Ginger & Rosa

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3.0 out of 5.0 stars

O medo da guerra nuclear, do holocausto final, não é apenas o pano de fundo deste drama familiar extremamente triste ambientado na Londres de 1962, no auge da Guerra Fria e da crise dos mísseis soviéticos em Cuba. O temor do fim do mundo é tão fundamental na história quanto a amizade das duas garotas que dão o título ao filme.

A primeira imagem que aparece é da explosão da bomba atômica – e, logo em seguida, vemos a paisagem apavorante, desoladora, trágica, de uma cidade arrasada, enquanto um letreiro confirma: “Hiroshima 1945”.

zzgingerPassa para “Londres 1945”: duas mulheres estão dando à luz, na mesma maternidade, duas garotas – a Ginger e a Rosa do título. Novo letreiro situa o espectador: “Londres 1962”. Ginger e Rosa estão portanto com 17 anos no ano em que os Beatles lançaram seu primeiro compacto simples, “Love Me Do/P.S. I Love You”, Bob Dylan lançou seu primeiro LP, Bob Dylan, e a União Soviética quase lançou de Cuba mísseis que desencadeariam a reação imediata dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, pondo fim a essa invenção que muitas vezes parece não ter dado certo, a humanidade.

Ao longo de toda a narrativa, locutores dão no rádio as notícias mais recentes sobre a Guerra Fria.

Ginger e Rosa, Ginger muito mais que Rosa, vão participar de reuniões e passeatas contra as armas nucleares e pelo desarmamento.

Uma co-produção Inglaterra-Dinamarca com vários americanos fazendo papel de ingleses

Ginger e Rosa foi escrito e dirigido por Sally Potter, nascida, como suas duas personagens centrais, em Londres, só que quatro anos depois delas, em 1949. É uma realizadora daquele tipo que produz poucas obras: num período de 43 anos, entre 1969 e 2012, o ano deste filme, aqui, dirigiu 14 títulos, entre eles quatro curta-metragens e um documentário. Seus filmes mais conhecidos são Orlando – A Mulher Imortal (1992), Uma Lição de Tango (1997) e Por que Choram os Homens (2000).

zzginger2Uma co-produção Inglaterra-Dinamarca, Ginger e Roger surpreende por ter escalado diversos atores americanos para fazer papel de ingleses. Ginger é interpretada por Elle Fanning (de cabelos mais claros nas fotos), a lindíssima irmã mais nova de Dakota Fanning; Natalie, a mãe de Ginger, é interpretada por Christina Hendricks; o pai de Ginger, Roland, é feito por Alessandro Nivola.

Um dos dois Marks, amigos da família, é interpretado pelo canadense Oliver Platt.

Quem faz o papel de Rosa é Alice Englert, que nasceu na Nova Zelândia. É a única novata do belo elenco, embora tenha cinema no sangue: é filha dos diretores Jane Campion e Colin Englert.

Entre os papéis principais, só há dois atores ingleses: o excelente Timothy Spall, que interpreta o outro Mark, do casal gay de amigos dos pais de Ginger, e Jodhi May, que faz Anoushka, a mãe de Rosa.

E o elenco ainda tem Annette Bening, que interpreta Bella, uma poeta americana em visita a Londres, amiga dos dois Marks.

Baita elenco de bons atores – e muitíssimo bem dirigidos. Mas, na minha opinião, quem rouba a cena é mesmo a garotinha Ella Fanning. Não só porque faz o papel principal, nem só porque é de uma beleza acachapante, mas porque tem talento. Seu desempenho é impressionante, arrasador.

Um fato abalará a amizade que as duas garotas sempre julgaram que seria eterna

Amigas desde sempre, desde o nascimento, Ginger e Rosa são, é claro, bastante diferentes uma da outra. Rosa é mais atirada, mais disposta a experimentar e a correr riscos. Fuma desde cedo, ao contrário da amiga; e é namoradeira, sempre disposta a pegar o primeiro garoto que aparece. Vive sozinha com a mãe, Anoushka – o pai as abandonou quando Rosa era criança.

Ginger é mais tímida, bem mais introspectiva que a amiga. Acho que não seria errado dizer que é mais séria. Gosta de ler e escrever, acredita que vá ser poeta.

zzginger4As duas têm, no entanto, em comum, o fato de que não têm grande admiração, respeito por suas mães. Consideram-nas pessoas fracas, sem ambição ou objetivo na vida – meras donas de casa, algo que as duas não querem repetir. Numa cena em que Ginger discute com a mãe, a garota diz, em prantos, que não quer ser como Natalie – e que não quer jamais ter filhos.

Ginger tem muito mais afeição pelo pai, Roland, um professor, um esquerdista chegado ao anarquismo, que pela mãe, Natalie. Natalie gostava de pintar, mas parou totalmente com a atividade quando, ainda adolescente, a Segunda Guerra Mundial ainda em curso, ficou grávida de Ginger.

Roland é mulherengo e trai a mulher. Lá pelo meio da narrativa, acabará saindo de casa.

E é depois que a narrativa já passou da metade que surgirá um fato que abalará a amizade que as duas garotas sempre julgaram que seria eterna.

Embora madura, a direta Sally Potter se permite alguns maneirismos de câmara

Embora madura e experiente, a diretora Sally Potter deixa-se envolver por alguns maneirismos de câmara. Abusa dos super hiper big close ups, em especial das duas jovens atrizes que interpretam as personagens título. Usa também um pouco demais a câmara de mão.

Mas construiu uma história sólida, com personagens bem desenvolvidos. É um belo filme. Como bem escreveu Peter Bradshaw em crítica no The Guardian, é um filme que tem delicadeza e inteligência.

Anotação em junho de 2014

Ginger & Rosa

De Sally Potter, Inglaterra-Dinamarca, 2012

Com Elle Fanning (Ginger), Alice Englert (Rosa), Christina Hendricks (Natalie), Alessandro Nivola (Roland), Oliver Platt (Mark), Timothy Spall (Mark), Annette Bening (Bella), Jodhi May (Anoushka)

Argumento e roteiro Sally Potter

Fotografia Robbie Ryan

Montagem Anders Refn

Produção Adventure Pictures, BBC Films, British Film Institute, Det Danske Filminstitut.

Cor, 90 min

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