A Morte Espera no 322, no original Pushover, de 1954, é muito menos conhecido, falado, lembrado do que deveria. Jamais tinha ouvido falar dele, apesar de gostar especialmente do cinema americano dos anos 30 a 60, e tenha uma predileção pelo film noir.
Pushover é absolutamente noir. Foi realizado por um diretor de respeito, Richard Quine, embora talvez mais conhecido pelas comédias elegantes (Jejum de Amor, 1955, Quando Paris Alucina, 1964, Como Matar Sua Esposa, 1965) e dramas e/ou melodramas românticos (O Nono Mandamento, O Mundo de Suzie Wong, os dois de 1960).
Tem uma abertura espetacular, uma trama interessantíssima, fascinante, e ótimas interpretações. É um belo thriller. E ainda por cima é o filme que introduziu Kim Novak às platéias de cinema, o primeiro filme dessa mulher de beleza fenomenal que já começou com tudo e nos primeiros quatro, cinco anos da carreira se firmou como uma das maiores estrelas de Hollywood.
Diacho: não é pouca coisa, não. De jeito algum.
Um começo magistral: em 4 minutos sem uma palavra, um assalto a banco
O filme começa de maneira magistral. Um guarda armado está chegando a uma agência do Bank of South California, de manhãzinha. Tira do bolso a chave para abrir a porta da agência – e nesse exato momento é dominado por dois homens armados.
O assalto começa antes de se iniciarem os créditos. Os dois bandidos já estão dentro do banco quando vemos os créditos iniciais. “Introducing Kim Novak”, dizem eles.
Naquela época, os créditos eram bem rápidos, e então eles terminam ainda durante o assalto.
Nem uma única palavra é pronunciada ao longo dos 4 primeiros minutos do filme, o tempo que se leva para mostrar o assalto.
Os dois bandidos estavam já com uma fortuna dentro de uma maleta, prontos para sair do banco. O guarda, no último momento, tenta tomar o revólver de um dos ladrões. O outro ladrão o executa com tiros certeiros.
Corta, e é como se outro filme estivesse começando.
A câmara mostra o movimento junto a uma sala de cinema que está exibindo The Nebraskan, no Brasil O Valente de Nebraska, um western lançado um ano antes do próprio Pushover, em 1953.
Uma jovem e bela mulher, extremamente jovem e extremamente bela, sai do cinema. É loura, tem o cabelo bem curto. Usa um casaco de pele daqueles que berram que custam os olhos da cara. Dirige-se a seu carro, estacionado ali perto. Gira a chave, e ouvimos aquele barulho de motor que não quer pegar. Gira de novo, e é o mesmo barulho.
Um homem de terno, gravata e chapéu – ou seja, vestido igual a praticamente todos os homens daquela época – se aproxima dela, diz que o carro pode estar afogado, se oferece para ajudar.
Os dois já haviam se visto no cinema. Ela diz que o viu, ele diz que a viu também.
A loura desliza para o banco do carona, e o homem – interpretado por Fred MacMurray, então com 46 anos, mas com aquela aparência de mais velhos que os homens tinham nos anos 30 a 50 – se senta ao volante.
A jovem loura (Kim Novak tinha ridículos 20 anos de idade durante as filmagens de Pushover) olha para ele sem temor algum, sem demonstrar que está preocupada com a possibilidade de aquele desconhecido tentar alguma coisa, dar uma cantada, o que for.
O homem não consegue fazer o carro pegar, e diz que vai olhar o motor. Abre o capô, dá uma observada, diz que não está afogado, deve ser outro problema.
A loura pergunta se ele tem alguma sugestão. Ele tem, é claro: há uma oficina ali perto. Ela poderia pedir ao mecânico para dar uma olhada no carro, e esperar por uma resposta dele num bar que também ficava ali perto.
A loura diz que se sentiria mais segura se o homem a acompanhasse.
Nesse momento, fiquei pensando: mas diabo, como é possível que um avião desses, aquela Kim Novak toda, esteja dando tanta bola pra um sujeito feio que nem Fred MacMurray?
Mas na mesma hora me lembrei que a personagem de Barbara Stanwyck também deu bola para o dele, em Pacto de Sangue/Double Indemnity (1944). E que em Se Meu Apartamento Falasse/The Apartment o personagem dele comia o da jovem e lindinha Shirley MacLaine.
