As Aventuras de Robin Hood / The Adventures of Robin Hood


3.0 out of 5.0 stars

Anotação em 2009: É uma experiência interessante – e engraçada – ver hoje, mais de 70 anos depois de sua época, este filme de 1938. É um grande clássico, uma bela produção, bem cuidada, bem feita. Ao mesmo tempo (não dá para evitar a sensação), é também bastante ridículo, risível.

O filme tem mesmo um tom bem humorado, jocoso. Mas a gente acaba rindo também de coisas que não estão ali para fazer rir.

Por exemplo, os figurinos. O Robin Hood de Errol Flynn, com aquela calça verde justinha, e aquele chapeuzinho, é o próprio Peter Pan do Disney – por maior que seja a tentativa de distanciamento crítico, de colocar o filme no contexto de sua época, não dá para deixar de achar graça.

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O personagem de Much (Herbert Mundin) dando cacetadas na cabeça dos soldados de Sir Guy de Gisbourne (Basil Rathbone) é tão engraçado como essas gozações dos filmes de sucesso, tipo Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu.

 O personagem de Lady Marian (Olivia De Havilland) é todinho improvável – e impagável. Protegida do Rei Ricardo Coração de Leão, ausente da Inglaterra por ter ido lutar nas Cruzadas, ela faz companhia ao Príncipe João (Claude Rains), irmão mas inimigo do rei; normanda até a medula, nobre e chique, apaixona-se loucamente pelo que seus companheiros consideram um bandido, um celerado, o herói Robin Hood. Com um estalar de dedos, muda toda a sua concepção de mundo. O encontro dos dois no quarto dela, quando ela está contando para a aia que sente um frio na barriga quando vê Robin Hood, é de gargalhar.

 Todo o heroísmo, a perfeição das ações de Robin Hood são de um exagero risível, um Indiana Jones antes do tempo. A facilidade com que Robin e seus companheiros da floresta de Sherwood matam os soldados leais ao Príncipe João, sem levar o menor arranhão, é de um primarismo atroz.

Toda a figura do Príncipe João é uma gigantesca piada – e é impossível não ficar vendo o tempo todo Claude Rains, o oficial francês de Casablanca, como que fantasiado para um baile de carnaval. Assim como a figura babaca do Sir Guy de Gisbourne, com aquelas roupitchas grotescas – e não dá para a gente deixar de perguntar o que o ator que fez tantos Sherlock Holmes está fazendo fantasiado assim.

A trilha sonora é rica, forte, mas chega a assustar quando alterna diversas vezes um tom animado, festivo, durante as lutas, e um tom sério, pesado, quando em ação paralela estamos vendo os ímpios seguidores do Príncipe João planejando uma ação contra o legítimo e bom rei.  É meio primário demais.

E os diálogos entre Robin Hood e Sir Guy de Gisbourne, no meio da luta de espadas final, uma das seqüências mais antológicas da história do cinema, são de doer. “Sabe rezar, amigo?”, diz um; “Rezarei por você”, replica o outro. E tasca um golpe daqui, um golpe dali.

         A gente ri nas horas certas e também nas outras

arobin2É isso: não dá para deixar de rir do filme, hoje, mesmo em momentos em que não era essa a intenção. Às vezes ele parece uma grande gozação, uma sátira, uma piada sobre o cinema antigo, um espetáculo do Monty Python.   

Mas também não dá para desconhecer suas muitas qualidades, a suntuosidade da produção, o brilho de toda a parte técnica, a fotografia maravilhosa, o ritmo ágil. É um grande clássico, um dos maiores da história. Deixou marca profunda, influenciou tudo o que veio depois no segmento aventura. Foi o filme que estabeleceu Errol Flynn de vez como um dos maiores mitos do cinema americano. É histórico, e sua importância é universalmente reconhecida.

Vamos a algumas opiniões.

