Encontro Explosivo / Knight and Day

2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2010: Encontro Explosivo leva às últimas conseqüências esse insuportável modismo do cinemão comercial de hoje de perseguir o exagero do exagero do exagero do exagero. Achava que já havia visto filme exagerado, mas este aqui veio para bater o recorde.

Vale como uma luva para ele observações que fiz sobre há pouco tempo Anjos e Demônios, de Ron Howard, em que Tom Hanks interpreta de novo o super-herói Robert Langdon, o mesmo de O Código Da Vinci:

É tudo uma gigantesca bobagem. É o exagero do exagero do exagero, essa marca registrada das grandes produções do cinemão comercial, seja hollywoodiano ou europeu (vide o alemão-franco-espanhol Perfume – A História de um Assassino, ou o ítalo-franco-luso Segredos de Estado, ou o francês O Pacto dos Lobos). Não tem nada nem remotamente parecido com a realidade, com a vida – nem nada plausível, verossímil. Parece um desses filmes baseado em histórias em quadrinhos, que agora chamam de graphic novels, pra ficar mais chique.

Do jeito que estão criando super-heróis, Indiana Jones, mesmo o do primeiro filme, vai parecer um alquebrado velhinho incapaz.

Se não, vejamos:

Nos primeiros 15 minutos de ação, talvez até menos, Roy Miller, o personagem interpretado por Tom Cruise: a) dá dois encontrões com uma moça bonita no aeroporto de Wichita – June Havens, a personagem de Cameron Diaz; b) conversa com ela dentro do avião que vai do Kentucky para Boston, fala um monte de frases charmosas, deixa a moça tão doidinha por ele que ela tem que ir ao banheiro para esfriar a cabeça e dar uma melhorada no visual; c) enquanto a moça está no banheiro, ele é atacado por todos os passageiros do avião, uns cinco ou seis ou sete, não deu para contar – e mata todos eles, mais o piloto, que tenta atirar nele e acaba matando o co-piloto; d) assume o lugar do piloto; e) pousa o avião numa estrada, escapando por pouco de bater contra um grande caminhão; f) dá para a moça, em estado de pânico, de choque, beber um troço que a faz desmair; g) descobre, sabe-se lá como, onde a moça mora em Boston, e a deposita gentilmente na cama dela; e h) prepara para ela um bom café da manhã e deixa ao lado da cama suave bilhetinho.

O povo no cinema vai à loucura.

Isso tudo nos primeiros 15 minutos, ou talvez 12. O filme tem 130 minutos.

         Uma imensa, gigantesca bobagem – e não que é que me diverti?

Mas, afinal, quem é esse cara, que põe Indiana Jones, o Super-homem, o Homem Aranha, o Capitão Marvel, todos eles, no chinelo? É claro que o espectador já se fez algumas vezes essa pergunta, mas, para ajudar os menos atentos, a pergunta é feita várias vezes por uma Cameron Diaz que não pára de arregalar os olhões azuizinhos.

Roy Miller é um agente secreto do governo. Está de posse de um artefatozinho que parece uma pilha AA mas na verdade é uma fonte poderosíssima de energia, capaz de garantir a iluminação de toda uma cidade. O artefato foi desenvolvido por um amigo dele, um cientista maluco e genial, que sequer freqüentou a universidade, um tal de Simon (Paul Dano). Outro agente do governo, Fitzgerald (Peter Sarsgaard), conseguiu convencer a chefe dos dois, George (Viola Davis), de que Roy vendeu-se ao superbandidão Antonio, um dos maiores contrabandistas de armas do mundo, e pretende negociar com eles a venda da fantástica fonte de energia. Aqueles caras todos no avião eram agentes do governo que queriam pegar o artefato.

Bem, isso é o que ele conta para a mocinha. Mais tarde (579 mil assassinatos, perseguições em carros, explosões, reviravoltas, confusões depois), a mocinha vai duvidar dele, achar que ele na verdade é o bad guy da história.

Ou seja: tudo uma imensa bobagem.

Mas não é que eu me diverti?

Tom Cruise, aos 48 anos, parecendo mais jovem e mais bonito do que quando fez Top Gun, em 1986, é divertido; ele passa a sensação de que ele está morrendo de rir de seu próprio personagem, dos exageros todos. Cameron Diaz é bonitinha, e o diretor James Mangold enche a tela com super-close-ups do rosto bonitinho dela (e dele também). Providencia-se também no roteiro uma rápida passagem da dupla explosiva por uma ilhota paradisíaca para haver a chance de mostrar Cameron Diaz de biquíni e a gente poder ver mais uma vez que ela é bastante gostosinha.

