Tomates Verdes Fritos / Fried Green Tomatoes


Nota: ★★★½

Anotação em 2010: Continua tão delicioso de se ver quanto na época em que foi feito, quase 20 anos atrás, este Tomates Verdes Fritos. É uma beleza de filme, sensível, caloroso, com um tom melancólico bem temperado por momentos leves, bem humorados. Uma pequena ode à vida e à amizade – suave, não uma sinfonia, mas um quarteto de cordas.

E que quarteto de atrizes, todas elas no auge de seu talento, perfeitas nos papéis – as então jovens Mary Stuart Masterson e Mary-Louise Parker, a sempre excepcional Kathy Bates em uma de suas melhores interpretações e a veteraníssima Jessica Tandy linda e sapeca. Ah, sim, e a importância delas dentro do filme é nessa ordem – primeiro as duas mais jovens, depois as duas mais velhas. Nos créditos iniciais, Kathy Bates e Jessica Tandy aparecem primeiro, por serem atrizes mais famosas. 

Tomates Verdes Fritos é o exemplar mais perfeito de um subgênero que chamo de “filmes sensíveis, mais sobre sensações do que contando histórias”. É um subgênero que tem muitos títulos; não é a praia de quem gosta de filmes de ação, thrillers ou westerns. Só para enumerar os que me vêm à cabeça de imediato, há, entre outros, Colcha de Retalhos/How to Make an American Quilt, Tudo Pela Vida/Passion Fish, Romance de Outono/Used People, Recordações e algumas mentiras que seus amigos deixaram passar/Wrestling Ernest Hemingway, The Spitfire Grill – O Recomeço, O Clube da Felicidade e da Sorte/The Joy Luck Club.

Como vários desses filmes citados aí, Tomates Verdes Fritos é uma obra de alma feminina, de olhar feminino do mundo – mesmo sendo o diretor um homem, Jon Avnet, em seu primeiro longa-metragem depois de uma carreira sólida na TV. O filme se baseia no romance escrito por uma mulher, Fannie Flag, que assina o roteiro com mais uma mulher, Carol Sobieski.

         Uma história nos anos 30, outra nos anos 90

É um daqueles filmes que se passam em dois tempos: parte da ação acontece nos dias de hoje (no caso, o início dos anos 1990), e a outra parte, no passado distante (começando nos anos 1920 e concentrando-se basicamente nos anos 1930).

Quando a ação começa, nos dias de hoje (ou da época em que o filme começa, é claro), temos um casal que vai visitar, numa pequena cidade do interior – veremos depois que é no interior do Alabama, Sul Profundo – uma tia do marido, que está em uma confortável, simpática casa de repouso para idosos. Os dois, Ed (Gailard Sartain) e Evelyn (Kathy Bates), são pessoas bem acima do peso; ela, em especial, é uma comedora compulsiva de doces. Na sala de espera da casa de repouso, enquanto Ed está no quarto da tia, Evelyn é abordada por uma velhinha de 82 anos, alegre, falante, Ninny Threadgoode – o papel de Jessica Tandy, que, com a carreira iniciada em 1932, vinha de três sucessos recentes, Cocoon, de 1985, Cocoon, o Retorno, de 1988, e Conduzindo Miss Daisy, de 1989.

A velhinha Ninny começa a falar com Evelyn como se já a conhecesse há muito tempo: conta que tiraram sua vesícula, e em seguida está contando histórias de seu passado – começa a contar sobre Idgie Threadgoode (que, quando criança, é interpretada por Nancy Moore Atchison, e logo em seguida por Mary Stuart Masterson), de como Idgie perdeu o irmão mais velho que adorava, Buddy (Chris O’Donnell), e de sua amizade com Ruth (Mary-Louise Parker).

         Duas histórias paralelas da amizade entre duas mulheres

A princípio, Evelyn ouve as histórias de Ninny só por polidez, educação – sem conseguir disfarçar, porém, um certo mal-estar. Mas acaba gostando das histórias que ouve. E as duas voltarão a se encontrar, em novas visitas de Evelyn e seu marido à casa de repouso. O espectador acompanha, então, as duas histórias – a da amizade de Idgie e Ruth, e a da nascente amizade entre Ninny e Evelyn.

