Anotação em 2010: Uma beleza de filme, este thriller sueco baseado no primeiro livro da trilogia de Stieg Larsson que tem sido um imenso sucesso em todo o mundo. A trama é absolutamente fascinante, assim como os personagens centrais. Estupidamente bem feito, é daqueles filmes em que a gente vê talento sobrando, saindo pelo ladrão.
É também daquelas obras que fascinam tanto que dá vontade de a gente rever imediatamente, ir atrás dos livros e dos outros filmes da trilogia.
Embora me considere razoavelmente bem informado, foi só poucas semanas atrás que ouvi falar nos livros do escritor e jornalista sueco Stieg Larsson (1954-2004) – minha filha, apesar de 200 millhões de vezes mais ocupada do que eu, já havia descoberto a trilogia, estava lendo e adorando. Vejo agora na Wikipedia que Larsson foi um jornalista militante; pertenceu à Liga dos Trabalhadores Comunistas da Suécia, editou um jornal trotskista, criou uma fundação, a Expo Sueca, para “contra-atacar o crescimento da extrema direita e a cultura do poder branco nas escolas e entre os jovens”. Sua militância fez com que recebesse diversas ameaças de morte.
Devorador de livros de ficção científica e novelas policiais, passou a escrever – aparentemente mais por diversão do que a sério – suas próprias histórias; consta que escrevia à noite, em casa, depois da jornada normal de trabalho como jornalista. Só procurou editores para seus romances pouco antes de morrer, de ataque cardíaco, aos 50 anos, em 2004.
Os romances que compõem o que ficou conhecido como A Trilogia Millennium foram todos publicados postumamente. O primeiro deles, Män som hatar kvinnor (Homens que odeiam mulheres), saiu na Suécia em 2005 – é nele que se baseia este filme; os outros foram editados logo em seguida Até março de 2010, os três livros já venderam 27 milhões de cópias em 40 países. Todos eles foram publicados no Brasil pela Companhia das Letras, com os títulos Os Homens que Não Amavam as Mulheres, A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar.
Os três livros foram transformados em filmes, todos no mesmo ano, 2009, com os mesmos atores nos dois papéis centrais – Michael Nyqvist interpreta Mikael Blomkvist e Noomi Rapace faz Lisbeth Salander. Este filme aqui foi o primeiro (e, que eu saiba, até agora o único) a ser lançado no Brasil.
E, como era inevitável, o cinemão americano já está preparando as refilmagens de todos os três. O inevitável não é exagero algum. Como já anotei várias vezes aqui, para o cinemão americano, é como se filme estrangeiro não existisse; se faz sucesso, eles refilmam – mesmo que o original seja perfeito, como é o caso deste aqui. O diretor escolhido para a refilmagem do primeiro foi David Fincher, que fez Seven e Zodíaco – tem a ver. O inglês Daniel Craig, o mais recente James Bond, faz Mikael Blomkvist, e o papel de Lisbeth Salander ficou com Rooney Mara, jovem atriz nascida em 1985. O remake deve ser lançado em 2011.
No intróito, um velho senhor recebe um pacote – e chora
Os Homens que Não Amavam as Mulheres começa com uma seqüência que sugere que o diretor veio do cinema publicitário: são tomadas limpíssimas, em super-hiper-big-close-ups, de um velho e rico senhor abrindo um pacote que chegou pelo correio. A tela inteira é ocupada por close-up da tesoura cortando o barbante, depois o envelope; o close-up do rosto do homem tem o fundo negro, como se fosse um retrato em estúdio fotográfico. Outro grande close-up mostra que o pacote foi colocado no correio em Hong Kong. Ele abre finalmente o pacote – é um quadro de uma árvore. O homem chora.
Só depois desse intróito o espectador fica conhecendo os dois personagens centrais, que vão sendo apresentados em ações paralelas. Mikael Blomkvist é um dos donos da revista independente Millennium; repórter investigativo, publicou uma série de reportagens acusando um próspero empresário de fraudes financeiras e ligações com tráfico de drogas. O empresário foi à Justiça pedindo a condenação de Blomkvist por injúria; o jornalista não consegue provar suas acusações, e é condenado a três meses de prisão e ao pagamento de uma alta indenização.
