Medianeras é uma obra-prima. Destas gemas raras, que soltam faíscas de brilho, assim como outras da mesma estirpe: Todas as Mulheres do Mundo, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, (500) Dias com Ela.
Antes de mais nada, Medianeras é um filme extremamente inteligente. O talento sobra, excede, sai pelo ladrão. O texto é um primor, uma delícia, puro encantamento. Quem gosta de texto, aprecia, curte, admira, vai babar. Quem vive de texto, também, da mesma forma – com o risco de, além de babar, ficar com uma certa inveja por não ter escrito aquilo.
Eu confesso que fiquei.
E esse Gustavo Taretto, filho da mãe, uniu seu texto brilhante a imagens à altura dele.
Texto brilhante, imagens estrondosamente belas, uma história interessante, gostosa, contada de forma esperta, pessoal, cheia de belas sacadinhas, invencionices, criativóis. Atores incrivelmente bem dirigidos, excelentes. Trilha sonora gostosa.
Precisa mais?
Aleluia, Gustavo Taretto!
Um dos filmes que foram mais fundo no retrato da solidão das pessoas das metrópoles
Medianeras – assim como aqueles três excelsos, augustos filmes citados no primeiro parágrafo, de autoria respectivamente do brasileiro Domingos Oliveira, do francês Jean-Pierre Jeunet e do americano Marc Webb – é uma prova cabal de que uma comedinha romântica pode perfeitamente ser genial. Tão obra de arte quanto um drama existencial de Ingmar Bergman, um épico de David Lean, um western de John Ford, um libelo anti-corrupção de Satyajit Ray.
É verdade que acaba também servindo para que a gente não tenha muita paciência com comedinhas românticas menores, destituídas de inteligência, inventividade, como tantas que o cinemão comercial produz ais borbotões, feito a indústria produz sabonete, tipo o francês Enfim Viúva, o espanhol Dieta Mediterrânea, o brasileiro A Mulher do Meu Amigo ou o americano Casa Comigo?, só para citar alguns exemplos.
Claro: Medianeras, assim como os filmes de Domingos, Jeunet e Marc Webb, é muito mais que uma comedinha romântica. É comedinha romântica, sim – mas é mais.
Dos filmes que já vi (e já vi alguns), Medianeras é um dos que mais fundo foram no retrato da solidão das pessoas nas metrópoles, e na neo-solidão do planeta tornado aldeiazinha global pela internet, em que todos falam com todo mundo a toda hora – à distância, à mais fria distância.
Medianeras é Buenos Aires até a medula – mas é quando um autor escreve sobre sua aldeia que ele se torna universal. São Paulo é como o mundo todo, no mundo um grande amor perdi, escreveu o gênio baiano. A Buenos Aires de Gustavo Toretto nunca se pareceu tanto com São Paulo – e com Nova York, Berlim, Moscou, Londres, Los Angeles, Chicago, ou até mesmo com Paris, San Francisco e Rio de Janeiro, que são lindas, estas últimas, mas são metrópoles do mesmo jeito, aglomerada solidão, como escreveu outro baiano que ao falar da aldeia ficou universal.
Aglomerada solidão. A solidão das pessoas dessas capitais, os humilhados do parque com os seus jornais, como escreveu um cearense. Fortaleza hoje, com seus três milhões de habitantes, deve estar bem parecida com a Buenos Aires que Medianeras mostra.
Ele teve síndrome de pânico, ela padece de claustrofobia. São nervosos, neuróticos
Martín e Mariana, os protagonistas da história, não chegam a ser humilhados do parque. São classe média, como o protagonista que Caetano criou em “Alegria, Alegria”, sem fome, sem telefone no coração do Brasil. Na época de “Alegria, Alegria”, telefone, coisa de empresa estatal, era bem de poucos. Hoje há mais telefones que pessoas, e então Martín e Mariana são sem fome, com telefone, com computador, com internet, com apartamento (pequenos, minúsculos, é verdade), mas padecem de solidão, ansiedade, insônia, stress. São nervosos e neuróticos, como o título brasileiro de Annie Hall de Woody Allen – como tanta gente solitária destas capitais, aglomerada solidão.
Ele teve síndrome de pânico, ela padece de claustrofobia.
