No princípio, Deus criou a mulher. Em 1956, Roger Vadim criou Brigitte Bardot, num filme com o feliz título de E Deus Criou a Mulher/Et Dieu… Créa la Femme. Vinte e seis anos e uma guerra mundial antes de Vadim e BB, Josef von Sternberg criou Marlene Dietrich.
Pode ser que nunca tenha havido uma mulher como a Gilda de Rita Hayworth. MM foi um dos maiores mitos da história do cinema e de todos os meios de comunicação, CC foi uma das mais belas, de DD hoje praticamente só os franceses mais velhos se lembram – mas Marlene Dietrich é única.
Sob o título à la Vadim de Et Sternberg Créa Marlene, o monumental livro Le Siècle du Cinéma, de Vincent Pinel, começa o verbete sobre o ano de 1930 falando do filme.
A princípio – diz o livro –, Sternberg deveria realizar um filme destinado a realçar o valor de Emil Jannings, um dos atores mais conhecidos do cinema alemão. Mas ele alterou o projeto e colocou no centro de seu filme uma atriz de pouca experiência que encarna Lola-Lola. Ela se chama Marlene Dietrich. O filme não repete o título do livro Heinrich Mann, Professor Unrat, do que ele foi adaptado. Intitula-se O Anjo Azul: é o nome do cabaré, mas poderia ter sido o sobrenome de Lola-Lola. O próprio Heinrich Mann não tem ilusões: “O filme deve seu sucesso às coxas desnudas da senhorita Dietrich”.
E Le Siècle du Cinema prossegue (não está entre aspas para não me obrigar a fazer uma tradução literal):
Marlene Dietrich, engrandecida pela câmara apaixonada de Sternberg, impõe sua presença e sua fotogenia. O público grava sua voz rouca e suas canções… para prejuízo de Jannings (o professor), que rodava seu primeiro filme sonoro e cujos cocoricós tragicômicos deveriam ser o cerne do filme. A rivalidade entre os dois atores se prolongará muito além de O Anjo Azul: Jannings viria a ser um dos atores oficiais da Alemanha nazista, enquanto Marlene, exilada nos Estados Unidos, seria uma porta-voz dos opositores do regime de Hitler.
O Anjo Azul permitiu que Marlene Dietrich tivesse uma carreira internacional: a Paramount, que via nela uma vedete capaz de concorrer com Greta Garbo (contratada ela Metro-Goldwyn-Mayer), a chamou para Hollywood. Ela fez uma série de filmes com Sternberg e também com outros grandes: Borzage, Lubitsch, Walsh, Dieterle, Hitchcock, Lang, Welles…
Contra a vontade do ator-astro e dos produtores, Sternberg escolheu Marlene
Depois de transcrever o que diz sobre Der Blaue Engel um livro francês, vou transcrever o que diz outro livro fascinante, o inglês Cinema Year by Year 1894-2000, editado por Robyn Karney. Esse livrão traz textos sobre os filmes mais importantes dos diversos países como se estivessem sendo publicados por jornais da época em que eles foram feitos. Assim, o texto sobre O Anjo Azul vem datado de Berlim, 1º de abril de 1930, abaixo do título, que ocupa todas as 4 colunas no alto de página, “O Anjo Azul de Sternberg transforma Marlene em estrela”. Aí vai o texto, igualmente sem aspas, o que me desobriga de ser literal:
O primeiro filme falado da UFA (Universum Film AG, o maior estúdio alemão da época, criado em 1917, e que existe até hoje) é O Anjo Azul, dirigido por Josef von Sternberg. Ele retornou de Hollywood para fazer o filme, adaptado da novela de Heinrich Mann Professor Unrath, a pedido da UFA e do astro de O Anjo Azul, o ator Emil Jannings. Mas Sternberg imediatamente criou problema com sua escolha da atriz que interpretaria Lola Lola, a promíscua cantora de cabaré que primeiro escraviza e depois destrói o pomposo professor interpretado por Jannings. Jannings e o produtor Erich Pommer tinham suas próprias candidatas ao papel, mas Sternberg insistiu em escalar Marlene Dietrich, então com 28 anos, que ele tinha visto numa peça em Berlim, Two Neckties. Para praticamente todas as pessoas envolvidas na produção, o teste feito por Dietrich pareceu bem pouco excepcional; Sternberg, no entanto, viu em Dietrich a qualidade de sensualidade barata mas esmagadora que faz de Lola Lola uma figura tão envolvente.
