1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2000: Eta filminho ruim! Agora, tirando o fato de que o filme – uma grande lenda, um símbolo, um fetiche – é um horror, meu Deus do céu e também da terra, de fato nunca houve uma mulher como Gilda!
Rita Hayworth está realmente uma das coisas mais agressivamente, poderosamente belas que o cinema já mostrou.
Acho que eu nunca tinha visto Gilda; era um daqueles filmes clássicos sobre os quais a gente sabe quase tudo, de tanto ver fotos, cartazes, comentários, citações – nunca houve uma mulher como Gilda. Só faltava ver – e vi por causa de uma matéria que preciso escrever sobre fumo, cigarro. E aí, surpresa: que grande porcaria!
O próprio livro The Columbia Story traz os senões todos, o que até me dispensa de justificar o que pode até parecer herético. A história não é uma história, é um amontoado sem nexo de situações absurdas, improváveis, ridículas. Não se sabe o que são os personagens, nem por que agem como agem – por que se odeiam tanto nossa Gilda e nosso Johnny Farrell?
Um detalhe chamou minha atenção: a foto de Rita no vestido negro sensualíssimo (criado por Jean Louis, o Versacci da época), segurando o cigarro acesso com a mão direita (a que está aí acima), um dos maiores ícones do cinema americano, capa do site sobre o glamour do cigarro nos filmes, capa de uma edição brasileira do Dicionário de Filmes de Georges Sadoul, é na verdade uma foto posada para a publicidade do filme, um still – ou seja, a imagem não está de fato no filme. Assim como a foto usada no verbete do filme do Cinemania, com Rita vestida de cowboy sadomasô parada diante do carro de um Glenn Ford fumando – é outro dos chamados still, ou publicity shot, que não está no filme.
O livro da Columbia especifica que é a voz da própria Rita que ouvimos quando ela toca Put the blame on mame, acompanhando-se ao violão, no cassino vazio – uma cena, aliás, totalmente ridícula, se não fosse pela beleza da atriz. Já quando ela canta a mesma música na famosérrima cena do cassino cheio, usando o tal vestido negro de Jean Louis, fazendo o que é tido, com toda razão, como o striptease mais sensual do cinema (e olha que ela tira a luva direita, apenas), a voz que ouve é da cantora Anita Ellis.
Gilda
De Charles Vidor, EUA, 1946.
Com Glenn Ford, Rita Hayworth, George MacReady,
Roteiro Marion Parsonnet, Joe Eisinger e Ben Hecht (este ultimo não é creditado no filme)
Baseado em história de E.A. Ellington
Fotografia Rudolph Maté
Produção Columbia
P&B, 110 min.
Sérgio Vaz:
Vi Gilda, na televisão, e notei várias coincidências com Casablanca. O mocinho feito por Glenn Ford em Gilda é dono (ou vira dono) de um cassino fora dos Estados Unidos (na Argentina). No passado teve um caso com a mocinha de Rita Hayworth, que agora aparece casada, mas o marido dela só descobre tudo no final. Em Casablanca o personagem de Hunphrey Bogart é dono de cassino no Marrocos, teve um caso com a mocinha feita por Ingrid Bergman mas o marido também só sabe no final. Nos dois filmes, o que ficou para trás, e agora se reencontra, são grandes e arrebatadoras paixões. Em ambos há um chefe de polícia muito compreensivo com o mocinho e seu cassino, a ponto de esconder o assassinato das últimas cenas. Só que em Casablanca o mocinho fica, e sua amada vai embora; em Gilda, vão os dois.
Eu me senti de alma lavada ao ler o comentário sobre o filme “Gilda”.
Minha mãe adorava este filme, mas quando o revimos juntas, há decênios atrás, eu fingi que gostei para não deixá-la triste. Passados os anos, comentando sobre o mesmo, ela me falou “eu lembrava que o filme parecia ser bem melhor quando eu o vi no cinema, logo que foi lançado”, repliquei “eu não gostei nem um pouco do filme, mas não quis te deixar chateada”, e então minha mãe me disse, de forma categórica “o filme é uma m… não sei como pude gostar tanto!”
É um filme datado, o maior defeito que um filme pode ter, na minha opinião. E é um filme que virou cult, outro defeito, pois quem não gosta é visto como um ET.
Mas que o filme é fraquinho, é.
Fica uma curiosidade: a Rita estava grávida quando fez o filme e aquele famoso vestido preto foi feito com vários drapeados na cintura para disfarçar a proeminente barriguinha e, mesmo assim, ela era linda e sexy. Uma atriz sofrível, na minha opinião, mas muito carismática.
agora eu te entendi de vez. Falar que Gilda é um filminho, dá a impressão que você não entende nada de filme ou quer se aparecer. Apesar do Blog maravilhoso que você fez. Fecha a boca,a amiguinho…
Bom ou não, este filme é uma lenda e funciona como lenda devido à presença magnética da Rita Hayworth. Eu tenho muita dificuldade em perceber se este filme é bom ou mau, porque, por um lado, não acontece grande coisa e a ação não tem muito sentido. Mas os diálogos inteligentes e o significado fálico da bengala fazem com que o filme tenha qualidade. Eu gosto de Gilda, daria 2 estrelas e meia. Mas eu percebo a tua opinião, Sérgio. O filme não tem grande lógica
O striptease mais sensual do cinema é o de Rita Hayworth em “Gilda”? Isso só pode ser piada. Porque os críticos de cinema se escandalizam tanto com a nudez no cinema? O que há de errado com o erotismo de obras como “O Decameron” de Pasolini ou “A Chave” do Tinto Brass? Sempre quando eu vejo o Doutor Antonio do episódio de Fellini de “Boccaccio 70” eu lembro dos críticos de cinema…