Mais de meio século e tanta loucura, tanta violência, tanta degradação depois, O Colecionador/The Collector, de William Wyler, continua tão forte, tenso, agoniante, angustiante, amargo, apavorante e brilhante quanto quando chegou aos cinemas, em 1965.
Consta que John Fowles (1926-2005), o autor do romance em que o filme se baseia, não gostou do roteiro escrito Stanley Mann e depois mexido por John Kohn, um dos produtores. Cada um tem direito a sua opinião, é óbvio. Mas é bom lembrar que John Fowles também não gostou de A Mulher do Tenente Francês (1981), o belo filme de Karel Reisz baseado em outro de seus romances. E ele próprio resolveu escrever o roteiro de Mago – O Falso Deus/The Magus, de 1968, uma absoluta porcaria, um abacaxi azedo.
O que tem The Magus de ruindade The Collector tem de brilho.
É a história de um homem simples, working class, colecionador de borboletas, que ganha uma fortuna na loteria, e assim passa a ter os meios para executar o grande plano de sua vida: sequestrar a moça que ela ama desesperadamente – sem que ela tenha a menor idéia disso –, por crer que, com a convivênvcia, ela passará a amá-lo também.
Quando o filme está com apenas 13 minutos de seus magníficos 119, o colecionador, Freddie Clegg (uma interpretação absolutamente extraordinária de Terence Stamp) deposita seu novo objeto de coleção, a estudante de arte Miranda Grey (Samantha Eggar, atriz de beleza estonteante), na cama preparada com esmero para ela, e retira a mordaça que havia colocado em sua boca. Miranda está desacordada por causa do clorofórmio que ele enfiou sob suas narinas, no momento em que a sequestrou e colocou dentro de sua van, num bairro de Londres. Uma mecha de seu cabelo ruivo cobre o rosto magnífico. E então Freddie, com extremo cuidado, passa a mão junto do rosto dela, para afastar a mecha. Restam alguns fios de cabelo vermelho – e ele novamente faz o gesto suave para retirá-los do rosto da mulher que acabou de sequestrar.
A saia dela deixou à mostra uns poucos centímetros de suas coxas. Ele puxa com suavidade a saia para baixo, para que cubra os joelhos.
É uma sequência impressionante, de uma imensa beleza visual – e de uma força dramática descomunal. Acho que dá para dizer que tem uma dramaticidade tão forte quanto a absolutamente antológica sequência da corrida de bigas no Coliseu romano que o perfeccionista William Wyler havia filmado seis anos antes em Ben-Hur, o épico dos 11 Oscars.
E é só o começo.
Uma parábola sobre o fosso entre classes sociais
Se eu fosse crítico de cinema, poderia dizer que O Colecionador é um filme que permite múltiplas leituras.
Sim, claro, é o relato de um caso aterrorizante, apavorante, de um criminoso e sua vítima. Uma autêntica história de terror – com o agravante, o primeiro deles, de que não há aqui nenhuma alma penada, nenhum fantasma, nada sobrenatural. É tudo real, concreto, perigoso e imediato. E com o segundo agravante de que, como o sequestrador Freddie conta para a sequestrada Miranda, não há possibilidade de eles virem a ser descobertos. O local em que ele a mantém em cárcere privado é totalmente isolado – Freddie havia comprado uma propriedade no campo, na região de Kent. Seu vizinho mais próximo está a quase um quilômetro de distância. Mesmo que Miranda gritasse muito por socorro, não seria ouvida por ninguém.
O roteiro conciso, preciso, justo, muitíssimo bem elaborado cria um momento de suspense, bem ali pelo meio das quase 2 horas de projeção. É quando o vizinho, o único vizinho, o que mora a um quilômetro de distância, aparece.
Freddie havia se preparado para satisfazer a um dos desejos que Miranda tinha expressado, o de tomar um banho. Ela estava sendo mantida num amplo, bem amplo porão situado a pequena distância da edificação principal, de dois andares, portentosa. No porão, Freddie havia criado um quarto confortável para ela, com dezenas de vestidos, saias, blusas, livros de arte – mas ali não havia chuveiro. Então, numa determinada noite, ele a leva para a casa, para que ela possa tomar um banho na banheira.
Exatamente no momento em que ela está no banheiro, o vizinho (Maurice Dallimore) chega, querendo conhecer o novo morador da propriedade.