As personagens femininas de filmes de Fred MacMurray são muito mais surpreendentes do que poderia sonhar a nossa vã filosofia, Horácio.
O filme rapidamente revela que aquele sujeito é um policial
Daí a pouquinho, o mecânico aparece no bar em que Paul Sheridan está bebendo com a jovem e deslumbrante Lona McLane, para dizer que não tinha conseguido consertar o carro; terá que rebocá-lo para a oficina, para examinar melhor o motor.
Lona pergunta se Paul pode levá-la para casa. Ele faz aquela pergunta de tantos filmes: – “Your place or mine?” A sua casa ou a minha? E ela, em 1954, na profundeza dos caretas, forçadamente pudicos anos 50, em plena vigência do Código Hays, o manual de autocensura dos grandes estúdios, e suas regras rígidas a respeito do relacionamento entre homens e mulheres, responde apenas com um “Surprise me”.
Vai demorar um bom tanto até o espectador ter a confirmação de algo que ele pode ter começado a suspeitar desde o início: sim, Paul Sheridan mexeu no motor do carro de Lona McLane para que ele não pegasse. Antes de entrar no cinema, logo depois dela, ele abriu o capô e mexeu num carburador, ou coisa parecida.
O que não demora nada, o que vem logo depois desse encontro do sujeito de meia-idade com a jovem loura, é a revelação de que Paul Sheridan é policial. E a polícia sabe que Lona McLane é a amante, teúda e manteúda, do conhecido bandido Harry Wheeler (Paul Richards), o homem que, segundo as descrições das testemunhas, havia assaltado o banco, levado a grande fortuna de US$ 210 mil e ainda assassinado um guarda.
O IMDb, o site mais enciclopédico que existe sobre cinema, e cuida de todo tipo de detalhe, especificou que, em valores de 2017, aqueles US$ 210 mil que Harry Wheeler levou do Bank of South California seriam quase US$ 2 milhões. Pouco mais de one point 9 million, como se diz lá.
Um estudo sobre a tentação – o marinheiro diante da sereia, o pato diante da femme fatale
O plano do tenente de polícia Carl Eckstrom (o papel de E.G. Marshall), o encarregado do caso do roubo do banco, é simples: vai botar vários policiais de campana junto ao prédio de apartamentos em que vive Lona McLane, à espera do momento em que Harry Wheeler apareceria lá para ver sua linda amante. Algum dia ele iria inevitavelmente aparecer, raciocina o tenente.
Um policial ficará num carro estacionado nas proximidades da entrada principal do prédio, o do número 322 do título escolhido pelos exibidores brasileiros, A Morte Espera no 322. Dois outros policiais ficarão em um apartamento no mesmo prédio, em outro bloco, de onde dá para observar os movimentos dentro do apartamento que Harry Wheeler custeia para a jovem amante. Um ficará observando os movimentos da moça – a dame, a broad, como dizem os policiais –, com um binóculo, enquanto o outro cuida do gravador que registra tudo o que se fala no telefone dela.
O policial Paul Sheridan vai ficar olhando, através de um binóculo, para todos os movimentos da mulher deslumbrante que deu para ele.
É uma maravilha de sacada de quem criou a história.
A tentação, essa coisa fascinante e pavorosa. A sereia. O fruto proibido – proibido mas belíssimo, apetitoso, chamativo.
Pushover é um belo filme sobre a tentação.
Morri de pena desse pobre Paul Sheridan, policial veterano, ficha imaculada, ali exposto à tentação, diante dos olhos do espectador.
Nesse ponto, Paul Sheridan se aproxima bastante de Walter Neff, o vendedor de seguros interpretado pelo mesmo Fred MacMurray em Pacto de Sangue/Double Indemnity. Exatamente como Walter Neff, Paul Sheridan não estava procurando problema, sarna para se coçar, mulher irresistivelmente bela que representasse a Tentação em si, o suco concentrado da Tentação. De forma alguma. Recebeu ordens de se aproximar – sem, obviamente, revelar sua condição de policial – da amante do bandido procurado. Recebeu ordens, e obedeceu. Cumpriu o que lhe foi determinado.
Aí pronto. Estava diante da Tentação. Eva e Adão diante da Maçã. O navegante solitário ouvindo o canto da sereia. O pato diante da femme fatale.