A jovem Idgie era uma figura fascinante; em plenos anos 30, no Sul Profundo, era uma libertária, independente, solta; freqüentava bar mal afamado, jogava pôquer, bebia uísque, fazia amizade com negros e negras. A jovem Ruth, bem mais careta, tímida, reservada, fica fascinada por ela.

Assim como fica fascinada por ela, décadas depois, a nossa Evelyn, comilona, com um marido manso, que não a trata mal, mas que praticamente a ignora, e prefere sempre um jogo de qualquer coisa na TV à companhia da mulher. Através do que vai sabendo sobre Idgie, e da amizade que vai crescendo entre ela e a velhinha Ninny, Evelyn começa a mudar de vida.

Haverá, nas histórias do passado, um marido espancador, um misterioso desaparecimento, com suspeita de assassinato, um julgamento, perda. As histórias são simples, mas envolventes. As atrizes estão maravilhosas, o filme tem um tom de sinceridade que é arrebatador.

Fez um grande sucesso, na época, e vem ganhando um status de cult ao longo destes 19 anos que se passaram.

         Não há menção explícita a um amor homossexual, mas…

Fiquei pensando, depois de revê-lo agora, após vários anos, assim como pensei quando vi pela primeira vez, o quanto há, na história de Idgie e Ruth, de sugestão de um amor maior que uma grande amizade. Não há qualquer menção explícita a um amor homossexual; não há, nem de longe, qualquer cena de sexo entre Mary Stuart Masterson e Mary-Louise Parker – nem mesmo de carinho.

Acho que há, sim, uma suave, sutil sugestão de que Idgie tinha uma paixão por Ruth. Mas é muito, muito suave e sutil. Mas isso é só um pequeno detalhe. Não muda nada.

 Alguns fatos – e outras opiniões

Vamos a alguns fatos e a outras opiniões. O filme recebeu duas indicações ao Oscar: de melhor atriz coadjuvante para Jessica Tandy e de melhor roteiro adaptado. Jessica Tandy teve indicação ao Bafta de melhor atriz e Kathy Bates, ao de atriz coadjuvante. No total, foram seis prêmios e seis indicações.

Fannie Flagg, a autora do romance em que o filme se baseia e uma das roteiristas, teve uma carreira como atriz, e, no filme, faz um pequeno papel, interpretando uma das líderes dos grupos de auto-ajuda de que Evelyn, o personagem de Kathy Bates, participa. Parece que conhece a vida nas pequenas cidades do Alabama que descreve: é natural de lá mesmo.

Leonard Maltin dá 3 estrelas em 4, e diz que é uma agradável filme com uma história dentro da história, em que uma reprimida dona de casa do Sul (o personagem de Kathy Bates) encontra uma velhinha numa casa de repouso e fica cativada pelas histórias que ela conta a respeito de duas combativas amigas dos anos 20 e 30. “Adaptação de primeira linha da novela de Fannie Flagg, tem só um problema: um par de finais a mais. Impressionante estréia na direção de longa-metragem do produtor Avnet.”

O autor da resenha no AllMovie (4 estrelas em 5), Derek Armstrong, diz que o filme oferece úteis mensagens sobre a amizade e a independência pessoal, mas aqui e ali cai em alguns exageros, inclusive na descrição dos homens como bestas feras. Conclui dizendo que é o típico épico do feminismo pop e do velho sul. No meio, trata da questão do homossexualismo: “O roteiro também consegue ser sutil, especialmente ao lidar com o lesbianismo não declarado de Idgie Threadgoode.” 

         Se você não viu o filme ainda, é melhor não ler a partir daqui

Roger Ebert, que dá 3 estrelas em 4, é como sempre mais prolífico. Começa falando da imensa resistência que ele tem com esse tipo de filme em que duas pessoas no presente se sentam e contam histórias do passado: “Por que não contar simplesmente a história do passado, e pronto?” E diz que odeia especialmente os filmes em que, no final – epa! – o espectador é levado a entender que, surpresa, quem está contando a história é, afinal de contas, a própria personagem da história! Mas aí diz que Tomates Verdes Fritos consegue sobreviver à estrutura de flashbacks graças à personagem que ouve a história, Evelyn-Kathy Bates.

