Nós, as Mulheres / Siamo Donne


2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2005, com acréscimo em 2008: Uma bela pérola do neo-realismo italiano, seguindo a fórmula que seria muito usada nos cinemas italiano e francês dos anos 50 e 60, e depois voltaria a ser feito várias vezes nos anos 2000, como em Paris, Eu Te Amo – uma coleção de pequenos filmes, a rigor curta-metragens, esquetes, cada um dirigido por um cineasta, tendo em comum um tema básico.

Os franceses fizeram, por exemplo, Sete Pecados Capitais, nos anos 60 – cada pecado, um diretor. E também A Francesa e o Amor, com episódios de sete diretores diferentes, todos eles pré-nouvelle vague, mas já com jovens atores do movimento. Boccaccio 70 reuniu histórias livremente, mas muito livremente inspiradas no Decameron, de Boccaccio, contadas segundo os estilos muito díspares de De Sica, Visconti e Fellini. Fellini, Malle e Vadim se uniram para fazer Histórias Extraordinárias, livremente baseadas em histórias de Edgard Alan Poe. E por aí vai.

Na mesma época, alguns diretores fizeram, sozinhos, filmes de episódios, como Julien Duvivier e seu O Diabo e os Dez Mandamentos, ou como Vittorio de Sica e suas três histórias diferentes, mas todas interpretadas pela dupla Marcello Mastroianni-Sophia Loren, em Ontem, Hoje e Amanhã.

Neste Nòs, As Mulheres/Siamo Donne, o traço de união entre os episódios dos vários é que as atrizes interpretam a si próprias, em momentos em que não estão estrelas, e sim pessoas comuns em seu dia-a-dia. E é preciso convir que juntar Ingrid Bergman, Anna Magnani e Alida Valli é ter uma constelação gloriosa em um filme só. (Aqui, as três em cenas do filme.)

Depois de ver o filme, fiquei pensando sobre a fascinação que o recente cinema iraniano tem exercido sobre a crítica e as platéias mais intelectualizadas. Nos anos 1990 e início dos anos 2000 – depois da revolução islâmica de 1979 e antes da guinada ainda mais radical que tirou de cena os moderados, com a vitória do extremista Mahmoud Ahmadinejad em 2005 -, o cinema iraniano virou moda nos festivais de Cannes, Berlim, Veneza, na Mostra de Cinema de São Paulo. Foram cobertos de elogios os filmes feitos com histórias simples de gente do povo, seus pequenos dramas do dia-a-dia, com economia de recursos, nada de efeitos especiais, muitas vezes usando pessoas comuns, não profissionais, como atores.

Exatamente tudo o que o neo-realismo italiano havia feito quatro décadas atrás!

OK: sem o neo-realismo italiano não teria havido a nouvelle vague francesa, o novo cinema inglês dos anos 60, o cinema novo brasileiro. Mas é muito impressionante como, meio século depois, a influência dos filmes italianos do pós-guerra permanece, e encanta o mundo.

Um dos muitos filmes do Irã que conquistaram a crítica ocidental foi Salve o Cinema/Salam Cinema, de Mohsen Makhmalbaf, de  1995. O filme mostrava um concurso para selecionar atores para um filme a ser rodado pelo próprio cineasta. Exatamente o que mostrava, em 1953, quatro décadas antes, um dos episódios de Nós, as Mulheres.

Nós, as Mulheres/Siammo Donne

De Alfredo Guarini, Gianni Franciolini, Roberto Rossellini, Luigi Zampa e Luchino Visconti, Itália, 1953.

Com Alida Valli, Ingrid Bergman, Isa Miranda e Anna Magnani

P&B, 97 min.

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