Os guias confirmam que o filme não teve grande reconhecimento
Leonard Maltin confirma meu pressentimento, minha sensação de que o filme não teve o reconhecimento que merecia. Tachou o filme com apenas 2.5 estrelas em 4, e sequer se deu ao trabalho de informar que aquela foi a estréia de Kim Novak: “MacMurray é tira que se apaixona pela boneca de gangster Novak; bom elenco cobre campo conhecido.”
Também confirmando essa minha sensação, o monumental Guide des Films de Jean Tulard não traz o filme entre os 15 mil que comenta. E Le Petit Larousse des Films, um guia que me encanta a cada nova consulta, dedica a ele três rápidas linhas de sinopse que revelam mais do que deveriam sobre a trama.
O livro The Columbia Story tem a obrigação de falar de Kim Novak – e fala: “Em Pushover, Kim Novak, que o estúdio estava preparando para ser uma nova Marilyn Monroe (eles poderiam ter tido a original, se Harry Cohn não tivesse desistido do contrato dela), fazia um papel não muito diferente do de Barbara Stanwyck no muito superior Double Indemnity (Paramount, 1944).”
Em seguida o livro conta mais da trama do que é necessário – bem mais do que relatei aí acima – e conclui dizendo que o elenco de apoio, de primeiro nível, incluía Phil Carey, Dorothy Malone e E.G. Marshall.
É inevitável lembrar de Pacto de Sangue/Double Indemnity. Escrevi sobre as semelhanças com ele duas vezes antes de ler o verbete do The Columbia Story. Não acho, no entanto, que seja o caso de fazer comparação entre os dois em termos de qualidade, usar um para falar mal do outro. Claro que Pacto de Sangue é um filme superior a este aqui – é um dos maiores clássicos do filme noir de todos os tempos, um dos mais belos filmes do cinema americano em geral.
E, sobretudo, são histórias diferentes demais, personagens diferentes demais.
Só o fato de o protagonista, esse pobre Paul Sheridan, ser um policial, um homem da lei, e um bom homem da lei, já torna a trama distinta, diferente da do grande filme de Billy Wilder. A situação de Paul Sheridan é ainda mais difícil que a de Walter Neff. A tentação de passar para o outro lado da lei é ainda mais aflitiva, angustiante, apavorante.
A mulher do bandido é loura, linda e sensual – mas não é fria, calculista, criminosa
Em seu interessante livro O Outro Lado da Noite: Filme Noir, o estudioso carioca A. C. Gomes de Mattos afirma que Lona “não é uma verdadeira mulher fatal no sentido noir, de uma assassina fria e calculista”. É a mais absoluta verdade.
A Lona McLane de Kim Novak é loura e bela e sensual como a Phyllis Dietrichson de Barbara Stanwyck, e também como a Cora Smith de Lana Turner em O Destino Bate à Porta/The Postman Always Rings Twice (1946). É loura e bela e sensual como as duas que vieram antes dela – e, como suas antecessoras, é a Tentação em estado puro, a Tentação concentrada.
Mas, como bem diz Gomes de Mattos, não é, de forma alguma, uma assassina fria e calculista. É apenas a mulher de um bandido. Que de bandida não tem nada – a ponto de se apaixonar verdadeiramente pelo homem mais velho que aparece em sua vida.
Há um diálogo impressionante entre Paul e Lona, quando ela o confronta dizendo que já sabe que ele é um policial – e, a princípio, ele tenta negar, diz que muito ao contrário, ele é amigo de Harry Wheeler, e Harry pediu a ele para vigiar a amante.
Paul, o policial até então absolutamente honesto, pergunta:
– “Se você soubesse de onde vinha o dinheiro, você teria aceito?”
E ela, a femme fatale que é fatale mas não é fria nem calculista, a ponto de se apaixonar pelo homem que ela tenta:
– “O dinheiro não é sujo. Só as pessoas.”
Em seu livro, Gomes de Mattos relata todos os pontos básicos das tramas dos filmes noir que comenta. Não transcrevo aqui mais trechos do que ele diz porque seriam spoilers, mas registro o final de seu verbete:
– “A direção de Quine distingue-se pelo seu rigor e unidade dramática e bons efeitos de suspense burlam a expectativa de acontecimentos, que a gente prevê, mas que se desenrolam de maneira diferente.”
