Anotação em 2011: Uma diversão deliciosa, espetacular, tão bem humorada quanto maravilhosamente bem realizada, com um visual acachapante, um ritmo ágil, frenético, uma reconstituição de época de babar, excelentes piadas, excelente texto.
Nunca fui grande fã de Luc Besson, mas este é um divertissement perfeito, de se aplaudir de pé como na ópera.
Não tem jeito, não tem como fugir: é a versão francesa, à la Besson, do Indiana Jones, a criação de Steven Spielberg, George Lucas e Lawrence Kasdan. Adèle Blanc-Sec, personagem inventada pelo desenhista Jacques Tardi – só os franceses para dar à heroína um sobrenome com o bouquet de vinho – é de fato um Indiana Jones de saias e corpete. Que, embora bem rapidamente, quase pudicamente, num determinado momento até se mostra sem as saias e o corpete – oulalá!
Claro: para saborear este petisco, é preciso que o respeitável espectador deixe de lado a lógica, a exigência de qualquer verossimilhança. Amantes apenas de filmes sérios, “de arte”, e idiotas da objetividade não se dariam bem. Trata-se, aqui, de uma aventura-ficção-fantasia, uma lógica de desenho animado.
Assim, temos que, na gloriosa Paris de 1911, no pré-guerra, na época dourada do cancã (eta grafia feia, mas é ela que está nos dicionários), um idoso cientista, Espérandieu (Jacky Nercessian), usando dons telepáticos, faz viver um pterodáctilo que estava dentro de um gigantesco ovo pré-histórico, do período jurássico, em um museu de ciências naturais da capital francesa. O animalão quebra a casca do ovo, anda tropegamente pelo museu, ensaia umas batidas de asa, voa, rebenta o teto da edificação e sai viajando pelos céus de Paris.
O pterodáctilo avista um carro, no qual um figurão da política canta uma famosa dançarina de cancã – minutos antes, o espectador já havia presenciado um sensacional número de dança em um teatro lotado. O animalão ataca o bólido, que cai no Sena.
O caso vira manchete de todos os jornais, mexe com os brios do governo, o presidente dá ordens ao ministro do Interior para que o bicho assassino seja imediatamente capturado. O policial encarregado do caso será o sonolento e glutão – porém íntegro – inspetor Albert Caponi (Gilles Lellouche, deliciosamente exagerado e careteiro).
Um início de trama esplendorosamente inteligente
Todo o filme é absolutamente delicioso, mas o início da trama, a forma com que Besson vai apresentando os personagens, as situações, é uma coisa esplendorosamente inteligente, bem sacada, divertida – e rápida. O primeiro personagem que vemos não é importante na história – e o narrador avisa isso, com todas as letras. Somos apresentados a diversos personagens, num ritmo frenético, envolvente. O primeiro deles, o pouco importante, é um passante, pedestre, transeunte, que, ao voltar para casa, à 1 da madrugada, após um jogo de cartas com amigos regado a uísque 12 anos, pára numa praça para fazer xixi – e, ao olhar para uma estátua, vê luzes no céu, crê estar ficando louco, sai correndo.
As luzes que ele viu vinham do apartamento do cientista Espérandieu: no seu surto telepático para fazer despertar o ptedorodáctilo, o idoso sábio levita, e faz levitar os objetos da sua sala, que produzem luzes.
Mas, enquanto tudo isso está ocorrendo em Paris, a intrépida Adèle Blanc-Sec, a heroína da história, está no Egito, à procura da tumba do faraó Ramsés II.
A criatividade, a inventividade de Besson para montar as aventuras de Adèle Blanc-Sec dentro da tumba do faraó devem ter deixado Spielberg e Lucas com inveja. As sequências em que primeiro vemos Adèle são geniais, espetaculares.
Assim como Indiana Jones tem que enfrentar um rival que rouba dele suas preciosas descobertas, Adèle Blanc-Sec também tem seu inimigo, o terrível vilão Dieuleveult (interpretado por um Mathieu Amalric tão maquiado que fica praticamente irreconhecível). Dieuleveult aparece na tumba, com um grande bando de capangas, no momento exato em que Adèle parecia ter conseguido seu objetivo, o de encontrar o caixão onde há cinco mil anos repousava a múmia de Patmosis, que seria o médico pessoal do faraó.
Mas Dieuleveult (o som do nome faz lembrar a expressão Deus o quer; como nas histórias de Astérix, os nomes dos personagens são grandes piadas) é o vilão, e Adèle Blanc-Sec é a heroína, e assim ela conseguirá escapar das garras do bandido e, eventualmente, chegar de volta sã e salva a seu apartamento parisiense com o ataúde com a múmia de Patmosis.
Um médico de cinco mil anos atrás para fazer reviver a irmã da heroína
Bem, mas quem é exatamente Adèle Blanc-Sec?
