2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2000, com complemento em 2008: Depois de ver pela segunda vez A Incrível Suzana, o primeiro filme dirigido por Billy Wilder, que viria a ser um dos maiores diretores de cinema do mundo, me ocorreu uma frase simples, mas tão simples, que não me lembro se já ouvi antes, ou fui eu mesmo que fiz: o cinema de Billy Wilder é feito de pessoas que fingem ser o que não são.
Os exemplos são às dezenas: neste A Incrível Suzana, o personagem de Ginger Rogers finge ser criança; em Quanto Mais Quente Melhor, os personagens de Tony Curtis e Jack Lemmon fingem ser mulheres; em Beije-me, Idiota, a dona de casa finge ser puta e a puta finge ser dona de casa; em Irma La Douce, o policial finge ser cafetão, que por sua vez finge ser um inglês milionário; em Testemunha de Acusação, o personagem de Marlene Dietrich finge…
(Não, não é o caso de revelar nada sobre o extraordinário papel da extraordinária Marlene Dietrich nesse outro filme.)
Claro, o cinema de Billy Wilder é muito mais que isso. Afinal, ele fez quase de tudo, fez comédias hilárias, dramas pesadíssimos, policial noir, filmes de guerra, de tribunal. Mas, ao menos em parte, ele é isso, sim – uma coleção de pessoas que fingem ser o que não são. É uma marca registrada dele – isso, e uma gigantesca dose de cinismo.
A questão, neste seu primeiro filme como diretor, é que o fingimento é absolutamente, mas absolutamente improvável. Temos aqui que essa incrível Suzana do título brasileiro, “uma trabalhadora meio por baixo em Nova York, sem dinheiro suficiente para voltar para casa em Iowa, se fantasia como uma menina de 12 anos e compra uma meia passagem de trem”, para aproveitar a resenha de Pauline Kael.
Acontece que a incrível Suzana é interpretrada por Ginger Rogers, que estava então com 31 anos bem vividos. Então, os demais personagens do filme caírem nesse conto do vigário – só porque Suzana tem nas mãos um imenso picolé, e usa um chapeuzinho infantil -, isto sim é que é incrível! Ainda mais porque ela usa uma sainha de estudante, um tanto curtinha, e estão lá as pernonas balzaqueanas de Ginger Rogers…
Vamos de volta ao texto saboroso de Pauline Kael:
“Comédia decididamente picante do tempo da guerra, na qual Ginger Rogers, como uma trabalhadora … compra uma meia passagem de trem. Na viagem, encontra Ray Milland, oficial do exército estacionado numa escola militar para meninos, e ele fica perplexo por sua atração pela menina taludinha. A noiva do major (Rita Johnson) desconfia, e por isso a heroína é obrigada a manter seu enigma, mesmo quando tem de se defender de jovens libertinos na escola.”
Aí Pauline Kael solta a faca que ela sempre carrega:
“As situações de farsa são forçadas demais, e têm um verniz patriótico hipócrita, mas este primeiro filme americano dirigido por Billy Wilder foi um sucesso de bilheteria.”
Ela diz primeiro filme americano porque, antes deste aqui, em 1934, Billy Wilder havia co-dirigido um filme na França, Mauvaise Graine. Mas, a rigor, este The Major and the Minor foi o primeiro filme dirigido por Wilder, em qualquer lugar do planeta.
Wilder nasceu numa cidade que, na época, 1906, pertencia ao Império Áustro-Húngaro; hoje, depois de duas guerras mundiais e muitas mudanças no mapa, a cidade, Sucha Beskidzka, pertence à Polônia. O diretor sempre foi considerado austríaco de nascimento e, como tantos outros que emigraram para os Estados Unidos nos anos 30, antes da Segunda Guerra, virou americano por adoção. Ainda nos anos 30, ele trabalhou para Hollywood pelas mãos de um alemão, Ernst Lubitsch; foi ao fazer um roteiro para um filme de Lubitsch, A Oitava Esposa do Barba-Azul, que Wilder iniciou a parceria de décadas com Charles Brackett – e, ao mesmo tempo, pegou emprestado do mestre alemão um pouco de seu toque mágico.
Mas, voltando à Incrível Suzana, o título original também mostra o que seria uma marca registrada de Wilder: o jogo inteligente com as palavras. The Major and the Minor, o major/maior e a menor, é uma bela sacada.
Outros filmes de Billy Wilder neste site: | ||
1944 | Pacto de Sangue | Double Idemnity |
1960 | Se Meu Apartamento Falasse | The Apartment |
1961 | Cupido Não Tem Bandeira | One, Two, Three |
1964 | Beije-me, Idiota | Kiss me, Stupid |
1966 | Uma Loura por um Milhão | The Fortune Cookie |
1972 | Avanti! Amantes à Italiana | Avanti! |
A Incrível Suzana/The Major and the Minor
De Billy Wilder, EUA, 1942.
Com Ginger Rogers, Ray Milland, Rita Johnson, Robert Benchley, Frankie Thomas, Diana Lynn
Roteiro Billy Wilder e Charles Brackett
Produção Paramount
P&B, 100 min
**1/2
Título em Portugal: A Incrível Susana
Adoro este filme(A incrível Suzana),acho que Ginger estva linda de cabelos escuros e achei o filme delicioso.Estou tentando comprá-lo já faz um tempo…