Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out / Wake Up Dead Man

3.5 out of 5.0 stars

(Disponível na Netflix em 12/2025.)

É uma deliciosa, agradabilíssima diversão este Wake Up Dead Man, no Brasil Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out (2025), o terceiro filme em que o detetive particular Benoit Blanc tem um caso bem difícil para resolver. Rian Johnson, o diretor e autor da história e do roteiro, acertou em tudo de novo, após Entre Facas e Segredos/Knives Out, de 2019, e Glass Onion: Um Mistério Knives Out, de 2022.

No primeiro filme, um famoso escritor de romances policiais é encontrado morto; a polícia está certa de que foi suicídio, mas o famoso Benoit Blanc, tido como um dos melhores detetives do mundo – interpretado, com todos os exageros engraçados possíveis, por Daniel Craig, na foto abaixo -, passa a investigar, e tem a certeza de que o escritor foi assassinado. Há um grande número de suspeitos.

No segundo, um bilionário convida para uma festa em sua ilha particular na Grécia cinco amigos, mais Benoit Blanc – e propõe para eles um jogo de assassinato em que ele próprio, o bilionário, seria a vítima.

Nesta terceira aventura de Benoit Blanc-Daniel Craig, acontece um assassinato dentro de uma igreja católica em uma pequenina cidade do interior do Estado de Nova York, em plena Sexta-Feira Santa. E o jovem padre que havia sido designado para auxiliar o pároco daquela igreja é o principal suspeito. Mas Blanc logo percebe que há várias outras pessoas que poderiam ter cometido o crime.

Como nos dois filmes anteriores, aqui a trama é muitíssimo bem bolada e desenvolvida. Fisga o espectador de cara – e é tudo tão envolvente que nem dá para perceber que o filme tem quase duas horas e meia – 144 minutos, para ser exato. Há situações interessantes – e engraçadas – lima atrás da outra, e os vários personagens que a imaginação de Rian Johnson criou são fascinantes. E muito bem interpretadas por um bom, afiado elenco.

Antes de relatar a base da trama, quero fazer um registro sobre as relações entre o filme e a religião. Afinal, toda a história se passa em uma igreja e em torno dela, e dois dos personagens centrais são padres…

Muitos elementos próximos à heresia. No entanto…

Imagino que o filme possa desagradar os católicos – e mesmo os cristãos em geral – mais rígidos, mais conservadores.

Há muitos elementos um tanto chegados a algo próximo à heresia neste Vivo ou Morto/Wake Up Dead Man. O filme fala de igreja, a coisa física, de Igreja, a instituição, de sacerdotes, fiéis, fé, a existência de milagres – e as dúvidas, a falta de fé, gente que é firmemente contra religiões. É uma comédia, foi feito para fazer graça – e, diacho, religião e todos esses temas ligados a ela são coisa séria.

O religioso que construiu aquela igreja perto da cidadezinha interiorana, o reverendo Prentice Wicks (James Faulkner), era um homem dedicado à Igreja, trabalhador, digno, honesto, excelente pastor do rebanho que foi juntando – mas teve uma filha. E, diacho, todos sabem que a Igreja Católica, diferentemente das outras denominações cristãs que vieram depois dela, exige dos religiosos castidade, celibato.

O próprio nome da igreja é esquisito – Our Lady of Perpetual Fortitude, Igreja de Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua. Diacho, não existe essa Nossa Senhora!

A filha do reverendo Prentice, Grace – repare o eventual leitor que o nome remete diretamente a graça divina –, era conhecida por todos como harlot whore – puta sem vergonha. E, em um dia de explosão, havia quebrado e destruído tudo o que conseguiu quebrar e destruir dentro da igreja erguida pelo pai. Conseguiu até mesmo derrubar o grande crucifixo que era pendurado na parede atrás do altar.

Grace já havia morrido quando acontecem os eventos narrados no filme. (Ela aparece em flashbacks, interpretada por Annie Hamilton.) Seu filho, Jeffrey, o neto do reverendo Prentice, era agora o pároco da Igreja.

