Teu Nome é Mulher / Designing Woman

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3.5 out of 5.0 stars

Apesar de ser de um diretor respeitado, Vincente Minnelli, e ter dois grandes nomes no elenco, Gregory Peck e Lauren Bacall, Designing Woman, no Brasil Teu Nome é Mulher, de 1957, não ganhou o status de um grande clássico, não está nos livros que reúnem os melhores filmes.

Ele bem que merece. Designing Woman é uma absoluta maravilha, é engraçadíssimo, inteligente, charmoso, criativo, inventivo, fascinante. É uma perfeição, uma pérola. Cada vez que revejo gosto mais. Está anotado que revi em 1993 e em 2002, mas não sei quantas vezes vi antes disso. Ao rever agora, levei mais de 3 horas (o filme tem pouco menos de 2), de tanto parar para voltar, rever uma determinada expressão, ouvir de novo um diálogo, por puro prazer, deleite.

O grande Minnelli faz uma bela mistura de gêneros: é uma comédia romântica, sim – com absolutamente tudo o que uma comédia romântica precisa para ser perfeita –, mas tem toques de musical (Minnelli era absoluto mestre no gênero) e de thriller de gângster. Nisso ele se parece um pouquinho com outra comédia da mesma época, Quanto Mais Quente Melhor/Some Like it Hot, de Billy Wilder (1959) – este, sim, um clássico, presente em todas as listas de melhores. E é interessante lembrar que as estrelas dos dois, Lauren Bacall aqui, Marilyn Monroe no filme de Wilder, haviam trabalhado juntas em Como Agarrar um Milionário (1953).

zzwoman9Lauren Bacall e Gregory Peck, aliás, estavam absolutamente no auge de suas carreiras, em 1957, quando o filme foi lançado. Estão excelentes, sensacionais; deu liga entre eles, deu química, e formam um casal espetacular.

Comédia romântica mezzo musical, mezzo thriller de gângster, Teu Nome é Mulher é também, a rigor sobretudo, sobre choque cultural. Um choque cultural bem dentro de uma casa, de um casamento.

Uma maravilha.

Cinco personagens – a rigor, a rigor, quatro – contam a história

A história é narrada por vários personagens – cinco no total, a rigor mesmo por quatro. Eles vão nos contando simultaneamente a versão de cada um sobre o que aconteceu. O primeiro a se apresentar para o espectador, olhando para a câmara, é Mike Hagen, o personagem de Gregory Peck. Ele está sentado à sua mesa na redação do jornal The New York Record (um jornal fictício, é claro), sem paletó, mas com camisa social e gravata, como se usava. Diz seu nome, explica que é um repórter de esportes, e comenta que, se o espectador costuma ler jornais, talvez se lembre do nome dele: esteve envolvido naquela grande confusão em Boston, uns tempos atrás.

– “Não tenho nenhuma objeção a contar o meu lado”, ele diz. “Mas a história não seria completa sem ouvir os demais envolvidos – como Marilla. Imagino que Marilla tenha algo a dizer.”

E então vemos Marilla Brown, a personagem de Lauren Bacall, a designing woman do título original, uma figurinista, uma estilista. Elegantérrima, diante de uma prancheta de trabalho, pincéis ao alcance das mãos, Marilla fala para a câmara, para o espectador:

– “Tenho muita coisa a dizer. Não apenas a minha versão, mas também sobre a versão de Mike, porque Mike nem sempre diz a verdade. Não que ele seja um mentiroso. Bem, você precisa conhecê-lo. (Faz uma pausa.) E, claro, há outra pessoa que pode esclarecer as coisas. Se quiser.”

E então vemos o terceiro personagem, Lori Shannon (interpretada por Dolores Gray, na foto abaixo). Está sentada diante de uma dessas penteadeiras de camarim de teatro, com o espelho cercado por luzes. É, obviamente, uma atriz de teatro, uma bailarina.

– “Tenho muito pouco a dizer. Estive envolvida, mas de maneira absolutamente inocente. Nem todo mundo acredita em mim. Zachary Wilde, ele acredita em mim, com certeza.”

zzwoman3Zachary Wilde (Tom Helmore), o quarto personagem, está sentado em seu escritório, diante de uma imponente mesa de trabalho. Tem o jeitão de um homem de negócios, um diretor de empresas – veremos que é um produtor teatral. Segura um telefone, tapando o bocal para não ser ouvido do outro lado da linha, quando diz para a câmara:

– “Sinceramente, eu gostaria de ficar fora dessa confusão. No entanto, há uma outra testemunha. Um homem chamado Maxie Stultz. Tenho certeza de que ele será muito esclarecedor.”

