A Filha da Minha Mulher é um dos filmes mais tristes que já foram feitos. É de uma tristeza acachapante, densa, pegajosa.
Começa com um tom de melancolia, num ambiente rico: o protagonista, Rémi (Patrick Dewaere), está tocando piano em um restaurante imenso de hotel novo de muitas estrelas. Veste black-tie e se dirige diretamente ao espectador para contar sua história.
O texto que o diretor, autor e roteirista Bertrand Blier escreveu para Patrick Dewaere começar a narrativa é de um brilho impressionante.
Com menos de dez minutos de filme, acontece uma tragédia.
Quando estamos já com 40 minutos de filme, inicia-se uma nova tragédia – um processo doloroso que vai durar até o fim.
À dor moral vão se acrescentar agruras materiais. Rémi e sua enteada Marion (Ariel Besse) serão forçados a deixar o amplo, belo apartamento em que viviam no início da narrativa por uma casa num imóvel condenado, cheirando a mofo. Duas pessoas condenadas à infelicidade numa casa condenada.
O fato de às vezes Remi colocar um black-tie para fazer um ou outro serviço ao piano para entreter festas de gente que não está nem aí para a música é apenas uma triste ironia a mais.
E o fato de Patrick Dewaere – um ator que teve para gerações de franceses a importância de um James Dean – ter se matado com um tiro de rifle no ano seguinte ao do lançamento do filme, em 1982, aos 35 anos de idade e no auge da fama, só aumenta a tristeza que emana do filme.
Ariel Besse tinha 16 anos quando interpretou Marion, que na história tinha 14. Nunca havia atuado antes – e atua maravilhosamente. Faria apenas mais dois filmes, os dois em 1982, o ano da morte de Patrick Dewaere. Em 2004 participaria de uma série da TV francesa – e só.
“Quem sabe o que se passa na cabeça de um pianista enquanto toca…”
Na primeira seqüência, após os créditos iniciais, a câmara passeia pelo grande restaurante de hotel novo, moderno – aquela coisa asséptica, igual em qualquer lugar do mundo, sem nenhuma característica própria. Rémi, o pianista, fala com a câmara, com os espectadores. Fala devagar, com calma, enquanto toca. Sua fala é recheada por pausas.
– “Naquela época eu trabalha como pianista, num restaurante elegante, internacional, no primeiro andar de um daqueles altos hotéis com uma vista maravilhosa para a capital. Podia ter sido em Montreal, ou Zurique, ou em qualquer outro lugar. Haveria a mesma proporção de americanos, japoneses, sauditas. Com os mesmos olhos cansados de contar dólares.
– “Poderia tocar qualquer coisa para eles – Gershwin, Chopin, Art Tastum… Eles não escutavam. Só queriam algo não muito barulhento, um pouco de atmosfera musical, suave, para acompanhar o St. Émilion e coquetéis de camarão. Então tocava para mim mesmo. Velhas músicas de Bud Powell, tentando acertar o ritmo, sem jamais conseguir, porque nunca consegui fazer nada.
– “Tinha dado a mim mesmo até os 30 anos para conseguir realizar alguma coisa na vida, e tinha 29 anos e meio. Me sobravam seis meses. Enquanto esperava, ganhava 250 francos por noite e uma refeição, mais tudo o que conseguisse beber. Era feliz. O único problema é que tinha acabado de ser contratado, e recusavam-se a me dar um adiantamento. Mal conseguia esperar pelo fim de semana. E, no fim da noite, a minha cama.
– “Por volta da meia-noite, começava a esvaziar. Em geral sobravam alguns casais retardatários, os apaixonados, que eu tinha de conduzir a um porto seguro com meu teclado mágico.
– “Quem sabe o que se passa na cabeça de um pianista enquanto toca, enquanto bebe seu champanhe. Talvez ele também esteja apaixonado. Ou triste. Porque sua mulher o espera. Ou porque sua mulher já não o espera. Porque acabou de deixá-lo. Ou está prestes a deixá-lo.”
A profissão de Martine não admite a passagem dos anos, e os anos se passaram
Quando a voz de Rémi-Patrick Dewaere está dizendo as últimas palavras, a tomada dele ao piano se funde com a tomada seguinte – o rosto de Nicole Garcia, em close-up.
Martine-Nicole Garcia se maquia enquanto Rémi, recém-acordado, pergunta onde ela vai e tenta iniciar uma discussão sobre a relação.