Não é muito fácil definir Jeffrey Wicks – o papel de Josh Brolin, na foto abaixo, em uma atuação gostosamente exagerada, exageradamente gostosa. Um superior dele, o bispo Langstrom (Jeffrey Wright), um bom homem, e um bom religioso, o define, bem no início do filme, como um cara “que tem um parafuso a menos” e é “um grande sacana”, segundo as legendas do filme na Netflix – mas o que o bispo Langstron diz é “a real son of a bitch”. Um verdadeiro filho da puta. Bem, em se tratando do filho de Grace, a puta sem vergonha…

É preciso falar sério sobre o monsenhor Jeffrey Wicks – ele é um dos personagens mais importantes da trama, quase tudo na história se refere a ele. (Ah, sim, Wicks exige ser chamado de monsenhor, não de padre.) A Wikipedia o chama de “charismatic and domineering priest who serves as the congregation’s central figure” – o padre carismático e dominador que é a figura central da congregação.

O monsenhor Wicks é um doido varrido, como bem define o bispo Langstron. Os sermões dele no púlpito da igreja feita pelo avô são agressivos, ofensivos, furibundos, incompreensíveis, loucos. Não sei se Rian Johnson se inspirou neles, mas os sermões do monsenhor Wicks fazem lembrar os do pregador Elmer Gantry criado por Sinclair Lewis e interpretado por Burt Lancaster em Entre Deus e o Pecado/Elmer Gantry, de Richard Brooks (1960) e os do pastor T. Laurence Shannon criado por Tennessee Williams e vivido por Richard Burton em A Noite do Iguana, de John Huston (1964).

Como o avô, ele pecou mortalmente: tem um filho!

Lá pelas tantas, Benoit Blanc, falando com aquele sotaque maluco inventado por Daniel Craig, faz um virulento ataque à fé, a todo o qualquer tipo de religião, mas em especial a católica.

O personagem que a rigor é o principal, o jovem padre que é designado como auxiliar do monsenhor Wicks, o recém-ordenado padre Jud Duplenticy (o papel de Josh O’Connor, na foto abaixo, que está ótimo, excelente), era um boxeador, que se voltou para a religião depois de, numa luta, ter provocado a morte do adversário.

E há toda a história da volta à vida da pessoa assassinada na Sexta-feira Santa – que está nos títulos, tanto o original quanto o adotado no Brasil. Uma referência óbvia à ressurreição de Jesus Cristo.

Pois bem. Tudo isso posto, chego ao ponto que faço questão de ressaltar antes de relatar como começa a história.

Este não é um filme ofensivo à fé, à religião. Nem, de forma alguma, ofensivo especificamente à Igreja Católica Apostólica Romana.

Achei isso uma das características mais interessantes deste filme que é, repito, uma diversão deliciosa, embora fale de coisas seriíssimas – religião e assassinato.

Há ainda a questão que ficou na minha cabeça enquanto via o filme e depois: por que, diacho, ambientar a história de um filme americano em uma igreja católica, se a imensa maioria dos americanos é protestante?

(Segundo dados da Wikipedia, os protestantes são 44% da população dos EUA, e os católicos são apenas 19%. Há mais pessoas sem religião – 22% – do que católicos.)

Então por que um filme – mais um filme, depois de tantos e tantos – sobre a igreja católica?

Fácil. Porque, como sintetizou, com carradas de razão e de verve o cinéfilo de carteirinha Manuel S. Fonseca em artigo republicado no + de 50 Anos de Textos, o catolicismo é “a mais cinematográfica das religiões”. (Voltarei a isso mais adiante.)

“Cristo veio curar o mundo, não combatê-lo”

Não é necessário ter visto os dois primeiros filmes da série Knives Out para ver este terceiro aqui – são histórias completamente diferentes umas das outras, absolutamente independentes. Quem tiver visto qualquer um dos anteriores, no entanto, identificará de cara quem é o sujeito que aparece na primeira sequência do filme, colocando os óculos no rosto para poder ler o manuscrito que tem nas mãos. É ele, o famosérrimo detetive Benoit Blanc – o Sherlock Holmes, o Hercule Poirot da vez, interpretado pelo ex-007 Daniel Craig, desta vez usando uma barba branca e muito bem aparada.

Há aí, bem nessa abertura, nesse primeiro minuto do filme, uma boa sacada do autor-roteirista-diretor Rian Johnson. Vemos em super big close-up a primeira linha do manuscrito que Benoit Blanc começa a ler, ouvimos a voz do autor falando aquele texto, e logo em seguida vemos a figura dele – o jovem padre Jud Duplenticy, na pele do inglês de Cheltenham, classe 1990, Josh O’Connor, o príncipe Charles jovem de 13 episódios de The Crown.

