2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1997: Teve 7 indicações para o Oscar, e 5 para o Globo de Ouro. Geoffrey Rush levou o Oscar e o Globo de Ouro como melhor ator. Não acho que o filme seja pra tudo isso. Às vezes o diretor do filme dá a impressão de que não está espantado com aquilo que está mostrando – a música como objeto de concurso, de premiação, de campeonato, de disputa, de concorrência, como se fosse normal disputar quem toca melhor em estádio. Só faltam as cheer-leaders.
Claro que o filme não faz a apologia da disputa. Mas às vezes ele parece de fato não estar espantado com essa transformação de música em campeonato de beisebol.
E mais. Durante boa parte do filme, o que se mostra não é tanto um pianista de talento raríssimo sendo atormentado, e sim o pai de um pianista de talento raríssimo atormentando o filho, impedindo seu crescimento, seu estudo, sua carreira. Quer dizer: na minha opinião e na minha sensibilidade, o diretor errou totalmente o foco. Ele se equivocou. Em vez de contar a história do pianista (David Helfgott, o nome real; no filme ele tem três intérpretes), conta a história do pai do pianista. Ou: de como um pai sufocante, autoritário, de velhos e antiquados e obsoletos valores, consegue levar à loucura um filho de talento gigantesco. Assim uma espécie de Family Life, que o Ken Loach fez ainda nos anos 60.
E mais. Há sérias lacunas, sérios pontos que o diretor aborda de modo superficial, ligeiro. O processo de loucura, de enlouquecimento, a partir da volta do pianista da Inglaterra para a Austrália, é pulado, simplesmente; temos o garoto ligando de uma cabine pública para o pai e sendo rejeitado, e, corte brusco, temos já o pianista adulto, louco, no hospício (interpretado por Geoffey Rush, bom, mas cheio de maneirismos de doente, aquela coisa que a Academia adora premiar).
A aproximação do pianista com as pessoas que de alguma forma vão trazê-lo de volta a algo parecido com a vida, o pessoal do bar em que ele irá tocar, também é vista de forma extraordináriamente superficial. A própria aproximação do pianista com a mulher que se tornará sua esposa, idem. Ela está noiva de outro e feliz, encontra-se uma vez com Helfgott, faz o mapa astral dele e decide se casar – o que, convenhamos, é uma simplificação absurda, babaca.
Bem. Também sei lá – pode ser que eu estivesse num dia de mau humor, apenas.
Shine – Brilhante/Shine
De Scott Hicks, Austrália, 1996.
Com Geoffrey Rush, Armin Mueller-Stahl, Noah Taylor, Lyn Redgrave, John Gielgud
Argumento Scott Hicks
Roteiro Jan Sardi
Música David Hirschfelder
Cor, 105 min
Não entendo de direção, assim não posso dizer algo a respeito. Como modesta espectadora achei o filme um pouco confuso. A personalidade patológica do pai, ao contrário, está bem explicita. Geoffrey Rush tem bom desempenho, até consegue passar uma certa aflição para o espectador…Não me lembro do glamour do filme quando ele ganhou o Oscar…
Acho que você estava num dia de mal humor…apenas….entendo,.mas é um grande filme que supera algumas considerações que explicou..enfim o filme é bem mais do que menos
“a música como objeto de concurso, de premiação, de campeonato, de disputa, de concorrência, como se fosse normal disputar quem toca melhor em estádio”.
Mas este é o cenário comum da música de concerto, principalmente para aqueles que desejam ter a carreira de concertista – competição atrás de competição, muitas vezes com torcida na plateia. Sendo avaliados subjetivamente por uma banca que só premia a si própria em projeção nos candidatos. É assim desde final do século XIX. Não é à toa que Bartok disse que “competições são para cavalos, não para artistas”.