4.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Então, em 2005, depois de duas comédias que não foram louvadas como grandes obras – Igual a Tudo na Vida/Anything Else, de 2003, e Melinda e Melinda, de 2004, e antes da maravilha absoluta de Scoop – O Grande Furo/Scoop, de 2006, Woody Allen foi para a Inglaterra e fez este drama familiar misturado com thriller.
Seu primeiro filme rodado inteiramente fora dos Estados Unidos é um brilho. Mais um dos tantos brilhos com que esse cineasta maior nos brindou ao longo das últimas cinco décadas.
Disseram que este é um de seus poucos filmes sem qualquer humor. Verdade, foram poucos. Teve Interiores/Interiors, de 1978. Setembro/September, de 1987. A Outra/Another Woman, de 1988. A rigor, este aqui é o quarto filme de Woody Allen sem humor algum.
Porque até em Crimes e Pecados/Crimes and Misdemeanours, a sua versão pessoal do Crime e Castigo de Dostoiévski, havia momentos de humor, embora cercados por uma atmosfera pesada, densa, asfixiante.
Em Crimes e Pecados, ele já havia feito algo bem próximo do que faria neste Match Point. Como no filme de 1989 (e, é bom lembrar, exatamente como na Tragédia Americana de Theodore Dreiser), o personagem central usa e abusa da amante – até o momento em que ela se torna incômoda, porque pode atrapalhar seus planos relacionados à sua posição na escala social. E a partir daí haverá a tragédia.
Na Tragédia Americana de Dreiser, o personagem central, Clyde Griffiths, é um sujeito muito pobre, que consegue um emprego na fábrica de um primo rico e torna-se amante de uma operária. Mais tarde, se aproxima da prima rica, filha do industrial, e vê a possibilidade de um casamento com ela. Quando a amante conta que está grávida, a tragédia está selada.
Em Crimes e Pecados, o médico Judah Rosenthal (Martin Landau) vê sua sólida posição social ameaçada quando a amante Dolores (Anjelica Houston) diz que vai contar toda a história do longo relacionamento à mulher dele, a rica Miriam (Claire Bloom). E a tragédia está selada.
Aqui, o lugar que foi de Clyde Griffiths e de Judah Rosenthal pertence a Chris Wilton, o personagem de Jonathan Rhys-Meyers, jovem ator em grande ascensão. Apesar da origem bem modesta, em família pobre da Irlanda, Chris se deu bem num esporte em que enriquecer e conviver com os muito ricos é fácil – o tênis. Ele ganha a vida como instrutor de tênis, e um de seus alunos é Tom Hewett (Matthew Goode), sujeito milionário, que tem uma namorada belíssima, sensualíssima, a americana Nola Rice (Scarlett Johansson, no primeiro dos três filmes consecutivos que Woody Allen faria com ela), e uma irmã, Chloe (Emily Mortimer, jovem e promissora atriz inglesa) simpática, inteligente, sensível. Os dois, Chris e Tom, ficam amigos.
Chris é bonito, charmoso – vai comer a namorada do amigo e casar com a irmã dele.
A tragédia está selada.
Desde sempre Woody Allen teve um texto brilhante. Em Celebridades/Celebrity, de 1998, por exemplo, ele escreveu esta frase, dita por Judy Davis:
“Os psicólogos e autores de livros de auto-ajuda que me perdoem, mas no amor é preciso ter sorte”.
O filme que ele fez no ano em que completou 70 abre com o seguinte texto brilhante:
“O homem que disse “prefiro ter sorte a ser bom” viu fundo na vida. As pessoas têm medo de ver quanto de sua vida depende da sorte. Dá medo pensar que tanta coisa está fora do controle da gente. Há momentos numa partida em que a bola bate no alto da rede, e, por um milésimo de segundo, ela pode ir para frente ou para trás. Com um pouco de sorte, ela vai para a frente, e você ganha. Ou talvez não, e então você perde.”
Se você não viu o filme, não leia a partir de agora
O jovem tenista Chris Wilton – assim como Clyde Griffiths e Judah Rosenthal antes dele – não vê outro jeito de se livrar da amante que se tornou incômoda a não ser pelo assassinato.
Ao contrário, porém, do que acontece no romance escrito nos anos 20, e como no seu filme anterior sobre o tema, neste aqui Woody Allen faz o assassino escapar impune. E ele escapa impune por um golpe de pura sorte – no que é a coisa mais abertamente brilhante do filme, a comparação entre a sorte ou o azar que se seguem quando a bola de tênis bate na rede e, por alguns segundos, ou décimos de segundos, oscila entre cair do lado de lá ou do lado de cá, com o destino do anel da vítima que o assassino joga em direção ao Rio Tâmisa, e cai na calçada.
Na vida de Chris Wilton, ao contrário de no tênis, o cair para trás é sorte, e não azar. Num golpe de mestre, Allen, o roteirista brilhante, inverte os sinais do tênis e da vida do assassino.
Amargo, sem dúvida. Extremamente amargo – que nem a vida real.
Match Point
De Woody Allen, EUA-Inglaterra, 2005.
Com Jonathan Rhys Meyers (Chris Wilton), Scarlett Johansson (Nola Rice), Emily Mortimer (Chloe Hewett), Matthew Goode (Tom Hewett), Brian Cox (Alec Hewett), Penelope Wilton (Eleanor Hewett),
Argumento e roteiro Woody Allen
Fotografia Remi AdefarasinFotografia Remi AdefarasinMontagem Alisa LepselterCasting Patricia Kerrigan DiCerto, Gail Stevens e Juliet Taylor
Produção BBC Films
Cor, 124 min
****
Achei, estou achando sensacional este site.É uma viagem de informação e, melhor, de recondução ao que já vimos, adoramos e … esquecemos num canto da memória.
