A Mulher do Meu Amigo


0.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2010: A Mulher do Meu Amigo é um filme ruim. Mas não é pouco ruim, não. É escandalosa, vergonhosa, grotesca, acintosamente ruim.

A trama até que parte de uma idéia que, embora já muito usada, poderia levar a situações engraçadas, interessantes: dois casais de amigos vão passar o fim de semana na rica casa de campo de um deles – e vamos descobrir que o marido de uma é amante da mulher do outro faz tempo. Muito naturalmente, os dois traídos também terão um caso.

Tá, a idéia não é mesmo original – basta lembrar Bob & Carol & Ted & Alice, de Paul Mazursky, de 1969. Mas, como diz Lelouch, só existem duas ou três histórias na vida – não se pode exigir uma trama absolutamente original.

A primeira questão é que, ao apresentar os personagens para o espectador, o diretor e roteirista Cláudio Torres simplifica as coisas de tal maneira que eles não são personagens – são protótipos, estereótipos. Renata (Mariana Ximenes) é tola, fútil, vaidosa, consumista – o protótipo da filha mimada de milionário. O marido dela, Thales (Marcos Palmeira), que é o narrador, é o bom sujeito, inteligente, competente, bom advogado, que se meteu numa fria: casou-se com a filha do patrão. O patrão dele, Augusto (Antônio Fagundes) é um biliardário sem escrúpulos que só pensa em ganhar mais dinheiro, fazer com que a filha tenha um herdeiro e galinhar com mocinhas gostosérrimas. Rui (Otávio Müller), amigo de infância de Thales, um pequeno industrial, é o perfeito burguês idiota, panacão. E sua mulher, Pâmela (Maria Luísa Mendonça), é burra – ou aprendeu a fingir de.

A simplificação total – estereótipos.

A segunda questão são os atores. Fagundes é um grande ator, e Marcos Palmeira dá todas as demonstrações de que, se tivesse um bom diretor e um bom roteiro, poderia render muito. Mas Fagundes e Palmeira se perdem diante da incompetência na direção de atores e na aparente falta total e absoluta de talento dos outros três – as belas Mariana Ximenes e Maria Luísa Mendonça e Otávio Müller. Este último então, coitado, ele é ruim demais, mas demais, mas demais da conta.

E a terceira questão é que as situações que o roteiro cria são, em vez de engraçadas, absolutamente ridículas. Ridículas, patéticas.

Os créditos iniciais dizem: “Baseado na peça ‘Largando o Escritório’, de Domingos de Oliveira”. Imagino que seja Domingos Oliveira, o criador de Todas as Mulheres do Mundo, Amores, Edu Coração de Ouro, Separações, Carreiras – não acredito que haja um outro autor chamado Domingos de Oliveira. Não conheço a peça Largando o Escritório, mas, por todo o respeitabilíssimo currículo de Domingos Oliveira, podemos ter quase absoluta certeza de que muitas das situações ridículas, grotescas, patéticas, em que se metem os personagens não são criação dele, e sim do roteirista e diretor Cláudio Torres – com todo o respeito que merece o filho da grande Fernanda Montenegro e Fernando Torres.

 

 

 

 

 

 

 

 

É uma coisa assim à la Casseta & Planeta, ou A Escolinha do Professor Raimundo, ou aquela imitação barata da Escolinha do Professor Raimundo que a Rede Bandeirantes faz – aquele tipo de humor-baixaria, e aquele tipo de “interpretação” dos atores. Tem muita gente que gosta. Na TV, pode ser; no cinema, com os atores fazendo as caretas mais horrorosas, berrando alto, dá vergonha no espectador.

Na verdade, o filme declara o seu nível já no cartaz, que é também a capa do DVD: o ator Otávio Müller faz o sinal de chifre com as duas mãos. Mais ginasiano, impossível.

         Não é tudo ruim: há dois diálogos engraçados e bela fotografia

Bem. Pra não dizer que não falei de flores, há dois diálogos engraçados. Logo no começo do filme, os dois casais se instalando na bela casa de campo herdada por Renata, Thales diz:

– “Eu descobri que minha vida de casado é uma merda.”

Ao que Rui replica:

– “Thales, a vida de casado de qualquer um é uma merda.”

E há a cena em que os quatro estão numa locadora discutindo que filme pegar para ver que agrade aos quatro. Rui sugere O Fantasma da Ópera, e Pâmela diz: “Ah, não, terror não; depois eu não durmo.” Renata sugere um musical, o que os homens rejeitam com firmeza. Thales propõe um filme de aventura, Rui acha genial, mas as mulheres se recusam. Aí vem a piada:

Thales: – “Um iraniano?”

O iraniano é unanimemente recusado.

Acabam escolhendo um pornô, que quase leva os quatro juntos para a cama. Aliás, o que não falta no filme é exploração barata de cenas de sexo. Coisa absolutamente apelativa.

E tem a fotografia, excelente; fui à internet atrás do nome do diretor de fotografia e, fantástico, não encontrei – sequer no site oficial do filme (http://filmes.net/amulherdomeuamigo/). Um brilho de fotografia, impecável, em tudo, nos interiores, nos exteriores, nas tomadas gerais de São Paulo e das montanhas com que o diretor e roteirista Cláudio Torres separa uma seqüência da outra, um dia do outro. O mesmo recurso que as novelas da Rede Globo usam. É a estética Rede Globo no que ela tem de pior.

Tem os rostos bonitos das duas moças – mas nem dá para reparar muito na beleza delas, com tanta falta de talento à mostra.

Gostaria muito de poder estar aqui elogiando um filme brasileiro. Não é nada agradável meter o pau num filme nacional. Mas não há como defender esse filme horroroso. É uma pena.

A Mulher do Meu Amigo

De Cláudio Torres, Brasil, 2008

Com Marcos Palmeira (Thales), Maria Luísa Mendonça (Pâmela), Otávio Muller (Rui), Mariana Ximenes (Renata), Antônio Fagundes (Augusto)

Roteiro Cláudio Torres

Baseado na peça Largando o Escritório, de Domingos Oliveira

Produção Conspiração Filmes e Miravista

Cor, 85 min

Bola preta

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