Ruby Sparks foi dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris. Os atores principais são Paul Dano e Zoe Kazan.
Seguramente não são nomes muito conhecidos por aqui.
E seus nomes não aparecem no início do filme. Como a maioria dos filmes americanos dos últimos anos, Ruby Sparks – que no Brasil ganhou o apêndice de A Namorada Perfeita no título – não tem créditos iniciais.
Vi o filme sem me lembrar direito por que, raios, o peguei na locadora. Depois de uma meia hora, não resisti e fui ao IMDb saber quem eram aqueles jovens atores e quem havia dirigido o filme.
Ah, sim: Jonathan Dayton e Valerie Faris são os diretores de Pequena Miss Sunshine, aquela gostosa, boa, interessante comédia. Foi por causa da referência a Pequena Miss Sunshine na capa do DVD que peguei o filme para ver.
Olhei o nome da atriz que faz a personagem do título: Zoe Kazan. Kazan… Será?
Sim: Zoe é filha de Nicholas Kazan e portanto neta do grande Elia Kazan. E não é só: a mãe dela, Robin Swicord, é roteirista, autora dos roteiros de Da Magia à Sedução (1998), Memórias de uma Gueixa (2005) e O Clube de Leitura de Jane Austen (2007); deste último, Robin Swicord foi também a diretora. Ela é também co-roteirista de O Curioso Caso de Benjamin Button (2008).
Não deve ser fácil ser neta do grande Elia Kazan, filha do roteirista, diretor e produtor Nicholas Kazan e da roteirista e diretora Robin Swicord. É muita responsabilidade.
Pois Zoe, nascida em Los Angeles em 1983, formada em teatro pela Yale, uma das mais conceituadas universidades dos Estados Unidos, já trabalhou como atriz em 20 filmes. E é a autora do argumento e do roteiro deste Ruby Sparks. E Paul Dano, que faz o outro personagem central do filme, é o namorado dela na vida real. Não me lembrava do nome, mas ele trabalhou em filmes que já estão aqui no site.
O primeiro livro do protagonista fez sucesso, mas ele não consegue escrever o segundo
Certo – mas e o filme?
Ruby Sparks me pareceu bem mediano: uma comedinha romântica com um pezão na fantasia assim assim. Com algum rigor, daria para dizer que há momentos bem bobinhos. Mas também há coisas simpáticas, gostosinhas.
A trama gira em torno de Calvin Weir-Fields (o papel de Paul Dano, jovem ator de mais de 30 filmes no currículo, inclusive Pequena Miss Sunshine), um sujeito aí na faixa dos 20 e muitos anos que, mal saído da adolescência, havia escrito um romance que foi muito elogiado pela crítica e vendeu bastante.
O livro deve ter rendido um bom dinheiro, porque o garotão vive bem, numa casa espetacular numa colina com vista idem para Los Angeles lá embaixo.
Sucesso literário precoce, belíssima casa, dinheiro no banco – mas Calvin anda solitário e tristonho. Lila (Deborah Ann Woll), a namorada de quatro anos, deu-lhe um chute na bunda, e agora sua principal companhia é o cachorro Scottie. Não tem amigos além do irmão mais velho, Harry (Chris Messina). Tem sessões semanais com um psiquiatra, o dr. Rosenthal (uma participação especial do veterano Elliott Gould).
E não consegue escrever. Não sai idéia alguma para o segundo romance. Calvin enfrenta a síndrome da segunda obra.
Solitário, carente, Calvin passa a ter sonhos com uma jovem e bela moça.
Resolve, então, começar a escrever a história da moça com quem sonha. Cria o personagem: ela se chamará Ruby Sparks,
Conta para o psiquiatra: – “Ruby Sparks. Vinte e seis anos de idade. Criada em Dayton, Ohio.”
O psiquiatra pergunta: – “Por que Dayton?”
Bem, Dayton é uma brincadeira, uma piada interna com o nome do diretor Jonathan Dayton. Mas Calvin responde:
– “Soa romântico. As primeiras paixões de Ruby foram Humphrey Bogart e John Lennon. Ela chorou no dia em que descobriu que eles já estava mortos. Ruby foi expulsa da escola por ter dormido com o professor de arte… ou talvez o professor de espanhol. Ainda não me decidi. Ruby não dirige. Não tem computador. Odeia seu nome do meio, que é Tiffany. Ela é complicada. É disso que eu gosto nela. Ruby tem uns problemas. Esquece de abrir contas… Seu ultimo namorado tinha 49 anos. O anterior era um alcoólatra.”
