Looney Tunes: De Volta à Ação / Looney Tunes: Back in Action

2.5 out of 5.0 stars

Em 2003, a Warner Bros. resolveu fazer um filme em homenagem aos Looney Tunes, os desenhos animados produzidos entre 1930 e 1969 pelo estúdio, que tornaram conhecidos no mundo inteiro personagens como o Pernalonga, o Patolino, o Frajola, o Piu-Piu e tantos outros.

No original, pela ordem, Bugs Bunny, Daffy Duck, Sylvester e Tweety.

Encarregaram Larry Doyle para criar a história e escrever o roteiro – e das duas, uma: ou Larry Doyle é um dos roteiristas mais inventivos, mais imaginativos de Hollywood, ou então ele consumiu uma imensa quantidade de alucinógenos durante o processo.

A trama deste Looney Tunes: De Volta à Ação é uma das coisas mais doidonas da História do cinema – e olha que o cinema tem feito muita coisa doidona, ao longo destes 120 anos.

Eu jamais conseguiria fazer uma sinopse, um resumo da história. Está absolutamente acima das minhas capacidades.

Envolve o fato de que o Patolino fica cansado de servir de escada para o Pernalonga brilhar, e tanto faz que é demitido do estúdio pela vice-presidente para a área de animação, Kate (Jenna Elfman). Só que, sem o Patolino, as histórias do Pernalonga não teriam mais graça, e então os chefões do estúdio, o sr. Warner e seu irmão/brother Warner, Warner Brother (ambos interpretados por Don Stanton), resolvem demitir a vice-presidente – a não ser que ela consega trazer o Patolino de volta para o estúdio.

Por algum motivo que eu não saberia explicar, o Patolino foi parar na casa de DJ Drake, um sujeito absolutamente trapalhão que trabalhava como guarda de segurança nos estúdios da Warner Bros e queria mesmo na vida era conseguir trabalhar como stunt, dublê, mas apronta uma trapalhada imensa que destrói boa parte do estúdio, e é demitido.

DJ Drake é interpretado pelo grandão Brendan Fraser, que, na época em que o filme foi produzido, vinha de uma série de filmes de imenso sucesso nas bilheterias – A Múmia (1999), O Retorno da Múmia (2001).

Esse DJ Drake é filho de um grande ator, um dos maiores astros da Warner Bros., famosérrimo por seus papéis como agente secreto à la James Bond, Damien Drake – o papel de Timothy Dalton, que foi 007 em alguns filmes como 007 Marcado Para a Morte, de 1987, e 007 – Permissão Para Matar, de 1989.

DJ fica sabendo que o pai está preso por um grande bandido, o presidente de uma gigantesca corporação (o papel de um Steve Martin exageradíssimo nas caras e boca e postura física esquisita), que quer dominar o mundo e para isso precisa de um diamante cuja localização só Damien Drake conhece.

E daí que DJ Drake, a executiva demitida Kate, mais o Pernalonga e o Patolino se metem em uma série de aventuras absolutamente malucas, em Las Vegas, nos desertos de Nevada, em Paris, na África.

Uma trama que tem a lógica dos quadrinhos

Em resumo: Looney Tunes é um filme que mistura atores com personagens de desenho animado e que tem a estrutura e a lógica de uma história em quadrinhos.

E dá-lhe piadas com o cinema, Hollywood, os estúdios – e correrias e mais correrias. Lá pelas tantas, por exemplo, Pernalonga refaz a cena do assassinato da personagem de Janet Leigh em Psicose – e a sequência é um primor. Nada faz muito sentido – mas é danado de divertido, engraçado, gostoso.

Tenho admiração pelo diretor Joe Dante, o sujeito que, em 1978, com pouquíssimo dinheiro e muito talento, criou Piranha, um ótimo filme assustador nas pegadas de Tubarão (1975) – e, com esse filme, chamou a atenção do próprio Steven Spielberg, que então lhe deu a oportunidade de dirigir Gremlins (1984) e Viagem Insólita (1987).

Joe Dante é um artesão competente nessa área de filmes de ação, aventura & fantasia. Demonstra isso mais uma vez neste Looney Tunes.

Fiquei com a sensação de que Brendan Fraser – certamente instruído por Joe Dante – compôs seu personagem DJ Drake como uma gozação dele mesmo: Brendan Fraser interpreta como se estivesse forçando a barra para mostrar que é um grande canastrão.

Não me lembrava dessa Jenna Elfman. Ela teve grande sucesso numa série apresentada pela rede americana ABC entre 1997 e 2002, Dharma e Greg; por sua interpretação como a Dharma do título, ganhou um Globo de Ouro de melhor atriz em série comédia ou musical, e teve duas outras indicações. Faz muita série de TV: participou de Damages, aquela em que Glenn Close interpreta uma advogada poderosa, e está na recente Fear the Walking Dead. Em 2000, fez um filme bem interessante, Tenha Fé/Keeping the Faith, sobre dois amigos, um padre e um rabino, que amavam a mesma mulher. Um belo filme.

