Os Infratores / Lawless

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Nota: ½☆☆☆

Alex DeLarge muito certamente adoraria este filme, Lawless, sem lei, no Brasil chamado de Os Infratores.

Para quem não se lembra, Alex DeLarge é o protagonista da distopia Laranja Mecânica/A Clockwork Orange, escrita por Anthony Burguess, e filmada por Stanley Kubrick em 1971. Ele é um jovem adepto da ultraviolência.

Pois é: Os Infratores é um filme voltado para as pessoas que, como o Alex DeLarge, adoram a ultraviolência.

Para quem gosta de violência, de ultraviolência, ulalá, é a perfeição. Para esse povo, olha, o filme pode dar gozo mesmo. Orgasmo.

Corta-se o pescoço – e esguicha sangue.

Ah, é pouco? Pois não: corta-se o saco.

Ah, é pouco? Pois não: mostram-se os bagos cortados.

Por que raios esses bons atores aceitaram participar deste filme?

Lawless é um daqueles filmes que dão nojo da humanidade. Que fazem a gente acreditar que a humanidade é uma invenção que deu errado.

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Tem bons atores – e isso é apavorante. Por que, meu Deus do céu e também da terra, aceitaram participar dessa idiotice Shia La Beouf, Guy Pearce, Jessica Chastain, Mia Wasikowska? Por que raios um ator tão completo, tão perfeito, tão camaleônico como Garty Oldman aceitou fazer uma quase participação especial neste filme grotesco, horroroso?

A história se passa no condado de Franklin, interiorzão da Virginia, nos anos 1920, a época da Lei Seca nos Estados Unidos. Era proibida a venda de toda e qualquer bebida alcoólica – e vendia-se uísque fabricado em destilarias caseiras, clandestinas, como provavelmente nunca se vendeu tanto em qualquer outra época da história.

Contam-se as aventuras de três irmãos, os Bondurant, que foram dos maiores produtores e vendedores de uísque da região – uma região onde havia dezenas e dezenas de destilarias clandestinas. O mais velho, Forrest (interpretado pelo inglês Tom Hardy), tinha lutado na Primeira Guerra Mundial e sobrevivido, e por isso se considerava invencível, imortal – e todo mundo no condado de Franklin acreditava na lenda. O irmão do meio, Howard (Jason Clarke), era um gigante fortíssimo. E o caçula, Jack (o papel de Shia LaBeouf), ao contrário dos outros dois, era baixinho, meio fracote – e, também ao contrário dos outros dois, não tinha coragem de atirar para matar sequer um porco.

Teremos então que Forrest e Howard vão dar muita porrada nos desafetos – e Jack, o caçula fracote, que é o narrador da história, vai levar muita porrada de todo mundo, dos desafetos e dos próprios irmãos mais velhos.

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Tudo ia muito bem com a comercialização de uísque clandestino na região – o xerife era um freguês de carteirinha do produto dos irmãos – até que chega ali um assistente do promotor mau como o diabo, chamado Charlie Rakes (interpretado, histrionicamente, exageradamente, caricaturalmente, pelo australiano Guy Pearce).

Rakes quer pedágio dos produtores para deixá-los trabalhar. Todos os produtores topam – menos os bravos irmãos Bondurant.

E dá-lhe porrada.

Lawless tem mais porrada que a obra completa de Sylvester Stallone.

O diretor fez todos os seus atores atuarem de forma quase caricatural, exageradíssima

Os irmãos Bondurant existiram na vida real. Se deram ou levaram tanta porrada, não dá para saber, mas a história deles foi contada em um livro chamado The Wettest County in the World, o condado mais molhado do mundo, de autoria de Matt Bondurant. Matt vem a ser neto de Jake, o caçula dos três irmãos.

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Quem escreveu o roteiro do filme foi Nick Cave, o cantor e compositor australiano, que também assina a trilha sonora do filme. Aliás, a trilha sonora, cheia de canções blue grass e folk, é a melhor coisa do filme, além da beleza estranha e esplendorosa de Jessica Chastain.

O diretor John Hillcoat, ele também australiano, como Nick Cave e Guy Pearce, tem 16 filmes no currículo, inclusive A Estrada/The Road, uma ficção-científica sobre o mundo pós-Apocalipse com Viggo Mortensen e Charlize Theron.

Esse John Hillcoat fez todos os seus atores atuarem de forma quase caricatural, exageradíssima, falsa como uma moeda de dois guaranis. Na minha opinião, só se salva a atuação das duas atrizes, que representam o tal de female interest, Jessica Chastain e Mia Wasikowska.

Gastaram US$ 26 milhões para fazer essa porcaria pancadão. E pior ainda é saber que a platéia ainda aplaude e ainda pede bis: o filme rendeu US$ 53 milhões. Hum… Mundo inteiro fora EUA, US$ 16 milhões; EUA e Canadá, US$ 37 milhões. Parece que os americanos gostam especialmente de ver tanta violência. Depois reclamam dos atiradores malucos à la Columbine.

Vejo que o filme foi exibido em competição no Festival de Cannes. Não é por nada, não, mas o pessoal de Gilles Jacob já foi mais criterioso na escolha dos concorrentes.

Anotação em maio de 2014

Os Infratores/Lawless

De John Hillcoat, EUA, 2012

Com Shia LaBeouf (Jack Bondurant), Tom Hardy (Forrest Bondurant), Jason Clarke (Howard Bondurant), Guy Pearce (Charlie Rakes), Jessica Chastain (Maggie Beauford), Mia Wasikowska (Bertha Minnix), Dane DeHaan (Cricket Pate), Chris McGarry (Danny), Tim Tolin (Mason Wardell), Gary Oldman (Floyd Banner)

Roteiro Nick Cave

Baseado no livro The Wettest County in the World, de Matt Bondurant

Fotografia Benoît Delhomme

Música Nick Cave e Warren Ellis

Montagem Dylan Tichenor

Produção The Weinstein Company, Yucaipa Films, Revolt Films,

Benaroya Pictures.

Cor, 116 min

1/2

6 Comentários para “Os Infratores / Lawless”

  1. Eu não acho que esse filme seja horroroso. Ele tem, sim, alguns problemas de montagem, duração um pouco excessiva, a interpretação equivocada de Guy Pierce (over) mas, quanto à violência, não vejo como gratuita. Ora, retratar a América profunda em pleno anos 30 nos EUA (Grande Depressão, Lei seca) é como retratar a época do cangaço no Nordeste brasileiro. Terra de ninguém ! Daí o título do filme em inglês: Lawless. A violência, aqui, não é pitoresca ou cartunesca, como por exemplo, nos filmes do Quentin Tarantino, é factual. Basta lembrar que dois dos melhores filmes sobre a época: Bonnie e Clyde, que tem aquele final violentíssimo (isto porque já estávamos no final dos anos 60) e Vinhas da Ira que, embora não seja explícito, contém uma violência e um retrato da desumanidade daqueles tempos, poucas vezes visto no cinema.

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