Ricki and The Flash: De Volta para Casa / Ricki and The Flash

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2.5 out of 5.0 stars

Muita gente achou ruim Ricki and The Flash, o filme de Jonathan Demme de 2015 com Meryl Streep como a Ricki do título, uma velha roqueira que, depois de muitos anos, vai rever os três filhos que havia abandonado para cair na estrada com sua guitarra e suas roupas de roqueira dos anos 70.

Mary, por exemplo, achou o filme “uma bobagem” cheia de furos na trama que só serve para demonstrar o que todo mundo já sabe – que Meryl Streep é uma atriz maravilhosa. Ah – acrescenta ela –, e também para mostrar que a filha de Meryl Streep tem muito talento.

Um leitor do IMDb escreveu lá que o filme parte de uma boa premissa e tem excelentes atuações, mas o roteiro e a direção são “medíocres”.

O roteiro é de Diablo Cody, uma espécie assim de enfant terrible do cinema americano dos últimos anos, autora tanto do maravilhoso Juno (2007) quanto do sanguinolento Garota Infernal, e também do estranho Jovens Adultos (2011). Sobre o diretor Jonathan Demme, falo logo adiante.

Um outro leitor do IMDb disse que o filme é idiota e raso. Até que a trama começa bem, diz ele, mas depois fica kitsch, daquele tipo de filme para fazer bem, aquela coisa vomitativa.

O belo site AllMovie dá apenas 2.5 estrelas em 5 ao filme, mesma classificação dada pelos leitores.

Eu gostei do filme. Tá, a trama tem defeitos, sim, um ou outro furo ou no mínimo inverossimilhança, e definitivamente o final, além de um tanto ilógico, é um baita de um happy ending meloso.

Mas eu gostei. E Mary também gostou; achou que a rigor ele é uma bobagem, mas gostou.

Como não gostar de um filme que tem muita música boa, com Meryl Streep e um grupo de músicos cantando e tocando diante da câmara desse sujeito que é expert em filmar grandes músicos?

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Diretor de ótimos filmes, Jonathan Demme se sente à vontade com música

Jonathan Demme já dirigiu filmes belos, importantes, de variados estilos. É dele um dos melhores thrillers do cinema americano nas últimas décadas, O Silêncio dos Inocentes/The Silence of the Lambs (1991), com aquele show de interpretação tanto de Anthony Hopkins quanto de Jodie Foster. Assim como Totalmente Selvagem/Something Wild (1986), a comédia ferina com Jeff Daniels e Melanie Griffith. Philadelphia (1993), um dos primeiros dramas sobre a epidemia da Aids. O sério, denso, pesado O Casamento de Rachel/Rachel Getting Married (2008), sobre conflitos familiares, com Anne Hathaway em uma das melhores interpretações de sua vida como uma viciada recém saída da clínica de reabilitação.

Mas a maior parte da sua filmografia é formada por clipes musicais e documentários sobre músicos. Já filmou Neil Young, New Order, The Pretenders, UB40, Justin Timberlake. Foi com a canção tema de Philadelphia, “Streets of Philadelphia”, que Bruce Springsteen ganhou o Oscar.

Para Neil Young, já dirigiu dois documentários de longa-metragem: Neil Young: Heart of Gold (2006), acompanhando uma apresentação do músico no Ryman Auditorium de Nashville, a Meca da música country, e Neil Young’s Journey (2011), que mostra o artista voltando à sua região natal de Ontario, no Canadá, e fazendo uma apresentação em Toronto.

Não é à toa, portanto, que Ricki and The Flash seja dedicado a Rick Rosas, morto pouco antes do término das filmagens. O baixista Rick Rosas era um velho amigo de Neil Young, e tocou com ele ao longo de vários anos, desde os tempos da banda Buffalo Springfield, passando pela época de Crosby, Stills, Nash & Young e parte da longa carreira solo do músico.

Com The Pretenders, a banda liderada por Chrissie Hynde, Jonathan Demme trabalhou mais de uma vez. E, depois que vi essa informação, me ocorreu que muito do jeito da roqueira Ricki Rendazzo que Meryl Streep faz maravilhosamente tem a ver com a veterana Chrissie Hynde.