Ele é informático, criador de sites. Fica diante do computador 20 horas por dia. Ela é arquiteta, mas ainda não construiu nada – trabalha como decoradora de vitrines, e nas horas vagas se entristece mais do que se diverte com os manequins que usará nas vitrines nas quais trabalhará a seguir.
Ele foi abandonado pela namorada, que foi passear nos Estados Unidos e nunca mais voltou, deixando com ele a cachorrinha, ela também estressada, solitária, anti-social.
Ela tentou manter de pé um relacionamento de quatro anos, que se desfez como um castelo de cartas, à falta de cimento, de liga, nem que fosse uma liga feita de cuspe.
Ele tenta encontros insatisfatórios. Ela tenta encontros insatisfatórios.
No meio de um desses encontros, Martín diz para o espectador que encontrar uma mulher que se conheceu pela internet é como ir ao McDonald’s. Nas fotos, tudo é lindo, apetitoso – à primeira mordida, toda a magia se desfaz.
Eta texto bom desse Gustavo Taretto, meu Deus do céu e também da terra.
(Uma coincidência a ser notada, já que me gustan las coincidências: há outro filme argentino mais ou menos recente em que a namorada vai para os Estados Unidos e abandona o namorado – Não é Você, Sou Eu, de 2004.)
Martin e Mariana se cruzam pelas ruas diversas, diversas vezes – e não se vêem
Como em A Fraternidade é Vermelha de Kieslowski, e exatamente como em Toda uma Vida de Lelouch (aposto com quem quiser que Taretto viu ambos os filmes), as trajetórias de Martín e Mariana vão correndo paralelamente – e as paralelas, diz a matemática (ou seria a física?), só se encontram no infinito.
Eu costumava dizer que as coincidências da vida, as pequenas trapaças do destino são lelouchianas, porque Lelouch, mais que Kieslowski, mais até mesmo que Jacques Demy, se especializou em brincar com as coincidências, as pessoas que não se vêem, não se conhecem, e no entanto estão muitas vezes no mesmo lugar, cruzando-se nas ruas. Se tivesse nascido uns 40 anos mais tarde, provavelmente chamaria as coincidências de tarettianas.
Gustavo Taretto exacerba nas coincidências. Martín e Mariana se cruzam na vida diversas vezes, diversas, diversas – sem que no entanto um veja o outro. Taretto chega ao cúmulo de, em uma tomada em que os dois se encontram aguardando a abertura de um sinal de trânsito, traçar um coração unindo as duas cabeças, a de Martín e a de Mariana, que no entanto estão voltadas cada uma para um lado da rua que pretendem atravessar.
Nisso, nesse detalhe específico de se criar um desenho feito à mão em cima de uma cena, Medianeras se aproxima fragorosamente de Todas as Mulheres, de Amélie Poulain e de (500) Dias Com Ela.
Deste último, Medianeras se aproxima especialmente, porque, assim como Mariana, Tom Hansen, o protagonista de (500) Dias com Ela, é arquiteto; os dois filmes falam muito sobre arquitetura, os prédios da metrópole – e sobre as imagens da cidade traçam-se desenhos de arquitetos.
Ao dizer isso, não estou fazendo, pelamordedeus, qualquer denúncia de plágio, de cópia. De forma alguma. Estou apenas chamando a atenção para as coincidências. Posso apostar que Taretto, assim como viu Kieslowski e Lelouch, também viu o filme Marc Webb, muito possivelmente mais de uma vez, mas isso seria apenas uma prova de bom gosto.
Uma homenagem explícita, escarrada, a Manhattan
Manhattan, de Woody Allen, é óbvio que Taretto viu e reviu muitas vezes. Nesse caso nem é preciso apostar, porque Taretto nos mostra uma sequência de Manhattan, enquanto Martín e Mariana também vêem o filme espetacular, cada um no seu pequeno apartamento, sua caixa de sapatos. A seqüência de Manhattan que Martín e Mariana estão vendo, e que nós também vemos, é a do finalzinho: close-up de Woody Allen-Isaac e close-up de Mariel como é bela, meu Deus do céu e também da terra Hemingway-Tracy, ele pedindo que ela não vá para Londres, ela dizendo que ele poderia ter dito aquilo alguns dias antes, que vai, mas volta – e a gente está cansado, exausto, exaurido de saber que ali acabou o que poderia ter sido uma grande história de amor.
