A Minha Versão do Amor / Barney’s Version

2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2011: A Minha Versão do Amor/Barney’s Version é um daqueles filmes baseados em romances caudalosos que contam a vida inteira de um personagem, desde sua juventude até a velhice. Para dar maior movimento, para agitar a narrativa, vai e vem no tempo.

O ir e vir no tempo realça o maravilhoso trabalho de maquiagem que foi feito para mostrar o ótimo Paul Giamatti muito jovem, maduro, na meia idade e bem velhinho. É de fato um trabalho esplêndido – a maquiagem foi a única indicação que o filme recebeu para o Oscar. Giamatti, que levou o Globo de Ouro de melhor ator em comédia ou musical, está muito bem, com aqueles exageros que o caracterizam – e o personagem que ele interpreta, o Barney do título original, é um personagem exagerado.

Mas, na minha opinião, as melhores coisas do filme são a sensacional, maravilhosa interpretação de Dustin Hoffman como o pai de Barney, e a extraordinária beleza da jovem inglesa Rosamund Pike, que faz o papel de Miriam, a terceira mulher e a grande paixão da vida do protagonista.

Encontro no site da Amazon, na página sobre o livro do escritor canadense Mordecai Richler que deu origem ao filme, uma boa frase que resume muito bem quem é o personagem, e então a reproduzo: “Barney Panofsky fuma charutos demais, bebe uísque demais, e é obcecado com duas coisas: o time de hóquei Canadiens, de Montreal, e sua ex-esposa Miriam”.

Não vejo graça alguma em hóquei, mas bebo quase tanto quanto Barney e não consigo parar de fumar, e, com Rosamund Pike no papel de Miriam, dá perfeitamente para entender por que o cara é obcecado pela ex-esposa.

Às três da manhã, ligando bêbado para a ex-mulher

Quando o filme começa, Barney já está divorciado de Miriam. Às três horas da manhã, bebendo uísque e fumando um charuto, liga para a casa da ex-mulher, quer falar com ela; quem atende é Blair (Bruce Greenwood), o atual marido dela. Educado, Blair não manda o ex-marido da mulher tomar; polidamente, desliga o telefone.

Em seguida vemos Barney, na manhã do dia seguinte, torto, de ressaca, chegar a seu trabalho, uma produtora de filmes e novelas para a TV que tem o fascinante nome de Totally Unnecessary Productions. Há graves problemas na novela de longuíssima duração que a produtora está rodando, e o jornal daquela manhã noticiava o lançamento de um livro – escrito por um investigador de polícia aposentado – afirmando que o bem sucedido produtor de filmes Barney Panofsky assassinou uma pessoa, no passado.

Mas Barney não está nem aí para o livro que o acusa de assassinato, nem para os muitos problemas de sua produtora: ele só consegue pensar na ex-mulher que já está casada há algum tempo com outro homem.

Estamos nos dias de hoje, em Montréal. Miriam está vivendo com Blair em Nova York – e vai demorar bastante para aparecer na tela, na pele linda de Rosamund Pike. Teremos um flashback, o primeiro de tantos – e voltamos para Roma, nos anos 70, em que um Barney jovem, quase hippie, vive farras homéricas com um grupo de amigos, entre eles Boogie (Scott Speedman, à esquerda na foto acima), o amigo mais próximo dele, inseparável.

A namorada de Barney, Clara (interpretada por outra atriz lindíssima, Rachelle Lefevre, na foto acima), dá para todo mundo, mas o tonto acredita que é o pai do filho que ela está carregando na barriga, e então se casam. Quando o filho nasce negro – e um dos amigos da turma é negro –, cai a ficha na cabeça de Barney, e ele abandona a linda Clara.

A segunda mulher é riquíssima – uma chata de galocha

Sua segunda mulher será apresentada a ele por um tio. É uma moça filha de judeus riquíssimos de Montréal, interpretada por Minnie Driver, ótima atriz, ótima cantora (na foto). O personagem dela não tem nome – aparecerá nos créditos finais como a segunda sra. Panofsky –, e é mostrada como uma chata de galocha. Na festa de casamento, uma festa para centenas de pessoas, caríssima, paga pelo pai milionário da noiva, o pai de Barney, Izzy (o personagem de Dustin Hoffman), um ex-policial aposentado, cometerá todos os tipos de inconveniências possíveis e imagináveis. É tão politicamente incorreto quanto o filho.