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Nos números musicais do filme, tudo é verdade – não há dublagem

Como não gostar de um filme com Meryl Streep? Com Meryl Streep encarnando – literalmente encarnando – uma cantora de rock veterana, e cantando e tocando bem pra cacete?

Sim, Meryl Streep é quem canta ao longo de todo o filme – e Ricki e seu conjunto The Flash cantam e tocam, sei lá, umas dez músicas. Não há absolutamente nada que essa atriz extraordinária, das melhores que já houve em toda a História do cinema, não faça diante de uma câmara, e então aqui, encarnando uma cantora de rock, ela canta – e canta bem pra cacete.

Ela já havia mostrado que sabe cantar muito bem em três outros filmes. Na sequência final de Lembranças de Hollywood/Postcards from the Edge – baseado em livro autobiográfico de Carrie Fisher, a princesa Leia da série Star Wars, filha de Debbie Reynolds e Eddie Fischer –, Meryl dá um show cantando, se não me engano, “I’m checking out”, um belo rock. Em A Última Noite/A Prairie Home Companion (2006), o último filme do grande Robert Altman, canta várias músicas – assim como no musical Mamma Mia!, a gostosa homenagem à banda sueca ABBA.

Aqui, ela canta várias músicas que eu não conhecia, mas também algumas bem famosas. Tem U2 (“I still haven’t found what I’m looking for”), Bruce Springesteen (“My Love Will Not Let You Down”), Tom Petty (“American Girl”), Lucinda Williams (“Walk on”) e até Lady Gaga (“Bad romance”).

Nos números musicais de Ricki and The Flash, tudo é verdade: quem toca o baixo é o já citado Rick Rosas, que no filme se chama Buster. Quem toca a bateria é Joe Vitale – e seu personagem tem o seu nome, Joe. No teclado está o personagem Billy – e quem toca é o músico que faz papel de Billy, Bernie Worrell.

E a fantástica guitarra – de fato excelente, sensacional – é tocada por Rick Springfield, que há décadas se divide entre as carreiras de ator e de músico. Ele interpreta Greg, o guitarrista do conjunto The Flash que, quando a ação começa, está namorando a cantora e líder da banda, Ricki.

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Para cada banda de imenso sucesso, há cem, talvez mil pequenas bandas

Na primeira sequência do filme, Ricki and The Flash estão apresentando “American Girl”, de Tom Petty, num bar de Tarzana, San Fernando Valley, nos arredores de Los Angeles. Uma tomada da frente do bar mais tarde nos informará que ele se chama Salt Well – poço de sal –, e anuncia em letras graúdas que tem karaokê e música ao vivo.

O roteiro de Diablo Cody não explica com todas as letras, mas pelo que se percebe Ricki and The Flash se apresentam naquele bar durante alguns dias da semana, provavelmente às sextas e sábados. A banda tem seu público cativo – veremos que diversos dos fregueses aparecem em vários dos dias em que Ricki canta lá –, fãs apaixonados, mas não muito numerosos.

Tanto que não dá para Ricki viver do que ganha para se apresentar no bar – que pertence ou é dirigido por um garoto simpático, Daniel (Ben Platt), ele também um fã ardoroso do som da banda. Para pagar o aluguel do lugar – bastante simples – em que vive e as demais contas, Ricki trabalha como caixa de um grande supermercado.

Leva uma vida dura, bem dura – e, na minha opinião, essa é uma das grandes qualidades do filme. Ricki and The Flash desmistifica totalmente a associação que a gente normalmente faz entre banda de rock e imenso sucesso e riqueza esplêndida. O filme nos faz cair na realidade e pensar que, para cada banda de imenso sucesso, há pelo menos cem, sei lá, talvez mil pequenas bandas como essa mostrada no filme, muitas delas com gente de talento, mas que não consegue obter sucesso, num mercado absolutamente competitivo e superpovoado.