E a verdade é que Tom Cruise e Cameron Diaz fizeram uma dupla que funciona – os dois juntos têm a tal da química.

Na trilha sonora, de grande qualidade, assinada por um sujeito de quem nunca tinha ouvido falar, John Powell, há um delicioso tango.

E a trama nos leva também aos Alpes, a Salzburgo, a Sevilha no meio de uma daquelas festas em que soltam touros na rua.

         Nove pessoas mexendo e remexendo no roteiro

Para tornar o inverossímil ainda mais inverossímil, teremos que June, a lourinha simples, humilde, uma Maria-ninguém, como alguém diz, que só entendia de carros (ela trabalha com carros) e sequer tinha passaporte, jamais havia saído do país, de repente, como num passe de mágica, transforma-se na Mulher Maravilha.

O iMDB informa que o roteiro original, escrito por Patrick O’Niell, passou por vários títulos (All New Enemies, Trouble Man, Wichita), e depois foi reescrito por Scott Frank, seguindo um esboço de Dana Fox; depois teve um esboço feito por Laeta Kalogridis, depois outro esboço por Ted Griffin e Nicholas Griffin; depois passou por revisões feitas por Timothy Dowling, e mais outras revisões por Simon Kinberg. Isso feito, o diretor James Mangold ainda deu umas mexidinhas. Mas o crédito foi só para Patrick O’Neill.

O título original finalmente escolhido, Knight and Day, é um trocadalho do carilho. Knight, claro, é cavaleiro, como os cavaleiros da Távola Redonda, que eram também cavalheiros; é também o verdadeiro sobrenome do herói. Knight-night and day – a canção de Cole Porter. Trocadalho.

Outra informação interessante do iMDB: Tom Cruise, que já recebeu US$ 20 milhões por filme, teria recebido, por este aqui, segundo o Los Angeles Times, só (eta palavrinha irônica) US$ 11 milhões. Uma mixaria.

(Para se ter uma idéia de como o cinemão comercial de Hollywood é distante do cinema independente americano: Um Sonho Possível/The Blind Side, que deu o Oscar, o Globo de Ouro e o prêmio do sindicato dos atores a Sandra Bullock, custou US$ 29 milhões.)

Tom Cruise e Cameron Diaz – informa ainda o iMDB – filmaram cenas adicionais do final de janeiro até o início de março de 2010; e ainda fizeram novas gravações na primeira semana de maio, poucas semanas antes da estréia, que, nos Estados Unidos, foi no dia 23 de junho. Os dois astros vieram ao Brasil no início de julho para promover o filme, numa das muitas escalas de uma turnê mundial.

No primeiro mês de exibição, segundo o Box Office Mojo, o filme rendeu US$ 133 milhões. Pouco, comparado ao orçamento maluco de US4 117 milhões.

(Outro parênteses. Estréia nos EUA em 23 de junho, estréia no Brasil em 16 de julho – em 54 salas só na cidade de São Paulo –, e eu vejo o filme em 21 de julho. Um absoluto recorde de rapidez, pois não tenho mais ido ao cinema, que depois de velho troquei pelo conforto do DVD. O recorde tem uma explicação: minha sobrinha Rejane, de passagem por São Paulo, me arrastou para o cinema. Bom, esse negócio de  cinema – tela imensa, som bom, um pouco melhor que o da minha casa. A cara de Cameron Diaz com quase três metros. Duro é agüentar dezenas de adolescentes com Coca-Cola, pipoca e gritinhos.)

O filme é tão recente que o AllMovie ainda não tem texto inicial, nem a foto do cartaz. Mas já tem uma longa crítica, que considera o filme longo demais.

         Um diretor com bons filmes no currículo

Depois de passar pelo iMDB, pelo Box Office Mojo e pelo AllMovie, consulto o site 50 Anos de Filmes (um bom sitezinho, com textos loooongos sobre cada filme, mais longos que os do AllMovie, e cheios de opiniões pessoais), e vejo que estão lá dois dirigidos por James Mangold – Cop Land, bom filme sobre corrupção policial, e Johnny & June/Walk the Line, a boa cinebiografia do grande Johnny Cash.