Esse episódio, o banho, a chegada do vizinho, a tentativa de Miranda de chamar a atenção do visitante, não existe no livro. Foi criado pelos roteiristas. É um momento de grande susense, de grande aflição para o espectador. Não é o único momento de grande aflição – mas é um dos mais impressionantes.
Então é isso: no primeiro nível de leitura, é um relato de um caso aterrorizante, apavorante, de um criminoso e sua vítima.
Mas é também uma impressionante parábola sobre a iniquidade, as diferenças sociais, o profundo classismo da sociedade britânica em especial. É o enfrentamento do have not contra o have, do destituído contra quem possui, do pobre contra o rico.
Freddie e Miranda nasceram e viveram a juventude na mesma cidade, Reading, a Oeste de Londres – mas Freddie era filho de família working class, e Miranda, de um médico respeitado. Ele não era miserável nem ela era milionária – mas havia um fosso imenso entre eles, uma Floresta Amazônica, um Grand Canyon. Freddie diz isso com todas as letras – que ele não teve as facilidades, os confortos, a escola boa que ela teve.
Um fosse entre quem pôde estudar e quem não pôde
Há mais. Há outro fosso entre Freddie, working class, humilde funcionário de banco onde era motivo de gozação dos colegas por ser tímido, arredio e colecionador de borboletas, e Miranda, classe média para alta, letrada, intelectualizada, estudante de artes em uma das grandes escolas do país.
Além do fosso social, há o fosso cultural, de formação, de educação, de escolaridade.
Há longos, angustiantes, dolorosos diálogo entre sequestrador e sequestrada, colecionador e colecionada, sobre a distância amazônica, jupiteriana entre eles quanto à formação, à escolaridade, à educação.
Freddie diz que no mundo, lá fora, eles nunca iriam se encontrar, se falar – ela não o levaria para conhecer seus amigos estudantes, professores, intelectuais. Naquele momento, Miranda está tentando não deixá-lo com raiva, está tentando tratá-lo bem, na esperança de que assim obteria a liberdade. Mas Freddie insiste em falar sobre o fosso, o Grand Canyon. Diz que vai ler o livro que ela pediu para ele comprar, e que ela adora, que ela já leu três vezes – The Catcher in the Rye, de J. D. Salinger.
E, depois de ler o livro, pergunta por que ela acha que aquilo – na opinião dele, uma porcaria sem sentido, sobre um sujeito que reclama demais com a barriga cheia – é uma maravilha.
E pega um livro que havia comprado para ela, um livro sobre Picasso, e pergunta por que ela acha aquilo ali bonito.
Miranda tenta explicar o que para Freddie é inexplicável – e ele rasga furiosamente o livro de Picasso e o livro de J. D. Salinger, que ele odeia porque não consegue entender. Porque, na sua limitadíssima visão de mundo, são feios, são uma porcaria.
Quando pobres de espírito têm poder é o horror
E me ocorreu ainda uma outra forma de ver O Colecionador. Um outro nível de leitura, como diriam os críticos de cinema.
Ao rever agora, outubro de 2019, o filme que encantou, fascinou o adolescente Sérgio Vaz, lá atrás, muitas décadas atrás, vi em O Colecionador uma parábola sobre os trágicos momentos da História em que pessoas ou grupos pouco educados, ignorantes, pobres de espirito, dotados de pouca ou nenhuma razão, no sentido psiquiátrico do termo, adquirem posição de poder, de mando.
Pobre, pequeno, seguramente com imensa sensação de inferioridade, o obscuro bancário Freddie era inofensivo. Com os meios proporcionados pela fabulosa fortuna ganha na loterial, Freddie se transformou numa pessoa capaz de fazer mal aos outros.
Quando pessoas ou grupos profundamente ignorantes, que contestam os avanços da civilização e da ciência, beirando a loucura ou enfiados nela, assumem posições de poder, o resultado é o horror.
De uma certa maneira, Freddie é assim um pequeno Mussolini, um pequeno Hitler, um pequeno Stálin, um pequeno Trump, um pequeno Bolsonaro.
Já na primeira sequência se vê que é um belo filme
O adolescente Sérgio Vaz anotou que viu O Colecionador duas vezes, em dois dias seguidos, em agosto de 1966, a época do lançamento do filme no Brasil. Foi no Cine Rivoli, em Curitiba, onde morou em 1966 e 1967, e viu muito filme bom. Veria O Colecionador ainda mais uma vez, em janeiro de 1969, já imigrado para São Paulo, no Cine Bijou.
