3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Um belo filme, com visual maravilhoso, imenso elenco de grandes nomes uniformemente brilhante, boas músicas interpretadas pelas próprias atrizes, com uma história de família dos novos tempos fascinantemente intrincada.
Os laços familiares da trama criada por Christopher Thompson (o filho e co-roteirista da diretora Danièle Thompson) são tantos e tão complexos que o espectador sente alguma dificuldade para acompanhar o início do filme; bem, eu, pelo menos, senti.
O herói da família do título original é Gabriel Stern (Claude Brasseur), dono do cabaré do título brasileiro, o Papagaio Azul, em Nice. Quando o filme começa, Gabriel está andando pelo seu cabaré, entre as dançarinas seminuas, depois entre as mesas dos clientes, vendo se as coisas estão funcionando direito para a apresentação que está ocorrendo naquele momento, tarde da noite. Ele sairá de seu cabaré, irá para a praia – e, com cinco minutos de filme, temos que toda a família estará se reunindo para seu enterro.
Todo o filme vai girar em torno da reunião da família para o enterro, para a leitura do testamento e para as providências a serem tomadas sobre o cabaré. Os mais diversos segredos serão revelados àquelas pessoas ao mesmo tempo que ao espectador, ao longo de uma hora e meia que passam como se fossem dois minutos.
A família de Gabriel na verdade é a família de Nicky (Gérard Lanvin), um argelino que chegou a Nice aos 15 anos de idade e foi adotado por Gabriel como um filho, irmão e grande amigo. Nicky, que virou artista do cabaré, mágico, e chegou a ter um programa na TV, teve dois filhos, de duas mulheres diferentes. Com Alice (a eternamente esplendorosa Catherine Deneuve, foto acima), Nicky teve Nino (Michael Cohen), hoje um contador; pai e filho nunca se deram bem; a mãe, na verdade, nunca quis que houvesse aproximação entre os dois, para que Nino não ficasse parecido com o pai. Nino é homossexual, vive hoje com um garoto dez anos mais jovem.
Com Simone (Miou-Miou, que há muito eu não via, e está extraordinária), Nicky teve Marianne (Géraldine Pailhas, também excelente); quando ela era jovem, o pai tentou fazê-la cantora, mas ela assim que pôde foi ter sua própria vida, nunca pensou em se meter com show-business e virou editora de uma revista de culinária em Paris. No momento em que Gabriel morre, ela está separada do marido, Jerôme (Gilles Lellouche), e quer adotar uma criança.
Entre as pessoas que trabalham no cabaré Papagaio Azul estão Pamela (Valérie Lemercier, um brilho como sempre), a coreógrafa e capataz das dançarinas, e Léa (Emmanuelle Béart, deslumbrante, de tirar o fôlego, como sempre, foto ao lado), a principal cantora, por quem Nicky está interessado faz meses.
E então, com uns 10, 15 minutos de filme, já conhecemos todos esses diversos personagens, e chega o momento da leitura do testamento de Gabriel. O normal, o natural, seria que o Papagio Azul ficasse para Nicky, que afinal foi adotado como filho por Gabriel, e trabalha no cabaré, vive dele – e aí vem a primeira das muitas surpresas que os personagens e o espectador terão. Gabriel deixa o Papagaio Azul e mais sua bela, imensa casa, para Nino e Marianne, os filhos de Nicky.
Mais e mais surpresas virão. Várias daquelas pessoas não se conheciam bem – todos agora terão a oportunidade de descobrir quem são na verdade os demais.
A trama fascinante vai se desenrolando com interpretações de grandes atores, uma fotografia deslumbrante, entre belos números musicais, belas músicas pré-anos 70. Emmanuelle Béart canta, por exemplo, It Had to be You e uma versão em francês do bolerão História de un Amor. Catherine Deneuve canta em italiano Ho Capito Che Ti Amo, a maravilha de Luigi Tenco, e a jovem Géraldine Pailhas faz uma bela interpretação de La Rose, uma balada do repertório de Joan Baez.
Uma beleza.
O diretor Thierry Klifa é mais um cineasta que vem do jornalismo e da crítica de cinema, como tantos da geração da nouvelle vague. Trabalhou na revista Studio entre 1991 e 2002, e este foi seu terceiro longa-metragem.
Segredos de Cabaré/Le Héros de la Famille
De Thierry Klifa, França, 2006
Com Gérard Lanvin (Nicky), Catherine Deneuve (Alice), Emmanuelle Béart (Léa), Miou-Miou (Simone), Michael Cohen (Nino), Géraldine Pailhas (Marianne), Claude Brasseur (Gabriel), Valérie Lemercier (Pamela), Gilles Lellouche (Jérôme)
Roteiro Christopher Thompson
Música David Moreau
Produção SBS Films
Cor, 103 min (segundo o iMDB; o DVD diz 98 min)
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