“Quer seja considerado capa e espada, romance de época ou comédia histórica, As Aventuras de Robin Hood é simplesmente a melhor produção de seu gênero já realizada”, diz o livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer. “A velocidade do ritmo deste filme e a quantidade de elementos que ele comporta são verdadeiramente impressionantes: a trama é tão complexa quanto uma comédia shakespeariana.”

O filme estabeleceu o padrão pelo qual seriam julgados todos os filmes de aventura que viriam depois, diz o livro 501 Must-See Movies, que elogia a “brilhantemente coreografada” luta de espadas final entre Robin Hood e Sir Guy de Gisbourne (na foto abaixo), a trilha sonora de Erich Kornlgold e a fotografia em Technicolor que “ainda brilha e era uma inovação nos anos 30”.

O livro Hollywood Picks the Classics, que fez uma seleção de cerca de cem melhores filmes da época de ouro, entre 1930 e 1960, lista alguns fatos interessantes. O filme custou US$ 2 milhões – o mais alto orçamento da Warner Bros. até então. O diretor Michael Curtiz – que quatro anos mais tarde faria Casablanca, também com Claude Rains – não teve indicação ao Oscar de melhor diretor por este filme, mas, no mesmo ano, teve duas indicações, por Anjos de Cara Suja/Angels with Dirty Faces e Quatro Filhas/Four Daughters. Além desses três, o cara fez outros dois filmes em 1938 – cinco filmes em um único ano! (O Oscar de melhor diretor naquele ano ficou com Frank Capra, por Do Mundo Nada se Leva/You Can’t Take it With You.) Além da trilha sonora, o filme levou os Oscars de direção de arte e montagem. 

Errol Flynn e Olivia de Havilland, informa ainda o livro, trabalharam juntos em sete outros filmes, além deste aqui.

Leonard Maltin, evidentemente, dá nota máxima, quatro estrelas. “O belo Flynn como o espadachim definitivo, ganhando a mão de De Havilland (nunca mais bela como Marian), enfrentando o mau príncipe Rain, duelando com o cruel Rathbone. (…) O melhor papel de Flynn.” 

arobin3Pauline Kael, sempre cortante, mordaz, não fez objeção alguma: “Um dos mais populares de todos os filmes de aventuras – emocionante para as crianças e intensamente nostálgico para os adultos. Como Robin, Errol Flynn carrega um veado nos ombros com exuberante aplomb; consegue um misto de ousadia e autogozação, como o Douglas Fairbanks pai da década de 20. O filme dá à lenda um tom leve e satírico: todo o mundo é um pouco demais o que é. (Os papéis arquetípicos que os atores fizeram aqui grudaram-se neles em suas atuações posteriores. Com Olivia de Havilland como uma improvavelmente bela donzela Marian. (…) A história é simples, a cor deslumbrante, a atuação direta e crua. (…) A direção provocante, exuberante, está creditada a Michael Curtiz e William Keighley, o primeiro tendo substituído o último.”

Um último registro: é uma beleza que clássicos produzidos pela Warner Bros. nos anos 30 e 40 estejam chegando às bancas de revistas brasileiras nessa caprichada Coleção Folha Clássicos de Cinema – em que o DVD vem em livrinhos de capa dura bem editados, cheios de textos informativos e com muitas fotos, a um preço absolutamente razoável. Uma ótima associação essa, em que uma empresa jornalística torna acessíveis pérolas antigas de um estúdio que, sem essa coleção, não teria interesse comercial em produzir os DVDs no País.

As Aventuras de Robin Hood/The Adventures of Robin Hood

De Michel Curtiz e William Keighley, EUA, 1938

Com Errol Flynn, Olivia De Havilland, Claude Rains, Basil Rathbone, Ian Hunter, Alan Hale, Herbert Mundin

Roteiro Norman Reilly Raine e Seton I. Miller

Fotografia Tony Gaudio, Sol Polito

Música Erich Wolfgang Korngold

Produção First National Pictures, Warner Bros. Estreou no Brasil 27/5/1938

Cor, 102 min.

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