Em Busca do Ouro / The Gold Rush

4.0 out of 5.0 stars

Em Busca do Ouro/The Gold Rush, que Charlie Chaplin lançou em 1925, quase 90 anos atrás, são 72 minutos contínuos de inventidade, de criatividade e – perdão pela repetiçao do sufixo –, da mais brilhante genialidade.

É muita genialidade demais.

É uma seqüência antológica atrás da outra. O espectador ainda não se recuperou do extasiamento por uma, e já vem outra, e depois outra, e mais outra.

Me ocorreu que Em Busca do Ouro é mais ou menos assim como um vídeo em que alguém tivesse concentrado uns 30 dos melhores lances de toda a carreira de Pelé.

O vagabundo, Carlitos, aqui garimpeiro solitário, caminhando naquele passo inimitável dele, um tanto torto que nem as pernas de Garrincha (se me perdoam pela segunda imagem futebolística em seguida), à beira de um imenso precipício, com o urso atrás.

A cabana do vilão Black Larsen, o vilão mandando o garimpeiro solitário para fora, e a ventania impedindo que ele saia.

O garimpeiro preparando como se fosse a mais fina iguaria de um restaurante francês chiquérrimo a sua própria bota – e depois o garimpeiro e Big Jim à mesa, comendo a bota, o cadarço como se fosse o spaghetti mais delicioso da Itália, o prego torto como se fosse espinha de peixe à belle manière.

Big Jim louco de fome, delirando, vendo o garimpeiro-solitário como uma gigantesca galinha.

A dança no saloon, a bela Georgia dançando com o garimpeiro solitário só para irritar Jack, o conquistador, e a calça do garimpeiro caindo, e ele segurando a calça primeiro com o guarda-chuva, e depois com a corda que, mal sabe ele, está atada a um imenso cão.

A briga entre o garimpeiro solitário e o grandão Jack, o soco do garimpeiro na pilastra, o imenso relógio caindo sobre a cabeça de Jack e o levando a nocaute.

O sonho de uma noite de inverno, a noite da véspera do ano novo, em que o garimpeiro solitário executa para as damas, no prato vazio, os passos da dançarina formada por garfos e pãezinhos.

Consta – e, quando a lenda é mais fascinante que a história, registre-se a lenda – que, em muitas sessões nos cinemas, o projecionista voltava o filme para passar novamente a sequência da dança dos pãezinhos, e a platéia ia à loucura, ao sétimo céu da felicidade. Nos anos 20, tinham inventado a tecla de rewind, acessível às pessoas a partir dos anos 80, no VHS e depois no DVD.

E, finalmente, a cena do barraco debruçado sobre o precipício, oscilando perigosamente rumo ao vazio a cada passo, a cada suspiro do garimpeiro solitário e de Big Jim.

É muita genialidade demais da conta.

Dois episódios reais, trágicos, estão na origem do filme

Foi, até então, o filme mais longo, mais caro, mais ambicioso, mais audacioso da carreira de Sir Charles Spencer Chaplin (1889-1977). E também o de produção mais tumultuada, difícil, problemática, angustiante.

Chaplin diria várias vezes, bem mais tarde, que este é o filme pelo qual ele mais gostaria de ser lembrado. Mas o que acontecia na sua vida pessoal ao longo dos 15 meses de filmagens era algo que ele seguramente gostaria de esquecer.

É o que diz o historiador David Robinson, autor daquela que é considerada a biografia definitiva do gênio inglês, na abertura do capítulo 10 de sua obra monumental (789 páginas na mais recente edição brasileira, da editora Novo Século):

“Chaplin iria agora embarcar no filme pelo qual ele mais gostaria de ser lembrado, como ele mesmo disse algumas vezes, e em um casamento que ele tentaria em vão esquecer pelo resto de sua vida.”

No seu cartapácio Chaplin, David Robinson mostra que Em Busca do Ouro nasceu a partir de dois episódios marcantes, trágicos: aquilo que passou para a história como a corrida do ouro de Klondike, The Klondike Gold Rush, entre 1897 e 1899, e a expedição de um grupo de imigrantes rumo à Califórnia em 1846.

Esse grupo de imigrantes à procura de um lugar ao sol no Oeste da América era formado por 29 homens, 18 mulheres e 43 crianças, e seu guia se chamava George Donner. O trem em que viajavam ficou bloqueado pela neve na Sierra Nevada, no Estado de Nevada.

