[Rating:3]
Anotação em 2002, com complemento em 2008: Um classicão que eu nunca tinha visto, embora tivesse ouvido falar muito nele na adolescência. Um bom filme, sem dúvida, na linha de A Condessa Descalça, de Joseph L. Mankiewicz, de 1954, e Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, de 1950, todos feitos num período de cinco anos e todos retratando a máquina de Hollywood. Possivelmente é o menos forte dos três – acaba sendo otimista, até -, mas, mesmo assim, é um filmão, desses que merecem ser revistos de tempos em tempos.
Uma atriz (Lana Turner), um diretor (Barry Sullivan) e um roteirista (Dick Powell) são chamados por um produtor (Walter Pidgeon) que tenta convencê-los a fazer um filme juntos; os três são nomes importantes na indústria, e o filme que está sendo imaginado para eles seguramente fará um grande sucesso, capaz de tirar o estúdio presidido pelo personagem de Kirk Douglas da sua situação pré-falimentar. Mas tem um problema sério: atriz, diretor e roteirista têm ódio mortal do chefe do estúdio, por motivos que contarão, cada um por sua vez, em narrativas mostradas em flashbacks.
O livro The Oscar Movies from A-Z diz que a história teria se baseado parcialmente na vida de David Selznick, um dos mais famosos chefões de estúdio da história de Hollywood. (O livro não afirma que a história se baseia na vida de Selznick; toma o cuidado de dizer “tido como baseado parcialmente na carreira de David Selznick”.)
Hollywood gostou do retrato que o grande Vincente Minnelli – marido de Judy Garland e pai de Liza – fez dela própria. O filme ganhou cinco Oscars: atriz coadjuvante para Gloria Grahame, roteiro, fotografia, direção de arte e figurinos.
O DVD tem duas coisas de fato especiais: um longo documentário sobre a vida tumultuada, dramática de Lana Turner, e a trilha sonora, sem os ruídos e falas, em cerca de 13 faixas, para se ouvir e/ou gravar. A trilha é de David Raksin, autor de Laura, com quem Athayde Bucci, um apaixonado por cinema e trilhas sonoras, se correspondeu.
Assim Estava Escrito/The Bad and the Beautiful
De Vincente Minnelli, EUA, 1952
Com Kirk Douglas, Lana Turner, Barry Sullivan, Dick Powell, Walter Pidgeon, Gloria Grahame
Roteiro Charles Schnee
Baseado em história de George Bradshaw
Música David Raksin
Produção MGM, John Houseman
P&B, 118 min.
Este filme é bastante bom. Não é tão forte, por não ser tão amargo, quanto Sunset Boulevard mas, julgo eu, dá uma imagem mais completa e igualmente real do mundo do cinema. A estrutura narrativa chateia-me um bocado com a conversa estilo palestra que o homem dá ao guionista, realizador e atriz. Tirando isso, o filme satisfaz bem. Tenho um texto sobre ele por mim redigido. Coloco-o abaixo
“Nos anos 1950 foram alguns os filmes a explorar o universo cinematográfico: foram cinema a falar de cinema! “Sunset Boulevard” e “A Star is Born” são exemplos, mas, para mim, o melhor exemplo é “The Bad and the Beautiful” (1952), de Vincente Minnelli. O filme retrata o lado bom e o lado mau da fábrica de sonhos. O título em Português (Cativos do Mal) está excelente, melhor que o original, uma vez que espelha claramente a rede do mal em que as figuras ligadas ao cinema se encontram, sem se poder desfazer dela, estando amarrados para sempre nos seus tentáculos. Kirk Douglas faz um papel inesquecível, imoral, mas, no entanto, belo (pois o bad e o beautiful estão sempre juntos). Os outros atores estão óptimos. Dou o meu elogio a Lana turner, uma das minhas atrizes favoritas que mostra neste filme que não é só uma cara bonita, tendo um desempenho notável ao retratar aquilo que ela é, uma atriz. É deleitoso ver atores a retratarem as gravações de filmes daquela época, num mundo de cenários e câmaras que só povoavam com toda a sua força em Hollywood. Minnelli prova que não é só nos musicais e nos filmes cheios de cor que o seu talento reside. Este filme seco e pesado mostra o lado negro de Hollywood e dos seus cativos, mas, mais importante, mostra que há sempre algo de beautiful nesta fábrica de sonhos.”