– “Difícil saber como começar. Acho que para contar a história do assassinato da Sexta-feira Santa através dos meus olhos, tenho que começar aqui. Nove meses atrás, quando o idiota desse diácono falou uma besteira, eu fiz isto:”

E vemos o padre Jud dando um murro de boxeador na cara do diácono, que cai duro no chão.

Corta, e um padre o interroga: – “Então você é um lutador?”

– “Não, padre, nada disso.”

– “Se não estivesse com a mandíbula quebrada, nosso diácono diria coisa diferente.”

– “Na minha vida anterior, sim, eu fui um boxeador. Morei nas ruas, entre outras coisas.”

– “Precisamos de padres hoje”, diz o padre que o interroga, “mas para lutar contra o mundo, não entre nós. O sacerdote é o pastor. O mundo é o lobo.”

– “Não”, contesta o jovem padre que está ali para ser repreendido, talvez suspenso, talvez expulso. – “Não acredito nisso, padre, com todo respeito. Começamos a combater lobos e logo quem não compreendemos vira lobo. Ainda tenho instinto de lutador e cedi a ele hoje, mas Cristo veio curar o mundo, não combatê-lo. Acredito nisto (ele abre os braços, como para abraçar), e não nisto (ele cerra os punhos na posição do boxeador pronto para a luta).”

Ao lado do padre inquisidor estava o já citado bispo Langstron. Na sequência seguinte, o bispo está conversando com o padre Jud em um belo jardim: – “Vamos mandá-lo para uma pequena paróquia em Chimney Rock. Só há um sacerdote lá agora” – o monsenhor Jefferson Wicks, aquele “real son of a bitch”. – “É inegável que o rebanho dele vem diminuindo. O que você disse lá dentro (e o bispo repete os dois gestos, o de abrir os braços e abraçar, e o cerrar os punhos para lutar) seria útil. (…) Boa sorte, filho.”

Sobraram apenas sete fiéis na paróquia

Na paróquia de Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua – onde ele é pessimamente recebido pelo intragável monsenhor Wicks –, o padre Judd logo vai perceber, assim como o espectador, que o rebanho atual do pastor estava reduzido a menos de uma dezena de cabeças. Exatamente sete fiéis – sendo que dois eram da própria casa, quer dizer, da própria Igreja de Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua.

Eis aqui um pouquinho sobre os sete únicos fiéis que sobraram, depois de anos e anos de sermões tresloucados do monsenhor Wicks:

* Martha Delacroix (o papel de Glenn Close, ótima como sempre) é a faz-tudo na paróquia, uma espécie assim de governanta do lugar e ao mesmo tempo secretária executiva do monsenhor Wicks, cuidando de toda a administração, inclusive a financeira.

Martha sempre viveu junto da Igreja de Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua; era criança nos tempos do fundador, o reverendo Prentice; foi testemunha da morte dele, e depois da depredação da igreja por Grace, a filha dele, a “puta sem vergonha”. Conhece toda a história da paróquia – todos os seus segredos.

Um dos segredos é que o reverendo Prentice possuía uma imensa, imensa, imensa fortuna – que havia desaparecido da noite para o dia. Esse ponto será muitíssimo importante na trama.

* Samson Holt (Thomas Haden Church) é o zelador, o caseiro, o pau pra toda obra da paróquia. Ele e Martha são absolutamente apaixonados um pelo outro.

Bem. Agora, os cinco fiéis externos, os que não vivem no terreno da igreja:

* Vera Draven (Kerry Washington, na foto acima) é uma advogada, uma mulher forte, independente. Quando ainda era bem jovem, foi forçada pelo pai a cuidar de um garoto que o pai adotou, Cy. Vera sempre suspeitou que Cy fosse um filho do pai dela, resultado de alguma aventura extra-conjugal dele. Ela nunca teve grande afeto pelo garoto, mas, como não tinha outro jeito, o criou.

* Cy Draven (Daryl McCormack, na foto acima), na época em que se passa a ação um jovem adulto, é um daqueles sujeitos que se têm em altíssima conta. Sonhava em fazer carreira na política. Acha que o monsenhor Wicks, com aquele jeito rebelde, irreverente, anti-establishment, pode virar um grtande líder político – e então filma absolutamente tudo o que o religioso faz e diz, para publicar em suas redes sociais.