Esse episódio da história americana é bem menos conhecido do que aquele, mais recente, de um desastre de avião com uruguaios nos Andes, que até deu origem a um filme. Assim como no desastre na América do Sul, naquela ocasião, nos Estados Unidos, quem sobreviveu teve que recorrer ao canibalismo.

Chaplin leu sobre esse episódio horroroso na mesma época – era 1923, e ele acabara de finalizar Casamento ou Luxo/A Woman of Paris: A Drama of Fate – em que viu fotos do Chilkoot Pass, uma das imagens mais impressionantes que foram registradas da corrida do ouro de Klondike, no extremo noroeste do Canadá, próximo ao Alasca.

Estima-se que cerca de 100 mil pessoas participaram da corrida de ouro de Klondike. Há uma imagem original do Chilkoot Pass hoje fácil de ser encontrada na internet (acima): é uma fila de centenas e centenas de homens subindo uma montanha até essa passagem Chilkoot, rumando para o Norte, na esperança de encontrar ouro.

Chaplin iria reproduzir para o seu filme, exatamente na Sierra Nevada, não muito longe de Hollywood, e bem perto de Reno, a capital de Nevada, com um batalhão de 600 extras, figurantes, a cena imortalizada na fotografia feita entre 1897 e 1899. A seqüência de centenas e centenas de homens subindo a montanha gelada até a passagem de Chilkoot abre o filme, dura pouquíssimo tempo – um minuto, se tanto –, mas permanece até hoje como uma das imagens mais impressionantes do cinema.

 Quem mais poderia contar uma história sobre fome numa comédia?

A frase é óbvia, mas é tão verdadeira que não há como repetir: só Charlie Chaplin seria capaz de, a partir de dois episódios reais e trágicos da história, envolvendo fome, desespero, criar uma comédia.

Uma das comédias mais clássicas, mais antológicas da história.

Em sua autobiografia, História de Minha Vida, lançada originalmente em 1964, e em 1966 no Brasil pela Livraria José Olympio Editora, o artista escreveu: “É paradoxal que a tragédia estimule o espírito do ridículo; suponho que seja uma atitude de desafio; nós devemos rir diante de nossa impotência frente às forças da natureza – ou ficamos loucos”.

Uma lolita chamada Lillita marca o ano em que o filme foi feito

Em dezembro de 1923, Chaplin já tinha a base do roteiro de seu novo projeto. As filmagens começaram no dia 8 de fevereiro de 1924.

E 1924 foi um dos piores anos da vida pessoal do realizador.

A garotinha se chamava Lillita MacMurray (na foto abaixo). Lillita – que nome. Quase Lolita, como a garotinha criada pelo escritor russo e depois americano Vladimir Nabokov, no livro de 1955.

Lillita havia trabalhado em O Garoto/The Kid, de 1921 – o papel do Anjo da Tentação. Na época de O Garoto, tinha 12 anos. Quando apareceu no estúdio de Chaplin se oferecendo para fazer um teste, em fevereiro de 1924, ainda não tinha completado 16 – estava com 15 anos e nove meses, embora com toda a aparência de maior de 18. O realizador estava então com 35 anos.

E Chaplin precisava de uma atriz para o papel da moça por quem o garimpeiro solitário se apaixona perdidamente, aí quando o filme já vai pela metade. Sua atriz principal de diversos filmes anteriores, inclusive o mais recente, Casamento ou Luxo, Edna Purviance, já estava um tanto matrona.

Em 2 de março daquele ano de 1924, Lillita MacMurray assinou o contrato para o principal papel feminino de Em Busca do Ouro. Seu nome artístico passaria a ser Lita Grey.

A mãe de Lillita-Lolita-Lita fazia um acompanhamento de perto dos passos da filha. Mas não era tão de perto assim: no final de setembro, a garotinha anunciou a Chaplin que estava grávida.

No livro sobre a vida dela, Wife of the Life of the Party, publicado em 1998, ela diria: “O que Charlie queria era arranjar um aborto o mais rápido possível. Se eu não estivesse disposta a fazer isso, sua outra oferta era me pagar 20 mil dólares para eu me casar com outra pessoa”.

A família exigia que Chaplin se casasse com a moça – e as leis da Califórnia são especialmente duras com quem faz sexo com menor de idade. Roman Polanski sabe disso.