Além desses dois filmes, Mangold fez também Garota, Interrompida, com Winona Ryder e Angelina Jolie, outro filme de que também gostei (embora não tenha anotado nada sobre ele). O sujeito é um artesão bem competente. E parece cuidadoso, parece cuidar bem de cada um de seus projetos: num período de 15 anos, entre 1995 e 2010, fez nove filmes. É menos do que fazem muitos diretores tipo linha de produção de Hollywood.

Bobagem pura, exagero do exagero, com a importância de uma poeirinha de cocô de cavalo de bandido, Encontro Explosivo é uma gostosa diversão.

Encontro Explosivo/Knight and Day

De James Mangold, EUA, 2010

Com Tom Cruise (Roy Miller), Cameron Diaz (June Havens), Peter Sarsgaard (Fitzgerald), Jordi Mollà (Antonio), Viola Davis (diretora George), Paul Dano (Simon Feck), Marc Blucas (Rodney), Maggie Grace (April Havens) 

Argumento e roteiro Patrick O’Neill

Fotografia Phedon Papamichael 

Música John Powell 

Montagem Quincy Z. Gunderson e Michael McCusker

Produção New Regency Pictures, 20th Century Fox. Estreou nos EUA 23/6/2010, no Brasil 16/7/2010.

Cor, 130 min

**1/2

Título em Portugal: Noite e Dia

13 Comentários para “Encontro Explosivo / Knight and Day”

  1. Realmente o Tom Cruise ainda bate um bolão. Dos atores da geração dele, ele foi e continua sendo o mais bonito. E não é um ator ruim. Nunca gostei da beleza muito perfeitinha, mas era impossível resistir ao sorriso de dentes perfeitos do cara.. Além de tudo, ele ainda consegue ser simpático e ter uma filha fofíssima.
    E por falar em Top Gun, vc viu a comparação da foto dele e da atriz Kelly McGillis na época do filme, com uma foto atual dos dois? O tempo é cruel com as mulheres.
    Apesar de eu não gostar da Cameron Diaz, que além de insossa tem a boca maior que a do Coringa, e de saber que o filme é uma tremenda bobagem, fiquei com vontade de assistir.
    PS: o som da sua casa deve ser muito bom, hein?! Eu piro com o som dos cinemas. Pra mim, nada substitui a telona, aquele som altíssimo, as poltronas e a pipoca com manteiga que eu nunca consigo imitar. As únicas desvantagens do cinema são as pessoas mal educadas e não poder dar rewind.

  2. Fiquei com vontade de ver, e vi com duas primas de Campo Grande, neste fim de semana em que estive por lá (em Campo Grande não há muito o que fazer, então …).
    O filme é bastante divertido mesmo, é tudo mentira, mas é muito legal. Tom Cruise está em excelente forma (e eu já tinha esquecido de como gosto da voz dele), apesar de já não ter mais a mesma beleza e frescor que só a juventude proporciona. A Cameron Diaz é apenas a Cameron Diaz, sem graça como só ela sabe ser, mas até que achei que ela estava bem nesse filme, afinal, não precisou atuar.
    Eu não tive problemas com a pipoca nem com a *Coca-Cola alheias, pois esse é meu kit indispensável no cinema; o único porém foi um adolescente com dois neurônios que ria muito alto e me irritava profundamente – pois atrapalhava ouvir as falas seguintes – e ainda repetia quase todas as frases da personagem da Cameron (aquelas frases que são deixas para a plateia rir).
    No mais, nem vi as duas horas passarem. O filme é uma imensa bobagem, como vc disse, mas é diversão garantida.

    * preciso dizer que prefiro guaraná a Coca-Cola, e que não é sempre que bebo refri, só eventualmente :S.

  3. Caramba ta quem e o imbecil q vai achar q alguem faz tudo aquilo lá? ¬¬”
    Gente e um filme …
    o Povo ñ se precupa + em fazer filmes para receber Oscars ou sei la oq +…
    são feitos so para gerar renda…
    e alem do + o filme foi Otimo…

  4. Eu já não suporto esse gajo, o Tom Cruise e pronto!
    A prpósito deste filme que não vi nem verei encontrei isto:
    “um filme feito para adultos que têm a idade mental de crianças”
    Jorge Leitão Ramos, Expresso

  5. KKKKKKKKK Achei que os comentários seriam mais ferozes mas apesar do filme ser uma imensa bobeira não é que eu gostei! rs Tom Cruise é Tom Cruise um “gatão” meio decadente mas ainda sim Gatão kkk e Cameron Diaz meio boca que só até ficou bonitinha e legalzinha no papel de June Havens.

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