A opinião de Sternberg provou-se correta assim que as câmaras começaram a rodar. A atuação de Dietrich é uma obra-prima de sensualidade indolente, vagabunda. Como ela canta no filme, ela é “feita para amar, da cabeça aos pés”. Jannins, no entanto, ficou menos impressionado durante as filmagens. Enfurecido com o fato de que Dietrich estava roubando o filme dele, quase asfixiou sua co-estrela no estúdio no momento em que o roteiro o mandava atacá-la.
Sternberg “plasmou a aparência dela, acentuou seu encanto, encobriu seus defeitos”
Em sua envolvente, muitíssimo bem escrita autobiografia, lançada originalmente em 1987, e editada no Brasil de forma muito descuidada em 1991 pela Livraria Francisco Alves Editora, Marlene Dietrich (1901-1992) não se cansa nunca de tecer loas a seu criador.
“Ele foi o maior fotógrafo que o mundo já viu. Exagero? Claro que não. (…) Mesmo para uma produção de primeira categoria, ele dispunha de orçamentos baixos, e o tempo de filmagem era muito limitado. Um de seus maiores talentos consistia em fazer tudo parecer suntuoso, preciso, brilhante, quando na verdade trabalhava só com barbantes e cordéis. Ele só fazia borbulhar diante das idéias e ficava impassível às reclamações dos produtores, que chocariam qualquer outro diretor menos genial. Sempre achava um meio para alcançar o mesmo efeito com custos ínfimos e jamais desperdiçou seu tempo em quizílias com seus patrões. Era também um excelente montador e conseguia trabalhar várias noites seguidas numa moviola. Ensinou-me como se corta (sic) e como se emenda (sic) dois takes. Sternberg deixava-me – a solícita aluna – compartilhar sua experiência e dava-me uma visão fugaz dos tenebrosos fantasmas que rondavam sua cabeça e aos quais eu também pertencia. Mas esse tipo de trabalho conjunto só começou bem mais tarde, em Hollywood. Em Berlim, durante O Anjo Azul, eu não tinha nem o direito de ver o copião, um privilégio das estrelas.”
(Os sics que botei indicam como faltou revisão na primeira edição brasileira de Marlene Dietrich (Autobiografia). Evidentemente, o certo seria “ensinou-me como se cortam e como se emendam dois takes”. Mas é fantástico como, numa única e curta frase, Marlene define o que o trabalho de montagem de um filme.)
Diz Marlene no livro:
“’Eu não descobri Dietrich’, observava frequentemente Sternberg. ‘Sou um professor, e uma bela mulher chamou a atenção desse professor, ele plasmou a aparência dela, acentuou seu encanto, encobriu seus defeitos, ele a moldou e a cristalizou num fenômeno afrodisíaco.’”
A câmara de Sternberg é apaixonada por Marlene, baba por Marlene
Há quem diga que Marlene e Sternberg foram amantes. Provavelmente foram – embora os dois fossem casados com outros cônjuges. Na verdade, muita gente diz que Marlene era uma trepadeira compulsiva, beirando a ninfomania.
A autobiografia de Marlene é de fato fascinante. Para algumas coisas, ela não tem papas na língua. Fala mal de um bando de gente – diz, por exemplo, que John Wayne era burro, ignorante. Mas não fala uma linha sobre um eventual envolvimento emocional ou sexual com o homem que a transformou em estrela. Faz elogios fartos, superlativos, a ele, mas não faz confissões sobre eventual relacionamento.
Marlene não cita uma vez sequer, no livro, o nome do seu marido. Refere-se a ele o tempo todo como “meu marido”. Conta que Sternberg foi conversar com seu marido para tratar dos termos do contrato que seria assinado entre ela e a UFA – algo um tanto machista, não? O diretor do filme discutindo com o marido da atriz os termos do contrato, porque de negócios, dinheiro, homem é que entende… Mais tarde, Sternberg foi também discutir com o marido da moça sobre a ida deles para Hollywood.
O fato é que, como bem disse o livro do francês Vincent Pinel, a câmara de Sternberg era apaixonada por Marlene. A câmara dele baba por Marlene.