Uma janela na parede. Em um filme, razão de drama pesado; neste aqui, deliciosos momentos
Um parênteses para falar de uma não coincidência. E, aproveitando, para falar do título.
No mesmo ano em que Medianeras entrava em pré-produção, 2009, o cinema argentino lançava O Homem do Lado/El Hombre de al Lado, de Mariano Cohn e Gastón Duprat. O Homem do Lado também é um filme sobre a vida na grande cidade – mas, muito diferentemente de Medianeras, é um drama, e pesadíssimo. Um dos personagens é um arquiteto, e vive numa casa que é xodó dos alunos de arquitetura, a única casa idealizada por Le Corbusier construída na América Latina.
Todo o imenso drama de O Homem ao Lado se dá porque, à procura de mais luz em seu apartamento, um homem quebra um pequeno trecho de uma parede, para fazer ali uma janela.
Martín e Mariana fazem, cada um no seu apartamento, uma janela numa parede em que antes não havia janelas, e nem poderia haver.
As janelas que os protagonistas abrem ficam na medianera – a parede que não é a da frente nem da traseira do apartamento, a parede lateral dos prédios. Desconheço uma palavra na língua portuguesa para identificar a parede lateral dos prédios.
Um dos títulos que o filme teve em inglês foi Sidewalls – paredes laterais.
No Brasil, o filme foi exibido como Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual, e não foi uma invencionice apenas dos exibidores brasileiros. Em inglês, outro título do filme foi Medianeras: Buenos Aires in Times of Virtual Love.
Mas é interessante que a mesma ação – abrir uma janela numa parede – tenha resultado em um grande drama num filme, e aqui resulte em cenas belíssimas, engraçadas, gostosas.
O ator que faz Martin está começando, a atriz que faz Mariana é veterana
Martín é interpretado por Javier Drolas. Nunca tinha visto antes, e vejo agora que sua filmografia está só começando. Faz maravilhosamente o Martín que ganha a vida na internet e nas horas vagas também fica na internet, e é mais nervoso e neurótico do que os personagens de Woody Allen.
Mariana vem na pele de Pilar López de Ayala. É uma mulher bela a não mais poder, só que é seculovintemente magra, que nem uma biafrenta, que nem uma modelo anoréxica antes de a Vogue mundial decretar que não publicará mais modelos anoréxicos.
Se Javier Drolas tem filmografia bem curta, a de Pilar López de Ayala é bastante grande. Espanhola de Madri, nascida em 1978 (credo, três anos depois que minha filha!), tem 27 títulos no currículo, iniciado em 1995, quando ela estava, portanto, com 17 anos.
O rapaz com poucos filmes e a moça com muitos trabalham extraordinariamente bem.
Uma abertura esplendorosa – belíssimas imagens de prédios, e um texto fascinante
Acho que Gustavo Taretto viu Lelouch, viu Kieslowski, deve seguramente também ter visto muito Jacques Demy, mas o que ele viu muitas vezes antes de escrever este filme maravilhoso foi sem dúvida Manhattan.
Para mim, Gustavo Taretto ficou vendo Manhattan e pensando em como fazer a abertura de um filme que fosse tão brilhante quanto a de Manhattan.
O puto conseguiu.
A abertura de Medianeras é esplendorosamente genial.
Como em Manhattan, imagens da cidade. Primeiro, e rapidamente, tomadas amplas, gerais. Depois, detalhes de prédios. Uma montagem extremamente ágil, esperta, inteligente, de tomadas de prédios, pedaços de prédios, detalhes de prédios. E a voz em off do protagonista vai falando um texto absurdamente bem construído, bem sacado, bem elaborado, a respeito da arquitetura da grande cidade e da vida dentro daqueles prédios.
Ao ver o filme, pensei que iria depois me sentar diante dele e ter o trabalho de copiar o texto genial de abertura, para botar aqui.
Por preguiça, não degravei o texto.