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O ex-marido chama Ricki para ajudar a filha, afundada na depressão

O filme ainda não tem 15 minutos quando Ricki recebe um telefonema de Pete, o ex-marido (o papel do sempre ótimo Kevin Kline). Pete conta que Julie, a filha deles, foi abandonada pelo marido com quem havia se casado fazia pouco tempo, e tinha entrado em depressão profunda.

Ricki não tinha ido a Indianápolis, onde moram o ex-marido e seus três filhos, sequer para o casamento de Julie.

No telefonema, ela pergunta por Maureen, a atual mulher de Pete, que está com ele há muito tempo – veremos que Maureen foi quem acabou de criar as três crianças, depois que Ricki saiu de casa para pegar a estrada do rock’n’roll. Maureen, Pete informa, está fora, visitando o pai, que está muito doente.

Em suma, Pete precisa de ajuda, e pede que Ricki vá até Indianápolis para ajudá-lo a cuidar da filha abandonada e um tanto ensandecida.

Pete é um homem bem de vida. O roteiro não se preocupa em explicar o que ele faz, mas é um homem de carreira bem sucedida. Mora numa casa gigantesca num condomínio fechado de ricos. Ao chegar à mansão, com suas roupas pretas, suas botas pretas, cheia de anéis, colares, toda aquela sua atitude e sua figura roqueira, Ricki se espanta.

E então aparece Julie – interpretada por Mamie Gummer (na foto abaixo), filha de Meryl Streep na vida real. (A atriz está casada desde 1978 com o escultor Don Gummer, e o casal teve quatro filhos: Henry, nascido em 1979, que é músico; Mamie, nascida em 1983; Grace, de 1986, e Louisa, de 1991, que tem carreira como modelo.)

Julie está mesmo bem mal, deprimida, completamente perdida, sem vontade de nada – sequer tem forças para tomar banho e mudar de roupa. E a chegada da mãe não parece que vai fazer bem a ela: demonstra ter ódio da mãe, por ela ter abandonado a família.

Outro filho, Adam (Nick Westrate), também tem ódio da mãe. Homossexual, liberal em termos políticos, acha a mãe – uma republicana – atrasada, careta, embora tenha a pose de cantora de rock.

E o terceiro filho, Joshua (Sebastian Stan), está para se casar com a namorada, na verdade já noiva, Emily (Hailey Gates), moça também muito rica, filha de pais tradicionais, caretas, quadrados. Joshua – Julie joga na cara da mãe – não quer a presença dela em seu casamento, que está para acontecer nos próximos meses.

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No meio de um show, Ricki desabafa sobre o machismo do mundo e do rock

Já há problema demais, mas ainda não é só. Maureen, a mulher de Pete (interpretada por Audra McDonald), volta da visita ao pai doente. Demonstra irritação com o fato de, em sua ausência, Ricki ter a) feito Julie faltar a uma sessão de terapia e b) ter oferecido maconha à filha que está tomando muitos medicamentos.

As duas discutem, e Maureen pede que Ricki vá embora.

Quando, depois desses dias terríveis, volta para sua vidinha dura, de muito trabalho e pouquíssima grana, Ricki vai desabafar bem no meio de uma apresentação no bar Salt Well.

É, na minha opinião, o ponto alto do filme.

O bar está cheio de gente que quer ouvir música, beber, se divertir, cantar, esquecer seus problemas – e não, é claro, para ouvir a vocalista da banda de rock falar dos problemas da vida dela.

Mas ela fala.

Acaba de cantar uma canção, e aí explica que ela é de Edgar Winter. Antes, tinha cantado uma dos Rolling Stones.

– “Ah, os Stones! Mick! Uma coisa engraçada sobre Mick Jagger. Ele teve sete filhos de quatro mulheres. Vocês acreditam nisso?”

Daniel, o dono ou gerente do bar, dá um berro: – “Aí, Mick!”