É um jeito de não se envolver – e uma brincadeira. Porque Maxie Stultz (Mickey Shaughnessy, excelente!) o quinto personagem, o pugilista que aparece logo em seguida, treinando socos na bola, não vai jamais esclarecer nada. Como define Mike, seu amigo Maxie é punchy. O letreiro do DVD traduz por uma boa expressão: xarope. Como o filme é de 1957, é da época anterior ao politicamente correto, e então Designing Woman faz rir muito de Maxie Stultz, que no passado chegou a ser campeão dos pesos-médios, mas ficou punchy, xarope, lelé, de tanto apanhar.

No dia em que conheceu Marilla, Mike ficou bêbado e teve amnésia alcoólica

Maxie não tem condições de esclarecer nada sobre a história, sobre o que aconteceu com aqueles personagens, até levar a uma grande confusão em Boston que foi noticiada pelos jornais. Lori Shannon, a estrela gostosa, de corpo glorioso (e um rosto não belo), a terceira personagem mais importante, relatará sua versão dos fatos para o espectador, ao longo da narrativa, e Zachary Wilde também.

Mas a história é contada basicamente por Mike Hagen, o jornalista de esportes, e por Marilla Brown, a designing woman.

– “A coisa toda começou em Beverly Hills, num torneio de golfe”, começa a contar Mike. Ele estava na Califórnia para cobrir o torneio para o seu jornal. À noite, os jornalistas do país inteiro reunidos no hotel, bebeu-se muito. Tinham feito um bolão, Mike ganhara a fortuna de US$ 1.200 e estava pagando rodadas para todos. Estava tudo maravilhoso.

Vemos a festa, um monte de gente bebendo. No meio da multidão, passa por Mike uma mulher que o espectador vê só de relance, mas dá para perceber que é Lauren Bacall.

Corta, e Mike Hagen está acordando no dia seguinte ao meio-dia, num ressaca daquelas arrasadoras. Toda essa longa sequência da ressaca é uma absoluta delícia – cada mínimo ruído parece uma bomba atômica aos ouvidos do pobre sujeito, e ele, na narrativa com a voz em off se sai com esta pérola:

– “Alguns jornalistas bebem demais”.

zzwoman2Todos os pequenos detalhes desse dia após a noite de bebedeira são deliciosos. Mas, simplificando (estamos aí com uns 15 minutos de filme apenas), é o seguinte: Mike Hagen simplesmente não se lembrava o que tinha acontecido depois de mais uma dose de uísque lá pelas 10 horas da noite. Não se lembrava sequer de ter escrito a matéria e enviado para o jornal. Quem vai contar para ele o que aconteceu na noite anterior é Marilla.

Tinham se conhecido na festa, tinham bebida algumas, depois tinham saído. Escreveram juntos a matéria, passaram por telegrama para Nova York.

Feliz, aliviado por não ter perdido o emprego, grato à moça de quem ele não se lembrava, Mike passa horas conversando com ela. Acabam se dando uns dias de férias, vão adiando a hora de voltar para o outro lado do país. Apaixonam-se, é claro, casam-se no Colorado.

“Uma série de trocas de vestimentas que nunca cessou de me deixar pasmo”

O primeiro grande choque para Mike vem ainda no avião, pouco antes do pouso em Nova York. Depois de oito dias na ensolarada Califórnia, onde usava roupas simples, esportivas, Marilla vai até o banheiro do avião e volta vestida como se veste uma figurinista de uma importante casa de alta costura de Manhattan.

– “Aquela foi apenas a primeira de uma série de trocas de vestimentas que nunca cessou de me deixar pasmo.”

Passam pelo apartamento de Mike – que, na visão de Marilla, era um cubículo do tamanho de uma caixa de sapatos, e bagunçado como a caixa de sapatos em que o irmão mais novo dela guardava suas bolinhas de gude e demais brinquedos. Num momento em que Marilla está no quarto, Mike se lembra da foto de Lori Shannon num porta-retratos, Lori Shannon de maiô, as fantásticas pernas à mostra, e a faz em picadinhos rapidamente.

zzwoman0Claro que Marilla encontrará alguns picadinhos da foto, exatamente os que mostram as coxas deslumbrantes.

