Garota Infernal / Jennifer’s Body

Nota: ★★½☆

Anotação em 2011: Um dos subgêneros mais imbecis, mais horrorosos, mais repulsivos do cinema é o dos filmes de terrir, grotesca mistura de terror com comedinha, os slasher movies – que misturam sangue esguichando com uma ou outra piadinha ginasiana. Garota Infernal parece mais um deles. Ao mesmo tempo, no entanto, é uma imensa gozação sobre o subgênero.

Já havia ouvido falar um pouco sobre o filme, quando topei com ele durante uma zapeada pelos canais a cabo. O filme já estava lá pela metade, e acabei vendo – enquanto sentia vergonha e culpa por estar perdendo tempo com uma bobagem, essa coisa abjeta que exerce tanta fascinação sobre os jovens americanos. Ao mesmo tempo, o filme é muito bem feito, Megan Fox é aquela coisa extraordinariamente bonita, tem um rosto tão perfeito que parece criado em computador… E a verdade é que (tenho que admitir, embora com vergonha e culpa) eu também gosto de ver um terrorzinho besta de vez em quando.

Nos créditos, que só aparecem no final do filme, fiquei surpreso ao ver que a autora da história e do roteiro é Diablo Cody, e que Jason Reitman é um dos produtores. (Da diretora, Karyn Kusama, nunca tinha ouvido falar.) Aí pensei: ué, vai ver que tem mesmo algum valor. E, já que tinha empenhado uma hora do precioso tempo vendo, por que não ver inteiro no DVD e garantir mais um post para o site?

Cada desculpa que a gente inventa para driblar a vergonha e a culpa por gostar de coisa política e moralmente incorreta…

          Corpos dilacerados, sangue esguichando, cheerleaders, satanismo…

Mas o fato é que Garota Infernal é um filme interessante.

Tem todos os elementos para agradar às plateias de adolescentes americanos típicos, aquela coisa com muito mais calorias que QI. Tem sangue esguichando, corpos dilacerados, elenco composto por gente novíssima, boa parte da ação se passa na escola, na high school. Tem algumas das tribos e dos tipos mais comuns: os garotões fortes bons no esporte, os garotos góticos, a garota que por causa dos óculos imensos parece feia embora não seja (Needy, o papel de Amanda Seyfried), a garota lindérrima que arrasa quarteirões (a Jennifer do título original, o papel de Megan Fox, na foto), o garoto mais sensível mas com cara de bobo (Chip, o papel de Johnny Simmons).

Tem muita referência a sexo e cenas de sexo, baile de gala, cenas em ginásio de esporte, cheerleaders. Tem conjunto do rock, bar, monte de gente enchendo a cara. Tem satanismo, ocultismo, ritual satânico, diabo que entra no corpo de adolescente e o faz agir um tanto como um lobisomem…

Tem até mesmo – nem era necessário, e de fato parece solto – uma longa seqüência de um provocantérrimo beijo lésbico de Amanda Seyfried e Megan Fox.

Ou seja: a refeição completa, com cereja no bolo e tudo.

          A câmara não abusa, não explicita – ao contrário, é até polida

E, no entanto, o filme é, ao mesmo tempo, uma tremenda gozeira de tudo isso. Uma gigantesca gozação a respeito do próprio gosto esquisito dos adolescentes por sangue, pavor & piadas bestas. Uma forte, corrosiva sátira de todos slasher movies, os filmes de terror e terrir.

O final da trama é bem sacado, interessante, até mesmo surpreendente. Subversivamente, o desfecho acontece ao longo dos créditos finais, quando os mais apressadinhos – talvez a maioria dos espectadores – já estão se levantando das cadeiras do cinema ou desligando o DVD.

E há que se dizer a favor do filme: ao contrário de tantos centenas e centenas de slasher movies, ele não abusa do esguicho de sangue e da dilaceração de corpos. Bem ao contrário. Pode até deixar frustrados os espectadores adolescentes mais vampirescamente sedentos por sangue. A câmara da diretora Karyn Kusama, ao contrário da de filmes como Um Lobisomem Americano em Londres, é até um tanto educada, polida; mostra um pouquinho – e logo se desvia da sanguinolência.

Garota Infernal tem um gosto forte de rebeldia contra os sistemas, contra as caretices, contra o que é bem aceito e respeitado. É uma rebeldia sem causa, como na imensa maior parte das rebeldias juvenis – mas uma rebeldia não é, sem dúvida alguma, melhor que o absoluto conformismo, como elemento formador de caráter, na adolescência?

Essa moça Diablo Cody tem essa marca de enfrentamento do Establishment, de gozação com o que é padrão, de rebeldia juvenil. O roteiro de Juno, de autoria dela, é uma jóia preciosa – e não é por acaso que o diretor daquele filme, o talentoso Jason Reitman, seja um dos produtores deste Garota Infernal. Diablo Cody parece entender os códigos todos dos adolescentes americanos – e, assim como sabe usá-los, sabe subvertê-los. E tem uma experiência de vida calcada nessa coisa de desafio ao sistema: nascida em 1978 em Chicago, ela virou stripper por algum tempo e relatou suas experiências em um livro, Candy Girl: A Year in the Life of an Unlikely Stripper.