A questão do lesbianismo está clara para Ebert. Diz ele: “O assassinato e o subseqüente julgamento não são de fato o tema de Fried Green Tomatoes, que é realmente sobre o não-conformismo em uma sociedade intolerante. É bastante claro que Idgie é lésbica, e bastante claro que ela e Ruth são um casal, embora, por causa dos costumes do Sul naquele tempo, muita coisa não é falada, e nunca estamos muito certas de até que ponto as coisas são claras para Ruth.” E conclui dizendo que o filme é bastante previsível, e a estrutura de flashbacks é uma distração, mas a força das atuações supera os problemas de estrutura.

Está certo o Ebert – como quase sempre.

Um pequeno detalhe: o filme foi lançado no Brasil em DVD (por uma pequena empresa chamada NBO Editora) como Tomates Verdes e Fritos, com o acréscimo de um e que absolutamente não existe. Essa empresa é meio doida – na capa, o filme está classificado como musical!

Tomates Verdes Fritos/Fried Green Tomatoes

De Jon Avnet, EUA, 1991.

Com Mary Stuart Masterson (Idgie Threadgoode), Mary-Louise Parker (Ruth Jamison), Kathy Bates (Evelyn Couch), Jessica Tandy (Ninny Threadgoode), Cicely Tyson (Sipsey), Nick Searcy (Frank Bennett), Gailard Sartain (Ed Couch), Stan Shaw (Big George), Gary Basaraba (Grady Kilgore) 

Roteiro Fannie Flagg e Carol Sobieski

Baseado no romance Fried Green Tomatoes at the Whistle Stop Café, de Fannie Flagg

Fotografia Geoffrey Simpson

Música Thomas Newman 

Produção Universal Pictures, Act III Communications

Cor, 137 min (versão estendida), 130 min (versão normal)

R, ***1/2

47 Comentários para “Tomates Verdes Fritos / Fried Green Tomatoes”

  1. Ótimo filme! A força do filme está, principalmente, na atuação das atrizes. Mary-Louise Parker, aos 27 anos, já esbanjando talento e comprovando que este, na maioria das vezes, é inato!!

  2. Realmente um ótimo filme. O quarteto fantástico é marcante. E a cena que o irmão morre? Barbaridade…

  3. Belo e sensível, crônica do cotidiano que cede ao fantástico quando necessário (a solução dada para o corpo inconveniente beira o fantástico), um tipo de filme que os norte-americanos, quando não são contaminados pelo estilo de cinema-ação de George Lucas, sabem fazer bem.

  4. Filme sensível, muito bem dirigido, com atrizes de excelente nível e duas “novatas” (Mary Stuart Masterson e Mary-Louise Parker) que hoje estão com as carreiras consolidadas.Vale a pena adquirir o filme e vê-lo mais vezes.

  5. Eu já gostava demais desse filme, e ao assistí-lo novamente nessa semana, confirmei que nada como ter uma boa amizade e alguém que eleve nossa auto estima. Quando Evelyn – Kathy Bates, resolve se cuidar, trabalhar com os produtos Mary Kay, ela muda não somente o visual, como também o comportamento.
    Pra mim é um filme impecável!

  6. eu amei esse filme desde o dia que vi no cinema,comprei o dvd e ja assisti mais de 8 vezes e cada vez que vejo de novo encontro algo novo e me comove é um filme que me preenche como ser humano.outro excelente é o “as pontes de madison”ah!gostei deste site parabéns

  7. Assisti este filme ontem na Sky. Meu interesse por ele se deu através do livro. Adorei!!! Excelente!!!

  8. Um dos melhores filmes da década de 90. Um elenco perfeito, Mary Stuart Masterson (Idgie Threadgoode), Mary-Louise Parker (Ruth Jamison), Kathy Bates (Evelyn Couch), Jessica Tandy (Ninny Threadgoode), Cicely Tyson (Sipsey), Nick Searcy (Frank Bennett), Gailard Sartain (Ed Couch), Stan Shaw (Big George), Gary Basaraba (Grady Kilgore). Uma história sensível, emocionante, atualizada e muito surpreendente.
    Parabéns!

  9. Assisti hoje pela primeira vez, uma verdadeira história e amizade, mas não vi amor homossexual entre elas; mas sim a dor de Idgie ao perder o seu irmão e se anular aos relacionamentos com os homens

  10. Revi ontem. Esse filme é simplesmente maravilhoso!!! As atrizes estão excelentes!!!Pura emoção!!!*-*

  11. Um filme marcante, que evidência a amizade como o amor mais forte que possa existir entre duas pessoas….
    “A amizade é um amor que nunca acaba”……

  12. É um clássico romântico,inocente,puro e maravilhoso. Já assisti várias vezes e a cada vez que assisto novamente pareçe ser a primeira. Adoro esse filme.