Ao longo do diálogo dos dois, que é curto, o espectador perceberá que Martine é modelo, mas já teve dias melhores; a profissão que ela escolheu é perversa, não admite a passagem dos anos, e anos se passaram; Martine é mais velha que Rémi, seu segundo marido, embora não tenham assinado papéis. Veremos que estão juntos há oito anos; a filha de Martine do seu primeiro casamento, Marion, está com 14, portanto Rémi é o padrasto dela – o beau-père do título original – desde que a menina tinha seis anos.
Enquanto Martine se maquia e se veste para uma sessão de fotos, um amargurado Rémi diz a ela frases que fazem lembrar às avessas a canção “Ela é dançarina”, que Chico Buarque lançaria naquele mesmo ano de 1981 no seu disco Almanaque:
– “Quando chego em casa você está dormindo. Quando você acorda estou dormindo. Quando acordo você sai para ver fotógrafos. Mal tenho tempo de ver você se vestindo. Nunca vejo você tirando a roupa.”
A tentativa de discutir a relação acaba quando é preciso tratar de aspectos mais práticos. O carro está com gasolina?, pergunta Martine. Rémi diz que não sabe, Martine pergunta se ele tem algum dinheiro. Ele procura uns poucos trocados nos bolsos. O carro, um Fusca velhinho, não pega, e Rémi tem que empurrá-lo.
Momentos depois – estamos com exatos dez minutos de filme -, Martine bate o carro e morre.
A enteada quer viver com o padrasto, não quer saber do pai biológico
Se a relação do casal estava desgastada, arrastada, a caminho do brejo final, a relação entre a filha de Martine e seu padrasto era boa.
Quando, finalmente, depois de longa hesitação, Remi conta para Marion que a mãe dela está morta, a garota diz que quer continuar a viver com ele; não quer viver com o pai.
Remi promete que assim será – mas, naturalmente, procura Charly (interpretado por Maurice Ronet, à esquerda na foto abaixo) para dar a notícia da morte da mulher que ele tirou do marido.
Charly cuida de uma boate, trabalha à noite – e anda bebendo muito. Mas, após um momento de hesitação, não tem dúvidas: diz que Marion ficará com ele.
Marion se sente traída por Remi quando o pai vai buscá-la. Afinal, ele havia prometido ficar com ela. Mas não tem outro jeito, e vai com o pai biológico.
Duas semanas depois está de volta ao amplo apartamento em que Remi agora vive sozinho. O pai aparece para pegá-la de volta, mas ela diz, com absoluta firmeza, que continuará fugindo da casa dele e voltando para a casa do padastro.
Charly cede. Pede ao padrasto que cuide bem da menina.
O personagem de Patrick Dewaere é parecido com o de Maurice Ronet em Le Feu Follet
É uma grande coincidência, uma trapaça do destino, que o ator que interpreta Charly, o pai de Marion, seja Maurice Ronet. Dezoito anos antes, em 1963, Maurice Ronet havia interpretado Alain Leroy, o protagonista de Le Feu Follet, de Louis Malle, no Brasil 30 Anos Esta Noite.
Prestes a completar 30 anos, Alain Leroy, um homem perdido na vida, planeja acabar com ela.
Em A Filha da Minha Mulher, o protagonista Rémi é tão perdido na vida quanto o Alain Leroy de Le Feu Follet.
Dezoito anos depois de 30 Anos Esta Noite, Maurice Ronet continuava com sua fina estampa, mas esta já demonstrava bem o passar do tempo. E Ronet conseguiu colocar na sua expressão facial o cansaço de um homem de meia idade não realizado e corroído pelo alcoolismo.
Patrick Dewaere, um ano antes de realizar o gesto de Alain Leroy, está soberbo como este pobre Rémi, um homem frágil, inseguro sobre seu talento como pianista, que não sabe o que fazer para ganhar a vida, bem às vésperas de seus 30 anos de idade.
Remi é um homem frágil, inseguro. Mas não é, de forma alguma, um canalha
O Rémi que o autor e diretor Bertrand Blier e o ator Patrick Dewaere constroem é, sim, um homem frágil, inseguro. Mas não é um canalha, um filho da puta.
Com a metade da idade do padrasto, Marion, ao contrário dele, é uma adolescente firme, forte, decidida, que sabe o que quer.