Mas talvez tenha sido melhor. Se tivesse degravado, se tivesse anotado tudo o que a voz em off de Martín vai falando sobre os prédios, a cidade, as pessoas nesta era internética, a) eu tivesse tido um ataque de depressão por não ter jamais escrito algo tão brilhante, e b) eu tivesse tirado a oportunidade de um eventual leitor desta anotação de se deleitar com o texto tal qual ele vem, de surpresa, no filme. E, se houver ainda um eventual leitor que tenha chegado até aqui neste texto, faço a ele o apelo: veja o filme.
Onde Está Wally? E “Ain’t no mountain high enough”
A sacada de fazer com que Mariana seja uma apaixonada por Onde Está Wally? é uma beleza.
Os cartazes, a capa do DVD do filme inspiram-se em Onde Está Wally? E são a perfeita tradução da idéia da aglomerada solidão.
Quando o filme terminou, fui checar o nome da música com que a história se fecha, “Ain’t no mountain high enough”. É um absurdo, mas eu não conhecia essa canção, composta pela dupla Nickolas Ashford-Valerie Simpson, tremendo sucesso de Marvin Gaye e Tammi Terrell, 19 semanas na lista dos mais vendidos da Billboard em 1967. Delícia absoluta de pop da Motown. Ouvi a música diversas vezes, sem parar, no YouTube. Merece um texto à parte.
Delícia que um filme argentino de 2011 homenageie uma canção da usina de sons de Detroit de 1967. O que é bom fica.
E, finalmente, Gustavo Taretto, ex-fotógrafo, redator de publicidade, cineasta de talento
Escrevi toda esta anotação até aqui sem ler absolutamente nada sobre quem é, afinal de contas, esse Gustavo Taretto.
É jovem, como eu imaginava. Nasceu em Buenos Aires, em 1965. Tinha, portanto, 46 anos quando Medianeras foi lançado. Mais jovem que Jeneut quando ele lançou Amélie Poulain – o francês estava com 48. Woody Allen tinha 42 quando fez Manhattan. Marc Weber tinha 35 quando fez (500) Dias com Ela. Domingos Oliveira, mais precoce ainda, tinha 31 ao fazer Todas as Mulheres do Mundo.
Taretto estudou fotografia, e há 20 anos trabalha como redator em uma agência de publicidade.
Medianeras é seu primeiro longa. Antes, havia feito cinco curtas – e o terceiro deles, de 28 minutos, chamava-se Medianeras.
“Em 2004 escrevi o curta Medianeras e o filmei em 2005”, contou o realizador em entrevista para a revista da 2001 Vídeo, de São Paulo. “Ele foi premiado em todo o mundo e fiquei encantado com a maneira como tocava o coração do público, com o entusiasmo que despertava nas pessoas. Foi exatamente isso que me levou a seguir explorando a mesma idéia. Utilizei a estrutura narrativa e o tema, seguindo essa ordem. Se houvesse utilizado somente o tema teria escrito outra história, mas preferi continuar trabalhando sobre essa estrutura, que me permitiu desenvolver uma convivência harmoniosa entre a comédia romântica, uma reflexão quase documentária sobre Buenos Aires e um ensaio sobre a vida moderna nas grandes cidades. Por outro lado, me incomodava a redondeza do curta. Os personagens eram funcionais e aparecia apenas seu lado corajoso, sem nuances. O que mais me entusiasmou ao transformá-lo em longa foi a necessidade de aprofundar os personagens e humaniza-los, mostrando suas fraquezas e conflitos.”
Talento. O cara tem talento – de sobra.
Anotação em julho de 2012
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual/Medianeras
De Gustavo Taretto, Argentina-Espanha-Alemanha, 2011
Com Javier Drolas (Martín), Pilar López de Ayala (Mariana),
Inés Efron (Ana), Adrián Navarro (Lucas), Rafael Ferro (Rafa), Carla Peterson (Marcela), Jorge Lanata (o médico), Alan Pauls (ex de Mariana), Romina Paula (ex de Martin)
Argumento e roteiro Gustavo Taretto
Fotografia Leandro Martínez
Música Gabriel Chwojnik
Produção Eddie Saeta S.A., Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), Pandora Filmproduktion, Rizoma Films, Televisió de Catalunya (TV3), Zarlek Producciones. DVD Imovision
Cor, 95 min
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aaaaaaaah!!!! que delícia ver seu texto de Medianeras!!! Esperava mto por essa resenha! O filme é genial mesmo!!! Um dos melhores que vi no ano passado! E ainda eu vi a palestra que ele deu no auditório da locadora 2001 em perdizes e o cara, além de ser genial, é mto simpático, humilde, muito gente boa, mto engraçado. Ele comentou que achou curioso que em todas as cidades que ele exibiu esse filme, como em Berlim, SP, Paris, NY etc, todos se identificaram… e nao é pra menos mesmo, o filme toca a fundo o que mta gente sente. E isso é incrível, pq ao mesmo tempo que o filme é “universal”, ele é mto bem ambientado em Buenos Aires. Coisa de genio mesmo!!!