          Megan Fox faz caras e bocas, Amanda Seyfried mostra talento

A diretora Karyn Kusama nem é tão jovem assim. Nasceu em 1968, no Brooklyn caldeirão de todas as raças; tem uma filmografia pequena – antes, tinha feito Girlfight, um filme independente de baixo orçamento sobre uma garota que se dedica ao boxe, sem que o pai saiba, e Aeon Flux, uma dessas aventuras saídas de histórias em quadrinho, com a esplendorosa Charlize Theron de cabelo negro como uma super-heroína.

Megan Fox, que faz o papel da garota infernal do título, ainda não mostrou, pelo menos ao que eu saiba, um bilionésimo do talento de Charlize. Faz muitas caras e bocas – mas, afinal, seu personagem é só isso mesmo, muitas caras e bocas.

No elenco deste filme, sobressaem-se o veterano J.K. Simmons e a garota Amanda Seyfried (na foto acima, com um tom de Carrie, a Estranha, de Brian De Palma). J.K. Simmons é sempre bom: em geral em papéis pequenos, brilha em todos os filmes de que participa, como Matadores de Velhinhas/The Ladykillers, dos irmãos Coen, de 2004, Queime Depois de Ler/Burn After Reading, também dos Coen, de 2008, Recém Chegada/New in Town, de Jonas Elmer, de 2009, e o já citado Juno, de Jason Reitman. Aqui, faz um impagável professor, Mr. Wroblewski.

E Amanda Seyfried está muito bem como Needy, a nerdzinha tida como feiosa, a maior amiga de Jennifer, a lindérrima boazuda dadivosa. A moça está numa ascensão fulminante – e trabalha demais, com uma disposição espantosa. Aos 25 anos, já tem 23 filmes e/ou séries de TV no currículo. Fez Alpha Dog, Mamma Mia!, o recentíssimo Cartas para Julieta. Escalada aqui para fazer a garota pouco atraente da dupla principal, foi escolhida por Atom Egoyan para o papel da jovem belíssima contratada pela mulher ciumenta para testar se seu marido é infiel em O Preço da Traição/Chloe, a refilmagem americana de Nathalie X, de Anne Fontaine. Fazer o papel que no filme original foi de Emmanuelle Béart não é pra qualquer uma.

E então é isso: embora com uma certa vergonha, confesso que vi Garota Infernal, e, diabo, até achei que tem coisas boas.

Depois desta confissão, nenhum intelectual de respeito, amante de um bom Godard e do coreano Mother, vai me levar a sério. Paciência.

Garota Infernal/Jennifer’s Body

De Karyn Kusama, EUA, 2009

Com Amanda Seyfried (Needy), Megan Fox (Jennifer), Johnny Simmons (Chip), J.K. Simmons (Mr. Wroblewski), Adam Brody (Nikolai), Sal Cortez (Chas), Ryan Levine (Mick), Juan Riedinger (Dirk)

Argumento e roteiro Diablo Cody

Fotografia M. David Mullen

MúsicaStephen Barton e Theodore Shapiro

Montagem Plummy Tucker

Produção Hard C, Fox Atomic, Dune Entertainment

Cor, 103 min. Há uma versão “sem cortes” de 107 min

**1/2

8 Comentários para “Garota Infernal / Jennifer’s Body”

  1. Ai, acho que vi um pedaço desse filme na minha última ida a Campo Grande (só lá, ou na companhia dos meus primos, pra eu ver filmes desse naipe). Estava passando na TV a cabo, num domingo à tarde, e minha prima de 13 anos estava assistindo, junto com um amiguinho. Perguntei que filme era e eles falaram qualquer coisa, querendo me enganar e achando que eu fosse ficar com medo, haha; mas depois vi que era “terror”, só que de terror não tinha nada – achei tudo risível e ridículo. Agora que vc falou que é terrir, entendi. Acabei vendo uns pedaços e achei muito “pesado” (era assim que falavam na minha época) para “crianças” de 13 anos. Tinha muitas cenas com conotação sexual. Mas não sou a mãe deles nem a irmã mais velha, ficou por isso mesmo. Enfim, achei um saco, me entediei e fui fazer outra coisa.

  2. Hêhê… Entendo perfeitamente seu ponto de vista, Jussara querida. É preciso ser meio doido para ver “Garota Infernal” e ver nele algumas qualidades… Mas eu confesso que sou meio louco mesmo…
    Concordo plenamente com você: as cenas de sexo do filme são bastante fortes. Não é um filme que deveria ser visto por crianças, adolescentes jovens.
    Um abraço.
    Sérgio

  3. besteira gente,o filme é até interessante, além de ter uma música muito linda “throgh trees”

  4. O filme é uma porcaria, mas a gente olha até o fim…kkkkk
    E, Sérgio, a Megan Fox é praticamente um photoshop, depois de trocentas plásticas para ficar à la Jolie!

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