Em novembro, houve a morte, a bordo do iate do magnata da imprensa William Randolph Hearst, de Thomas Harper Ince, outro dos primeiros grandes realizadores que se estabeleceram em Hollywood. A história – que seria tema de um ótimo filme de Peter Bogdanovich, de 2001, O Miado do Gato/The Cat’s Meow – é até hoje um dos grandes mistérios de Hollywood. Um boato persistente, jamais confirmado, jamais desmentido – e que é contado no filme de Bogdanovich -, assegura que Ince foi morto por Hearst por engano; Hearst, na verdade, teria confundido Ince com Chaplin. Chaplin seria o sujeito que o multimilionário – sim, ele mesmo, o que é retratado no Cidadão Kane de Orson Welles – queria matar, porque estaria dando em cima de Marion Davies, a amante de Hearst.

Chaplin – é o que se depreende – era um sujeito que não conseguia manter sua braguilha fechada. Assim uma espécie de Dominique Strauss-Kahn de seu tempo – – rico, poderoso, e incapaz de segurar o pinto dentro das calças.

Três dias depois do funeral de Ince, Chaplin despachou Lillita-Lita, sua mãe e um tio para o México. O casamento se deu no dia 25 de novembro.

Os assessores de imprensa de Chaplin – publicists, no jargão jornalístico americano – eram bem bons, e conseguiram esconder por um tempo o fato de que a moça era menor, ao mesmo tempo em que explicavam que ela não seria mais a atriz principal do filme que estava sendo rodado porque iria se dedicar ao papel de esposa e dona de casa.

Em dezembro, anunciou-se que o papel da protagonista feminina seria de Georgia Hale, uma moça de sorte assombrosa, que, depois de ser Miss Chicago aos 16 anos de idade, encantou Joseph von Sternberg, o sujeito que transformou Marlene Dietrich em um dos maiores mitos da história do cinema, e obteve o papel principal em seu filme The Salvation Hunters. Fizeram com que Chaplin visse o filme, e ele contratou a moça. Tinha 19 anos quando interpretou Georgia, o objeto da paixão do vagabundo-garimpeiro solitário em The Gold Rush.

As últimas cenas foram filmadas em maio de 1925, após um ano e três meses do início e 170 dias efetivos de trabalho diante das câmaras.

Em 5 de maio de 1925 Lillita-Lita deu à luz Charles Chaplin Jr.

Em 26 de junho o filme estreou – com uma festa de arromba – no Grauman Egyptian Theater de Los Angeles. A estréia em Nova York seria em 16 de agosto de 1925, mas Chaplin fugiu para a Costa Leste assim que pôde, para ficar longe da esposa que detestava.

Efeitos especiais muito, muito tempo atrás 

Talvez eu tenha me alongado um pouco nessas descrições da vida pessoal de Chaplin ao longo dos 13 meses de filmagem de Em Busca do Ouro, mas era impossível fugir disso. Essa história é maravilhosa, é uma novela riquíssima, poderia ser a base de um belíssimo filme. Confesso que me lembro pouco de Chaplin, a cinebiografia que Sir Richard Attenborough realizou em 1992 com Robert Downey Jr. no papel do genial artista (e é interessante que para interpretar Chaplin Sir Richard tenha escolhido exatamente esse ator que também teve uma vida pessoal particularmente atribulada). Mas acho que só esse período específico, a época da realização de Em Busca do Ouro, já daria um filme excepcional.

No fabuloso livro Chaplin (que, faço questão de registrar, ganhei de presente da minha sobrinha Rejane), David Robinson dedica um capítulo inteiro à época da filmagem de Em Busca de Ouro – deliciosas 25 das 789 páginas da obra.

Robinson faz uma descrição acurada, espetacular, de como foi a filmagem da sequência em que Big Jim, enlouquecido pela fome, tem alucinações e enxerga o garimpeiro solitário como uma gigantesca galinha. O historiador também explicita como foi o processo de filmagem da seqüência da cabana balançando perigosamente na beira do penhasco – havia a cabana construída no estúdio, e havia um modelo da cabana em miniatura, e as tomadas eram fundidas umas nas outras.