É assim: Indiana Jones é um dublê de professor de arqueologia e arqueólogo-aventureiro, certo? Adèle é uma dublê de jornalista investigativa e arqueóloga-aventureira. Sabe tudo e mais um pouco – e, como aventureira, tem a mesma destreza de Indiana Jones, ou talvez um pouco mais.
O objetivo de Adèle ao levar para Paris a múmia do médico pessoal do imperador Ramsés II não é tão fácil de explicar. O caso é um tanto complexo – embora com perfeita lógica, dentro da lógica de uma aventura-ficção-fantasia baseada em história em quadrinhos.
O professor Espérandieu (e o som do nome remete a esperando Deus, certo?) consegue, com seus poderes telepáticos, fazer voltar a viver um animal de milhões de anos atrás. Se consegue isso, poderá conseguir também fazer reviver um médico egípcio morto há uns cinco anos. Adèle espera que Espérandieu desperte a múmia de Patmosis, para que ele trate de sua irmã gêmea, Agathe Blanc-Sec (Laure de Clermont, à esquerda na foto abaixo).
Agathe repousa em uma cama no apartamento de Adèle. Tem um soro na veia, e Adèle a trata como uma doente. Na verdade, Agathe está mortinha da silva, mas Adèle, a heroína da história, conta como certo que poderá curá-la – com a ajuda de Espérandieu e de Patmosis.
Besson é um descobridor de mulheres estonteantes
Me alonguei na sinopse da história, o que talvez seja bobo e desnecessário – mas achei a trama tão absolutamente fascinante que não me contive.
A trama é fascinante, e a realização do filme é melhor ainda.
Deixei para mais adiante o nome da atriz que faz Adèle Blanc-Sec, essa heroína supimpa, que tem a agilidade física de um Indiana Jones e fala na velocidade e na inteligência de uma Hildy Johnson, a personagem de Rosalind Russell em Jejum de Amor/His Girl Friday, do mestre Howard Hawks.
Chama-se Louise Bourgoin, a atriz que faz Adèle Blanc-Sec.
Está ótima no papel, Louise Bourgoin. É simpática, atrevida, rápida no gatilho verbal e físico. Faz as mais imprevistas, inusitadas coisas – e encara quem a vê e se assusta com seus atos com a maior cara de pau, de quem não está nem aí. Tem mil caras. Fantasia-se de uns seis ou sete personagens diferentes – homens e mulheres – para tentar conseguir um de seus objetivos, lá pela metade da narrativa: transmuta-se em freira, advogado, enfermeira, guarda carcerário, o escambau. É bonita, atraente.
Mas… pensei eu, quando ela aparece pela primeira vez… Bem, é bonita, mas não é assim uma coisa acachapantemente linda como, por exemplo, Natalie Portman ou Milla Jovovich, ou agressivamente atraente como Rie Rasmussen. Por que será que Besson, um descobridor de mulheres estonteantes, foi escolher Louise Bourgoin?, me perguntei.
(Um descobridor de mulheres estonteantes. Lembrando: Besson dirigiu Natalie Portman em 1994, quando ela era uma garotinha inexperiente de 13 anos, em O Profissional. Foi o responsável por levar Milla Jovovich da bem sucedida carreira de topmodel para o estrelato no cinema, em O Quinto Elemento, de 1997, e Joana d’Arc, de 1999. Rie Rasmussen, menos conhecida mas tão bela quanto as outras duas, foi a estrela de Angel-A, a fantasia em glorioso preto-e-branco que Besson fez em 2005.)
Depois deste filme, o céu é o limite para Louise Bourgoin
Louise Bourgoin, vi na internet assim que o filme acabou, é uma grande estrela da TV francesa. Nascida em 1981, filha de um professor de filosofia e uma psiquiatra, estudou Belas Artes durante cinco anos – os pais queriam que ela tivesse uma carreira estável, como professora de artes plásticas. Mas a moça era muito bonita, passou a trabalhar como modelo e daí foi para a televisão em 2004. Em um dos quadros que protagoniza semanalmente, faz personificações de personalidades famosas – já se travestiu de Ségolène Royal, a candidata socialista à presidência derrotada por Sarkozy, e também de Carla Bruni, a atual primeira-dama, e também de Jean Sarkozy, o filho do presidente.
Não é à toa, portanto, que Besson criou tantos tipos diferentes em que ela se fantasia no filme.
Mas a moça não é apenas uma estrela de TV. Estreou no cinema em 2008 no principal papel feminino da comédia amarga A Garota de Mônaco, e teve um pequeno papel em O Pequeno Nicolau. Depois deste filme aqui, o céu é o limite: está com três filmes em produção ou em fase de pós-produção.
Não percebi, ao ver o filme, que já tinha visto a atriz, e me impressionado com sua beleza
O que é a memória – ou a falta dela. Só agora, nesta altura da anotação, fui ver o que escrevi sobre A Garota de Mônaco. E estão lá frases assim:
E lá pelas tantas “surge Audrey (Louise Bourgoin), a garota do título – uma mulher lindíssima, gostosíssima, e mais todos os íssimas e érrimas possíveis e imagináveis, uma força da natureza, um vulcão, um tesão, uma coisa absurda, imensa, interminável, sempre com as roupas mais ínfimas, menores que as de uma rainha da bateria em plena Sapucaí.”