Blomkvist – que só deverá se apresentar para cumprir sua sentença de prisão daí a seis meses – decide se afastar da revista, como forma de proteger a reputação da publicação.
Uma jovem com a aparência assustadora de um punk andrógino
O segundo personagem principal é apresentado ao espectador de forma bem mais elusiva, evasiva, bem menos clara. Lisbeth Salander é uma jovem com a aparência de um punk andrógino – um monte de piercings, de argolas, um monte de tatuagens na pele (estas só vão aparecer mais tarde, ao longo da narrativa), cabelo curto, franja caindo no meio dos olhos, calças compridas negras, casaco de couro negro. Uma figura bastante assustadora – e até mesmo um tanto asquerosa.
Lisbeth – vamos vendo pouco a pouco – investiga a vida de Blomkvist. Trabalha numa empresa de investigações. É um gênio tecnológico – hacker dos mais hábeis, entra com a maior facilidade no hard disk do computador do jornalista, sabe tudo o que ele tem lá; domina todos os modernos meios de fotografar, filmar, fazer escuta, e armazenar tudo em seu laptop. Um Sherlock punk-rock, na feliz definição do AllMovie.
O velho que vimos na seqüência de abertura tem uma proposta a fazer a Blomkvist. Chama-se Henrik Vanger (interpretado por Sven-Bertil Taube, na primeira foto do post, em segundo plano), é o patriarca de uma grande família que possui um dos maiores conglomerados de empresas da Suécia, que levam o seu sobrenome. Mora numa ilha, Hedeby, ligada ao continente apenas por um ponte, que leva à cidade vizinha de Hedestadt, e convida o jornalista para ir até lá, quando então apresenta seu pedido, sua proposta.
O milionário quer que Blomkvist investigue o desaparecimento de sua sobrinha Harriet, a pessoa que ele mais amou na vida. Harriet desapareceu misteriosamente da ilha de Hedeby 39 anos antes, em 1966, quando tinha apenas 16 anos de idade. Seu corpo nunca foi encontrado, embora a polícia tivesse feito buscas intensivas. O velho Henrik, aos 82 anos de idade, acredita que alguém de sua própria família matou Harriet. Acredita também que o assassino (ou a assassina) é a pessoa que, a cada ano, manda para ele, de algum lugar do mundo, um quadro com uma planta – como Harriet fez durante alguns anos, antes de desaparecer.
A família Vanger é grande: Henrik é o mais velho de quatro irmãos, e cada um dos três mais novos teve filhos. Qualquer um pode ser o assassino, segundo acredita Henrik. Está fazendo a proposta a Blomkvist por acreditar que ele é um investigador sério, abnegado – e, pelo trabalho, pagará a ele uma enorme fortuna.
Estamos aí com uns 15 minutos de um filme que dura 152 – e que passa muito depressa e deixa o espectador querendo ver mais.
Uma fascinante investigação feita hoje sobre fatos dos anos 60
Não tem sentido adiantar mais nada da história em si, mas não é spoiler dizer que investigar fatos de um passado já distante é algo absolutamente difícil – tão difícil quanto fascinante de se ver, na literatura ou no cinema. Agatha Christie criou histórias assim – só para lembrar de um dos nomes mais famosos do universo das histórias de crime e mistério.
O grande diferencial, aqui, é que se trata de uma trama criada nos anos 2000, já na era da informática, portanto. A história que Stieg Larsson criou tem essa fascinação a mais: uma investigação feita nos anos 2000, com todo o apoio da tecnologia, sobre fatos passados nos anos 60, naquele estranho mundo pré-computação.
É preciso registrar que, como não li o livro, não tenho condições de falar sobre as necessárias liberdades que os autores do roteiro, Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg, certamente tiveram que tomar para condensar numa narrativa cinematográfica toda a trama que Stieg Larsson narra no livro que beira as 700 páginas. Segundo escreveu Philip Maher na sua crítica no AllMovie, “muitos dos espectadores estarão predispostos a criticar o filme por causa das inevitáveis diferenças em relação ao livro. Enquanto os mais dedicados fãs do best seller internacional de Stieg Larsson poderão encontrar muitas discrepâncias no filme de Niels Arden Oplev, é difícil imaginar alguém saindo do cinema desapontado por esse thriller arrebatador”.