O filme é ótimo mesmo, e desses que você cita só não vi o brasileiro (por que será, né?), mas achei o Medianeras superior aos outros dois. 500 Dias com Ela é bom, mas lembro que chegou uma parte em que eu fui ficando aborrecida, é comprido demais (já falei sobre isso das comédias românticas terem ficado muito longas), e Amélie Poulain lembro que gostei, mas tinha sido tãão incensado antes de eu ver, que criei expectativas altas demais, e quando vi confesso que não achei tudo aquilo. Como faz muito tempo que assisti não lembro exatamente das minhas impressões.
Mas este aqui, não, a gente vai vendo e torcendo pro filme não terminar mais, ou demorar para terminar.
Os atores estão muito bem mesmo, só não entendi o porquê de colocar uma atriz espanhola pra fazer uma portenha. Ao menos ela se esforçou na pronúncia e a língua é a mesma; não ficou tão fake quanto o Javier Bardem fazendo um brasileiro…
Me identifiquei de certa forma com o Martín, pelo fato de ele comprar tudo pela internet. Eu só não compro ainda comida… E o personagem me inspirou a comprar uma cadeira de escritório numa loja online. [Justo quando eu estava vendo o filme o encosto da minha cadeira desabou — eu queria trocá-la já há algum tempo, mas ver a cena com ele recebendo uma novinha em casa me encorajou].
De certo modo, me vi ali um pouco nos dois, com algumas características misturadas. Não acho a solidão de todo ruim quando se sabe conviver com ela, quando a gente gosta da própria companhia.
Enfim, adorei o filme, o diretor realmente é muito talentoso, e mais uma vez os hermanos mostram o que é fazer cinema de qualidade.
Concordo com tudo o que você diz sobre o texto dele, e o seu também não ficou pra trás; acho que quem ainda não assistiu vai ficar querendo assistir depois que ler (se bem que isso é normal, pelo menos comigo).
Interessante notar como a fobia do Martín com aviões começou: quando a namorada dele se foi para os EUA. Isso me fez lembrar que comecei a ter uma quase fobia de voar depois que peguei uma turbulência num vôo com o ex-mala, e ele em vez de me ajudar a ficar calma (chovia e o avião além de balançar, meio que dava umas descidinhas, foi trevas), brigava comigo. Mas graças a Deus meio que consegui reverter isso, e passei a sentir prazer em voar de novo.
Interessante também foi notar que a fobia da Mariana foi curada quando ela saiu correndo atrás dele. Ah, o amor! rs
Enfim, acho que o filme além de super bem feito em todos os níveis, é excelente por causa disso: difícil não se identificar com pelo menos alguma coisa.
E já que você falou no Kieslowski, sinto falta de um filme dele aqui no site.
Mas o que eu queria dizer mesmo é que não acredito que você não conhecia Ain’t no mountain high enough!! Serião mesmo? Eu adoro essa música! Ela está presente em alguns filmes, mas no momento só me lembro dela no filme Lado a Lado, que eu também adoro. A cena em que a personagem da Susan Sarandon dubla e dança a música com o casal de filhos é uma das melhores e mais emocionantes.
