mente são “Johnny e June” e “Feira das Vaidades” .
Vale lembrar que o filme que colocaste hoje no “50 anos”, tu fazes uma referência à ele, neste aqui. Bem no começo logo abaixo da primeira foto.
Um abraço !!