Quando o filme está com exatos 40 minutos, ela conta para Rémi que sente atração por ele.
Spoilers: as sinopses todas revelam o que não deveria ser revelado
Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4 ao filme, e, como provavelmente a imensa maior parte das pessoas que escreveram sobre o filme, faz a revelação: “Pianista Dewaere é seduzido por sua determinada enteada, uma criança-mulher de 14 anos de idade (Besse) depois da morte da mãe dela. Cuidadoso drama-comédia é manejado sensivelmente, não abusivamente, pelo diretor Blier”.
Não gosto de adiantar fatos que acontecem nas tramas após os 20 minutos iniciais. Tendo a considerar que é spoiler, estraga-prazer. E fiquei bastante em dúvida se deveria revelar o que se passa quando o filme está com 40 minutos. Mas a questão é que isso é o âmago de tudo.
A sinopse de apenas uma frase do IMDb, por exemplo, é esta: “Depois que sua mãe morre, Marion, de 14 anos de idade, se apaixona por seu padrasto, Rémi”.
O Cinéguide, exemplo de síntese, diz apenas: “Uma adolescente de 14 anos apaixona-se por seu padrasto”.
O Guide des Films de Jean Toulard, que classifica com estrelas apenas uma pequena parte dos 18 mil títulos de que trata, dá 3 estrelas ao de Bertrand Blier:
“Rémi é um músico à deriva, depois que Martine, sua companheira, morre em um acidente. Marion, 14 anos, filha de Martine, prefere permanecer com Rémi em vez de ir viver com Charly, seu pai de verdade. Ela deseja Rémi, e, apesar…”
Aqui a sinopse do guia do mestre Tulard avança bem mais do que eu acho que seja razoável. Praticamente expõe a última seqüência do filme – uma sequência especialmente triste, cruel. Pulo para o segundo parágrafo, onde são feitas as considerações:
“Ela poderia ser escabrosa, mas a câmara permanece discreta; o verdadeiro tema do filme não é uma ligação escandalosa entre uma ninfeta e um adulto, mas a covardia e a fuga de suas responsabilidades de um homem imaturo. Partrick Dewaere se sobressai ao compor esse ser terno, hesitante, desarmado diante da vida, do amor e das mulheres. Um filme delicado, em nada provocativo, que permanece um triunfo.”
É, o Guide des Films de Jean Tulard é de fato uma maravilha.
“Ela poderia ser escabrosas, mas a câmara permanece discreta.” Beleza de frase. Quer dizer a mesma coisa que a frase de Maltin – “Cuidadoso drama-comédia é manejado sensivelmente, não abusivamente, pelo diretor Blier” –, mas que maravilhosa construção.
“Um filme delicado, em nada provocativo, que permanece um triunfo.” Uma definição mais que perfeita.
Não concordo com a definição de Maltin de que seja um drama-comédia. Não há comédia alguma em A Filha da Minha Mulher – é drama, é a mais pura tragédia. Mas o que ele diz, o mesmo que o guia de Tulard, é a mais pura verdade. O tema que poderia ser tratado de forma abusiva, apelativa, é apresentado com imensa sensibilidade – e discrição. A câmara de Blier, a abordagem, a visão do filme de fato é extremamente, absolutamente discreta.
Um homem imaturo, que foge de suas responsabilidades
E, na minha opinião, o Guide de Tulard acerta no alvo quando diz que o verdadeiro tema do filme é a imaturidade do personagem central, o fato de que ele foge de suas responsabilidades. Foge até mesmo da responsabilidade de trabalhar – enquanto Marion se desdobra trabalhando até tarde da noite como baby sitter, Rémi se refugia em sua fraqueza, sua solidão, ou, no máximo, em jam-sessions com o único grande amigo, Nicolas (Maurice Risch), em vez de procurar trabalho.
Haverá quem veja paralelos entre essa história criada por Bertrand Blier – primeiro como um romance, em seguida adaptado por ele mesmo para o cinema – e a de Lolita, de Vladimir Nabokov, que Stanley Kubrick filmou em 1962. (Nem gosto de lembrar que Adrian Lyne fez uma refilmagem em 1997. Para que, meu Deus do céu e também da terra, refilmar uma história que já havia sido filmada por Stanley Kubrick?)