E é na festa de casamento que Barney pela primeira vez bate o olho em Miriam. É paixão absoluta, total, à primeira vista – dele por ela. Ela não quer saber daquele sujeito todo incorreto, bêbado, que se declara a ela em plena festa de seu próprio casamento.

Barney tentará de tudo possível e imaginável para conquistar Miriam.

E é só lá pelo meio da narrativa que se mostrará o tal crime que o investigador aposentado acusa Barney de ter cometido. O corpo da vítima jamais havia sido encontrado – e, portanto, Barney jamais foi condenado por ele.

Em participações especiais, diversos dos melhores cineastas canadenses

Não li o livro de Mordecai Richler, e por isso não posso saber por que ele é tão endeusado no Canadá, mas que Barney’s Version é endeusado no país natal do escritor, lá isso é verdade, pelo que se vê na internet. Richler – à memória de quem o filme é dedicado – foi chamado de “a grande estrela brilhante da sua geração literária do Canadá”, e Barney’s Version, publicado em 1997, é tido como sua melhor obra, ao lado de The Apprenticeship of Duddy Kravitz.

O filme – a 21ª adaptação de uma obra do escritor para o cinema e/ou TV – conseguiu a proeza de colocar diversos diretores do cinema canadense em pequenos papéis, em participações especiais. Estão lá Atom Egoyan, Ted Kotcheff (como o condutor em um trem), David Cronenberg, Denys Arcand (no papel de um maïtre de restaurante), Paul Gross e Saul Rubinek.

Prestigiado pela nata dos cineastas do Canadá, o filme oferece como brinde ao espectador duas canções do compositor e poeta canadense Leonard Cohen, “Dance me to the end of love” e “I’m your man”. Nossos ouvidos agradecem.

E tem ainda a curiosidade de trazer um filho de Dustin Hoffman, Jake Hoffman, fazendo o papel de filho de Barney – neto, portanto, do personagem interpretado pelo ator.

É um filme inegavelmente bem feito, em todos os quesitos; mistura humor e amargura de uma forma um tanto desbalanceada, na minha opinião – mas é daquele tipo que, quando termina, a gente se pergunta, bem, certo, mas por que é mesmo que quiseram contar esta história?

Vale a pena ver, acho eu – em especial pela fabulosa interpretação de Dustin Hoffman, esse ator fenomenal que fica melhor a cada ano que passa, e, repito, pela beleza fantástica de Rosamund Pike (na foto acima).

A Minha Versão do Amor/Barney’s Version

De Richard J. Lewis, Canadá-Itália, 2010.

Com Paul Giamatti (Barney Panofsky), Dustin Hoffman (Izzy Panofsky), Rosamund Pike (Miriam Grant), Minnie Driver (segunda sra. P.), Rachelle Lefevre (Clara), Scott Speedman (Boogie), Bruce Greenwood (Blair), Macha Grenon (Solange), Anna Hopkins (Kate Panofsky), Jake Hoffman (Michael Panofsky), Mark Addy (detetive O’Hearne). E, em participações especiais, Atom Egoyan, Ted Kotcheff, David Cronenberg, Denys Arcand, Paul Gross e Saul Rubinek

Roteiro Michael Konyves

Baseado no livro Barney’s Version, de Mordecai Richler

Fotografia Guy Dufaux

Música Pasquale Catalano

Produção Serendipity Point Films, Fandango, The Harold Greenberg Fund, Lyla Films. Blu-ray e DVD Califórnia Filmes.

Cor, 134 min

**1/2

3 Comentários para “A Minha Versão do Amor / Barney’s Version”

  1. De fato, é um bom filme, bonito, bem feito, mas, que não é inesquecível.
    Acho que é o quinto filme que vejo com esse ator, Paul Giamatti e, o bastante para achá-lo um grande ator. E o Dustin “a perfeição de sempre”.
    Será que há coisa pior que hóquei? Já não bebo tanto quanto o Barney e voce por conta da hipertensão mas já parei de fumar há 16 anos e, realmente não tinha como ele não sentir aquela obsessão pela Mirian, que mulher linda, um colirio para os olhos de um homem.
    Abraço,Sergio.

  2. Eu gostei do filme. Que elenco talentoso, mas o Dustin Hoffman é imbatível, sempre magnífico!! No seu mais novo trabalho, Luck, ele dá um show de interpretação, como sempre.

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