Ruby não tem computador. Esse é um detalhe interessante: na Los Angeles de hoje (o filme é de 2012), ao contrário de todos, absolutamente todos os personagens dos filmes americanos dos últimos 20 anos, Calvin não tem um notebook da Apple. Trabalha em uma máquina de escrever daquelas antigas.
De repente, a personagem fictícia aparece de carne e osso na casa do escritor
E então Calvin começa a escrever sobre a vida de Ruby Sparks, a garota que inventou. Enquanto ela começa a escrever, o vemos caminhando com o cachorro Scottie num parque, e lá ele encontra Ruby Sparks, que vem na pele da autora da história, Zoe Kazan.
Zoe, 29 anos em 2012, o ano em que o filme foi lançado, não é beleza estonteante. Não chega a ser uma Scarlett Johansson, uma Winona Ryder, uma Jennifer Lawrence. É bonitinha, gostosinha, simpática – aquele tipo que os americanos chamam de the girl next door, uma moça normal, comum.
E isso é outro ponto interessante do filme, um casal protagonista que não é especialmente bonito – Paul Dano e Zoe Kazan são muito mais gente como a gente do que modelos de beleza.
No primeiro encontro que Calvin imagina entre ele e Ruby Sparks, ela pergunta o nome do cachorro dele, ele diz que é Scottie, em homenagem a F. Scott Fitzgerald – e Ruby faz cara de quem não viu a ficha cair. Ele explica: F. Scott Fitzgerald, autor de O Grande Gatsby; um dos melhores escritores de todos os tempos.
Ruby Sparks jamais tinha ouvido falar.
Calvin vai escrevendo, escrevendo.
Aos 24 minutos de filme, Ruby Sparks materializa-se na casa de Calvin. Está lá, com todo o jeito de quem já está morando ali faz algum tempo, preparando algo na cozinha.
A princípio, é claro, Calvin não acredita. Leva um imenso choque. As sequências que vêm imediatamente a seguir são de fato bem bobinhas.
Mas depois o filme engrena de novo, com a ajuda do casal de protagonistas, que têm em simpatia, simplicidade, o que falta de glamour e beleza à la Barbie.
Três astros fazem papéis secundários neste pequeno filme independente
Lá pelas tantas, Calvin e Ruby pegam a Highway One e vão visitar a mãe dele, Gertrude, em Big Sur. Gertrude é interpretada por Annette Bening, e ver Annette Bening é sempre um colírio.
A mãe de Calvin – ele conta para Ruby – havia sido uma mulher elegante, com aquela elegância discreta de quem é rico faz tempo. O pai de Calvin era um jogador de golfe – havia morrido pouco tempo antes, na época em que Lila, a antiga namorada, tinha dado o fora no rapaz. Fazia muito tempo que pai e mãe haviam se separado, e agora Gertrude estava casada com Mort, um escultor latino, sujeito dado a paixão pelo ambiente, um tipo bastante riponga. Mort é interpretado por Antonio Banderas, e o papel é feito sob medida para ele – Mort é um sujeito de gestos largos, um canastrão.
Conflito de gerações às avessas do que era na minha juventude: Calvin, sujeito certinho, tem vergonha do hippismo da mãe e do padrasto.
Annette Benning, Antonio Banderas e Elliot Gould, astros, veteranos de carreira sólida, fazendo participações especiais em um filme estrelado pelos jovens, pouco conhecidos e nada estrelas Paul Dano e Zoe Kazan. Interessante, isso.
Os três devem seguramente ter topado fazer essas participações especiais por simpatia pelo projeto e porque Jonathan Dayton e Valerie Faris asseguram respeitabilidade.
São casados na vida real, os dois co-diretores. Aparentemente, só fizeram até agora dois longa-metragens, Pequena Miss Sunshine, de 2006, e este Ruby Sparks. Mas são bem conhecidos e reconhecidos no meio artístico. Dirigiram vídeos de grupos de sucesso e/ou importância como R.E.M., Red Hot Chili Peppers, Smashing Pumpkins, Janet Jackson. Ganharam dois Grammy, nove prêmios da MTV. Na MTV americana, tiveram um programa de grande sucesso a partir de 1992, Um Casal Quase Perfeito. Em 1998, criaram a Bob Industries, hoje uma das maiores agências produtoras de comerciais dos Estados Unidos. Fora Pequena Miss Sunshine, que ganhou dois Oscars e outros 53 prêmios.