Mais tarde, ao chegarem diante do prédio onde Marilla mora, um prédio de ricos, a voz de Mike diz em off:

– “Por algum motivo, imaginei que Marilla morasse numa quitinete com uma amiga estudante de música.”

E mais tarde ele diz para a mulher com que se casou sem ter idéia de que ela ganhava muitíssimo mais do que ele:

– “É um choque, sabe? Eu me caso com uma garota legal na Califórnia, penso que será uma festa para ela. Levo a garota para o Leste, mostro a cidade grande, apresento algumas pessoas. Aí descubro que ela conhece todo mundo em Nova York e é dona de uma boa parte da cidade. É um choque. Ruim para o ego.”

O filme faz uma firme e belíssima condenação da homofobia

Homem que descobre chocado que a mulher ganha muito mais dinheiro do que ele. É um belo tema esse que Designing Woman aborda, em 1957, antes das conquistas do feminismo a partir dos anos 60.

E, a partir daí, vem muito mais do choque cultural, quando Marilla fica conhecendo os amigos dele – homens ligados a esporte, a jornalismo esportivo, gente simples, rude, casca grossa – e quando Mike fica conhecendo os amigos dela – homens e mulheres ricos, ligados às artes, à cultura, ao teatro.

Lá pelas tantas, Minnelli fará uma firme – e belíssima – condenação da homofobia.

Designing Woman é uma comédia engraçadíssima, mas também um belo filme que não teme se meter em temas polêmicos. A rigor, é um filme à frente de seu tempo, em muitos aspectos – nos formais e no conteúdo em si.

Designing Woman é o sonho de toda figurinista transformado em realidade”

O roteiro é de autoria de George Wells, que é também um dos produtores do filme. Os créditos iniciais especificam que o roteiro partiu de uma sugestão de Helen Rose. Helen Rose era a figurinista principal da Metro-Goldwyn-Mayer naquela época, estava para a Metro assim como Edith Head estava para a Paramount.

Então foi uma designing woman que deu a sugestão que deu origem a esse roteiro sensacional!

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George Wells tinha talento para criar belos diálogos. Lá pelo meio da narrativa, Mike vai a um desfile de moda na maîson em que Marilla trabalha. E então ele diz para o espectador:

– “Não me pergunte por que fui ao desfile de moda de Marilla naquela tarde. Eu devia estar doido. Você já foi a um desfile de moda? É um tipo de ritual pagão, uma dança cerimonial em que os fiéis ficam sentados bebericando chás e adorando roupas. Também envolve sacrifício: US$ 1.500 por um vestido! US$ 350 por uma camisola! Socorro! E a grande sacerdotisa desse massacre era minha Marilla.”

Para quem gosta de moda, do mundo da moda, Designing Woman é o prazer absoluto. Regina Lemos, que lá pela metade da carreira de jornalista passou a se interessar por moda (e não foi à toa que os franceses da Marie Claire aprovaram com entusiasmo a escolha dela para dirigir a redação brasileira da revista, na Editora Globo), adorava o filme. Eu mesmo até via alguma semelhança entre nós e o casal Mike-Marilla do filme, um tanto de mundos à parte, choque cultural, sei lá.

Designing Woman é o sonho de toda figurinista transformado em realidade”, diz Helen Rose, em um especial que acompanha o filme no DVD. “Lauren Bacall tem o corpo perfeito para roupas, e um genuíno gosto por elas. Ela usa cerca de 30 roupas diferentes, variando de um simples traje de banho a um glamouroso vestido de mink.”

Esse especial que está no DVD é, ele mesmo, uma pérola, uma amostra de como funcionava o marketing dos grandes estúdios em meados dos anos 50.

A Metro filmou a figurinista Helen Rose, sentada diante de sua mesa, em seu eacritório no estúdio, respondendo a supostas perguntas. É um filmetinho de uns 5 ou 6 minutos. Helen Rose faz silêncio, como se estivesse ouvindo uma pergunta, e aí faz um comentário sobre os figurinos do filme, os figurinos dos filmes da Metro de uma maneira geral.