Ainda em Curitiba, o adolescente leu o livro, editado pela Civilização Brasileira, e ficou impressionadíssimo. John Fowles criou uma narrativa fascinante – tudo é contado em primeira pessoa, pelo sequestrador e pela sequestrada. Freddie escreve em uma linguagem limitadíssima, própria de pessoa que não teve acesso a boa educação, ou que simplesmente não foi dotado pela natureza de grande capacidade cognitiva, assim uma coisa bolsonariana. Miranda escreve da forma bastante diferente, quase contrária – a forma de quem teve a oportunidade de estudar, aprender, crescer.
Ao longo destas muitas décadas, guardei de O Colecionador uma ótima lembrança, a lembrança de que era um grande filme. Mas confesso que tive um certo temor ao revê-lo agora – há sempre o risco de a gente não ver grandeza em filmes que adorou quando muito jovem.
O temor foi embora na primeira sequência.
O filme abre com Freddie caçando borboletas no campo inglês – até que, por absoluto acaso, se vê diante de uma propriedade que tem uma placa de “à venda”. Ele entra na propriedade, e antes de se preocupar com a edificiação principal, a grande mansão de vários séculos atrás, vê que há uma escada que leva a um amplo porão. Entra nele, examina-o bem.
E então, enquanto vemos Terence Stamp na tela, ouvimos a voz dele em off dizendo o seguinte: – “Acredito que foi a solidão, e estar distante de qualquer lugar, que me fizeram decidir comprar a casa. Depois, disse a mim mesmo que não seguiria com o plano, embora já tivesse feito todos os preparativos, e soubesse onde ela estava a cada minuto do dia.”
Vemos então Freddie seguindo Miranda – até sequestrá-la, enfiando um lenço embebido em clorofórmio sob o seu nariz.
E em seguida ele a coloca na bela cama que preparou cuidadosamente para ela. Retira a mordaça – e depois a mecha de cabelo que cobre o rosto dela.
Dois maravilhosos atores, perfeitos para os papéis
Volta e meia digo que os anjos ajudam o cinema, em especial na escolha dos atores certos para determinados papéis. Digo isso de novo: consta que Natalie Wood e Tuesday Weld recusaram o papel de Miranda Grey. E que Julie Christie, Suzanne Pleshette e Sarah Miles também foram consideradas pelos produtores. Admiro todas elas, todas as cinco – mas ainda bem que elas não ficaram com o papel de Miranda. O Colecionador é Samantha Eggar – Samantha Eggar e Terence Stamp. Não poderiam ser outros atores.
Terence Stamp desenvolveu para compor seu personagem alguns tiques físicos. Freddie volta e meia inclina a cabeça para o lado, e se curva um pouco para frente. E é impressionante – como Mary bem notou – como o olhar dele em alguns momentos demonstra absoluta loucura.
E é fantástico como a Miranda de Samantha Eggar alterna expressões de pavor, raiva, ódio, medo, insegurança – e uma imensa fragilidade nos momentos em que se esforça para agradar ao seu sequestrador, para não magoá-lo, na expectativa de que assim talvez conseguisse a liberdade.
Samantha Eggar ficou isolada, sozinha, nas filmagens
Não me lembrava disso, de forma alguma, mas O Colecionador teve três indicações ao Oscar, nas categorias melhor direção, melhor atriz para Samantha Eggar e melhor roteiro adaptado para Stanley Mann e John Kohn. Teve indicações ao Globo de Ouro nessas mesmas três categorias, e ainda na de melhor filme. Samantha Eggar levou o Globo de Ouro.
O filme participou também da mostra competitiva do Festival de Cannes – e Samantha Eggar e Terence Stamp venceram como melhor atriz e melhor ator.
De fato não me lembrava que o filme tinha tido tanto reconhecimento.
Eis algumas informações sobre o filme e sua produção, a maioria retirada da página de Triva do IMDb, com pitacos meus:
* Terence Stamp contou em entrevistas que o diretor William Wyler determinou que Samantha Eggar não poderia sair do estúdio durante o dia, e, nas horas das refeições, não poderia comer junto com outras pessoas. O diretor comentou com o ator: “Isso pode parecer cruel, mas nós vamos conseguir uma grande atuação dela”.