* Nat Sharp (o papel de Jeremy Renner) é o médico da pequena cidade. Tinha uma daquelas paixões infinitas pela mulher – que de repente o abandonou, foi-se embora. E então o médico perdeu o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste.

* Lee Ross (Andrew Scott) era um escritor que já havia tido muito sucesso, mas, depois que mudara para aquela cidadezinha do interior, perdera o gás, a inspiração, as bênçãos das musas. Restava para ele, assim como para o dr. Nat Sharp, os sermões do monsenhor Wicks.

* E, finalmente, Simone Vivane (o papel de Cailee Spaeny), uma moça lindíssima, que havia tido sucesso como violoncelista clássica, mas tivera sua carreira interrompida por uma doença degenerativa que lhe causava dores fortíssimas no corpo e dificultavam demais seus movimentos. Simone queria acreditar que o monsenhor Wicks conseguiria obter um milagre para ela.

No momento do assassinato, havia nove pessoas na igreja

Essas sete pessoas, mais o chegado havia pouco tempo padre Jud, eram as únicas que estavam presentes durante a missa da Sexta-feira Santa – além, é claro,  do celebrante, o monsenhor Wicks. Nove pessoas dentro da igreja– e uma delas é morta.

O assassinato acontece quando estamos com 34 dos 144 minutos que dura o filme (e, repito, passam bem rápido).

Quase imediatamente após o assassinato, Martha passa a proclamar – como se estivesse tomada pelo desespero, pela perda momentânea de razão – que a pessoa morta iria se levantar, voltar a viver.

Enquanto o corpo da vítima é levado para o legista, a chefe do destacamento policial da cidadezinha, Geraldine Scott (o papel da bela Mila Kunis, na foto abaixo), tem como seu principal suspeito o forasteiro, o sujeito que veio de fora, o padre Jud. Mas, talvez por reconhecer que, naquela pequena comunidade, tem pouca experiência com crime de morte, ela pede a ajuda do detetive Benoit Blanc.

O grande detetive terá a idéia de pedir ao padre Jud que escreva um relato detalhado de tudo o que ele viu na missa em que aconteceu o assassinato.

O detetive diz ao padre que tem orgulho de ser herege

E creio que não é necessário ir além daqui, no relato da base da trama, na apresentação do que acontece ali pela primeira meia hora de filme. Mas, sempre interessado na coisa de como essa comédia policial trata a religião, registro que são interessantíssimos, fascinantes, os diálogos entre o detetive e o jovem padre.

Assim que se conhecem, rola isto aqui:

Padre Jud: – “Imagino que você não seja católico”.

Benoit Blanc: – “Ah, não. Orgulhoso herege. Eu me ajoelho no altar do racional”.

Ah, meu… Tiro meu chapéu para esse Rian Johnson. O cara bola a história, faz o roteiro, dirige tudo – e escreve diálogos assim!

O ex-boxeador que encontrou a salvação na fé em Cristo e o detetive que se orgulha de ser herege conversam dentro da bela igreja. O padre Jud pergunta o que o outro sente, estando ali, naquele lugar. A resposta de Benoit Blanc é daquele tipo de coisa que faz vibrarem de alegria os incréus, os que têm profunda fé em que tudo é matéria, e nada mais:

– “Bem, a arquitetura, isso me interessa. Sinto o grandeur, o… o mistério, o pretendido efeito emocional. É… E é como se alguém tivesse lançado para mim uma história na qual não acredito. Ela é construída sobre a promessa vazia de uma história de fadas cheia de malevolência e misoginia e homofobia e seus atos não revelados de violência e crueldade, enquanto, ainda assim, esconde seus próprios atos vergonhosos. Então, como uma mula teimosa que revida com um coice, quero desmantelá-la, estourar sua pérfida bolha de crenças e chegar a uma verdade que eu possa engolir sem engasgar. Os detalhes das vigas são muito bons, no entanto. Veja… Se você quiser me chutar para fora, vá em frente.”

E o jovem padre:- “Não, não. Você está sendo honesto, isso é bom. Dizer a verdade pode ser um carinho na barriga.”