Então é isso. Ruby Sparks não é lá um ótimo filme, mas é simpático, tem coisas boas, agradáveis. E faz a gente ficar conhecendo Zoe Kazan, a neta do homem.
Anotação em julho de 2013
Ruby Sparks – A Namorada Perfeita/Ruby Sparks
De Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2012
Com Paul Dano (Calvin Weir-Fields), Zoe Kazan (Ruby Sparks),
e Chris Messina (Harry), Annette Bening (Gertrude), Antonio Banderas (Mort), Aasif Mandvi (Cyrus Modi), Steve Coogan (Langdon Tharp), Deborah Ann Woll (Lila), Elliott Gould (Dr. Rosenthal)
Argumento e roteiro Zoe Kazan
Fotografia Matthew Libatique
Música Nick Urata
Montagem Pamela Martin
Produção Fox Searchlight Pictures, Bona Fide Productions. DVD Fox.
Cor, 104 min
**1/2
Bom dia para voce , Sergio e para todos os amigos aqui do site.
Está em minhas anotações , vi este filme no telecine premium em 23 de agosto deste ano.
Achei o mesmo que voce, um filme bom, bonito e agradável de se ver.
Também como voce disse , é sempre bom rever Annette Bening e já fazia tempo tbm que eu não via o veteraníssimo Elliott Gould.
Não me lembro de ter visto outro filme com a Zoe mas o Paul Dano eu já conhecia, sim.
Já vi com ele:
– “O Acompanhante” (The Extra Man).
– “Sangue Negro” (There Will be Blood) e,
– “Cowboys & Aliens”. Que não gostei.
Acho ele o tipo de ator que não muda muito de um personagem para outro mas, gosto dele.
Achei legal o complemento que o título do filme ganhou aqui no Brasil.
Ela “caiu na medida”, Foi perfeita para ele.
Embora as histórias sejam bem diferentes, este filme de alguma maneira, me fez lembrar de “A Garota Ideal” (Lars and the Real Girl).
Um abraço !!
gostei muito de seus apontamentos sobre a producao do filme! quando assisti fiquei curiosa mas senti preguiça de pesquisar.
Sobre o filme:
Não gostei e na minha opiniao ele é um pouco abaixo do mediano. Achei-o pretensioso em demasia e nem de longe conseguiu atingir tudo aquilo que se propunha.
E fora que o final achei mais o WTF?!! possível, não pela …podemos chamar “libertação” da mocinha, mas pela segunda oportunidade que foi dado ao protagonista, mesmo ele sendo claramente egocêntrico e arrogante e ter utilizado de “do tal acontecimento” apenas para alavancar seu sucesso profissional.
fiquei refletindo um bom tempo (e ainda estou, enquanto escrevo esse post,) que caralhos de mensagem o filme quis passar e a unica conclusao que cheguei é que o que se pretendia com o filme é que ele fosse mais que uma simples comedia romantica mas os diretores/roteiristas nao se deram ao trabalho de desenvolver bem uma ideia, o que torna o filme pior que uma simples comedia romantica.
Achei esse filme bem chatinho, e desde que tinha lido seu texto pela primeira vez, pensei mesmo que não fosse gostar; mas esses dias revi Pequena Miss Sushine (filme que eu adoro, e que me emociona, sabe-se lá por quê), e me deu vontade de ver outros filmes com o Paul Dano, então me lembrei desse aqui. Não lembrava que os diretores eram os mesmos.
O personagem do irmão do Calvin é um chato, um mala, isso já faz o filme ficar antipático de cara. Depois vem a história sem pé nem cabeça, que eu tentei relevar, afinal, é fantasia, mas ainda assim o negócio não andou, faltou carisma aos atores.
O fato de os protagonistas serem desprovidos de beleza estonteante, como você disse, é um fator positivo nesse mundo de aparências. A moça é até esquisitinha, pra falar a verdade, e o Paul também não fica atrás, mas os dois atuam bem.
Antonio Banderas está canastrão, como sempre. O ator que faz o Langdon idem. Mas no geral as atuações são boas, incluindo a do cachorro.
Eu concordo com a Luara, do comentário acima: o filme é pretensioso, quis ser mais que uma comédia romântica, ou quis ser uma comédia romântica metida a besta, e não passou disso.
Agora, o fato da mãe da atriz ter sido roteirista de “Da Magia à Sedução” não é mérito nenhum. Tudo bem que depois ela escreveu roteiros melhores, mas esses tempos eu o revi, e achei terrível, foi difícil chegar ao final.