Uma coisa que me incomoda nas comédias românticas e que venho notando há algum tempo é que as mulheres são sempre bonitas ou lindas. Já os homens geralmente são feios ou muito feios. Aqui não é muito diferente, a atriz é linda, mas o cara não é nenhum deus grego. Não chega a ser feio, é muito bom ator e super expressivo, mas quase sempre há esse desequilíbrio estético. Acho que sem querer (ou não) a mensagem que passam é que a mulher pra se “dar bem” tem que ser de bonita pra cima (além de magra, jovem e malhada), e o homem não; só o fato de ser homem já é garantia de ser bem sucedido com as mulheres. Me lembrei do filme Sliding Doors. Me marcou o fato de ela ficar dividida entre dois homens muito feios e sem carisma nenhum, quase antipáticos, sem sal. Não tenho nada contra a feiura nem contra a beleza; existem pessoas “feias” altamente interessantes e atraentes por outros motivos e vice-versa. Só é algo que tenho percebido e que às vezes me irrita (aqui não irritou porque o rapaz está ótimo mesmo). Me irrita porque até o cinema cobra isso da mulher. Mas ele apenas reproduz o que a sociedade pensa…
Vou fazer só mais uma observaçao, ainda no embalo do excelente comment da Jussara: na palestra, o Taretto disse q escolheu a atriz pq simplesmente se apaixonou por ela em um filme espanhol. O Taretto disse também o qto achava engraçado a quantidade de meninas que diziam se identificar com o personagem do Martin. Ele achava que as garotas iriam se ver mais pela vida da Mariana.
Obrigada, Claudia! Engraçado isso de outras meninas terem se identificado com o Martín. Eu vi uma entrevista com o Gustavo, no youtube, e ele disse que tinha deixado o humor mais para o personagem dele, e o drama para a personagem da Mariana. Antes de assistir pensei que fosse me identificar mais com ela também, mas nem aconteceu.
Já que estou aqui comentando de novo, queria dizer que achei muito bem lembrado o Sérgio falar que a cachorrinha também era anti-social, hahaha (mais um ponto em comum meu com o Martín: ter uma cachorra; no meu caso, duas). Aliás, aquilo de se passear com vários cachorros é uma das cenas típicas de Buenos Aires. Por falar nisso, fiquei chocada com a magreza de um dos cães – ele era o maior e o único que aparece com focinheira.
E já que eu sou a rainha do detalhe mesmo, na hora em que mostram os dois assistindo ao filme do Woody Allen, a legenda aparece acho que não era do espanhol falado na Argentina. Porque a personagem diz: “Tengo que coger el avión”. Só que na Argentina coger é um verbo de forte conotação sexual, o certo é falar “tomar”. Na Já na Espanha pode-se falar coger sem medo.
Pronto, agora tenho que passar seis meses sem comentar aqui, escrevi muito!
Jussara, querida,
1) (Em tom ameaçador): Não ouse ficar dias sem comentar!
2) (Em tom de súplica): Não, Juos, não faça isso comigo, não pare de mandar comentários…
Abração.
Sérgio
Ah, sim, Jussara, sobre a coisa de botar uma atriz espanhola fazendo uma porteña, é interessante que, no belo filme francês Baby Love/Comme les Autres a Pilar López de Ayala interpreta uma argentina!
Hehehe, Sérgio, cão que ladra não morde. Não vou conseguir parar de comentar, mas tenho que fazer como os outros comentaristas e aprender a escrever apenas duas linhas.
Não lembrava que ela tinha feito o papel de uma argentina nesse filme, interessante mesmo. Deve ter sido aí então que o diretor a viu pela primeira vez (na entrevista que vi com ele, no youtube, ele diz que pensou que ela fosse francesa porque a tinha visto num filme francês).
Eu tenho um pouco de birra de pegarem atores americanos pra fazer ingleses/irlandeses/escoceses e vice-versa. O mesmo com espanhóis fazendo outros sotaques – porque o sotaque espanhol é muito forte (e irritante).
No mais, nunca vou engolir terem colocado o Javier Bardem pra fazer um brasileiro, por mais bonito e bom ator que ele seja. Imperdoável.
Ah, agora que vi que escrevi “prazer em voar”, e lembrei que esse é parte do slogan de uma cia aérea, a que eu mais detesto. Olha o poder da propaganda! Mas quando o céu é de almirante ou brigadeiro, tempo aberto e tal, eu sinto mesmo prazer em voar.
Juro que esse é meu último comentário nesse texto. =D
Abraços!
Jussara, qual é o problema de ser caudalosa? Não vejo problema nenhum…
A princípio, concordo plenamente com você: ator inglês deveria fazer papel de inglês, irlandês de irlandês, escocês de escocês, australiano de australiano, neo-zelandês de neo-zelandês e assim por diante.
