Feriados em Família / Home for the Holidays


3.0 out of 5.0 stars

Anotação em 1997:  Segundo filme dirigido pelo geninho precoce Jodie Foster, e o primeiro em que ela não atua como atriz. (O anterior foi Mentes Que Brilham/Little Man Tate, de 1991, sobre garoto superdotado.) Tem talento inegável, a moça. Dirige bem os atores; tem ritmo; sabe compor personagens, tem jeito para a narrativa, tem facilidade em fazer graça.

É uma comédia dramática (mais cômica mesmo que dramática, a rigor) sobre vida em família, e os pequenos problemas que toda família tem. Não pretende ser uma coisa profunda como Segredos e Mentiras, mais ou menos da mesma safra. Pega uma família classe média média de Baltimore, levemente, e só levemente, mais “invulgar”, ou “bizarra”, do que a média americana: o único filho homem, Tommy (Downey, Jr) é homossexual assumido (seria esta a maneira de Jodie “sair do armário”?); Gladys, a irmã da mãe (Geraldine Chaplin, por coincidência trabalhando de novo com Downey Jr., depois de Chaplin, do Attenborough) bebe um pouquinho e revela que sempre foi apaixonada pelo cunhado (Charles Durning) – e lasca-lhe um beijo no meio da zorra que se forma no Dia de Ação de Graças.

De resto, são os problemas normais de uma família normal de pai, mãe, três filhos e seus agregados. Todos sofrem um pouco por terem que passar pela reunião obrigatória do feriado, mas no fundo todos gostam do ritual. (Há várias referências ao fato de que dali a pouco, no Natal, todos se reúnem de novo.) Ou seja: há problemas, há brigas, há desentendimentos, há falta de saco para as manias de cada um, mas toda família é assim mesmo, o que se há de fazer? e aquela, afinal, é até uma família feliz.

A ação se centra mais na personagem de Claudia (Holly Hunter), a “filha mais velha e mais inteligente”, como descreve a mãe (Anne Bancroft). Claudia saiu da cidade natal cedo (não fica explícito que é Baltimore; só nos créditos finais, pelos agradecimentos, é que o espectador tem certeza disso; mas para os americanos isso deve ficar muito claro; e é preciso lembrar que Baltimore é celebrada como a cidade conservadora e careta por excelência). Pois Claudia saiu de Baltimore cedo, mudou-se pra Chicago; tinha um grande talento (ou pelo menos os pais tinham certeza disso) para pintura; quando o filme começa, a vemos trabalhando como restauradora de obras de arte de um museu. Tem uma filha de 16 anos (Claire Danes, novinha de tudo neste filme), que está à beira da primeira trepada. Claudia é demitida na primeira seqüência, não por incompetência, mas porque o governo cortou as verbas para a instituição. Tem medo de avião, é insegura, nervosa, e se pudesse provavelmente não iria para a casa dos pais para o feriado, mas é empurrada pela filha, que provavelmente sabe que não tem outro jeito e além do mais a mãe no fundo gosta.

Os pais são bem típicos. O pai acaba de se aposentar, tem suas manias; a mãe é vaidosa, usa sempre perucas, se cuida, reclama que o marido está gordo demais; reclama de tudo do marido, na verdade, embora se dêem bem.

Assim como Claudia, Tommy, o irmão homossexual, saiu da cidade natal assim que pôde. Mora em Boston; aparece de madrugada na véspera do feriado com um amigo, e todos o percebem como o novo namorado, e querem saber o que houve com Jack (acho que este é o nome, embora não tenha certeza), o que, o espectador percebe de imediato, é o namorado firme dele faz tempo. Tommy é bem humorado, está sempre fazendo gracinhas, piadas, sacanagens com os parentes.

O personagem de Tommy é o que diferencia mais a família Larson de toda e qualquer outra família americana, e realmente deve ter sido o mais avançado que Jodie quis ou pôde mostrar de seu próprio lado homo. Toda a família, com apenas a exceção da outra irmã, a careta da história, convive basicamente bem com o homossexualismo de Tommy. Para Claudia, parece absolutamente indiferente que ele seja homo ou hétero; ela se preocupa com o fato de que a relação estável parece em perigo, já que o irmão apareceu para os feriados com outro. A mãe, o máximo que faz é perguntar, ao saber que houve uma cerimônia de casamento entre Tommy e Jack, se o filho usou roupas femininas (não, não usou). O pai, que Marynha definiu como o personagem mais interessante, o que faz é, ao receber telefonema de Jack (e aí a família e o espectador ficam sabendo que o casal continua junto, e bem), é dar congratulações pelo casamento – acrescentando, numa brincadeira tranquila, que ele merecia coisa melhor.

A outra irmã é a que ficou na cidade natal, achando que tem obrigação de cuidar dos pais quando eles ficarem velhos. É a careta por excelência. É casada com um babaca conservador que trabalha com mercado financeiro, tem dois filhos criados caretamente. É a que reclama que os pais dão mais atenção para os dois que saíram; é a que morre de vergonha de o irmão ser homo – e, bem no meio da comemoração do Dia de Ação de Graças, o chama, à mesa, diante dos filhinhos caretas, de cock sucker.

O auge da comemoração é o lugar ideal para as explosões das brigas e desentendimentos que não se acertaram jamais – e a seqüência é deliciosamente engraçada, vale o filme, e é impossível que algum espectador não se reconheça ali.

De resto, previsivelmente o amigo que Tommy trouxe para a festa, Leo, não é homo, não, senhor, e está é a fim de Claudia. Mas aí chega.

Assim como eu disse a respeito do Pequeno Dicionário Amoroso, este é um filme que fará cada espectador se identificar com alguma coisa da família, ou no mínimo com a família de um amigo. E isso é uma delícia.

Um filminho razoável. A moça tem talento. E, de alguma maneira, através do personagem de Tommy e as reações da família a ele, é um filme que pode fazer avançar dois milímetros as cabeças fechadas das pessoas em relação a quem se comporta diferentemente da maioria.

 Anotação em 1998: Fiz uma longa anotação quando vi pela primeira vez, um ano atrás, com muitos detalhes da história. No final, escrevi: Um filminho razoável. A moça tem talento.”

Eu estava com prevenção contra Jodie Foster, talvez por causa de Nell, em que ela trabalha, e que achei uma grande bobagem. Não, não é “um filminho razoável”. É muito mais. É um bom filme, de grande sensibilidade. Esta moça ainda vai nos dar muitas alegrias. 

Discuti outro dia sobre a idade dela. Achava que ela fosse de 1964; não, é de 1962. Em 1995, ano do filme, estava, portanto, com 33 anos.

Feriados em Família/Home for the Holidays

De Jodie Foster, EUA, 1995.

Com Holly Hunter, Anne Bancroft, Charles Durning, Robert Downey, Jr, Dylan McDermott, Geraldine Chaplin, Steve Guttenberg, Claire Danes, Cynthia Stevenson

Roteiro W. D. Richter

Baseado em conto de Chris Radant

Música Mark Isham

Cor, 103 min.

5 Comentários para “Feriados em Família / Home for the Holidays”

  1. Vi esse filme por causa das suas três estrelas, mas não gostei. Achei chato, com diálogos ruins e personagens desinteressantes. O personagem do Robert Downey Jr. parecia um adolescente babaca (só que tinha 30 anos) que apenas sabia fazer brincadeiras de mau gosto. Assisti aos pedaços, parando de vez em quando, e sempre que vejo um filme dessa forma é porque ele não me cativou.
    A única coisa boa foi ver a Claire Danes, novinha de tudo, como você disse, e já atuando super bem, apesar do papel pequeno.

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