Não sou entendido em técnicas de filmagem, muito menos quando entramos na região dos efeitos especiais, e sequer tenho grande curiosidade sobre isso. Muito ao contrário: sempre que passava por esses aspectos técnicos, nos livros e cursos sobre história do cinema, me entendiava. Mas David Richardson esclarece um ponto importantíssimo, do qual não me lembrava: em 1924, 1925, a montagem de uma tomada com a seguinte não era ainda feita no laboratório, com os negativos do filme, como viria a ser pouco depois. O fade out (escurecimento, até o desaparecimento, da tomada anterior) e o fade in (a entrada da nova tomada) eram feitos nas próprias câmaras.

Eis como Richardson descreve:

“Os operadores de câmara daquela época tinham que ser criativos. Suas câmaras eram tecnicamente excelentes, mas tinham poucos dos refinamentos dos equipamentos de hoje. Além disso, efeitos como os fades, as dissoluções ou abertura e fechamento da íris da tela, que em épocas posteriores seriam feitas em laboratório, ainda tinham de ser feitos pela câmara. Esse era o caso das transformações na filme Em Busca do Ouro. Chaplin começava a cena com o traje habitual do Vagabundo; em um dado instante, a câmara fazia o fade e era desligada. A posição da câmara e a cena deviam permanecer imóveis enquanto Chaplin vestia rapidamente a fantasia de galinha. Ao mesmo tempo, a câmara era posicionada no início do fade, o ponto onde começava a transformação. Quando a câmara era ligada de novo e a cena abria, Chaplin fazia novamente toda a ação que tinha sido filmada antes. Desse modo, as duas imagens de Carlitos e da galinha ficavam uma sobre a outra, de maneira que uma imagem parecia se dissolver na outra. A mesma técnica era necessária para transformar a galinha de volta em Carlitos.”

Uma assombrosa competência técnica, mais um gênio

Isso que transcrevi da biografia Chaplin é muito, mas muito, mas muito impressionante.

Tudo bem: Georges Méliès fez maravilhas ainda bem antes de Chaplin. Seu Viagem à Lua é de 1904. Em 1925, os gênios russos, Pudovkin e Einsenstein, já haviam estabelecido as bases da montagem inteligente, artística, um elemento mais um segundo elemento resultando num choque à chegada do terceiro elemento, e D. H. Griffith, contemporâneo de Chaplin, já havia feito as audiências (que nos anos 1890 achavam que o trem filmado pelos Lumière iria saltar da tela e avançar sobre as cadeiras da sala de teatro) compreenderem a ação paralela.

Tudo bem.

Tenho uma vaga lembrança de bons professores nos cursos de história de cinema que fiz quando adolescente em Belo Horizonte dizerem que Chaplin não inventou, não criou nada, em termos de gramática do cinema; que criação mesmo era do departamento de Griffith e Pudovkin e Einsenstein.

Tudo bem. Lição aprendida.

Agora, o fato é que, em 2012, muito tempo pós-efeitos especiais modernos, pós-Light & Industrial Magic de George Lucas, pós-CGI, as imagens geradas por computador, pós-Avatar, pós-tudo, ao ver Em Busca do Ouro, não dá para babar com a competência técnica que aquele povo tinha em 1925.

Uma assombrosa competência técnica com os mecanismos então disponíveis – somada à genialidade de um criador extraordinário, ah, meu, aí então não tem jeito.

Em Busca do Ouro é como se fosse um vídeo em que alguém concentrou uns 30 dos melhores lances de toda a carreira de Pelé.

Dezessete anos após a estréia, a reestréia, com música e narração

Autor de histórias, roteirista, diretor, ator, Charles Spencer Chaplin era também compositor de mão cheia.

Tem aquela piada de que Chaplin, numa dada ocasião, resolveu cantar, e alguém depois foi dizer a ele algo do tipo: Pô, Charlie, não sabia que, além de tudo, você cantava tão bem. E ele teria respondido: eu não estava cantando, estava só imitando o Caruso.

Mas o fato é o que o puto, como se sabe, era um extraordinário compositor.

Aparentemente, teria deixado anotações, partituras com temas para serem executados durante a exibição de Em Busca de Ouro nos cinemas. (Nos bons cinemas, como se sabe, um pianista, ou às vezes um pequeno conjunto, tocava enquanto os filmes eram exibidos, já que os filmes, de novo como se sabe, só aprenderam a falar a partir de 1927.)

Novamente como se sabe, Chaplin resistiu ao cinema falado enquanto pôde. No início dos anos 30, todos os filmes já falavam, mas Chaplin continuava fazendo filmes sem diálogos – apenas com trilha sonora já na própria película, sem necessidade de instrumentistas ao vivo nos cinemas.