Mas veja como a inglesa Kate Winslet se deu bem como neo-zelandesa em “Almas Gêmeas”. Ou a americana Meryl Streep como a inglesa Margaret Bloody Thatcher. Bem, a Kate e a Meryl se dão bem em tudo o que fazem.
Quanto ao Barden, ainda não vi esse filme. Mas a Penépole Cruz como brasileira em “Sabor de Paixão” tá a maior gracinha…
Abração!
Sérgio
Vou quebrar minha promessa só para te responder. rs
Eu vi Almas Gêmeas só que já não lembro; mas é como você disse, elas se dão bem em tudo o que fazem. E o da Thatcher ainda não vi… Acho que eu abriria uma exceção para a Meryl Streep, lógico, mas acho o sotaque britânico muito difícil, a gente logo vê quando é imitação.
Não vi esse filme Sabor da Paixão nem vou ver, mas espero que ela tenha falado português. Porque o Bardem fala tudo MENOS português. Até vi uma entrevista com a Julia Roberts num jornal brasileiro, e ela diz que ele tem amigos brasileiros e que já morou ou passou um tempo aqui (nesse momento eu fiquei “abestaiada” porque era pra ele ter se saído um pouquinho melhor então). Daí a repórter diz: “Mas ele não fala português no filme”, algo assim. E ela: “Jura?” Não lembro se na hora eu gargalhei ou se quis chorar pelo total descaso com a minha língua. hahaha
Mas isso é assunto para quando você fizer o texto sobre esse filme.
Abraços.
O texto sobre o filme é tao bom quanto o longa…
Prezado Fernando, agradeço muitíssimo pela sua mensagem – e pelo elogio. Mas ele é exagerado… O filme é 200 mil vezes melhor…
Um abraço.
Sérgio
Esse Medianeras foi daquelas surpresas inacreditáveis. Em 5 minutos de filme meu mundo caiu por terra. Passei despretensiosamente por ele no cinemax ou no tl cult da vida e jamias havia ouvido falar uma palavra dele e portanto nem me preparei pro tamanho do filme que eu estava prestes a ver, ou melhor , degustar. Bom , azar dos fatos que este filme seja tão pequeno e desconhecido.
Estou me sentindo envergonhada por comentar tão tardiamente esse texto. Pior, estou envergonhada por ter levado tanto tempo a assistir esse primor.
Não conhecia sua página, mas já favoritei. Adorei seu texto sobre o filme, me identifiquei pela visão que teve e confesso que invejei a bagagem haha
Prolixa assumida que sou, vou discorrer sobre o quanto me surpreendi com o lado Allen do Taretto (se tivessem me falado da referência CLARA a ele, eu teria mergulhado há tempos na história). Sou estudante de Arquitetura e senti uma necessidade enorme de conhecer Buenos Aires. Por diversas vezes me peguei viajando nas imagens, que aparecem numa sintonia perfeita com texto – o qual eu também invejei não ter escrito – deixando-me feliz pela semelhança com a produção de Woody (não só em Manhattan). Acrescentou e muito no meu repertório.
Não posso deixar de citar duas cenas que me tocaram: a primeira da história no planetário; a segunda de Mariana, o som do piano e a caneca quebrada. Escolhas geniais no retrato da insignificância e solidão. Costumo chamar obras como essa de “filmes bem cuidados”, onde fica visível a atenção em cada detalhe. A introspecção e sutileza são gritantes e ao mesmo tempo intimistas. Enfim, um filme de extremo bom gosto e que vale cada palavra do seu texto (que também gostaria de ter escrito). Peço desculpas por comentar tão tarde!
Como ela reconheceu ele?! Tipo… ela sentiu q o cara era o Wally q ela procurava?? Na tora mesmo?? Muita onda!! Assisti o filme tarde e devo ter perdido detalhes…
Meus parabéns pelo artigo, sempre costumo dizer aos mais próximos que Medianeras é uma obra de arte que aborda os tempos modernos da sociedade que se transporta diariamente em floresta de pedra, onde nem se olham para ambos, uma analogia de interessante para “Onde está o Wally? …