De novo, Gomes de Mattos acerta perfeitamente. Em especial depois da metade dos curtíssimos 88 minutos do filme, o espectador prevê o que deverá vir, e muito do que ele prevê vem, sim – mas não exatamente como a gente poderia imaginar. A rigor, de forma surpreendente.
Que ser humano não se desmancharia por aquela jovem Kim Novak?
Vejo, depois de anotar tudo o que vai aí acima, que, no cartaz americano original, há uma frase, uma tagline, que é como um subtítulo: “The story of tentation”.
Corretíssimo. Pushover – a história da tentação.
Vejo também que os exibidores portugueses encontraram um título perfeito para o filme: Tentação Loira. Já o escolhido pelos exibidores franceses, esse é esquisito: Du Plomb pour L’Inspecteur. Chumbo para o inspetor. Esquisito.
Não conhecia a palavra que é o título original, Pushover. Pessoa fácil de conquistar ou seduzir. Algo fácil de fazer ou vencer – barbada. O dicionário da Longman dá um exemplo: “Charles is a pushover for girls with blue eyes”. Charles se desmancha por garotas de olhos azuis.
Que ser humano não se desmancharia diante daquela Lona McLane que vem na pele de Kim Novak aos 20 aninhos de idade?
Juro que há no filme alguns closes do rosto de Kim Novak em que ela parece ainda não estar tão absolutamente, absurdamente, insanamente bela quanto apareceria em alguns dos filmes que fez logo depois – Férias de Amor/Picnic (1955), Melodia Imortal/The Eddy Duchin Story (1956), Meus Dois Carinhos/Pal Joey (1957) e, é claro, é óbvio, Um Corpo Que Cai/Vertigo (1958).
Fiquei com a sensação de que, depois dessa estréia dela em Pushover, a Columbia Pictures investiu em alguma coisa para melhorar o que Deus já havia feito com perfeição – um dos rostos mais lindos que já passaram diante de uma câmara de cinema, uma coisa assim que só poderia ser comparada a Ingrid Bergman, Grace Kelly, Ava Gardner.
Não sei bem o que poderiam ter mexido. Algo nos dentes, talvez? Não eram comuns, naqueles meados de anos 1950, as intervenções de cirurgiões plásticos. E não é uma mudança grande que ocorreu – mas fiquei pensando que podem ter feito alguma coisinha.
O chefão da Columbia investiu tudo para transformar aquela jovem em grande estrela
Marilyn Pauline Novak (pois é, o primeiro nome dessa moça nascida em Chicago em 1933, de um casal de professores, perfeita classe média da grande metrópole, é exatamente esse aí) foi uma das últimas estrelas criadas, inventadas, fabricadas pelos grandes estúdios. Talvez a última grande.
Conta o livro Leading Ladies que a jovem Marilyn Pauline tinha 12 anos quando venceu um concurso de beleza patrocinado por uma marca de geladeiras. Atravessou então o país rumo a Hollywood, onde, anos mais tarde, um teste chamou a atenção do Harry Cohn, o chefão da Columbia. Cohn estava procurando uma beleza jovem para ir tomando o lugar da sua grande estrela Rita Hayworth e enfrentar a novata em que a 20th Century Fox vinha investindo muito, Marilyn Monroe, “Ela concordou em mudar seu primeiro nome, mas, apesar dos protestos de Cohn, de que Novak era muito étnico, ela se recusou a mudar o nome de família.”
Contrato assinado, a moça, pouco mais que uma menina, fez seis filmes no período de dois anos, de 1954 a 1956. “Por volta de 1956, tinha se transformado em uma das mais populares estrelas do cinema americano”, diz o livro Leading Ladies. “Seu papel de Madge em Picnic tem sido muitas vezes citado como um perfeito exemplo de mistério indefinível que realça as interpretações da atriz. Em um momento, ela é a segura deusa do sexo, para, no momento seguinte, parecer uma garotinha perdida da cidade pequena que protesta: ‘Estou tão cansada de me dizerem que sou bonita!’”