Resistiu enquanto pôde.

Em 1942, 17 anos, portanto, após a estréia do filme, dois anos após haver feito O Grande Ditador, Chaplin fez reestrear Em Busca do Ouro em nova versão, sonorizada. Para essa nova versão, criou uma trilha sonora, que dura exatamente o mesmo tempo do filme – há música continuamente, ao longo dos 72 minutos. Retirou os cartazes da versão muda com as palavras que ajudavam o espectador a compreender a ação, e fez uma narração, com sua própria voz, da história.

Por algum motivo tão inexplicável quanto o que de fato se passou dentro do iate de William Randolph Hearst, e que resultou na morte de Thomas Ince, Chaplin, para essa nova versão, agora musicada e falada, mudou o final do filme.

Não é uma mudança brutal. É sutil – mas é importante.

Na versão original, o vagabundo tornado agora multimilionário beija Georgia na boca. Há um close-up do rosto dos dois se beijando, diante do fotógrafo e do repórter que estão registrando a história.

Para a versão sonorizada de 1942, com música e narração, Chaplin optou por uma forma mais “casta” – e boto aspas na palavra porque é exatamente a expressão usada pelo seu biógrafo David Robinson. O vagabundo e Georgia se distanciam da câmara, enquanto o narrador fala que houve, afinal, um happy ending.

Por que cazzo caraio ele mexeu nas derradeiras imagens do filme pelo qual mais gostaria de ser lembrado? Por que tirar fora o beijo?

Mistério neste mundo de mistérios.

Na preciosa edição em DVD, as duas versões, a de 1925 e a de 1942

Se há algo que não é misterioso é o talento, o cuidado extremo com que a produtora e distribuidora francesa mk2 trata os filmes que lança em DVD.

Ao lançar em DVD boa parte da obra deste que é um dos maiores gênios do cinema, a mk2 fez um trabalho especialmente caprichado.

Em Busca do Ouro vem em dois discos. No primeiro está o filme tal qual foi relançado em 1942, na versão sonorizada, com narração de Chaplin – sem os letreiros da versão muda, e sem o beijo original final.

No segundo disco, vem a íntegra da versão original, de 1925, do filme – com os cartazes usuais do cinema mudo, sem palavra alguma. Mas com música. Era a primeira vez que a versão original era lançada em DVD, e a cópia é a que foi restaurada em 2003. Tem, porém, acompanhamento musical, como os filmes mudos tinham nos grandes cinemas – apenas um piano, acompanhando o clima de cada sequência. Quem toca é Neil Brand, que compôs o acompanhamento, “inspirado na trilha original dos arquivos de Chaplin”.

No disco 2, há também os especiais – uma introdução do biógrafo de Chaplin, ele mesmo, o historiador David Robinson, contextualizando a obra, um conjunto dos trailers do filme em diversos países, uma deliciosa coleção de pôsteres em vários países, em várias épocas.

Não sei se essa preciosidade continua à venda, ou se saiu de catálogo. Se saiu, tudo bem – vai voltar.

Chaplin é eterno. Em Busca do Ouro é eterno.

Se, daqui a uns mil anos, os terráqueos já tiverem conseguido destruir o planeta, e uma civilização mais avançada pousar aqui, vai se deparar com uma quantidade estrondosa de relíquias. Como seria uma civilização mais avançada, seguramente não teria grandes dificuldade em separar o joio do trigo, em identificar o que importa, em tudo que a humanidade produziu, e o que é porcaria, lixo.

Mas facilitaria o trabalho da equipe à procura do material audiovisual se rapidamente encontrassem uma caixa com os dois DVDs da mk2 de Em Busca do Ouro.

Anotação em março de 2012

Em Busca do Ouro/The Gold Rush

De Charles Chaplin, EUA, 1925

Com Charlie Chaplin (Carlitos, o vabagundo, o garimpeiro solitário), Mack Swain (Big Jim McKay), Tom Murray (Black Larsen), Henry Bergman (Hank Curtis), Malcolm Waite (Jack Cameron), Georgia Hale (Georgia)

Argumento e roteiro Charles Chaplin

Fotografia Rollie Totheroh

Direção de arte Charles D. Hall

Produção Charles Chaplin Productions, depois United Artists. DVD mk2, Warner Bros.

P&B, 72 min

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3 Comentários para “Em Busca do Ouro / The Gold Rush”

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