Joe Dante não teve vergonha de assumir que o personagem interpretado por Jenna Elfman é, literalmente, o female interest, a atração feminina do filme. As feministas não devem ter gostado nada, mas a executiva de Hollywood Kate desfila ao longo de todo o filme com as coxinhas fininhas de fora.

Atores e personagens dos quadrinhos convivem faz tempo

Seres humanos e personagens de histórias em quadrinhos – os toons, de cartoon, desenho animado ou animação em inglês – aparecem juntos na tela faz tempo. Gene Kelly dançou com o ratinho Jerry em Marujos do Amor/Anchors Aweigh, de 1945, e foi uma reunião marcante, antológica. Mas já em 1900 um sujeito chamado J. Stuart Blackton dirigiu e interpretou um curta-metragem em que ele desenhava cartoons que passavam a ter três dimensões e interagiam com seu criador.

O encantador, maravilhoso Mary Poppins, de 1964, foi um marco nessa união de atores e desenho animado. Em Mundo Proibido/Cool World, de 1992, uma linda femme fatale tenta seduzir o cartunista que a criou para poder virar gente – e a versão humana dela tem a beleza e as formas de Kim Basinger.

Meu preferido nessa praia de gente e toons juntos e misturados continua sendo Uma Cilada para Roger Rabbit/Who Framed Roger Rabbit, de 1988, em que um um coelho, astro de desenhos animados, é acusado de um crime em Hollywood – e, para provar sua inocência, precisa da ajuda de um detetive que odeia toons, interpretado pelo ótimo Bob Hoskins. Roger Rabbit, assim como dois dos filmes de Joe Dante citados aqui, Gremlins e Viagem Insólita, foi uma produção de Steven Spielberg e seus parceiros Kathleen Kennedy e Frank Marshall.

Aposto que Spielberg e o ótimo Robert Zemeckis, que dirigiu Roger Rabbit, se divertiram à beça com esse Looney Tunes.

Maltin e o Guide de Tulard respeitam Joe Dante

Looney Tunes, aliás – aprendi agora – significa literalmente “músicas loucas”. O nome surgiu como uma espécie de resposta a Silly Simphonies, sinfonias tolas, o nome de uma série de desenhos animados dos estúdios Walt Disney. Looney Tunes é também um jogo de palavras – tunes, canções, com toons, de cartoon.

Leonard Maltin deu ao filme 2.5 estrelas, e conseguiu resumir a trama assim:

“Vice-presidente de Comédia Elfman é forçada a se unir ao ex-guarda de segurança do estúdio Fraser para trazer de volta o recentemente demitido Daffy Duck, sem saber que ele se tornou presa das maquinações do presidente da companhia Acme (Martin).”

Em seguida, as considerações dele: “Bugs Bunny, Daffy e amigos estão engraçados como sempre, mas a história da parte que inclui os atores é esticada, para dizer o mínimo. Até os mais obscuros personagens de animação da Warner Bros. fazem breves mas bem-vindas aparições. Como sempre, Dante enche seu filme de piadas internas para aficionados do cinema (veja com atenção!) e participações especiais.”

Um dos muitos que fazem participação especial no filme é Roger Corman, o grande diretor e produtor de várias centenas de obras, no papel… de um diretor de cinema, é claro.

O Guide des Films de Jean Tulard avalia assim Les Looney Tunes Passent à l’Action: “Essa mistura de personagens reais e heróis dos cartoons não é muito original, mas Joe Dante (Gremlins, Small Soldiers…) sabe dar ao filme um charme poético tingido de humor”.

É isso aí.

Anotação em dezembro de 2018

Looney Tunes: De Volta à Ação/Looney Tunes: Back in Action

De Joe Dante, EUA, 2003

Com Brendan Fraser (DJ Drake / a voz do Diabo da Tasmânia e de Ela-Diabo), Jenna Elfman (Kate), Pernalonga, Bugs Bunny (voz de Joe Alaskey), Patolino, Daffy Duck (voz de Joe Alaskey), Steve Martin (Mr. Chairman), Timothy Dalton (Damien Drake), Heather Locklear (Dusty Tails), Joan Cusack  (Mother), Bill Goldberg (Mr. Smith), Don Stanton     (Mr. Warner e Mr. Warner’s Brother), Roger Corman (diretor de cinema), Kevin McCarthy (Dr. Bennell), Jeff Gordon     (ele próprio), Matthew Lillard (ele próprio)

Argumento e roteiro Larry Doyle

Fotografia Dean Cundey

Música Jerry Goldsmith

Montagem Rick Finney e Marshall Harvey

Casting Mary Gail Artz e Barbara Cohen

Produção Warner Bros, Baltimore Spring Creek Productions,

Goldmann Pictures. DVD Warner.

Cor, 91 min (1h31)

**1/2

Título na França: Les Looney Tunes Passent à l’action.

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