Sim, de um modo amplo, genérico, há paralelos – um homem de mais idade, uma ninfeta. Mas há distâncias colossais entre uma história e outra, me parece. O Humbert Humbert de Nabokov acaba se casando com Charlotte Haze porque quer ficar perto de Lolita, a filha dela; seu interesse central sempre foi a ninfeta. Já a história de Rémi é totalmente diferente; ele foi – é o que mostra com clareza o filme – muito apaixonado por Martine, desde que Marion era apenas uma garotinha de 6 anos de idade. Tornou-se um bom padrasto da garota, a tratava bem, como se ela fosse sua própria filha.
E é Marion que se apaixona pelo padrasto, que se declara, que se oferece. Marion, aos 14 anos, é mais firme e decidida na vida do que Rémi. E ele resiste, e resiste muito.
Ao rever agora essa beleza de filme triste, me lembrei não de Lolita, mas da história real de Woody Allen e Soon-Yi Previn. Soon-Yi era a filha adotiva de Mia Farrow e do maestro Andre Previn, quando Woody Allen se casou com Mia. Woody Allen não havia criado Soon-Yi, não havia sido a rigor seu padrasto. Mia Farrow e boa parte da imprensa caíram de pau em Woody Allen, como se houvesse ali um incesto. Não houve incesto algum – e o casamento dos dois, ocorrido em 1997, já dura 15 anos. Mais do que duraram os casamentos de Woody Allen com Louise Lasser, Diane Keaton e Mia Farrow.
Em participações especiais, três maravilhosas atrizes: Nicole, Macha e Nathalie
Um detalhe que me impressionou ao rever agora A Filha da Minha Mulher foi a presença de três grandes figuras do cinema francês em papéis pequenos, mínimos: além de Nicole Garcia, já citada, que aparece na tela por não mais que uns 3 minutos, fazem participações especiais Macha Méril e Nathalie Baye.
Macha Méril, mulher de beleza extraordinária, fez filmes importantíssimos nos anos 1960. Trabalhou com André Cayatte, Jean-Luc Godard, Luis Buñuel, Rainer Werner Fassbinder, Claude Lelouch, István Szabó. Aqui ela faz um pequeno papel, praticamente uma homenagem do diretor Blier a ela – a de uma dona de casa rica que contrata Rémi para tocar piano na festa de sua filha adolescente. Rémi está tocando seu jazz suave quando de repente um garoto bota uma Donna Summer no aparelho de som.
Nathalie Baye começou a carreira como assistente de François Truffaut em A Noite Americana, de 1973 – no qual também teve um pequeno papel. Virou uma das grandes atrizes francesas a partir daí. Em Beau-père, ela faz o papel de Charlotte, uma rica divorciada na casa de quem Marion trabalha como baby-sitter. Charlotte é bem mais que apenas isso no filme, mas falar mais dela seria spoiler.
Quanto à maravilhosa Nicole Garcia… Atriz soberba em filmes de Lelouch, Resnais, transformou-se em soberba realizadora de suas próprias obras, a partir de 1990; seus filmes Place Vendôme (1998) e O Adversário (2002) são importantes, marcantes.
E um último detalhinho. Nestas anotações, costumo volta e meia implicar com os exibidores brasileiros por inventarem títulos muito diferentes dos originais, às vezes ridículos (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), às vezes melodramáticos demais (Os Brutos Também Amam, Amar é Sofrer, Fogueira da Paixão).
Pois bem: A Filha da Minha Mulher, ao contrário, me parece uma beleza de título. Não teria sentido a tradução literal: padrasto, assim como madrasta, é uma palavra feia. A Filha da Minha Mulher é uma tradução acertada, próxima do original, e bela.
Esta maravilha de filme bem que merecia.
Anotação em dezembro de 2012
A Filha da Minha Mulher/Beau-Père
De Bertrand Blier, França, 1981
Com Patrick Dewaere (Rémi), Ariel Besse (Marion)
e Maurice Ronet (Charly), Nicole Garcia (Martine), Nathalie Baye (Charlotte), Maurice Risch (Nicolas), Genevieve (Simone), Macha Méril (dona da casa do aniversário)
Roteiro Bertrand Blier
Baseado no romance de sua autoria
Fotografia Sacha Vierny
Música Philippe Sarde
Montagem Claudine Merlin
Produção Sara Films, Antenne 2. DVD Lume Filmes.
Cor, 120 min.
***1/2
Assisti nesta madrugada. Gostei muito também.