“Não passava de uma boa moça que obedecia às ordens de seu senhor e mestre”
“O Anjo Azul”, escreve Marlene na autobiografia, “foi o primeiro grande filme sonoro (faltou dizer alemão, mas está subentendido) feito depois da Primeira Guerra Mundial e registrou todas as imperfeições daquela época; seu êxito se radica única e exclusivamente no fato de Sternberg ter feito a direção.
“Havia inumeráveis dificuldades técnicas. Por exemplo, não era possível cortar o som, o que prolongava consideravelmente o trabalho de filmagem e obrigava a que, tendo em vista a posterior montagem, fossem utilizadas quatro câmaras para filmar simultaneamente cada cena.
“Achava tudo aquilo muito emocionante; observar o grande mestre trabalhando era um prazer ilimitado. (…)
“Não passava de uma boa moça que obedecia às ordens de seu senhor e mestre. Ele jamais me deixou na mão. Eu estava ali para ele – ele estava ali para mim, era isso que eu sentia.
“E não me enganei. Ele rodou simultaneamente as duas versões do filme – a alemão e a inglesa.”
Dá vontade de transcrever muito mais do que Marlene fala do filme – de como, por exemplo, ela própria se encarregou, encorajada por Sternberg, de criar muitas das roupas em que Lola Lola aparece no filme. “Eu enfeitava meus figurinos com chapéu ou boina, trocava os adornos originais por fitas, borlas e debruns, tudo o que, na minha opinião, era acessível para uma jovem despachada de boteco do cais do porto.”
Dá vontade de transcrever mais – mas também dá preguiça, e este texto começa a ficar grande.
“Sua voz fumegante e sua sádica indiferença sugerem sexo sem romance, amor ou sentimento”
Então vamos ao que diz Pauline Kael, a língua mais ferina do Leste.
“O diretor Josef von Sternberg trabalhava havia mais de 15 anos em Hollywood quando foi à Alemanha a pedido de Emil Jannings dirigir este filme; dirigira Jannings em O Último Comando, um dos dois filmes mudos americanos que valera ao ator o Oscar de 1927-8, e Jannings queria-o à frente de seu primeiro filme falado. Os dois puseram em marcha o mito de Marlene Dietrich, que acabaria ultrapassando a sua fama. Adaptado do romance Professor Unrath, de Heinrich Mann, o filme trata do colapso de uma personalidade autoritária. Jannings faz o desinibido e tirânico professor de ginásio que se sente pudicamente indignado pelo fato de seus alunos visitaram Lola Lola (Dietrich), a cantora do cabaré Anjo Azul; vai ao café pôr um fim a isso e, ao contrário, sucumbe à primitiva e impassiva sensualidade da moça. A Lola Lola de Dietrich é uma jovem beldade meio vulgar e gordota; quando canta ‘Falling in love again’, sua voz fumegante e sua sádica indiferença sugerem sexo sem romance, amor ou sentimento. O pedante torna-se seu marido, escravo e palhaço; viaja com a trupe do café, traficando fotos pornográficas da esposa. Dietrich está extraordinária, e O Anjo Azul é um filme que podemos admirar sequência por sequência, porque é feito num estilo imaginativo, de atmosfera, mas do qual não gostamos de fato no plano emocional; a humilhação sexual torna-se muito pesada nas cenas em que o professor, agora um palhaço, retorna à sua cidade natal e à sua sala de aula.”
Dame Kael é fogo na roupa.
Adorei o “gordota”.
É impressionante a quantidade de vezes que o cinema mostrou Lolas
Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4. “Sempre fascinante clássico com Jannings como um professor emproado que se apaixona cegamente pela artista de cabaré Lola-Lola. Dietrich introduz ‘Falling in Love Again’; esse papel a transformou em estrela internacional. Obert Liebman fez o roteiro, baseado na novela de Heinrich Mann Professor Unrath. Filmado simultaneamente em versões em alemão e inglês; a primeira é obviamente superior. Refilmado em 1959.”
Um detalhe, aqui.
Alguns alfarrábios usam Lola-Lola, com hífen. Outros usam Lola Lola, sem. Transcrevi exatamente da forma com que cada obra grafa o nome da personagem.
E aí penso que daria para escrever um ensaio, um livro, uma tese sobre a quantidade de personagens femininas do cinema com o nome de Lola. Lola parece carregar, nessas duas sílabas tão fáceis de pronunciar, tão simples, tão óbvias, uma carga maior de sensualidade do que (para lembrar as estrelas citadas lá em cima) Rita Hayworth, Brigitte Bardot, Marilyn Monroe, Claudia Cardinale, Danielle Darrieux.