“De longe, a melhor coisa do filme se chama Louise Bourgoin, a mulher íssima e érrima que faz Audrey. Louise Bourgoin (nascida em 1981!) foi, de fato, como sua personagem Audrey, uma moça do tempo numa emissora de TV; depois deste filme, vem sendo comparada a Brigitte Bardot. Tem tudo a ver – até porque, no meio da apresentação da previsão de tempo, a garota Audrey canta ‘Sur la Plage Abandonée’, uma canção que BB gravou com sua voz sensualíssima nos anos 60. A canção reaparece nos créditos finais, na gravação de BB.”
“Louise Bourgoin é de fato belíssima, gostosérrima, uma real força da natureza, como era Brigitte, um dos maiores símbolos sexuais dos últimos séculos. Vejo no iMDB que Louise Bourgoin já fez cinco filmes depois deste aqui. (…) Que Louise Bourgoin – eta mulherão, siô – faça bons filmes.”
Ótimas piadas, tramas gostosa, visual soberbo
É o tal negócio: vivendo, aprendendo – e esquecendo, e depois aprendendo de novo.
Mas é fantástico: neste filme, ela não me pareceu tão linda nem tão gostosa quanto em A Garota de Mônaco. OK: naquele, ela aparece o tempo todo em roupas absolutamente sumárias, e neste está sempre muitíssimo vestida, com camadas e mais camadas de roupa – com exceção daquele rápido momento, já citado, em que ela tira a roupa diante da múmia do médico do faraó para tomar banho. E, além de tudo, ela está bem diferente, aqui. Em A Garota de Mônaco ela está loura (na foto menor, ao lado); aqui está com o cabelo castanho.
Na verdade, o fato de Louise Bourgoin ter caras diferentes a cada filme, sua capacidade de se fantasiar de diferentes pessoas reais na TV, de diferentes personagens neste filme aqui, isso só indica que a moça, além de beleza, tem talento.
E pelo menos um bom filme Louise Bourgoin já fez. É, repito, uma deliciosa diversão, este As Múmias do Faraó.
Só a piadinha quase no final, quando o faraó comtempla o prédio do Louvre, já valeria o filme. Mas é apenas uma das dezenas e dezenas de boas piadas – fora a trama deliciosa, o talento da realização, o visual soberbo.
Delícia de filme.
Pois é. Não é que o cinemão comercialão sabe fazer coisas boas?
As Múmias do Faraó/Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec
De Luc Besson, França, 2010
Com Louise Bourgoin (Adèle Blanc-Sec), Mathieu Amalric (Dieuleveult), Gilles Lellouche (inspector Albert Caponi), Jean-Paul Rouve (Justin de Saint-Hubert), Jacky Nercessian (Marie-Joseph Espérandieu), Philippe Nahon (professor Ménard), Nicolas Giraud (Andrej Zborowski), Laure de Clermont (Agathe Blanc-Sec)
Roteiro Luc Besson
Baseado nas histórias em quadrinhos de Jacques Tardi
Fotografia Thierry Arbogast
Música Eric Serra
Cor, 107 min
Produção Europa Corp., Apipoulaï, TF1 Films Production, Canal+. Blu-ray e DVD Imagem Filmes
***1/2
Título em inglês: Adèle and the Secret of the Mummy
Bom filme as cenas onde Adele voa em cima do pterodáctilo com a lua ao fundo e o final onde Ramses II sai pra “explorar” o local saindo do museu dado de cara com o Arco do Triunfo para mim são as melhores, sem contar os diálogos, muito bons, rsrsr.
Bela produção de Luc Besson. Um refresco no gênero de aventura, filme para assistir com a família.
Muito obrigado pelo seu comentário.
E parabéns pelo seu belíssimo blog, http://peliculacriativa.blogspot.com/
Um abraço.
Sérgio
‘Oi eu sou o hebert como vai vcs? vou falar um pouco sobre ah mumia. Uma múmia é um cadáver, cuja pele e órgãos foram preservados intencional ou acidentalmente pela exposição a produtos químicos, frio extremo (múmias de gelo), umidade muito baixa e etc. Atualmente, o mais antigo cadáver humano mumificado (naturalmente) descoberto foi uma cabeça decapitada, com de 6000 anos, encontrado em 1936.1 As múmias mais famosas são as egípcias, destacando-se as dos faraós, Tutancâmon, Seti I e Ramsés II, embora a primeira múmia egípcia conhecida, apelidada de “Ginger”, remonta a cerca de 3300 a.C.
onde se consegue ver ou baixar o filme?
Pô, Marcos, que pena que não posso te ajudar.
Mas talvez algum dia você acha numa busca pela internet…
Um abraço.
Sérgio