Parece que a idéia era enviar esse filmete para emissoras regionais de TV, que poderiam elas mesmas criar uma pergunta que se encaixasse com a resposta pronta de Helen Rose – e assim dar a impressão de que tinham conseguido uma exclusiva com a chefe do departamento de Wardrobe do grande estúdio.

É uma delícia.

Maravilha, isso de a história ser contada ao mesmo tempo por diversos personagens

A coisa da narrativa dividida entre diversos narradores, cada um expondo seu ponto de vista, é uma maravilha.

zzwoman4Claro, claro, Cidadão Kane tinha isso, uns 17 anos antes. Tudo bem, tudo bem. Rashomon, do mestre Kurosawa, feito sete anos antes, em 1950, tinha isso, um esplendor.

Mas ver essa coisa de a realidade ser contada através dos testemunhos de diferentes narradores em uma deliciosa comedinha romântica para mim é de fato uma maravilha.

Nesse sentido, o filme se aproxima de outra comedinha romântica com trechos de musical da mesma época, Les Girls, de outro dos grandes de Hollywood, George Cukor. Les Girls também mostra a mesma história sob diferentes perspectivas – num tribunal em Londres, testemunhas vão sendo interrogadas, e vemos então sua versão da história. Fui conferir, e Les Girls é exatamente de 1957, o mesmo ano deste Designing Woman. Baita coincidência.

Mas há diferença: aqui, a mesma história vai sendo contada, em ordem cronológica, e cada personagem vai dando sua versão. O esquema narrativo de Les Girls é mais próximo do de Rashomon – primeiro a versão de uma testemunha, depois os mesmos fatos vistos sob a perspectiva de outro personagem. Em Rashomon, cada versão contradiz as outras; aqui, as várias versões apenas se complementam.

Uma gostosa sacada com as coxas da atriz Dolores Gray

George Cukor era dado a invencionices, criativóis. Há gostosos criativóis, dos quais me lembro bem, em dois dos filmes que dirigiu com o casal Spencer Tracy-Katharine Hepburn.

Em Designing Woman, Minnelli usa um criativol delicioso. É com a foto de Lori Shannon, as coxas fantásticas de Lory Shannon.

A sequência acontece quando a narrativa já está bem adiantada.

Marilla-Lauren Bacall está sentada em um banco alto, ao lado de Zachary Wilde, assistindo aos ensaios do musical que este último está produzindo, com Lori Shannon-Dolores Gray como a estrela e Marilla como a figurinista. Marilla está narrando a história.

Lori Shannon, ao final de seu número musical, cruza as pernas, as coxas esplêndidas. A visão daquilo provoca um choque em Marilla: ela identifica ali as coxas da foto rasgada lá atrás, no apartamentinho pequetito de Mike. E aí a imagem da foto em preto-e-branco picada em pedaços vem junto com a imagem em cores das mesmas coxas de Lori Shannon, dançando dentro dos pedaços picados de fotos.

Uma pequena grande sacada – esperta, inteligente, astuta, gostosa, engraçada.

Enquanto Lauren Bacall rodava o filme, Bogey, o marido, estava morrendo

Esta anotação já está bem grandinha, e ainda não fui aos alfarrábios atrás de historinhas sobre a produção, nem de outras opiniões.

zzwoman5Vamos lá, que o filme merece.

O livro The MGM Story traz uma informação impressionante. Eu não tinha feito a ligação das datas: “A alegria de Miss Bacall para as câmaras era um milagre de profissionalismo: em casa, Humphrey Bogart estava lentamente morrendo”.

Bogey morreu no dia 14 de janeiro de 1957, aos 57 anos de idade. As filmagens foram no final de 1956 – o filme estraria em Nova York em 16 de maio, apenas quatro meses, portanto, após a morte de Bogey.

Humphrey Bogart e Lauren Bacall se conheceram durante as filmagens de Uma Aventura na Martinica/To Have and Have Not, de Howard Hawks, lançado em 1944. Aos 44 anos, ele era um dos maiores astros do cinema americano, três casamentos na bagagem, e ela era uma estreante que ainda não havia completado 20 anos. Casaram-se em maio de 1945, e ficaram juntos até a morte dele.

Lauren Bacall e Gregory Peck não foram os primeiros atores escolhidos pela produção. Consta que a Fox queria James Stewart e Grace Kelly, que já haviam trabalhado juntos em Janela Indiscreta, de Hitchcock (1954). Mas Grace Kelly estava deixando o estrelato em Hollywood para ser princesa do Mônaco, e James Stewart acabou desistindo. Consta que mais tarde ele diria que foi uma decisão errada, que ele deveria ter feito o filme.