* As instruções de Wyler eram severíssimas. As pessoas que trabalhavam no filme receberam ordens de não falar com a Samantha, para que a atriz sentisse o isolamento que a personagem sentia. Terence Stamp contou: “Todo mundo ficava doido por ela, ela era tão bonita… Eu fiquei doido por ela, e a tratava muito bem. Mas, quando começamos o filme, Willy me disse: ‘Não quero que você tenha nada com ela’.”
Que figura esse William Wyler!
* A primeira versão montada do filme tinha cerca de 3 horas. Wyler e seus montadores, David Hawkins e Robert Swink, tiveram que trabalhar duramente para cortar cenas, sequências inteiras.
Toda a participação do ator Kenneth More foi cortada. Ele fazia um professor da escola de arte que tinha um caso com Miranda. Wyler disse: “Algumas das melhores tomadas que já filmei acabaram no chão da sala de montagem, incluindo o papel de Kenneth.”
Do personagem, sobrou apenas uma rapidíssima imagem, bem no início do filme, quando Freddie segue Miranda pelas ruas de Londres, e ela entra num pub onde, num cantinho, está o seu namorado. Mal se percebe o rosto do ator, que aparece em segundo plano, lá no fundo do bar.
* Nos créditos finais, além de Terence Stamp e Samantha Eggar, aparecem os nomes de apenas dois atores. Um é Maurice Dallimore, que faz o vizinho mais próximo da propriedade de Freddie. A outra é Mona Washbourne, que faz a tia Annie, que aparece apenas em uma sequência rápida, um flashback em que a tia de Freddie vai ao banco avisar ao sobrinho que ele ganhou 71 mil libras na loteria.
O filme inspirou músicos – e também um criminoso
* As cenas de exteriores, as ruas de Londres, a região do campo onde fica a casa centenária comprada por Freddie, foram filmadas em locação, lá mesmo, na Inglaterra, e o diretor do fotografia foi o australiano Robert Krasker. Todas as cenas de interiores foram filmadas em estúdio, em Hollywood, e o diretor de fotografia foi o americano Robert Surtees.
* Há uma auto-citação do diretor Wyler no filme, um tanto à la Alfred Hitchcock: no início, quando Freddie está seguindo Miranda nas ruas, ela passa por um cinema que está exibindo Ben-Hur (1959).
* Wyler, no entanto, rejeitou a proposta de que Bernard Herrmann compusesse a trilha sonora do filme. “Não quero usar um homem de Hitch”, ele teria dito, segundo o próprio Bernard Hermann contou numa entrevista de 1975. A trilha sonora ficou a cargo de Maurice Jarre – que fez um belíssimo trabalho. A trilha é impressionante, e está presente ao longo de todo o filme, pontuando as situações, enfatizando os climas.
* Os exibidores franceses deixaram de lado a idéia do título original do livro e do filme e inventaram o título L’obsédé. E os exibidores portugueses, que muitas vezes seguem os franceses, foram atrás: em Portugal, o filme é O Obecado.
* O filme inspirou músicos – e também um criminoso. O grupo britânico Jam se baseou no filme para compor a canção “The Butterfly Collector”, que foi lado B de um compacto com o sucesso “Strange Town”, 15º lugar nas paradas inglesas.
* Em 1984, The Smiths usaram uma imagem de Terence Stamp em The Collector na capa do álbum What Difference Does it Make.
* A canção “Prosthetics”, do grupo Slipknot, também é inspirada no filme.
* Um serial killer americano, Robert Berdella, declarou que o filme foi uma inspiração para que ele cometesse seus crimes – o assassinato, nos anos 1980, de pelo menos seis homens, depois de tê-los mantido em cárcere privado. Berdella ganhou da imprensa os apelidos de The Kansas City Butcher e The Collector.
“Arrepiante, embora não inteiramente crível”
Leonard Maltin deu ao filme 3 estrelas em 4 e fez um verbete mínimo: “Perturbadora história de homem que coleciona mais que apenas borboletas, que é onde Eggar entra. Arrepiante, embora não inteiramente crível. Baseado na novela de John Fowles.”
Quase todas as opiniões de Pauline Kael sobre The Collector são exatamente opostas às minhas. Ela diz que “o roteiro banal de Stanley Mann não faz muita justiça ao romance de John Fowles” – eu acho que ele engrandece o romance. Ela diz que “a produção de William Wyler tem uma força inexorável, compulsiva” – e só nisso concordo com ela. Diz que é um filme pomposo – não acho. Diz que “não tem peso psicológico suficiente para sustentar o estilo rico, clássico” – eu acho que tem todo o peso psicológico do mundo. Ela diz que “jamais penetramos de fato na apavorante obsessão do colecionador” – eu digo que ela não penetrou porque não quis.
