Um Certo Olhar/Snow Cake, co-produção Canadá-Inglaterra de 2006, é um drama sobre temas pesados: perda, culpa, arrependimento, e ainda doença – especificamente, autismo, um tipo de autismo diferente do mais conhecido, mas também grave, duro. Não é, no entanto, um filme pra baixo, depressivo.
Tem uma interpretação magistral de Sigourney Weaver, essa deusa que enfrentou aliens na trilogia iniciada por Alien, O Oitavo Passageiro, de Ridley Scott, fantasmas de todos os tipos nos dois Os Caça-Fantasmas, de Ivan Reitman, torturadores a mando de ditadura militar de direita em A Morte e a Donzela, de Roman Polanski, a doença agorafobia e um assassino serial em Copycat – A Vida Imita a Morte, de Jon Amiel, um marido que além de infiel é presidente da República em Dave – Presidente por um Dia, de novo de Ivan Reitman, e a ambição desmedida das grandes corporações e todos os perigos de um planeta longínquo em Avatar.
Aqui, seu personagem, Linda Freeman, convive eternamente com o autismo. Ela fala, se comunica com os outros – mas com grande dificuldade. Vive, a rigor, isolada do mundo, trancada em sua casa numa pequena cidade da região Norte de Ontario; tem mania de limpeza, uma coisa exacerbadíssima. Está sempre limpando a casa – e não consegue, de forma alguma, pegar o saco de lixo e levá-lo até a calçada no dia em que vai passar o caminhão de lixo.
Não é um poço de infelicidade, no entanto. Ao contrário: às vezes ri, acha graça de coisas que não têm graça alguma. Diverte-se imensamente pulando numa daqueles trampolins de lona elástica colocado no quintal de sua casa, e tem um imenso prazer em observar objetos luminosos e comer neve.
Repele, com violência, qualquer interferência dos vizinhos. Tem uma profunda antipatia pela vizinha do lado, Maggie (uma bela interpretação de Carrie-Anne Moss).
Quem cuida dela é sua filha, Vivienne (Emily Hampshire), uma garota aí de uns 20 e poucos anos, um tipo anticonvencional, meio hippie fora de época, que sonha em ser escritora.
A garota anticonvencional insiste em falar com o homem com cara de poucos amigos
Linda só vai aparecer na tela quando o filme está aí com uns 15 minutos.
O protagonista da história na verdade é Alex (o papel de Alan Rickman), um homem sobre o qual o espectador irá tendo informações aos poucos, ao longo de toda a narrativa. Quando o filme começa, Alex, inglês, está num avião rumo ao Canadá, segurando na mão uma série de fotos 3 x 4 iguais de um jovem.
Logo em seguida vemos Alex em um carro alugado, numa estrada de Ontario, o Estado central, mais desenvolvido e populoso do Canadá, onde, ao Sul, fica Toronto. Alex está viajando para longe de Toronto, para o Norte, para Winnipeg.
Pára numa lanchonete de beira de estrada; está sentado numa mesa, lendo um livro, quando surge a garota Vivienne, e pergunta se pode se sentar.
Alex tem cara de poucos amigos, e nenhuma disposição para conversar, mas Vivienne insiste. Pergunta se pode pegar uma carona com ele; está indo para sua cidadezinha, Wawa (boa parte do filme foi de fato rodada em Wawa).
Apesar de toda sua má vontade, Alex dá carona para Vivienne. Logo de cára, diz para ela que matou um homem. O espectador não sabe se é verdade, ou se ele apenas está estabelecendo uma couraça para manter a moça longe dele. Vivienne não se assusta.
Com uns 10, 12 minutos de filme, há um gravíssimo acidente com o carro de Alex.
O filho da roteirista tem esse tipo de autismo, e Sigourney copiou o jeito de uma portadora da doença
Me perguntei, enquanto via o filme, por que decidiram contar essa história amarga, pesada. Por que focalizar esse tipo específico de autismo. Me ocorreu que talvez a história se baseasse em algum fato real, algo que tivesse a ver com o diretor, Marc Evans.
O IMDb – ao qual fui assim que o filme terminou – conta que a autora da história e do roteiro, Angela Pell, tem um filho autista, e muitas das idiossincrasias de Linda, o personagem de Sigourney Weaver, são aquelas do próprio filho da escritora.
O IMDb diz ainda que Sigourney Weaver se preparou para o papel de Linda convivendo com uma mulher inglesa chamada Ros Blackburn; muitos dos maneirismos e características que a atriz imprimiu a seu personagem foram copiados dos de Ros, como o gosto pelo trampolim e objetos luminosos. Essa inglesa, acrescenta o IMDb, dá conferências sobre como é conviver com uma autista desse tipo.
O filme foi aceito para participar da competição oficial do Festival de Berlim, um dos mais importantes do mundo. Em entrevistas coletivas durante o Festival, Angela Pell contou que criou o personagem de Alex Hughes pensando em Alan Rickman. Alex, no roteiro original, chamava-se Alan. O ator aceitou o papel, e foi ele que sugeriu mudar o nome do personagem para Alex.
Foi também Rickman que sugeriu Sigourney Weaver para o papel fundamental de Linda. Os dois haviam trabalhado juntos em uma escrachadíssima comédia de ficção científica, Heróis Fora de Órbita/Galaxy Quest.
É um belo, sensível filme. E uma boa oportunidade de ver Sigourney Weaver em mais uma atuação brilhante.
Anotação em janeiro de 2012
Um Certo Olhar/Snow Cake
De Marc Evans, Canadá-Inglaterra, 2006.
Com Alan Rickman (Alex), Sigourney Weaver (Linda), Carrie-Anne Moss (Maggie), Emily Hampshire (Vivienne Freeman), James Allodi (Clyde)
Argumento e roteiro Angela Pell
Fotografia Steve Cosens
Música Broken Social Scene
Produção Revolution Films, Rhombus Media, 2 Entertain Video, Alliance Atlantis Communications, BBC Films. DVD Imagem Filmes.
Cor, 112 min
***
Estive a ver há uns dias e gostei embora no início tivesse ficado um tanto incomodado com o assunto do filme.
As deficiências mentais fazem-me uma grande angustia e não consigo reagir bem perante pessoas afectadas.
Mas depois passou, é um filme, não é a vida real e pronto.
Gostei muito de voltar a ver a Sigourney e também da actriz que faz o papel de Vivienne que não conhecia de lado nenhum.
Realmente, um filme tocante e muito bonito.
Belíssima atuação de Sigourney Weaver.
Também gostei muito da Carrie-Anne Moss.
Duas Atrizes lindíssimas.
Apesar do sucesso que obteve,só não consegui gostar da Sigourney , alías não foi dela e sim daqueles aliens da vida , gosmentos e nojentos.
Do mesmo modo que o José Luís , também gostei da Emily Hampshire/Viviene Freeman.
Bem ” desencanada ” e ” desenrolada ” .
Um abraço !!