Ah, sim – porque é um thriller arrebatador.
A jovem Noomi Rapace criou uma extraordinária Lisbeth Salander
Todo o elenco está absolutamente perfeito. Michael Nyqvist – que eu tinha visto recentemente em A Vida no Paraíso, como um famoso maestro que tem uma crise séria de saúde devido à vida estressante e volta ao vilarejo onde cresceu – é um bom ator, e compõe muito bem o jornalista competente, que está vivendo um período extremamente difícil, com a perda de credibilidade e a condenação na Justiça.
Mas o grande show é da jovem atriz Noomi Rapace, nascida em 1979, em Hudiksvall, uma pequena cidade de 15 mil habitantes bem mais ao Norte do que Estocolmo. Lisbeth Salander, a Sherlock punk-rock, é um personagem extremamente complexo – e é fascinante como o roteiro vai revelando bem aos poucos algumas das características da moça. Lisbeth é fechada, agressiva, sabe ser extremamente violenta; tem um trauma pesadíssimo – que só será revelado bem para o final da narrativa, e apenas de maneira implícita, sem que tudo seja dito claramente. É quase uma delinqüente, uma pessoa absolutamente desajustada – embora inteligentíssima, uma investigadora brilhante, uma hacker imbatível. Trancada em si mesma, às vezes deixa transparecer que é uma pessoa vulnerável – mas encobre a vulnerabilidade com uma casca grossa que não permite a aproximação de outras pessoas. É um vulcão, uma bomba prestes a explodir a qualquer momento.
É tudo isso, mas as características do personagem vão aparecendo pouco a pouco, a conta-gotas. Ela é sobretudo uma pessoa misteriosa; num belo diálogo, Blomkvist vai sintetizar: “Você sabe tudo sobre mim, e não sei absolutamente nada sobre você”.
Noomi Rapace se preparou para o papel de Lisbeth ao longo de sete meses. Enfrentou uma dieta rígida para emagrecer – Lisbeth é magérrima –, botou piercings no nariz e na sobrancelha, teve aulas de kick boxing, aprendeu a dirigir motos.
Valeu. Sua interpretação é impressionante.
E é muito rico o choque entre a jovem Lisbeth, o mistério ambulante, e o maduro, calejado Blomkvist, um livro aberto.
Momentos de violência fortíssima, apavorante, nauseante
O filme aborda temas pesados, violentos. Tem momentos de violência imensa, incomensurável – e o diretor Niels Arden Oplev a expõe com grande crueza, de forma nada sutil, muito ao contrário. A violência é fortíssima, apavorante, e de uma explicitude de provocar náusea. Há momentos que fizeram com que Mary e eu nos lembrássemos da série Dexter – também brilhante, mas violenta demais.
Niels Arden Oplev é dinamarquês, nascido em 1961. Tem 13 prêmios e nove outras indicações, e um currículo de 12 filmes e/ou episódios de séries para a TV; não vi nenhum outro de seus trabalhos. Ele só dirigiu o primeiro dos três filmes da Trilogia Millennium; os outros dois foram feitos pelo sueco Daniel Alfredson.
A história, toda a trama deste Os Homens que Não Amavam as Mulheres é de um brilho acachapante. É de fato de dar vontade de ver os outros dois filmes – os três foram feitos quase simultaneamente. Ou, melhor ainda: de ler os outros dois livros, e em seguida ver os filmes, que devem, com toda certeza, estar para chegar.
Não resisti: dois dias depois de ver o filme, um dia depois de fazer a anotação acima, fui até a Cultura e comprei A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. Deveria ter comprado só um – cada um deles é uma trolha, um tijolaço de 600 páginas, e leio muito devagar. Mas é fascinante, o universo criado por esse sueco comunista. Estava certo o Guardian de Londres quando fez o aviso: “Atenção: esta trilogia é altamente viciante”.