De fato, um filme muito bonito e ao mesmo tempo, bem triste.
Ele de fato não era um mau sujeito, ao contrário, era carinhoso, gostava dela como filha, não tinha nenhuma má intenção com ela e lutou para resistir aos encantos dela o quanto pôde, até o momento em que de tanto ela se insinuar, ele “cansou de ser herói”.
Em uma das investidas ela diz para ele:
“Disse-me prá procurar um substituto,estou à procura, com bôa música e olhos fechados posso fingir. Vê esta calça, bem apertada e com um cinto? Este cinto nunca se abre. Tudo abaixo do cinto é território privado e o dono exclusivo deste teritório… é voce.
Esperamos sua visita”.
Era difícil resistir.
Ela era forte, decicida ,determinada, todo o oposto dele; imaturo, inseguro, fraco.
Não sei se entendi esta parte mas, ela lutou tanto para tê-lo e aceitou tão facilmente que ele ficasse com a Charlotte.
E confesso, com um pouco de vergonha, que não entendi o final com a menina olhando o Rémi chorando, abraçado na cama com sua mãe.
O título com certeza, perfeito para o filme.
OBS: o ” Lolita ” que eu vi Sergio, foi esse que voce cita de 1997 de Adrian Lyne, com o maravilhoso Jeremy Irons . Gostei muito . Vi sabendo que era a refilmagem do que foi feito pelo Kubrick e tentei vê-lo também mas não consegui até hoje.
Quando vejo o original é muito difícil que eu veja uma possível refilmagem. Mas, já aconteceu de eu ver a refilmagem sem saber do original, gostar e, não fazer questão de assisti-lo.
Um abraço !!
Ótimo texto. Eu já estava cansado de procurar informações sobre a garota mas, eu não sei se ela ficou nua no filme.
Gostei muito da sua análise, do seu rico texto sobre o filme. Primeiramente, só posso lhe dar os meus sinceros parabéns.
Devo admitir, com certa vergonha, que apenas recentemente comecei a assistir filmes mais alternativos, clássicos. Gosto muito de cinema, desde meus dez anos (1998), entretanto, sempre acompanhei o “comum” e o atual, produções em destaque. Mas a crise que assola o cinema moderno (a falta de criatividade, especialmente os roteiros, e o abuso da tecnologia visual) me fez buscar filmes do passado (e agradeço aos roteiristas preguiçosos atuais por isto kkk).
Sobre “A Filha da Minha Mulher”, creio não ter nada a acrescentar a seu belo texto. Os diálogos, e a trilha sonora do filme, são realmente quase poéticos, de uma sensibilidade única. Infelizmente, nos dias de hoje, muitas pessoas não serão capazes de assistir ao filme sem levar para o lado da “pedofilia” (que interpretei não existir aqui, pois ela é uma doença, que em quase todas as situações, é conectada ao abuso e a violência contra o mais jovem, o que não se encaixa no enredo do filme).
A personagem Marion é mesmo muito decidida e muito madura para sua idade, mas como qualquer pessoa, também mostra algumas atitudes de imaturidade (especialmente depois que Rémi diz que ela precisa viver como alguém de sua idade, se relacionar com pessoas de sua idade, e fica claro que ela faz isso – festejar até altas horas, fumar cigarros, beber álcool e beijar caras de sua idade – apenas para despertar ciúmes de Rémi, o que acaba funcionando).
Como o Ivan também citou, achei que Marion também abriu mão muito fácil, do que ela mais queria, que era viver um romance com Rémi. Suas últimas linhas no filme, para Rémi, passaram para mim a ideia de que para ela, o relacionamento dos dois era algo mais físico do que sentimental. Ficou um pouco confuso.
O final, embora satisfatório, me pareceu um tanto clichê, pois o que eu entendi, foi uma referência a Marion, que na metade do filme diz ter escutado os suspiros apaixonados da mãe, quando estava com Rémi, através das finas paredes do apartamento. A garotinha, filha de Charlotte, ao fazer o mesmo no final, sugeriu uma “nova enteada”, talvez, no futuro, uma repetição da história. Mas é algo subjetivo, talvez cada um tenha uma interpretação diferente deste final.
Sobre a nudez, comentada pelo Rafael, há nudez das nádegas e dos seios da atriz Ariel Besse.
Um abraço ao autor da matéria e a todos que visitam a página.