E um pouco depois:

– “Você tem razão. É sobre contar histórias. Os ritos e os rituais. Os trajes, tudo isso. É sobre contar histórias. Acho que a questão é a seguinte: as histórias nos convencem de uma mentira? Ou elas ressoam com alguma coisa lá bem dentro de nós que é profundamente verdadeira, que nós não conseguimos expressar de outra forma a não ser contando histórias?”

Feita para plon­gées de púl­pito, contra-plongées de altar”

O IMDb registra um detalhinho que achei interessante. Nos cartazes do filme, aparece, depois do título Wake Up Dead Man, o subtítulo A Knives Out Mystery. Da mesma maneira que no filme número 2, que, nos cartazes, era Glass Onion: A Knives Out Mystery.

No próprio filme, nos créditos do próprio filme, não há esse subtítulo.

O acréscimo, nos cartazes, da marca A Glass Onion Mystery é uma exigência dos produtores. Uma questão de marketing – para fazer a ligação com o primeiro filme, Knives Out, que foi um tremendo sucesso de público.

O autor e diretor Rian Johnson já disse publicamente que não gosta disso – e fez uma boa comparação: nos livros de Agatha Christie, não há o subtítulo “Um Mistério de Hercule Poirot”.

Os distribuidores brasileiros incluíram o subtítulo – tanto no segundo filme quanto neste aqui.

Um outro detalhe que a página de Trivia sobre o filme no IMDb informa: as cenas que mostram o exterior da Igreja da Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua foram filmadas na Inglaterra, na Igreja dos Sagrados Inocentes – um templo da Igreja Anglicana. O vigário daquela igreja é uma mulher, a reverenda Jane Yeadon.

Um templo anglicano fazendo as vezes de um templo católico! Cinema puro.

Sim, porque, como diz Manuel S. Fonseca em seu texto delicioso, o catolicismo é “a mais cinematográfica das religiões”.

Eis como Manuel S. Fonseca – que durante 10 anos foi programador da Cinemateca Portuguesa e publicou, entre outros, livros sobre Francis Coppola e Michelangelo Antonioni – inicia seu artigo:

“É altura de ajo­e­lhar­mos. Faça-se jus­tiça ao cato­li­cismo. Essa reli­gião de genuflexões, de padres-nossos e ave-marias, de em nome do pai e do filho, de mea culpa, mea culpa e salve-rainhas, é a mais cine­ma­to­grá­fica das reli­giões. O cato­li­cismo fez-se para plon­gées de púl­pito, contra-plongées de altar, para o grande plano de sacrá­rio, hós­tia e cálice, para o plano geral da pere­grina luz no inte­rior de uma cate­dral. Vai-se à missa como se vai ao cinema e, em noi­tes feli­zes, saía-se do cinema com a alma de crente que uma missa lavou.”

E volto ao começo: este Vivo ou Morto/Wake Up Dead Man é uma deliciosa diversão.

Anotação em dezembro de 2025

Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out/Wake Up Dead Man

De Rian Johnson, EUA, 2025.

Com Josh O’Connor (padre Jud Duplenticy).

Daniel Craig (detetive Benoit Blanc),

Glenn Close (Martha Delacroix, o braço direito do monsenhor Wicks)

Josh Brolin (monsenhor Jefferson Wicks),

Mila Kunis (Geraldine Scott, a chefe de polícia), Jeremy Renner (dr. Nat Sharp, o médico da cidade), Kerry Washington (Vera Draven, a advogada), Andrew Scott (Lee Ross, o escritor), Cailee Spaeny (Simone Vivane, a violoncelista), Daryl McCormack (Cy Draven, o rapaz que Vera criou), Thomas Haden Church (Samson Holt, o caseiro da paróquia, amante de Martha), Jeffrey Wright (bispo Langstrom), Annie Hamilton (Grace Wicks, a mãe de Jefferson, tida como “a puta), James Faulkner (reverendo Prentice Wicks, o avô de Jefferson e fundador da paróquia de Nossa Senhora da Fortaleza Perpétua), Bridget Everett (Louise, a funcionária da construtora), Noah Segan (Nikolai, o dono do bar)

Argumento e roteiro Rian Johnson

Fotografia Steve Yedlin

Fotografia Nathan Johnson

Montagem Bob Ducsay

Casting Bret Howe, Mary Vernieu

Desenho de produção Rick Heinrichs

Figurinos Jenny Eagan

Produção Ram Bergman Productions, Netflix, T-Street.

Cor, 144 min (2h24)

***1/2

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