Já estou bem velhinho, e, talvez exatamente por isso, se alguém quiser me apresentar uma moça chamada Lola, saio correndo.
As Lolas do cinema parecem – me permitam usar a imagem machista da piada – destinadas a fazer os homens perderem a cabeça por causa de uma bela bunda.
A Lola de Max Ophüls, interpretada por Martine Carol, uma aventureira que come um bando de homens importantes e vira artista de circo. A Lola de Jacques Demy, interpretada por Anouk Aimée, uma dançarina de cabaré como a Lola Lola de Sternberg-Dietrich. A falsa Lola do filho de Demy, Mathieu, interpretada por Salma Hayek, uma stripper de um cabaré surrado do lado mexicano da fronteira com o Império.
Femme fatale, seu nome é Lola. Ou Lolá – dá no mesmo.
Outro detalhe, já que Maltin levantou o ponto. Sim, houve uma refilmagem em 1959. Edward Dmytryck dirigiu, o alemão Curd Jürgens, que na época fazia tantos filmes por ano quanto hoje faz garotão Daniel Brühl, interpretou o velho professor Immanuel Rath, e May Britt, a suequinha loura que se casaria com Sammy Davis Jr., teve o papel de Lola Lola. Que absurdo refazer um clássico destes! Se algum dia eu demonstrar vontade de ver a refilmagem americana de O Anjo Azul, peço encarecidamente aos parentes que me internem no último andar de um hospício daqueles antigos, com camisa de força.
“Um erotismo próximo daquele de Toulouse-Lautrec”
O Guide des Films do mestre Jean Tulard dá 4 estrelas para o filme, algo raríssimo. Essa edição que tenho do Guide, um primor, três volumes de mais de mil páginas cada um, abrange mais de 15 mil títulos, mas a maior parte deles não tem cotação. Só há estrelinhas para os filmes mais importantes. Quatro estrelas, a cotação máxima, então, já vi pouquíssimas.
Aí vai o que diz o próprio mestre no Guide – sem aspas, porque não é absolutamente literal.
O filme mais célebre de Sternberg e Marlene Dietrich. Um erotismo próximo daquele de Toulouse-Lautrec, ou de Félicien Rops, uma pintura sem concessões de uma pequena cidade alemã e mais particularmente de seus notáveis. As inesquecíveis canções de Marlene Dietrich e suas coxas desnudas das quais Heinrich Mann dizia malevolamente que apenas a elas se devia o sucesso do filme. Tudo contribuiu na verdade a fazer de O Anjo Azul uma das grandes obras-primas da sétima arte.
O DVD lançado no Brasil do grande clássico é um lixo
Chequei agora as minhas anotações, e lá está que vi o filme em 1974, quase 40 anos atrás. Me lembrava pouco dele. Revi agora no DVD lançado pela Continental Home Video, uma das várias empresas que lançam em DVD filmes cujos direitos autorais caíram no limbo.
O DVD da Continental Home Video é um lixo. É seguramente cópia de uma cópia de uma cópia. A imagem é ruim, o som é pior ainda, e as legendas são indecentemente, escandalosamente, criminosamente distantes do que se diz – nos trechos falados em inglês, pelo menos, já que de alemão não entendo mais do que duas palavras.
Sim, porque a versão que está no DVD tem partes em alemão, e partes em inglês.
Não consegui compreender se a versão em inglês feita por Sternberg é esta aqui, em que algumas falas são em alemão e a maioria em inglês. Deve ser, porque afinal são duas versões – nenhum alfarrábio fala de uma terceira versão, mezzo tedesca, mezzo anglófila.
Cheguei a pensar em desistir de ver uma cópia tão vagabunda, e procurar uma cópia digna no Amazon. (Vejo lá que há diversas edições, algumas enfatizando na capa que o filme foi restaurado. Saiu no mercado americano também em Blu-ray.)
Mas, uma vez começado o filme, como parar de ver?
Um grande, imenso filme, mas que precisa ser visto no contexto de seu tempo
Esta anotação já está imensa, e ainda não dei uma opinião minha sobre o filme em si. Comentei isso com Mary aqui ao lado, argumentando que uma obra-prima dessa magnitude não precisa da minha opinião pessoal, já que transcrevi a opinião de diversos autores. Ela contra-argumentou que o 50 Anos de Filmes não é uma coletânea de opiniões de outras pessoas.