Até aqui, tudo ia bem. Mas Ricki prossegue:

– “É, ele é um cara ocupado. Claro, ele não criou os filhos. Ele é um rock star! E o mais importante: ele não é a mãe. Papai pode fazer o que quiser, pode transar com quem quiser, pode tomar drogas, ficar doidão…”

Greg, o guitarrista e namorado, tenta parar com o desabafo dela. Mas Ricki continua. Dirige-se às mulheres que estão no bar – e fala da imensa diferença entre homens e mulheres, na vida, no rock. Os homens podem tudo, as mulheres não podem nada, das mulheres se exige tudo.

Para aquele bando de gente no bar, é um porre, no mau sentido da palavra.

Para o espectador, é uma beleza de sequência. Uma maravilha.

O talento de Meryl, brilhante sempre, enorme sempre, nesta sequência como que sobe uma oitava.

Aqueles leitores do IMDb que me perdõem, mas não dá para deixar de gostar de um filme que põe o dedo na ferida do machismo do mundo inteiro e do mundo do rock em particular.

(Detalhinho: a fala de Ricki ficou ultrapassada. Em dezembro de 2016, nasceu o oitavo filho de Mick Jagger. Aos 73 anos, ele ganhou mais um para a coleção, de uma bailarina de 29 anos…)

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De novo, Demme mostra que cor de pele não deveria ter importância alguma

Há um pequeno aspecto nessa história criada pela imaginação nada convencional de Diablo Cody que não consegui compreender: por que será que ela quis que sua personagem central fosse republicana, ou seja, conservadora, careta, em termos das questões sociais e comportamentais, e ainda por cima declaradamente racista?

Meryl Streep, sabe-se, é democrata. Como 98% por cento das pessoas do cinema e do showbizz americano de maneira geral.

Bem no começo da narrativa, ainda na primeira sequência, Ricki se recusa a falar o nome de Barack Obama, dizendo “o ano de 2008, em que elegemos vocês sabem quem”, e acrescentando para o tecladista Billy, um velho negro: – “Sem querer ofender, Billy”. Não combina com o resto das atitudes de Ricki. Por que isso? De fato, não entendi qual foi a intenção de Diablo Cody ao chamar a atenção do espectador para esse pequeno detalhe.

Há um outro elemento importante: Maureen, a segunda mulher de Pete, é negra.

Numa sociedade melhor, mais justa, menos preconceituosa, isso deveria ser um detalhe que sequer valeria a pena mencionar. Como se trata de um país em que até os anos 1960 a segregação racial era lei, em que o casamento de brancos com negros era proibido por lei em 16 ou 17 dos 50 Estados, isso infelizmente não é um detalhe, é algo importante.

O fato de haver um personagem de pele negra no meio de um mundo de bípedes de pele branca não é novidade nos filmes de Jonathan Demme. No excelente O Casamento de Rachel, a família de Rachel e de sua irmã Kym, a drogada que está saindo de uma clínica após meses de rehab, é muito rica, mora num excelente bairro de Connecticut, na Nova Inglaterra. São progressistas, educados, modernos, e não padecem da grave doença do racismo. Rachel está se casando com um músico bom sujeito, resolvido, que acontece de ter a pele negra, algo a que ninguém da família dá importância – que é como as coisas deveriam funcionar.

Em O Casamento de Rachel, o fato de o noivo ter pele escura – me pareceu – está colocado ali exatamente para dizer que é possível viver num mundo em que esse tipo de detalhe não tem qualquer importância.

Creio que também aqui o fato de Maureen ser negra é uma opção do realizador para repetir isso: a cor da pele é um detalhe que não tem qualquer importância. Ou que importa tanto quanto a pessoa ser destra ou canhota. Ter muito cabelo no peito ou nenhum cabelo no peito. Ter o lóbulo da orelha mais ou menos pregado ao rosto.

O que para mim ficou sem explicação na história é Diablo Cody e Jonathan Demme terem feito uma roqueira republicana e racista…

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Dois detalhinhos que demonstram como fazemos pequenas asneiras

Há ainda dois detalhinhos no filme que, na minha opinião, demonstram o talento de Diablo Cody, sua capacidade de observação do tal do comportamento humano e sua forma de exibir pequenas fraquezas, errinhos das pessoas. Nós mesmos.