Seu trabalho,Sérgio, é primoroso, como tudo, aliás, que vc faz. Traz de volta preciosidades jogando luz sobre cenas e temas e atores e dramas… Enfim, genial! Quero mais e mais e mais. E Parabéns, amado Sérgio, pelo belíssimo e imprescindível trabalho de garimpagem. Bárbaro!
beijocas da Lucy
Lucy, queridíssima, sua mensagem me emociona, me arrepia, me encanta. Claro que vejo exageros nos seus elogios, explicáveis por nossa longa e profunda amizade – mas o fato é que só por essa mensagem sua já valeu o meu site.
Odeio Woody Allen!!!!!
Confesso que não gosto do Woody Allen, mas gostei bastante desse filme. Só a parte da “sorte” e do final, é que me incomodaram um pouco, talvez pq eu não acredite em sorte/azar. Mas foi realmente uma ótima sacada a comparação que ele fez.
Jussara, esta é a nossa primeira grande diferença; até aqui, nossos gostos eram bem semelhantes. Mas é isso aí: viva a dessemelhança!
Eu amo Woody Allen e me vale a velha máxima: ele é como sexo, mesmo ruim, ainda é bom! E olhe que nem o acho ruim jamais! Muita gente o critica pelo que aconteceu na vida pessoal, mas não tem nada a ver. Prova disso é que ele está com a mulher até hoje, e, pelo que eu saiba, muito bem, obrigada. Outra coisa: desde quando a gente deve julgar o artista por conta de seus “deslizes pessoais”? Eu presto atenção é à obra! E, mesmo quando ele segue a linha, uma câmera não mão e a mesma ideia na cabeça, mesmo assim, ainda consegue ser genial e inovador. Nesse “Match Point”, achei fantástica a metáfora que é construída através do ponto final do tênis que define a partida. É exatamente assim que funciona no filme e na vida, como também o nosso grau de sorte ou azar que disso advém! Parabéns pela crítica, caro Sérgio. Adoreio o filme e o acho super revisitável. É também coerente. A bela Scarlett Johansson começa numa posição olímpica e pouco a pouco se degrada e por pura falta de sorte. Citei este exemplo apenas para ilustrar a coerência do filme com sua temática. Não interessa se cremos na sorte ou na falta dela; o filme é eloqüente no que propõe. Seu final também mostra isso. O comentário do tio é: “Não importa que ele seja feliz, mas que tenha sorte”.
Um bom suspense de Allen, o melhor filme do direror pra mim. Como e linda essa Scarleth hein? Meu Deus. Essq tem sim sorte de nascer tao bonita, vai dizer que nao? Que isso nao influencia alem do talento? Quando o acaso acontece a nosso favor chamamos de sorte, do contrario azar, e isso me parece bastante plausivel, alias, sorte e azar sao rotineiros. Gostei muito do final e confesso que torci pelo personagem de Jonathan, o mal carater Cris, afinal e cinema e nao preciso torcer pra mocinho nenhum. Na vida nem sempre o bem vence. Nem sempre temos sorte no jog…..quero dizer, na vida.
Caramba !! Ontém fez 7 dias que fiquei sem poder usar a internet por conta de uma pane em meu computa.
Foram 7 longos e odiosos dias. Mas, estou de volta e vou matar a saudade que estava sentindo do ” 50 Anos de Filmes ” .
Como eu havia dito na minha opinião de “Para Roma com Amor” , falando com a Miranda , vi este filme em agôsto e esqueci de dar minha opinião. Faço agora.
Vou ser bem sucinto.
Filmaço. Gostei demais da conta . E , ainda como se não bastasse , temos a presença das lindas , brilhantes e talentosas , Scarlett Johansson e Emily Mortimer .
Gostei do que disse a Glória e, ao contrário do Amaral, torci contra o Chris. Ele tinha que colher o que plantou.
Teve tudo da maneira mais fácil. Enganou a todos ali , inclusive ao sogro que nutria verdadeira admiração por ele.
Quem faz uma vez . . .
Mas esse foi o ” que ” do filme. A bolinha , para ele, caiu onde devia e o canalha se deu bem.
Grande filme, muito bom mesmo !!
Ah !! Assisti ontém ao meu 12 Wood Allen, foi
” Poucas e Boas ” e , como não podia deixar de ser, gostei muito também . Sean Penn e Samantha Morton estão muito bem. E tem tbm a bela e talentosa Uma Thurman.
Um abraço , Sergio !!
Este foi o último filme que vi de Woody Allen porque a crítica louvava imenso o filme, dizia que seria um renascer do realizador. Eu tentei acompanhar mas em vão. Não consigo recordar nada do filme, absolutamente nada. É o que me acontece quando vejo um filme que não me diz nada, não me agrada e não me incomoda, mas não fica nada.
Filmão. Maço. Segundo quem diz que entende de ingleses, entrar para a upper class não é tão fácil assim. Já nossa amiga ScarJo deveria ter trânsito livre em qualquer classe, lugar, tempo, cama, mesa, banho etc.
Acho que Allen quis dizer algo como: “acha que tem controle sobre sua vida, seu destino? Tá muito enganado.” Entre outras coisas.
O inicio do filme me lembrou Parasita do Bong Joon-Ho e após terminar Match Point fiquei com a pulga atrás da orelha exatamente por ter essa visão de semelhança entre as tramas. Porque na minha opinião, Chris Wilton fez tudo de caso pensado, digo a aproximação e consequente romance com a irmã de seu aluno e as provas estão ali às claras, por isso comparo esse filme com Parasita…no mais são duas obras que caminham diferentes, mesmo que a tragédia seja outra semelhança que as une.
Woody Allen sempre contando boas histórias de maneira elegante, independente do gênero.