Anotação em 2011: Este Na Trilha do Assassino, no original Tenderness, ternura, traz uma galeria de personagens infelizes, miseravelmente infelizes. É um daqueles filmes com uma visão de mundo profundamente desesperançada.
Jamais tinha ouvido falar no autor do livro, lançado em 1998, que deu origem ao filme, Robert Cormier. Segundo a Wikipedia, a literatura de Cormier (1925-2000) é profundamente pessimista. “Seus livros em geral tratam de temas como abuso, doença mental, violência, vingança, traição e conspiração. Na maioria de seus romances, os protagonistas não vencem.”
Pelo que mostra o filme, a definição da Wikipedia é perfeita.
A história gira em torno de três personagens centrais. O tenente Cristofuoro (interpretado por Russell Crowe) está praticamente aposentado da polícia da cidade de Buffalo, no Estado de Nova York; sua mulher está em coma profundo, faz já um bom tempo, e ele só tem sido encarregado de casos menores. Três anos antes, foi ele que investigou os assassinatos de um pastor e sua mulher – o assassino foi o próprio filho do casal, então com 15 anos de idade, Eric Komenko (Jon Foster).
Eric tinha problemas mentais, tomava antidepressivos. Quando a ação começa, ele está para fazer 18 anos e prestes a ser libertado do presídio para menores; será então julgado, em liberdade, pelo crime que cometera três anos antes.
Por sua conta e risco, por sua iniciativa, sem que seus chefes tenham determinado ou autorizado, o tenente Cristofuoro quer seguir os passos de Eric, a partir de sua libertação. Visitou-o várias vezes enquanto ele esteve preso. Não tem provas cabais, mas tem a absoluta certeza de que Eric matou duas moças, antes de matar os pais; na verdade, o tenente acha que Eric matou os pais porque eles teriam descoberto os crimes anteriores. Está convencido de que o rapaz é um psicopata e vai voltar a matar – e diz isso para ele, poucos antes de sua libertação.
A terceira personagem central da história é ainda mais trágica, se isso for possível, que o policial obsessivo cuja mulher está em estado vegetal e que o rapaz que assassinou os próprios pais e talvez tenha assassinado duas outras pessoas. É uma garota chamada Lorelei – ela detesta esse nome, prefere ser chamada de Lori.
Uma garota que é um desastre ambulante
Lori (muito bem interpretada por Sophie Traub, jovem atriz canadense) é uma daquelas adolescentes presentes em muitos filmes americanos, criada sem afeto e cuidado, vítima de abuso, uma criatura perdida na vida, um desastre ambulante, à beira da delinquência ou da loucura – ou as duas coisas juntas.
Quando o espectador vê Lori pela primeira vez, ela está diante de um chefe dela, no escritório acima de um supermercado, levantando a blusa para que ele veja seu sutiã. Em seguida, como uma pequena vingança contra o chefe abusivo, ela, sabendo que está sendo observada por ele, rouba um disco do supermercado.
Não se fala no pai de Lori, mas o roteirista Emil Stern e o diretor vão nos mostrar, com talento e sensibilidade, em umas poucas seqüências, como é a mãe da moça: uma mulher instável, que troca sempre de namorado; informa à filha que está convidando o namorado da ocasião, um tal Gary (Michael Kelly) para vir morar na casa das duas. Gary – ficaremos sabendo bem depois – já abusou sexualmente de Lori.
Lori tem uma fixação pela história de Eric, o assassino dos pais que está sendo agora posto em liberdade. Recorta todas as notícias sobre ele que saem nos jornais.
As informações sobre Lori vão sendo passadas aos poucos para o espectador. E são cada vez mais surpreendentes, pavorosas. A moça é muito mais insana do que parece à primeira vista.
Um mundo perdido, em que não há nenhuma saída
Os desempenhos dos dois jovens atores, Jon Foster, que faz Eric, e Sophie Traub, que interpreta Lori (os dois na foto acima), são excelentes. E Russell Crowne, grande e versátil ator, conhecido por seu temperamento tão tempestuoso quanto suas atuações, está surpreendentemente contido, com voz e gestos controlados; compõe com brilho o policial amargurado que parece transferir para o assassino cujo crime desvendou a tristeza e a frustração que sente com o estado da mulher.
Laura Dern, que andava um tanto sumida, acho, faz um papel bem pequeno, como a tia que acolhe o jovem Eric depois que ele sai da prisão. Está bem como sempre.
O diretor John Polson nasceu na Austrália, em 1965; está radicado nos Estados Unidos e, além de quatro filmes (entre os quais O Amigo Oculto/Hide and Seek, bom thriller com Robert De Niro e Dakota Fanning), já dirigiu episódios de diversas séries de TV.
Demonstra segurança, maturidade. Fez um filme muito correto, bem realizado. A moral é que amarga demais – o mundo que o filme mostra está perdido, não há nenhuma saída.
Na Trilha do Assassino/Tenderness
De John Polson, EUA, 2007
Com Russell Crowe (tenente Cristofuoro), Jon Foster (Eric Komenko), Sophie Traub (Lori Cranston), Laura Dern (Teresa), Arija Bareikis (Marsha), Alexis Dziena (Maria), Michael Kelly (Gary)
Roteiro Emil Stern
Baseado no livro de Robert Cormier
Fotografia Tom Stern
Música Jonathan Goldsmith
Produção Lionsgate, GreeneStreet Films
Cor, 101 min
**1/2
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