No duro diálogo de Ricki com Maureen, em que a dona da casa e efetiva mãe dos filhos de Pete cobra da mãe biológica o que considera erros – oferecer maconha a Julie e incentivá-la a faltar a uma sessão com a analista –, Ricki vai se sentindo acuada, sem saída. E diz para a outra que Pete ainda a ama.

Ora, isso é uma arrematada idiotice. Pete e Maureen estão casados há décadas. Na noite anterior, depois de terem fumado um baseado, Pete e Ricki tinham se aproximado um pouco, o que é algo absolutamente natural para duas pessoas que já foram casadas, que tiveram não apenas um, mas três filhos juntos, e agora estavam reunidos para tentar cuidar da filha com problemas graves. Tinha sido um momento de aproximação gostoso – mas nada que indicasse que Pete ainda a amava, after all these years.

E ela própria seguramente sabia disso. Falou uma besteira porque não sabia o que mais dizer. Muito certamente terá tido vergonha de si mesma por ter falado a asneira.

O outro detalhinho acontece um pouco antes, quando Pete, Ricki e Julie estão andando pela cidade, e Julie vê o carro da nova mulher do ex-marido, e como que entra num surto.

Acabam localizando, num bar perto de onde estava o carro da nova mulher, o ex de Julie e a atual dele.

Em vez de irem embora dali o mais depressa possível, pai e mãe da mulher que havia sido abandonada entram no bar para discutir com o sujeito que a abandonou! Para xingá-lo!

Uma atitude idiota, sem qualquer sentido lógico, prático.

Mas cada um de nós não está cansado de se arrepender por atitudes idiotas, sem qualquer sentido lógico, prático, que tivemos bem mais de uma vez na vida?

Acho esses dois detalhinhos especialmente interessantes, ricos. Demonstram uma bela percepção do comportamento humano – e não é muito comum vermos esse tipo de coisa nos filmes.

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A arte e a vida real se entrecruzam várias vezes neste Ricki and the Flash

De novo, os leitores do IMDb que me perdoem, mas até a Trivia sobre o filme é interessante. (O IMDb traz uma página de Trivia para cada filme; Trivia, diz meu dicionário da Longman, são “assuntos ou detalhes desimportantes ou inúteis”. Inutilitários, como dizia um jornalista especializado em informática ao lado de quem trabalhei uns tempos, sob o comando dos ótimos Wilson Moherdaui e Lia Ribeiro Dias.)

Ou não é absolutamente fascinante lembrar que, quando Meryl Streep e Kevin Kline trabalharam juntos pela primeira vez, em A

 A Escolha de Sofia (1982) – o filme que deu a ela seu segundo Oscar –, ela estava grávida de Mamie Gummer, que agora faz o papel da filha dos personagens dos dois grandes atores neste filme aqui?

Este aqui foi o terceiro filme que reúne no elenco Meryl e Kevin Kline. Entre A Escolha de Sofia e este aqui houve o já citado A Última Noite (2006), o canto de cisne de Robert Altman.

Este foi também o terceiro filme em que Meryl e Mamie trabalharam juntas. Antes, houve A Difícil Arte de Amar/Heartburn (1986) e Ao Entardecer/Evening (2007).

A arte e a vida real se entrecruzam várias vezes neste Ricki and the Flash. A página de Trivia do IMDb informa que a história é inspirada na vida real da sogra de Diablo Cody.

Diablo Cody faz uma participaçãozinha especial diante da câmara de Jonathan Demme, na sequência em que a banda toca no bar “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”.

Na sequência em que Ricki e Greg estão na cozinha, o espectador ouve, ao fundo, uma música que foi escrita por Henry Gummer, o primogênito de Meryl.

Na sequência em que Pete toma café da manhã com a família, está usando uma camiseta da Indiana University. Na vida real, Kevin Kline de fato fez faculdade em Indiana.

A música que a banda toca na abertura do filme, “American Girl”, de Tom Petty, é cantada pela filha da senadora, momentos antes de ela ser sequestrada, em O Silêncio dos Inocentes, o filme mais premiado e incensado da carreira de Jonathan Demme.