Para ler meu comentário sobre os livros da Trilogia Millennium, clique aqui.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres/Män som hatar kvinnor
De Niels Arden Oplev, Suécia, 2009
Com Michael Nyqvist (Mikael Blomkvist), Noomi Rapace (Lisbeth Salander), Lena Endre (Erika Berger), Peter Haber (Martin Vanger), Sven-Bertil Taube (Henrik Vanger), Peter Andersson (Nils Bjurman), Ingvar Hirdwall (Dirch Frode), Marika Lagercrantz (Cecilia Vanger), Björn Granath (Gustav Morell), Ewa Fröling (Harriet Vanger)
Roteiro Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg
Baseado no romance Män som hatar kvinnor, no Brasil Os Homens que Não Amavam as Mulheres, de Stieg Larsson
Fotografia Jens Fischer e Eric Kress
Música Jacob Groth
Produção Yellow Bird Film, Svensk Filminstitute. DVD Imagem Filmes. Estreou em São Paulo 14/5/2010.
Cor, 152 min (há versão estendida com 180 min).
***1/2
Título em inglês: The Girl with the Dragon Tattoo
Entendo sua postura de cinéfilo quanto ao filme – é bom, e teria achado ótimo se não tivesse lido o livro. Mas ocorre que li, e aí complica. Talvez por cansaço, não consegui ver a unidade da história no filme -achei-o críptico, com lacunas importantes. E muitas, muitíssimas liberdades.
Blomkvist está bem caracterizado – ainda que no livro ele seja mais complexo do que aparece na tela.
Lisbeth – a personagem do ano – é que me incomodou um pouco. A atriz é ótima, mas ficou no ‘quase isso’ fisicamente; para ser perfeita, ela teria de ter o corpo bem pequeno, mas com músculos. Enfim, ela é forte demais no filme, agressiva demais no physique. Lisbeth era punk, fechada e agressiva, mas enganava quem a visse de longe pela aparência frágil.
Enfim, ler livros e vê-los na tela pode ser bom ou ruim, raramente indiferente.
Posto isso, veja Wallander, uma série sueca, também baseada em livros, sobre um detetive policial. É muito bom. Passa no canal film&arts, mas deve ter em locadora também. Há a versão britânica, com o Kenneth Branagh, mas nunca vi. E como não li os livros, para mim está tudo certo.
Regina Berlim
Vi hoje o filme e fiquei encantado. O que o Sérgio escreve acho que está certíssimo.
E a actriz Noomi Rapace está mesmo extraordinária.
Ah! Quanto ao remake americano já nem digo nada, já disse por aqui alguns impropérios.
E claro que não vou ver.
Eu vi este e o segundo da trilogia que já estreou em Portugal e que há em DVD há já algum tempo.
Mas sobre o último é um mistério; está feito desde 2009, já foi exibido em alguns países mas perdeu-se algures.
Por aqui ainda não chegou o segundo, nem nos cinemas nem em DVD. Inveja de você que já viu o dois…
Devo dizer que achei o segundo filme nitidamente inferior ao primeiro.
Como não li o livro não sei se o argumento lhe é fiel ou não, mas não tenho uma explicação clara para esta quebra de qualidade.
Mudaram de realizador e de argumentista e, segundo li algures, passaram a considerar este filme e o seguinte como filmes para TV com a consequente quebra no financiamento.
Fica o link para um blog português que pode ajudar.
http://axasteoque.blogspot.com/2010/02/millennium-2-rapariga-que-sonhava-com.html
Li o livro antes, e por isso acabei não gostando do filme. Achei que condensaram demais a história, nem o caso dele com a Erika eles mostraram. Pareceu mais um roteiro “levemente inspirado” do que “baseado”.
Entendo que não dá pra colocar tudo que estava no livro, mas ficou sintetizado demais. Só a segunda parte é que teve um pouco mais de semelhança. Enfim… não posso dizer que gostei. Só achei legal que alguns poucos personagens eram exatamente como os imaginei.
Também não gostei da atuação da atriz que faz Lisbeth. Além do físico não bater com a do livro, a atriz é velha pro papel e a personagem foi mal desenvolvida.
Talvez se eu não tivesse visto o filme imediatamente após ter lido o livro pudesse ter gostado mais, não sei.
Não gosto quando os americanos fazem remakes, mas desta vez vou querer ver a versão deles, já que não gostei da original – mas colocar o Daniel Craig no papel do Blomkvist é meio nada a ver.