O Guide des Films de Jean Tulard dá 3 estrelas para L’obsédé, e diz que esse retrato de um “psicopata sexual” é inesperado na obra de William Wyler. Eu diria que inesperado é o guia do mestre Tulard chamar o personagem central de psicopata sexual, já que ele é um psicopata mesmo, um louco varrido, mas não tem nada de sexual. A rigor, o colecionador parece até mesmo assexuado, ou no mínimo distante do sexo. “Um desafio ter na tela perto de duas horas somente dois personagens. Entretanto, falta à obra aquele grão de loucura que Buñuel teria introduzido.”
Le Petit Larousse des Films, um guia de que gosto mais a cada consulta, diz que “é preciso redescobrir este filme e reconsiderar Wyler, denegrido por 30 anos de crítica ‘parisiense’ que o taxa de acadêmico”.
Interessante: assim como o Guide de Tulard, Le Petit Larousse cita Buñuel, mas em contexto inverso. Segundo ele, a descrição que o filme faz da obsessão do personagem evoca Buñuel, e o gosto dele por detalhes “significativos” (as aspas são do guia), engraçados porém, trágicos, antecipa Polanski. “Este filme testemunha a faculdade de adaptação de um ‘clássico’ dentro do cinema moderno.” “Wyler é um precursos da mise en scène conceitual que privilegia o plano-sequência em detrimento da montagem e da profundidade de campo analítica contra a sedução estética da ‘indefinição artística’ do cinema hollywoodiano clássico.”
Uau! Isso é que texto de crítico de cinema!
Não importa. O filme é uma maravilha, um primor.
Anotação em outubro de 2019
O Colecionador/The Collector
De William Wyler, EUA-Inglaterra, 1965.
Com Terence Stamp (Freddie Clegg), Samantha Eggar (Miranda Grey)
e Mona Washbourne (tia Annie), Maurice Dallimore (o vizinho)
Roteiro Stanley Mann e John Kohn
Baseado no romance homônimo de John Fowles
Fotografia Robert Krasker (na Inglaterra – sequências fora de estúdio) e Robert Surtees (em Hollywood – sequências em estúdio)
Música Maurice Jarre
Montagem David Hawkins e Robert Swink
Produção Jud Kinberg, John Kohn, Columbia Pictures. DVD Versátil.
Cor, 119 min (1h59)
R, ****
Título na França: L’obsédé. Em Portugal: O Obcecado.
Eu sempre amei esse filme, que assisti várias vezes sem associar às leituras e significados mencionados. Mas agora, que eu li esse primor de texto, vou conseguir amá-lo de forma mais significativa.
Bela lembrança, belíssimo texto. Lembrei-me muito vagamente di filme. Vou tentar reve-lo. Talvez o encontre no youTube. Parabéns, SV.
Nunca consegui ver este filme todo, mas admito, hoje, não o lamento. Li o livro pela primeira vez aos 16 anos, reli muitas vezes, e isso depois da minha parcial experiência com o filme. Hoje eu teria imensa dificuldade emocional de assisti-lo, porque hoje reler o livro é ação que só empreendo psicologicamente preparada. A gente fica mais velha e tendo visto e sabido de mais coisas – violências reais – fica mais sensível para esse tipo de história. Não estou criticando quem consegue ver e rever, falo apenas de mim. Me dói. O livro é brilhante, e eu sabia diálogos de cor, de tanto ler e reler. Miranda foi uma das minhas primeiras heroínas. Ah! No livro, há uma observação da própria Miranda sobre o que você escreveu sobre os sem poder tendo poder: quando ela observa que a única coisa que manteve Frederick Clegg honesto, “normal” foi o fato de ser pobre, de ter de ir trabalhar todos os dias. Ao ter poder, Frederick se revela: é um monstro. E é sexualmente doente, conforme percebemos lendo o livro.
Muito obrigada pelo excelente texto. Ah, eu amei saber dos detalhes da produção, o que Terence Stamp contou. Eu costumo dizer comigo mesma que Stamp “pagou” a maldade do personagem com o sofrimento de outro que ele viveu, no filme “O Homem que Nasceu de Novo” de 1970.
Infelizmente, o viés ideológico está infiltrado em todas as camadas do jornalismo. Com certeza, isso nao é de graça.