  13. Há muito tempo procuro este filme para alugar em locadora ou para comprar, mas não consigo achar. Como eu faço para conseguir ter este filme?

  14. Comprei esse filme essa semana na Americanas… quem quiser ainda deve ter…
    Ótimo filme… Li o livro e assisti mais de uma vez.

  15. já assiti esse filme a uns 6 anos atrás na band ele é lindo e sencivel. eu recomendo .tomates verdes fritos

  16. O ponto forte do filme está em unir dois mundos que pertencen a duas épocas totalmente diferentes e mais a atriz que retoma o passado e narra sua história consegue atuar como meio de transformação na vida da amiga.

  17. O filme é maravilhoso, emocionante,completo.
    Meu esposo (Léo) já assistiu mais de 10 vezes, e não se cansa….é um sucesso.

  18. amei muito este filme.Ao ver,chorei muito,e choro toda vez que vejo.foi o filme que mais me tocou.me emociono bastante.marcou minha vida.

  19. Emociono-me toda vez que o vejo. Emociono não, choro mesmo. Não sei quantas vezes o assisti, por isso não sei quantas vezes chorei. É um filme que não canso de assistí-lo. Queria poder encontrar-me com as atrizes Mary-Louise Parke e Mary Stuart Masterson para dar-lhe um abração, já que Jessica Tandy não está mais entre nos. Depois disso não tenho mais palavras…

  20. Eu comprei esse filme nas lojas Americanas, e o que eu mais quero saber,é se realmente existe o lugar onde fizeram o filme, se alguém souber que realmente existe, me ligam 041 11 6369 8970 Tim e 021 11 6316 2558 Claro

  21. Roberto, segundo informa o IMDb, as filmagens foram feitas em diversas localidades da Georgia: Fayetteville, Juliette, Newnan,
    Senoia, Whitesburg e Zebulon.
    Um abraço.
    Sérgio

  22. Amei esse filme nuca esqueci o nome dele. Assisti na Globo e comprei o DVD agora. Meus filhos adoraram…RECOMENDADO.

  23. EU AMO MUITO ESSE FILME!!! JA ASSISTI VARIAS VEZES. E SEMPRE QUE POSSO, ASSSISTO NOVAMENTE. ME SURPREENDO CADA VEZ… DESCUBRO MUITAS COISAS DE NOVO… VALE A PENA VC ASSISTIR VIU??? BEIJAOOOOOOOOO

  24. Esse filme realmente é encantador. Me apaixonei por Idgie e Ruth. Estou comprando o livro para ler.

  25. Bem, Nivaldo, eu vi esse filme, tanto que escrevi trocentas linhas sobre ele. E, caso você tivesse a curiosidade de dar uma olhadinha, diversas outras pessoas também viram o filme, tanto que fizeram comentários sobre ele. Só acho meio difícil que você tenha visto um filme com esse título nos anos 60, já que ele foi feito em 1992.
    Um abraço.
    Sérgio

  26. “Tomates Verdes…” tornou-se um clássico, o que respeito, afinal sensibilidade, a temática do filme, é propria do ser humano emotivo e/ou poético, amante emoções. Porém apesar da ótima fotografia, da boa direção e, sobretudo, das atuações magnificas de Mary-Louise Parker e Mary Stuart Masterson, complementadas pelas competentes porém apenas burocráticas Kathy Bathes e Jessica Tandy, o filme soa arrastado, e olha que nem é tão longo. Daria sim, dois filmes, ficou um filme dentro do filme, e o resultado final foi morno. Desconfiei da relação de Idgie e Ruth, mas como bem destacou a resenha, não foi deixado claro. Não é uma obra-prima, apenas tornou-se clássico.

  27. Gosto muito de História. O pano de fundo do filme é aquela época do sul dos Estados Unidos: blues, segregação racial etc.

  28. Eu assisto direto esse filme espetacular. Uma produção espetacular, principalmente com as atrizes que são fantásticas. Esse filme é uma lição de vida, para mim têm muitos significados. É uma pena que não produzem filme desse gabarito e é por isso que eu assisto direto em casa os seguintes filmes: A Mão que Balança o Berço, Tomates Verdes Fritos e Minha Vida em Outra Vida.

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