Em 1955, fez O Homem do Braço de Ouro, ao lado de Frank Sinatra, sob a direção firme, prussiana, de Otto Preminger – um baita drama que ousava mostrar abertamente o vício em drogas pesadas entre músicos de jazz. De novo com Frank Sinatra, e ao lado da então pós balzaquiana Rita Hayworth que ela vinha substituir, fez Meus Dois Amores/Pal Joey, uma comedinha musical gostosa e leve como a pluma. Para aí então, em 1958, fazer o papel duplo no mais extraordinário de todos os grandes filmes do mestre Alfred Hitchcock.
O talento da atriz acaba ficando em segundo plano diante da beleza da estrela
Em 2000, escrevi sobre Vertigo para uma coluna que tinha na Agência Estado, chamada “O Melhor do DVD”. Eu já havia escrito antes sobre o filme, em anotações feitas para mim mesmo, e numa delas, em 1997, tinha cometido a seguinte frase:
“Como o velho Hitch conseguiu dirigir bem a Kim Novak! Ela nunca foi boa atriz, se é que não estou louco. Mas aqui no filme ela está esplêndida, sensacional; ela é duas pessoas diferentes, primeiro Madeleine e depois Judy, Madeleine uma mulher rica, cosmopolita, de gestos elegantes, Judy uma moça humilde do interior do Kansas, com um jeito quase vulgar. Ela consegue ter duas vozes diferentes, dois sotaques diferentes. É absurdamente talentoso o trabalho dela. Isso sem falar, é claro, da beleza estonteante, da sensualidade, da absurda sensualidade do andar, do olhar.”
“Ela nunca foi boa atriz”, afirmei, no texto que escrevi apenas para mim mesmo, em 1997.
Em 2000, para a coluna da Agência Estado, me penitenciei por ter feito aquela afirmação absurda:
“A atriz escolhida pelo mitológico diretor para os papéis-chave de Madeleine e depois Judy era Vera Miles (que havia acabado de trabalhar com ele em O Homem Errado, de 1957, e voltaria a trabalhar de novo em Psicose, em 1961). Vera Miles fez os testes com as roupas criadas pela também lendária Edith Head para a personagem de Madeleine, e chegou a ser feito um quadro de Carlotta Valdes com o rosto da atriz – o quadro é mostrado no documentário. O início das filmagens se atrasou, Vera Miles ficou grávida e Kim Novak pegou o lugar.
“Nada contra Vera Miles, que é uma atriz muito boa e é uma mulher bonita. Mas que abençoada gravidez, a dela. Porque Kim Novak era muito mais que bonita; tinha uma beleza estonteante, acachapante – e é uma das responsáveis pelo fato de o filme ser uma das maiores obras-primas do cinema.
“Kim Novak é de fato duas pessoas inteiramente diferentes, Madeleine e Judy. Madeleine é aquela mulher rica, cosmopolita, de gestos elegantes, de uma sensualidade sempre presente, mas contida. Judy é uma moça humilde do interior do Kansas – “Salinas, Kansas”, ela diz, várias vezes -, com um jeito quase vulgar, ou até escancaradamente vulgar. Kim Novak consegue ter duas vozes diferentes, dois sotaques diferentes, dois andares diferentes, dois olhares diferentes. Um espanto.”
Um filme que sem dúvida deveria ter sido visto com muito mais atenção
Por todas as muitas qualidades que tem, este Pushover, Tentação Loira em Portugal, Du Plomb pour l’Inspecteur na França, A Morte Espera no 322 aqui, deveria ter sido visto com mais atenção.
Como foi o filme que introduziu Kim Novak, então, é absurdo que ele não tenha tido a consideração que merece.
O eventual leitor pode ver o filme a hora que quiser. Ele está disponível em um canal do YouTube chamado Cine Antiqua. Com legenda e imagem e sons muito bons.
Anotação em março de 2018
A Morte Espera no 322/Pushover
De Richard Quine, EUA, 1954
Com Fred MacMurray (Paul Sheridan), Kim Novak (Lona McLane)
e Philip Carey (Rick McAllister), Dorothy Malone (Ann Stewart), E.G. Marshall (tenente Carl Eckstrom), Allen Nourse (Paddy Dolan), Paul Richards (Harry Wheeler)
Fotografia Lester White
Música Arthur Morton
Montagem Jeremo Thoms
Direção de arte Walter Holscher
Produção Columbia Pictures.
P&B, 88 min (1h28)
***1/2
Título em Portugal: Tentação Loira. Na França: Du Plomb pour l’Inspecteur.
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