No filme, Julie estava casada havia bem pouco tempo quando o marido a abandona por uma outra mulher. Na vida real, aconteceu algo bem parecido com Mamie Gummer: ela e o ex-marido ficaram casados pouquíssimo tempo, um ano e meio.

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A guitarra Gibson SG de 1968 pode render até US$ 10 mil

Ah, e as guitarras que Greg-Rick Springfield toca?

O ator e músico Rick Springfield, que interpreta Greg, a boa figura que é o guitarrista da banda de Ricki, é ele mesmo o dono da estilosíssima Gibson SG de 1968 que ele toca no filme.

Foi com aquela guitarra que o cara compôs muitas de suas músicas – inclusive o maior sucesso de sua carreira, “Jessie’s Girl”, que chegou ao primeiro lugar das mais vendidas quando foi lançada, nos anos 80.

(O que me faz lembrar que Georges Moustaki fez uma bela canção em homenagem à guitarra Gibson, no seu disco de 1977, “M’zelle Gibson”. M’zelle é diminutivo poético de mademoiselle, e, na gostosa letra, Moustaki trata a guitarra como uma senhorita que ele ama muito.)

Creio que não chega a ser spoiler se eu contar que, lá pela metade do filme, a rigor um pouco mais da metade do filme, Maureen manda para Ricki uma carta com um pedido de desculpas pela rudeza do diálogo que haviam tido, e com o convite para o casamento de Josh com a toda natureba e vegana Emily.

Depois dos dias duros que tinha passado em Indiana da última vez, Ricki fica em dúvida se deve ir ao casamento do filho. Além da dúvida, ainda enfrenta a questão de que não tem dinheiro para as passagens aéreas.

E então, no meio de uma apresentação no bom e velho bar Salt Well, karaoke and live music, repara que Greg não está com sua Gibson SG de 1968, e sim com sua segunda guitarra, uma Danelectro 1959 toda amarela, que, segundo ele mesmo, parece uma banana.

Sim: o sujeito fino bom coração havia botado no prego sua Gibson SG de 1968 para custear as passagens de avião Los Angeles-Indianópolis, ida e volta, e mais o hotelzinho humilde lá.

Questionei com Mary que raio de guitarra cara era essa capaz de pagar a viagem.

E então achei uma delícia encontrar na página de Trivia do IMDb a seguinte informação:

Dependendo das condições em que está, esse modelo de guitarra, anunciado na internet, pode render entre US$ 5 mil e US$ 10 mil. Dá pra pagar um bando de viagens de primeira classe entre Los Angeles e Indianápolis.

Não é um grande filme, não. Não é tão bom quanto O Silêncio dos Inocentes nem O Casamento de Rachel. Mas não é, de forma alguma – na minha opinião, é claro, e minha opinião não vale mais que uma nota rasgada de 3 guaranis paraguaios –, um filme ruim, uma porcaria.

É um filme que merece ser visto.

Anotação em dezembro de 2016

Ricki and The Flash: De Volta para Casa/Ricky and The Flash

De Jonathan Demme, EUA, 2015

Com Meryl Streep (Ricki Rendazzo)

e Kevin Kline (Pete Brummel, o ex-marido), Mamie Gummer (Julie, a filha), Rick Springfield (Greg, o namorado), Audra McDonald (Maureen, a mulher de Pete), Nick Westrate (Adam, o filho), Sebastian Stan (Joshua, o filho), Hailey Gates (Emily, a noiva de Josh), Rick Rosas (Buster, o baixista), Joe Vitale (Joe, o baterista), Bernie Worrell (Billy, o tecladista), Ben Platt (Daniel, o gerente do bar), Peter C. Demme (Walt, o veterano)

Argumento e roteiro Diablo Cody

Fotografia Declan Quinn

Montagem Wyatt Smith

Casting Tiffany Little Canfiel e Bernard Telsey

Músicas executadas por Ricky and The Flash

Produção TriStar Pictures.

Cor, 101 min

**1/2

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