Então tá. Digo alguma coisa com essa minha boca rota.
Não é um filme fácil de se ver hoje – a não ser que o espectador saiba ter distanciamento crítico e colocar as coisas sob perspectiva, entender a obra em seu contexto, em sua época.
O Anjo Azul não tem nada a ver com o realismo a que estamos acostumados hoje.
Um espectador mais jovem, vendo o filme com os olhos de hoje, beirando o que Nelson Rodrigues chamava da idiotia da objetividade, poderá achar que aquilo tudo é muito sem sentido. Como assim, um professor tão poderoso que se arvora a cuidar do que os alunos fazem fora da sala de aula? Como assim, aquela experiente senhora vulgar, quase puta, com imensa quilometragem, se interessar por aquele velho barrigudo? Pelo dinheiro dele? Mas o dinheiro era pouco – um professor, apenas! Pelo simples fato de que ele era de uma classe superior?
Idiotas da objetividade não gostarão do filme.
Para compreendê-lo, é preciso vê-lo como uma parábola, uma metáfora.
Uma fábula sobre quão gigantesco pode ser o abismo em que uma pessoa pode se afundar ao perseguir um sonho que não está a seu alcance.
Uma fábula sobre quão terrível pode ser a tragédia de uma pessoa que deixa de lado a própria existência, os próprios princípios, o amor próprio, por uma paixão alucinada.
Uma fábula que põe a nu os falsos moralismos, os moralismos caretas, idiotas, imbecis, de quem se julga superior aos outros.
É um grande, imenso filme.
Anotação em abril de 2013
O Anjo Azul/Der Blaue Engel
De Josef von Sternberg, Alemanha, 1930.
Com Emil Jannings (Professor Immanuel Rath), Marlene Dietrich (Lola Lola)
e Kurt Gerron (Kiepert, um mágico), Rosa Valetti Guste (a mulher do mágico), Hans Albers (Mazeppa), Eduard von Winterstein (o director da escolar), Reinhold Bernt (o palhaço), Hans Roth (Beadle), Rolf Muller (Angst, um estudante), Robert Klein-Lork (Goldstaub, um estudante), Ilse Furstenberg (a empregada do professor Rath)
Roteiro Robert Liebmann, Karl Vollmoeller e Carl Zuckmayer
Baseado na novella Professor Unrat, de Heinrich Mann
Fotografia Gunther Rittau e Hans Schneeberger
Música Frederick Hollander
Montagem S.K. Winston
Produção Erich Pommer, UFA. DVD Continental Home Vídeo.
P&B, 103 min
****
Maravilhosa Marlene
Maravilhoso Filme
Maravilhoso Texto
E Maravilhosa Marlene!!!
Marlene é hipnótica. Quando ela está em cena os demais atores (atrizes) desaparecem, e não estou me referindo apenas a “Anjo Azul”, pois o mesmo se dá em “Pavor nos Bastidores” e em “A Mundana”, para não relacionarmos outros de seus filmes.
Houve uma excelente refilmagem, alemã, com o título de “Lola” – creio que o
DVD está esgotado – de Fassbinder, que o ambienta na Alemanha em reconstrução, mas com
enfoque político, pq o professor é substituído por um burocrata rígido e incorruptível que se enlameia por amor à prostituta do cabaré.
Também, apenas para esclarecer, o fabuloso
“Lola Montes” de Max Ophuls trata da vida da
cortesã mais famosa do século XIX, que tinha esse nome, sem relação com a do Anjo Azul, vez que a antecedeu em pelo menos
50 anos. A propósito, fica uma indagação: será que Heinrich Mann nomeou sua personagem
por força de Lola Montes, que levou tantos
amantes à destruição?
Finalmente, creio que não pode ser negligenciada a atuação notável de Emil Jannings, que sofre imerecido esquecimento por haver aderido ao nazismo. Afinal, Karajan, Heidegger, entre outros, também apoiaram o nazismo e, de alguma forma, tiveram seus talentos reconhecidos. A cena em
que assoa o nariz, ao mesmo tempo em que perscruta a reação dos alunos, é antológica.
Sem dúvida, por Marlene, Stenberg, Mann e Jannings, um clássico eterno do cinema.