Decisões Extremas / Extraordinary Measures

2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2010 (postada em janeiro de 2011): Decisões Extremas é um daqueles filmes feitos para inspirar as pessoas, para mostrar que é possível superar dificuldades imensas. Baseado em fatos reais, conta a história de uma família em que dois filhos tinham a doença Pompe, uma rara disfunção genética fatal, para a qual não existia remédio.

O cinemão comercial de Hollywood faz muitos filmes assim, como O Óleo de Lorenzo, de 1992, com Nick Nolte e Susan Sarandon, só para dar um exemplo. Deve ter público fiel, esse tipo de filme – e seguramente deve também haver muita gente que não gosta do tema. Eu não gosto muito; acho pesado demais, triste demais; cheguei até a pensar em desistir, no começo – não porque o filme parecesse ruim, mas pelo tema duro. No entanto, fui em frente.

Não é um mau filme, de forma alguma; é correto, feito com competência e até – percebe-se – garra, gana, por pessoas que se envolveram com a história. E é de fato uma história importante de se contar, a da família Crowley, porque foi em parte graças ao esforço dela que se chegou à criação de um medicamento contra a doença.

O John Crowley real, o pai de dois garotos que nasceram com a doença, foi consultor da produção, e o roteiro se baseou no livro em que relatou sua história, The Cure: How a Father Raised $100 Million – And Bucked the Medical Establishment – in a Quest to Save His Children, ou A Cura: Como um Pai Levantou US$ 100 milhões – e Enfrentou o Sistema Médico – numa epopéia para salvar seus filhos. O livro foi escrito por Geeta Anand, e o longo título já conta qual é a história.

O verdadeiro John Crowley pode ser visto nos especiais do DVD: ainda é bem jovem (aparenta ter não mais que 40 anos), é pequenino, feioso e tem uma vozinha fina. Hollywood colocou para fazer o papel dele um sujeito grandão, bem grandão, e de voz bem grave – Brendan Fraser, que tem no currículo grandes sucessos de bilheteria, Endiabrado, A Múmia e suas duas seqüências, a refilmagem recente de Viagem ao Centro da Terra.

Brendan Fraser tem tido tanto sucesso nas bilheterias que seu nome aparece, nos cartazes e nos créditos iniciais, à frente de Harrison Ford. Jamais imaginei que viveria para ver um filme em que o nome de Harrison Ford aparece em segundo lugar. E o homem que fez Hans Solo na primeira trilogia Guerra nas Estrelas e Indiana Jones nos quatro mega-sucessos de Spielberg é um dos produtores executivos do filme.

Um pai extremoso e um cientista de comportamento imprevisível

Quando a ação começa, Megan (Meredith Droeger) está fazendo oito anos de idade. É a segunda dos três filhos do casal John e Aileen Crowley (Keri Russell, bonitinha, carinha de Barbie); o mais velho, John Jr. (Sam M. Hall), tem uns dez, e o mais novo, Patrick (Diego Velazquez), tem seis.

Megan e Patrick têm a doença Pompe; vivem sob permanente cuidado de enfermeiras; os músculos são frágeis, as crianças não conseguem ficar de pé, e órgãos como o coração e o fígado crescem demais – poucos pacientes dessa rara doença genética passam dos nove anos de idade. Muitos morrem bem antes disso.

John, formado em administração por uma das Ivy League, as melhores universidades dos Estados Unidos, tem um ótimo emprego e confortável situação financeira. Pai dedicadíssimo, passa horas pesquisando na internet sobre a doença. Suas pesquisas indicam que o cientista que está mais avançado na procura de uma droga que possa tratar a doença chama-se Robert Stonehill, um pesquisador da Universidade de Nebraska. O dr. Stonehill é o papel de Harrison Ford, e ele parece ter se entregue ao personagem com dedicação. É, de fato, um de seus melhores desempenhos nos últimos anos.

John Crowley vai atrás de Stonehill, um cientista excêntrico como se imaginam os cientistas, de comportamento imprevisível, maus modos – mas genial. Alguns dos diálogos entre os dois personagens justificam a existência do filme. Stonehill diz a John que a universidade gasta mais com o salário do técnico de futebol do time do que com todo o departamento que ele dirige. John pergunta quanto ele precisaria para acelerar as pesquisas e chegar à fabricação de um remédio. Stonehill calcula US$ 500 mil. John diz que juntará o dinheiro.

Haverá, ao longo do filme, bastante daquilo que o cinemão de Hollywood adora fazer – uma crítica feroz às grandes corporações. O que é sempre bem-vindo.

Nunca tinha ouvido falar no diretor, Tom Vaughan; é um garotão nascido na Escócia, em 1969; o iMDB mostra que já tem no currículo 14 títulos, entre filmes e episódios de séries de TV; me lembro de ter ouvido falar no anterior a este aqui, Jogo de Amor em Las Vegas, de 2008, com Cameron Diaz e Ashton Kutcher.

Dirige com segurança e correção. Não procura inventar nada. Fez um filme correto, bem feito, bem intencionado.

Decisões Extremas/Extraordinary Measures

De Tom Vaughan, EUA, 2010

Com Brendan Fraser (John Crowley), Harrison Ford (Dr. Robert Stonehill), Keri Russell (Aileen Crowley), Meredith Droeger (Megan Crowley), Diego Velazquez (Patrick Crowley), Sam M. Hall (John Crowley, Jr.), Jared Harris (Dr. Kent Webber), Patrick Bauchau (Erich Loring)

Roteiro Roberto Nelson

Baseado no livro The Cure: How a Father Raised $100 Million – And Bucked the Medical Establishment – in a Quest to Save His Children, de Gaeta Anand

Fotografia Andrew Dunn

Música Andrea Guerra

Produção CBS Films, Double Feature Films. DVD Sony

Cor, 106 min

**1/2

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