1.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Os protagonistas do filme são Diane Keaton e Sam Shepard, dois bons, belos, inteligentes, simpáticos atores, ele também bom dramaturgo, ela também cineasta interessante – e então resolvi experimentar. Pena: é um filme bem fraquinho.
Nunca tinha ouvido falar deste Herança de Amor, título brasileiro que não tem nada a ver com o original The Only Thrill, algo tipo a única emoção, o único tremor. Fiquei sabendo depois que o filme, de 1997, estava estreando na programação do Telecine.
Ao longo do filme, fiquei com a sensação de que é assim uma espécie de cruzamento de A Última Sessão de Cinema com Tudo Bem no Ano que Vem. Mais ou menos isso – só que bem inferior aos dois. De A Última Sessão ele tem o local da ação, uma cidade pequena do interior do Texas da metade do século XX, onde o sexo é o principal assunto, mais as referências ao cinema, a filmes. De Tudo Bem no Ano que Vem, tem a característica de se passar ao longo de um período muito grande de tempo, e a narrativa dar grandes saltos na cronologia.
Mas, para quem não viu os dois filmes citados, não está muito objetivo. Tentando objetivar, é assim: é um pequeno drama sobre pessoas bem comuns que simplesmente não conseguem ser felizes no amor; não conseguem romper barreiras, explicitar o que sentem, entregar-se aos sentimentos, viver juntos – e só vão perceber totalmente que jogaram a vida fora quando não há mais tempo para aproveitar o que poderia ter sido bom.
Com mais objetividade, o AllMovie sinteza: “é um drama sobre amor e como ele pode dar errado”.
A ação começa em 1966 – não guardei o nome da pequena cidade texana, mas isso importa pouco, ou nada. Carol Fitzsimmons (Diane Keaton) é viúva – perdeu o marido em um acidente de carro. Para sobreviver, trabalha como costureira, e oferece seus serviços a Reese McHenry (Sam Shepard), dono de uma grande loja de roupas da cidade. Bonitão, rico, comerciante não mal de vida, com um Cadillac conversível, Reese é um sujeito procurado pelas mulheres; Joleen (Sharon Lawrence), casada com um amigo de Reese, dá em cima dele, e ele a come num motel de vez em quando. Mas não quer compromisso, e comunica a Joleen que não quer mais vê-la. Reese ama a esposa, que está em coma; com um código de honra rígido, ele não esconde de ninguém que jamais terá um caso firme com outra mulher enquanto a esposa estiver viva.
Reese e Carol têm uma transa de um dia – um dia de verão, em que a filha dela, Katharine (Diane Lane), de uns 13 anos, está em um acampamento com o filho dele, Tom (Robert Patrick).
Corta para 12 anos depois – 1978, portanto. Durante todo esse período, Reese e Carol conviveram como bons amigos; vão ao cinema nas tardes de toda quarta-feira, e depois conversam e bebem em um bar da cidade. Tom e Katharine – que nunca mais tinham se revisto ao longo desses 12 anos – se reencontram, e têm um romance de uma semana.
Haverá novos cortes no tempo, até 1996.
Fraquinho, nada marcante
Não dá, é claro, para saber se essa história – o roteiro, de Larry Ketron, é baseado numa peça de teatro de autoria dele mesmo, The Trading Post – poderia ter rendido um bom filme, nas mãos de um diretor mais talentoso. Em princípio, acho que não. É uma historinha chinfrim mesmo. O filme é dirigido por Peter Masterson, que é também escritor e ator, mas que não chega a ser um grande cineasta; seu filme mais famoso é Regresso para Bountiful, de 1985.
Não que seja propriamente um filme ruim. Não é – é apenas fraco. Fraquinho. Nada marcante. Nem mesmo os atores principais estão muito bem – não estão ruins, mas não chegam a brilhar. E, cacilda, Diane Keaton e Sam Shepard sabem brilhar. (Por coincidência, ou não, os dois haviam trabalhado juntos em um filme bem gostoso, simpático, anti-yuppie, anti-carreirismo, pró-valores corretos, solidariedade, amizade, Presente de Grego/Baby Boom, feito dez anos antes de Herança de Amor, em 1987.)
Até mesmo as referências a cinema, a filmes, que estão bastante presentes na história, parecem ralas, meio bobinhas, meio forçadas, meio para encher lingüiça. Carol é uma apaixonada por filmes – Reese, antes de conhecê-la, não dava a menor bola para cinema. Passam a freqüentar a matinê das quartas-feiras, vêem os filmes de cada uma das épocas – em 1978, o segundo período de tempo dos vários focalizados na história, o cinema da cidadezinha está às traças. Reese diz a Carol que as lojas já estão recebendo um aparelho que exibe os filmes dentro das casas das pessoas, na TV, uma novidade chamada videocassete. Carol diz que aquilo é um absurdo, filme é para se ver no cinema, na tela grande, as luzes se apagando, pipoca na mão.
Dá a sensação de que querem com isso tentar algo da mágica de A Última Sessão de Cinema.
Assim como seus personagens não conseguem sequer tentar ser felizes, o filme não consegue deixar de ser só fraquinho.
Ah, sim, tem um pequeno detalhe que quero registrar. Regina Lemos seguramente faria um texto brilhante sobre isso; faço apenas um pequeno registro. É fascinante ver como Carol Fitzsimmons, texana viúva classe média de cidade pequena, se veste exatamente, exatíssimamente igual a Annie Hall do filme do mesmo nome, de 1977; a Mary de Manhattan, de 1979. Fantástico: ela se veste como os personagens nova-iorquinos – intelectuais, modernos, charmosos, uptodate – de Diane Keaton. Ela se veste, enfim, como a nova-iorquina Diane Keaton, e não como Carol, a texana do interior. É um delicioso caso de a verossimilhança ser jogada fora para que a atriz seja ela própria, para que sua personalidade seja preservada.
Herança de Amor/The Only Thrill
De Peter Masterson, EUA, 1997
Com Diane Keaton, Sam Shepard, Diane Lane, Tate Donovan, Sharon Lawrence, Stacey Travis
Roteiro Larry Ketron
Baseado em sua peça The Trading Post
Produção Laureate Productions, Moonstone Entertainment
Cor, 103 min
*1/2
Já assisti a este filme e confesso que amei,pois tudo que a Diane faz eu particularmente amo.
Para gostar deste filme, é preciso ter amado pelo menos uma vez na vida. É preciso assitír com o coração. Se deixar a mente intrometer e ficar fazendo julgamentos, assim como na vida, não haverá graça. É um filme inesquecível que serve para nos alertar, para nos acordar para a vida e para o amor, porque o tempo passa sim meu amigo, e como passa.