Designing Woman teve uma única indicação ao Oscar – e ganhou. Foi na categoria de roteiro original. Entre os indicados ao Oscar de roteiro original daquele ano estavam Os Boas Vidas/I Vitteloni, de Federico Fellini e Ennio Flaiano, e O Homem dos Olhos Frios/The Tin Star, de Dudley Nichols.

De fato, o roteiro é uma maravilha. No entanto, apesar de indicado para o prêmio de melhor roteiro de comédia exatamente do Sindicato de Roteiristas, não levou o prêmio, que ficou com Amor na Tarde, de Billy Wilder e I.A.L. Diamond. É: aí a parada é dura…

Claro, óbvio: o filme faz lembrar os do casal Kathartine Hepburn-Spencer Tracy

Leonard Maltin deu ao filme 3 estrelas em 4 – e fez uma observação que eu já deveria ter feito aqui. “Jornalista esportivo e figurinista se casam e se batem de frente nessa comédia chique que faz lembrar os grandes filmes da dupla Hepburn-Tracy. Bacall e Peck na melhor forma; George Wells ganhou um Oscar por melhor roteiro original”.

zzwoman6Sim, é claro que eu havia pensado em dizer que o filme faz lembrar os da dupla Hepburn-Tracy. Acabei não falando – em parte porque tem muito o que se falar deste filme delicioso, e em parte… Bem, em parte por falta de cigarro! Esta aqui é a primeira anotação que faço nos primeiros dias de uma tentativa de parar de fumar, e a ausência do filho da mãe do assassino deixa a gente doido.

Bem, mas o fato é que Leonard Maltin tem toda razão: Designing Woman tem tudo a ver com os filmes da dupla Katharine Hepburn-Spencer Tracy. O casal protagonizou várias histórias sobre namorados e/ou cônjuges em guerra aberta, ou no mínimo enfrentando sérios problemas por terem origens e temperamentos diferentes. Em A Mulher Absoluta/Pat and Mike (1952), ele faz um agente de atletas, e ela faz uma multi-esportista, boa em vários esportes. Em A Costela de Adão/Adam’s Rib (1949), ele faz um promotor e ela uma advogada de defesa se enfrentando no tribunal. E em A Mulher do Dia/Woman of the Year (1942), ele faz um jornalista esportivo, que só entende de esportes – exatamente como o Mike Hagen de Gregory Peck – e ela faz uma mulher fina, rica, sofisticada – exatamente como a Marilla de Lauren Bacall.

Gregory Peck e Lauren Bacall podem não chegar a ser Spencer Tracy e Katharine Hepburn, mas seguramente o casal mais velho deve ter visto este Designing Woman e aprovado com louvor.

É uma maravilha.

Anotação em junho de 2014

Teu Nome é Mulher/Designing Woman

De Vincente Minnelli, EUA, 1957

Com Gregory Peck (Mike Hagen), Lauren Bacall (Marilla Brown),

Dolores Gray (Lori Shannon), Tom Helmore (Zachary Wilde), Mickey Shaughnessy (Maxie Stultz), Jack Cole (Randy Owens), Sam Levene (Ned Hammerstein), Jesse White (Charlie Arneg), Chuck Connors (Johnnie ‘O’), Edward Platt (Martin J. Daylor), Alvy Moore (Luke Coslow), Carol Veazie (Gwen)

Roteiro George Wells

A partir de uma sugestão de Helen Rose

Fotografia John Alton

Música André Previn

Produção MGM. DVD Warner.

Cor, 118 min

R, ***1/2

Título na França: La Femme Modèle. Em Portugal: A Mulher Modelo.

12 Comentários para “Teu Nome é Mulher / Designing Woman”

  1. Você me deixou com vontade de rever o filme. Fiquei lembrando da piada do ‘olhou torto’ (assim apareceu na dublagem brasileira, bem antiga).

  2. Crítica perfeita. Um filme que nunca nos cansamos de rever. Uma delícia. O grande cinema americano dos anos 50, com sua fórmula infalível de divertir e dar um enorme prazer aos espectadores. Mais do que Spencer Tracy,
    neste filme Gregory Peck lembra a leveza de
    Clark Gable nas situações românticas conflituosas. Obra prima e, para mim, sem dúvida, um clássico.