Ah, nesse filme tem spoiler sobre o segundo. Achei de última!
O terceiro filme já tem data marcada para estrear em Portugal.
Custou mas parece que vai chegar cá!
Quanto ao Brasil, segundo li algures, vai ter ou já tem o segundo directamente em DVD.
O remake americano do primeiro vai sair em breve.
E eu não vou ver está claro.
O terceiro filme já estreou em Portugal esta semana mas os srs. críticos ainda não disseram nada.
Eu protelei,protelei,protelei,para tentar encontrar o original sueco,pois vi “a menina
que brincava com fogo”,antes deste, no original sueco,na intençao de ver com os mesmos atores,mas não encontrei e,tive de ver
a refilmagem EUA. Eu gostei bastante,o filme é envolvente,prende a atenção e, por isso, tbm,passa rápido. Gostei da atriz que fez a Lisbeth mas gostei um pouco mais da Lisbeth sueca(Noomi).E,era difícil ver o jornalista sueco (Blomkvist)na interpretação do Daniel Craig. Ao contrário do José Luiz,eu gostei mais do segundo filme.E,é aquela coisa,não possso comparar pois não vi(e quero ver) o original sueco.Se o americano,gostei, com certeza, o sueco deve ser melhor.
Notei que com a Jussara,aconteceu o contrário
Por que será que a Lisbeth tinha de ter aquele visual??
Estás certíssimo Sergio, quando falas da Agatha Christie,ela era fenomenal,li vários livros dela.
Bem,só me falta ver,”A Rainha do Castelo de Ar” e,espero vê-lo no original sueco.
Falei que ia ver a versão americana, e finalmente vi, um século depois. Como já sabia a trama e o final, foi meio enfadonho, confesso que fiz um certo esforço, mas tem uma hora em que a história embala. O ruim é que a investigação, que geralmente é a melhor parte de um filme, eu já conhecia, então prestei pouca atenção.
Bom, com o Daniel Craig no papel do Blomkvist dá pra entender melhor todas as mulheres caindo em cima dele. Mas achei o cara acabadinho de rosto para quem tem 45 anos; só que antes assim que com botox na testa. Em compensação, de corpo ele está melhor que muitos de 20.
A refilmagem mostra mais detalhes do livro que o filme sueco, só que vai direto ao ponto, sem os rodeios (muitas vezes cansativos e desnecessários) do livro. A Lisbeth tem mais a ver fisicamente com a do livro, incluindo um corte de cabelo medonho. Só achei que ela fala “muito” para uma Lisbeth Salander, mas passa mais empatia. Os americanos a deixaram meio apaixonadinha pelo Mikael, fato que não me lembro de ter ocorrido no livro, até porque não tem nada a ver com ela; deve ter sido feito pra agradar ao público. As cenas de violência são fortes, e na do estupro eu preferi não ver tudo, porque não sou obrigada, com tanta violência acontecendo às mulheres no mundo todo, todos os dias.
Assim como no original, na versão americana Erika Berger foi rebaixada a apenas uma amante do Mikael.
Não sei se é minha memória falhando, mas achei que mexeram na parte final, para mim está um pouco diferente.
Todos os atores estão bem e acho que o filme agradou aos fãs do David Fincher, pelos comentários que andei lendo. Parece que querem refilmar o segundo também, só que se acontecer não vai ser o David Fincher o diretor, e nem o Craig será o ator principal (pois segundo dizem ele fez o filme porque gostou da história, mas não esperava todo o sucesso, cresceu o olho e está pedindo muito dinheiro). O que vai ser no mínimo estranho, uma continuação com um ator diferente.
A película teve uma abertura mucho loca, toda trabalhada na computação gráfica de última geração, uma versão de uma música do Led Zeppelin e ritmo de videoclipe da MTV, bem ao gosto da galera jovem.
Para o Ivan: os filmes não explicam o porquê da Lisbeth ter aquele visual, mas é porque ela sofreu a vida toda com violências e abusos, começando pelo pai dela; ser e se vestir daquele jeito foi a maneira que ela encontrou de se proteger um pouco do mundo e das pessoas, uma forma de defesa. Penso que também é uma opção, tem pessoas que gostam de se vestir assim, ter mil piercings e tatuagens.