  3. Gostei do modo como ele é narrado, e dei algumas risadas com o personagem de Gregory Peck, maravilhoso em seus 40 anos (já falei que o auge dos homens acontece aos 40). Não sou ligada em moda, e talvez por isso o roteiro não me conquistou totalmente, o plot da Marilla e dos amigos dela achei meio chato; em compensação, o do Mike me agradou porque eu gosto de esportes (menos de boxe, que pra mim está longe de ser um esporte), mas é bom ver histórias de casais de mundos diferentes.

    Achei ótimo o “um rosto não belo” (eufemismo para feio?) para ajudar a descrever a personagem de Dolores Gray. Se bem que Lauren Bacall não era nenhum poço de beleza, mas também não chegava a ser feia, tinha uma beleza estranha, digamos assim. Acho que eram os dentes que não ajudavam muito, de boca fechada era bem bonita (dei uma busca rápida e não apareceu nenhuma foto dela sorrindo…).
    A cena na qual Mike e Marilla aparecem em frente à torta de sal enfeitada com naipes de cartas (há uma foto dela ilustrando o texto), é uma das minhas preferidas. Ela pergunta onde ele e os amigos vão querer comer; ele olha pra torta, e meio sem graça diz que tinha pedido mortadela, queijo e etc. Ela diz que a torta era uma especialidade da empregada, e era toda de queijo, e bem, tinha mortadela no meio (que vestido medonho Bacall está usando nessa cena, veesh!).
    Gosto do jeito como os dois personagens se dão bem, e mesmo quando começam a se desentender acaba sendo divertido.

    E por falar em condenação à homofobia, eu já li que havia rumores no meio cinematográfico de que Vincente Minnelli era gay ou bissexual (podia ter dado as mãos ao Cary Grant), e que numa biografia (talvez não autorizada?) o autor fala que ele chegou a assumir a homossexualidade por uns tempos em Nova Iorque, mas que depois foi obrigado a voltar pro armário. Whatsoever, just saying.
    Acho triste que atores, diretores e etc sofressem tanta pressão em relação à sexualidade, a ponto de Hollywod arranjar casamentos para alguns deles (mas hoje não é muito diferente, se formos olhar beem de perto, embora tenhamos evoluído um pouco).
    Só sei que gay ou não, o importante é que Minnelli tinha a cabeça aberta, ainda mais para aquela época, pois permitiu que Gene Kelly ousasse bastante em An American in Paris, e isso foi maravilhoso!

  4. E por falar em parar de fumar (yay! espero que o projeto esteja dando certo) e em Lauren Bacall, ela faleceu há poucos meses, e na época eu li um texto que falava que em sua autobiografia ela conta sobre a doença do Bogart, e em como ele ficou muito debilitado e extremamente magro. As visitas se assustavam com a aparência dele. E o casal Katharine Hepburn-Spencer Tracy foi um dos que os visitaram. Acho que ele morreu de cirrose, mas também fumava muito, e certamente o fumo foi uma das principais causas das mortes precoces de muitos atores do cinema clássico (sem falar nos anônimos). Fico besta toda vez que vou checar a data de nascimento e falecimento de alguns deles, dá até tristeza. Mas mortes por excesso de bebida me causam mais consternação, já que às vezes o vício era decorrente de uma personalidade desajustada (quem disse que é fácil ser rico e famoso?), já o cigarro era indicado pelos médicos.

  5. Que eu saiba, Jussara, a causa da morte de Bogey foi câncer. Mas posso estar
    errado.
    Os dois casais – Bogey & Bacall, Tracy & Kate – eram muito amigos, também
    pelo que me lembro de ter lido. E os dois, Bogey e Tracy, além de fumar desbragadamente, bebiam o néctar escocês com uma sede de trasanteontem.

  6. Ahh, então me enganei, Sérgio, devo ter confundido com a morte de outro ator, só não sei qual (Richard Burton, talvez, que também morreu cedo e bebia muito).
    Haha, já tinha lido em algum texto por aqui que os dois tomavam todas, imagina o estrago que não faziam juntos? Acho triste que as pessoas morram antes do tempo por causa de bebida, mas nem os famosos estão imunes às vicissitudes da vida.

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